"Quando não mais me quiserem eu voltarei”
O problema é que ele busca uma filosofia,um projeto,para além
da crítica.Da sua capacidade corrosiva,de mostrar as inconsistências da
razão(atitude tão comum hoje)ele quer tirar um programa.Este programa não tem
como se sustentar,pois prescinde de elementos inarredáveis da consciência
humana.A suposta liberdade que ele apregoa,com a figura do trans-valorador dos
valores,o além-do-homem não tem como se sustentar e eu já demonstrei isto em
outros artigos.
A experiência humana é una e apostar na sua ruptura é algo
impossível.Ainda que constituíssemos uma comunidade de pessoas que tivessem
somente este escopo na vida,os seus próprios valores,como na sociedade
alternativa dos anos sessenta,no contato puro com natureza provedora,certas pré-condições
teriam que ser atendidas,antes e para a sua realização.
Este tema foi muito discutido na década de sessenta e notadamente
nos anos de 68 e 69(até 1972),que parecem ter sido “ anos nietzscheanos” .Se o
homem pudesse viver naturalmente,não haveria necessidade de governos,de estruturas
complexas que o oprimem afinal de contas,mas esta é uma questão lógica e a
volta ao comunismo primitivo da sociedade alternativa indica o caminho da
dificuldade:em sociedades enormes,com exigências de organização não é possível
prescindir disto,de uma visão coletiva.
Rousseau parece ter entendido este problema em “ O Contrato
Social”,destinado a aproximar a sociedade civilizada moderna da época da
sociedade primitiva.O seu ideal era de pequenas sociedades,pequenas repúblicas
,em territórios diminutos,fáceis de governar,por isso mesmo.
Na concepção de que os homens,já não homens,ou seja,já não
preocupados com o coletivo expressam a verdadeira utopia, está a pedir licença esta constatação,de que só em
comunidades pequenas se há de constituir algo assim.
Em Nietzsche estas questões não aparecem,não se vê um traço
de união entreele e Rousseau ,mas a realidade concreta impõe estas condições
prévias,isto é,uma questão material está embutida em toda a proposta e querer
fazer esta concepção prosperar numa sociedade complexa é criar,no mínimo,um
descaso com os seus problemas.É ,no mínimo,um egoísmo,social,político e filosófico
que só tem como vicejar pela força.Por isso considero Nietzsche,como já
disse,um dos fautores da violência no século XX,que ele mesmo denunciou,achando
que sua crítica seria um anteparo.Não foi.