segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Nietzsche II

"Quando não mais me quiserem eu voltarei”



O problema é que ele busca uma filosofia,um projeto,para além da crítica.Da sua capacidade corrosiva,de mostrar as inconsistências da razão(atitude tão comum hoje)ele quer tirar um programa.Este programa não tem como se sustentar,pois prescinde de elementos inarredáveis da consciência humana.A suposta liberdade que ele apregoa,com a figura do trans-valorador dos valores,o além-do-homem não tem como se sustentar e eu já demonstrei isto em outros artigos.
A experiência humana é una e apostar na sua ruptura é algo impossível.Ainda que constituíssemos uma comunidade de pessoas que tivessem somente este escopo na vida,os seus próprios valores,como na sociedade alternativa dos anos sessenta,no contato puro com  natureza provedora,certas pré-condições teriam que ser atendidas,antes e para a sua realização.
Este tema foi muito discutido na década de sessenta e notadamente nos anos de 68 e 69(até 1972),que parecem ter sido “ anos nietzscheanos” .Se o homem pudesse viver naturalmente,não haveria necessidade de governos,de estruturas complexas que o oprimem afinal de contas,mas esta é uma questão lógica e a volta ao comunismo primitivo da sociedade alternativa indica o caminho da dificuldade:em sociedades enormes,com exigências de organização não é possível prescindir disto,de uma visão coletiva.
Rousseau parece ter entendido este problema em “ O Contrato Social”,destinado a aproximar a sociedade civilizada moderna da época da sociedade primitiva.O seu ideal era de pequenas sociedades,pequenas repúblicas ,em territórios diminutos,fáceis de governar,por isso mesmo.
Na concepção de que os homens,já não homens,ou seja,já não preocupados com o coletivo expressam a verdadeira utopia, está  a pedir licença esta constatação,de que só em comunidades pequenas se há de constituir algo assim.
Em Nietzsche estas questões não aparecem,não se vê um traço de união entreele e Rousseau ,mas a realidade concreta impõe estas condições prévias,isto é,uma questão material está embutida em toda a proposta e querer fazer esta concepção prosperar numa sociedade complexa é criar,no mínimo,um descaso com os seus problemas.É ,no mínimo,um egoísmo,social,político e filosófico que só tem como vicejar pela força.Por isso considero Nietzsche,como já disse,um dos fautores da violência no século XX,que ele mesmo denunciou,achando que sua crítica seria um anteparo.Não foi.

domingo, 20 de novembro de 2016

Nietzsche I



Qual o valor de Nietzsche se sou tão crítico em relação a ele?Nietzsche é um grande crítico dos ismos,do racionalismo,destas abstrações racionais que não só não  expressam o real,como ,ainda,estabelecem e impõem compromissos de poder.
Neste sentido Nietzsche tem um mérito extraordinário e também pode e deve ser considerado um precursor da sociologia compreensiva,na medida em que ,no âmbito das ciências sociais(se podemos chamá-las assim?)se busca sempre um meio de abordar o sujeito (humano?)o mais próximo possível das suas ações.A visão coletiva da sociedade costuma esconder estas ações e procurar determinados eventos que supostamente explicam não só ela própria como os indivíduos nela contidos parece ser um caminho impossível,pois o geral não esgota ou exprime o particular e muito menos o singular.
Existe neste método dedutivo racional uma distância muito grande entre a variabilidade individual subjetiva e os padrões sociais que as explicariam.
O racionalismo(Apolo)obscurece e não revela as ações humanas ,em sua perspectiva e legitimidade.
Por outro ,na sua crítica,Nietzsche só vê esta perspectiva subjetiva e não as influências que o todo realmente possui e preconiza um isolamento que não condiz com o real.Uma ruptura que não é possível de fazer.Aqui há uma “consciência falsa” em Nietzsche,uma inadequação porque se ele tem razão em demonstrar as fraquezas da abstração e do racionalismo,por outro ele não só esquece o que acabamos de dizer,mas a necessidade,ideal,de conexão ,do individuo,do sujeito, neste todo.
Ele se refere a uma má consciência e boa consciência e não a bem e mal e nisto nós divergimos,uma vez que tal modo de pensar induz,a meu ver, a um individualismo agressivo,uma desconsideração com o “ em volta”,com os outros,que nada  tem a ver com o moralismo que ele tanto ataca.
É certo que cada um tem a responsabilidade consigo mesmo,mas a solidariedade não é moralismo como ele parece identificar.Os ideais subjetivos são necessários e o bem e o mal não são moralismos,mas experiências humanas necessárias que podem ser construídas subjetivamente,perpsectivamente.
Esta postura de Nietzsche me faz lembrar o “ anti-humanismo” teórico de Althusser:o mundo real,das relações sociais reais implica num abandono desta concepção do humanismo,um conceito falso e encobridor da exploração,das desigualdades,mas o humanismo é uma intenção de construir uma humanidade real em bases mais consentâneas com ela própria.
Fazer uma divisão deste tipo,entre o ideal e o real é o que me parece o criadouro de “ monstros”,como na pintura de Goya,porque as grandes violências surgem num indiferentismo cercado de grupos que se acham donos da verdade,sem ver o outro,preocupados apenas com a sua boa ou má consciência,com aquilo que lhe aprouver.

sábado, 5 de novembro de 2016

Os três judeus



Einstein


Uma nova série eu inicio falando sobre os judeus que influenciaram a minha vida:Marx,Freud e Einstein.
Hoje eu vou falar sobre este último e sobre alguns documentários que puseram a sua  figura num lugar mais humano e não divino,como era antes.
Einstei nasceu e cresceu numa época de anti-semitismo em ascensão na Alemanha(que viria a dar no que deu...)e as suas reações de rebeldia em relação à escola derivam do sentimento de preconceito com o qual  teve que conviver a vida toda.O cabelo desgrenhado,a postura debochada,não usar meias,enfim,uma pletora de atitudes para dizer às pessoas que o mais importante não é a  aparência.
Contudo ao longo de sua vida vitoriosa ele adquiriu uma certa dependência desta fama.O fato de ser assim e ter conseguido,legitimamente,o que conseguiu lhe causava uma extrema satisfação.É um fenômeno parecido com a trajetória pessoal de Chaplin,que  de menino de rua se tornou o maior cômico da história.
Quando,aos 40 anos ,depois do Nobel,a sua vida criativa se acabou e o isolamento no mundo científico apareceu ,ele encontrou nesta notoriedade um impulso para continuar desfrutando da fama.
Refiro-me à teoria do “ campo unificado” que ainda hoje,pela teoria das cordas,puxa a atenção de muitos cientistas.
No caso da proposta inicial,ainda havia a presença da figura do Deus panteísta em que Einstein acreditava mas eu não me referirei  a esta idéia.
Vou me referir à impossibilidade de se “ fechar” o universo.Quero dizer,que pela intelecção é possível descartar esta teoria.
Se estas forças fossem capazes de interagir umas com as outras o universo seria fechado e compreensível defintivamente,mas o que haveria além delas?Porque pensar que estabelecendo um limite definitivo não haveria um plus ultra?
Relembrando Espinoza,mentor filosófico de Einstein ,enquanto panteísta,a causa incausada(o Deus panteísta)não resolve o problema do Ser,do Ser de Deus.Aliás este termo em Espinoza é muito complicado,porque se Deus está em todas as coisas e todas elas têm causa e se Deus não se distingue delas(como Ser)Deus é(seria)uma coisa e teria uma causa.
Sabemos que Espinoza distingue com este termo a  matéria,que tem os seus modos de Ser e a causa destes modos,que estaria não na matéria,mas fora dela(Deus),assunto que eu não vou tratar e que  acho muito passadiço ,porque se trata da prova da existência de Deus,de um Deus que cria a  matéria mas não se identifica com ela,está fora dela.
Para mim isto é um absurdo,Um Ser que cria a matéria sem ser ele mesmo matéria.
O mesmo acontece com a teoria de Einstein.Não há porque pensar que a unificação das forças é possível,porque assim o universo,fechado em si mesmo, poria de novo este problema acima:Nec plus ultra?
Parece-me que Einstein cometeu um erro anti-ético de querer se manter na mídia ,forçando a energia dos físicos,numa direção quimérica,ou seja,sem solução.
Ele teria dito que a equação E=mc2 seria eterna,mas nós vemos que esta equação foi construída historicamente(vejam o meu artigo sobre as ondas gravitacionais)e não se há de crer(o termo  é este...)que não se modifique.Eternidade é um conceito que nem a religião consegue esgotar.