Desde Nietszche a compaixão foi colocada no lado escuro da lua como algo impossível,cínico e que atrapalha a felicidade.
Diante de qualquer sofrimento ,a compaixão é sempre falsa.Do outro lado as posturas opostas,geralmente de origem cristã(mas nem sempre) apostam no contrário.Como
são Francisco de Assis para quem a fé se exerce integralmente e com coerência.
Buda que defende o anular-se para afirmar-se.E Freud que
defende enlouquecer junto com o paciente para analisá-lo melhor.
Segundo Nietszche a compaixão é a maldição do cristianismo
por impedir a potência do ser,o afirmar-se do ser.
É um projeto individual,por oposição ao coletivo,uma abstração vazia que também dilui a potência,como todas as abstrações.
É um projeto individual,por oposição ao coletivo,uma abstração vazia que também dilui a potência,como todas as abstrações.
A vida humana é
acaso,o ser humano cria mediações e racionalizações para aplacar
o horror desta constatação.Não há fundamento para evitar a dor;não há explicação para o comportamento
sádico do homem,mas é preciso construí-lo.Porquê?Porque ninguém suporta fundamentar a sua vida na sorte.De um modo ou
de outro existe uma explicação para a
sua situação e para a sua superação(ou não).
Pode-se objetar que a
dor,que o cristianismo entende ser um paradigma,serve de medida da bondade ou não do ser humano,mas
isto não impede que a humanidade
descambe para a violência e o
sadismo.Também citamos já Kant pelo qual o mal radica na humanidade,não adiantando construir no ser
barreiras intransponíveis entre o mal
e o bem ,como quer o cristianismo.
Afirma-se que,segundo
Piaget ,existe uma relação entre o desenvolvimento cultural quantitativo
e a
ordem moral:quanto mais experiente,maduro e com compreensão da realidade,social e
natural,o homem vai deixando de lado o seu “ primitivismo” e alcança,junto com
o progresso material o progresso moral civilizatório.O fenômeno do nazismo
pôs por terra esta ilusão.
Atribuímos ao “ primitivo” o caráter destrutivo,como se os primeiros povos fossem crianças destrutivas ou mesmo
animais,mas descobrimos ,através da filosofia
grega,particularmente Aristóteles,que o conhecimento não é quantitativo,mas o pensar sobre ele,o discernimento.Quanto
mais acumulamos mais perdemos,até,o
verdadeiro conhecimento.
Então não há evolução,no sentido de que buscar o bem e a bondade representam uma medida segura disto.Nietszche parece ter
demonstrado que ,em assim sendo,toda
mediação modelar explicativa,incluindo a
compaixão,que é um modelo axiológico mas também explicativo,só
enfraquece esta verdade ,de que não há
senão este ser que se potencializa,dir-se-ia ,se vitaliza na busca
permanente da sua potência.
Contudo,ainda que toda a idealização de evolução e progresso não se prove,no nível individual,pode-se,sim
identificar mudanças positivas,no plano coletivo,naquilo que chamamos
humanidade.
Nietszche deplora este
conceito abstrato.Povo não existe,Homem não existe.Assim,digo eu,como
fruta não existe,mas nós desfrutamos de
bananas e maçãs.É um erro de Nietszche confundir a opção de
não se importar com a coletividade com a realidade dela.Há indivíduos que passam a
vida num caminho não influenciado por
grandes mudanças,até
opcionalmente e isto às vezes contém uma
legitimidade incontrastável,mas a experiência
coletiva inter-individual concreta é
inevitavelmente tocada pelos conceitos
,mesmo aqueles não escolhidos por
este individuo,como é impossível para um
ateu não ser tocado,em sua vida,por
muitas experiências e conceitos emanados
do cristianismo.O comportamento especifico em relação ao pudor do corpo por
exemplo e ...a compaixão.Mesmo que alguém aja
indiferentemente ao sofrimento em geral esta atitude não é neutra e implica em responsabilidade.
A compaixão,como outras mediações é um traço possível de união entre a consciência humana e os diversos elementos constitutivos desta mesma existência,especialmente o corpo,a célula que une todas as relações possíveis,o
lugar da passagem entre o conceito e a
experiência,que são apenas modos da experiência.
Ainda que a escolha
seja por uma perspectiva totalmente fora
deste contato,algo é tocado.
No caso especifico da compaixão é possível que para o sádico
o sofrimento nada signifique,como aconteceu com todos ,em volta de
Cristo,de Pôncio Pilatos até aos
soldados,que não revelaram culpa(exceto na versão do manto sagrado),mas esta
unicidade desta referida experiência nos
coloca o problema de que em algum momento o desejo de
preservação obrigue este indiferente a buscá-la nela,como teria sido o caso de um soldado romano que por
alguma injustiça tivesse sido colocado
na cruz.Manteria ele a indiferença?
Por isso digo que
embora a intenção de Niestzche
fosse vitalizar,potenciar o
ser,na rejeição do moralismo,ele caiu no
não reconhecimento desta experiência que
toca a todos,como moral, ética e outras virtudes.É o mesmo paradigma do
eremita,que se pensa isolado mas só o é porque nasceu e viveu na sociedade.
Se nascer e viver em sociedade não obriga a
aceitação da “consciência de
rebanho”,o oposto,gera um individualismo,que bem pode ser manipulado pelos fascismos da vida,e
Nietszche é um precursor indireto e, contra ele ,disto.