Meu encontro com Marx e Freud VIII
Existe um encontro possível entre estes dois pensadores na
medida em que o valor das idéias está na mediação da materialidade,as idéias não se opõem à
matéria,elas o são também.Este encontro poderia não ser aceito provavelmente
por ambos os pensadores,mas é o que se diz: o que se escreve ,o que se produz ,não
pertence,a não ser em termos jurídicos de direitos autorais,aos criadores.Como
disse certa vez Chico Buarque “a música que você faz e lança é como um filho
jogado no mundo,que você não sabe o que ele vai fazer ou o que vão fazer com
ele”.
Deixando de lado o absurdo que é ter uma atitude dogmática com relação ao que
quer que seja,isto é,deixando para trás a idéia tomista e que só é repetir as
verdades que alguém disse,todo o texto é suscetível de interpretação,de
hermenêutica.Estas não podem torcer aquilo que o autor disse,mas também não
devem sentir medo quanto às possibilidades que este mesmo texto
apresenta,apesar do esquecimento,do vácuo,deixado pelo autor,mesmo
porquê,certas idéias,como a do comunismo e da interpretação dos sonhos,não são
originais destes respectivos autores(como nada é),mas parte de um processo de
pesquisa trans-histórico,que eles,não raro,modificaram de modo radical.
Então ressalvado o pressuposto de dizer aquilo que é do autor
separando daquilo de quem não é, quem se debruça sobre os temas propostos tem o
direito de realizar uma atualização,uma interpretação meramente sugerida pelos
textos e reformular até a relação texto/contexto em que as obras são
realizadas.
Eu já fiz esta petição de princípio quanto a Shakespeare.Não
há mais teatro pedagógico do que em Rei Lear,mais do que em tudo o que foi
feito por Brecht e Piscator.Talvez nenhum destes autores concordasse comigo,mas
o meu pensamento tem fundamento e eu tenho o direito ético de fazer esta
interpretação,contra eles,não havendo nenhuma mediação de autoridade,a não ser
a busca legítima e bem fundada do conhecimento,porque o conhecimento nos toca e
o homem comum,dotado da simples razão de Kant, pode e deve, a partir deste
toque, opinar e elaborar,tendo tempo e condição intelectual.
Assim sendo ,para mim ,Marx e Freud são complementares e
divergentes ao mesmo tempo e
pode-se e deve-se tirar deles
proveitos de ambas as situações,se renegarmos,com a coragem que os fundamentos
acima nos dão,a visão do papel das idéias que Marx(e Engels e Lênin)tinha-(m).
A partir daí nós podemos e devemos analisar a subjetividade ,autônoma,dentro,também,de
um critério materialista.Se é que Freud era idealista...