Marx
aborda com uma estrutura explicativa o seu objeto.Aparentemente esta estrutura
é extática,meta-temporal e meta-histórica,mas é só um modo de explicar as
determinações dialéticas utilizadas por Marx,porque o movimento é permanente.
Os
modos de organizar este movimento são referenciais para compreensão de todo o
processo.
Assiste
razão a Althusser em dizer que “o
marxismo não é um historicismo”,nem,digo eu,uma disciplina descritiva,mas um
método complexo de observação do real,especialmente econômico.
Tem
que se entender que tanto o método como a realidade mesma do capitalismo estão
envolvidos numa dialética(negativa),sem rupturas,sendo este um dos seus
aspectos mais polêmicos.
O
que me chamou a atenção em Gareth Jones e sua perspicácia,foi colocar um centro
claro no tabuleiro da explicação do Capital e do capitalismo.
Os capítulos que constituem este centro são os
que tratam da mais-valia relativa e absoluta,a sua produção.
Mas
também avulta em importância e dentro do que falamos acima sobre o movimento ,a
questão de saber como o capital ,na sua forma antiga,mercadológica,se
transformou em capital no sentido capitalista moderno.os dois primeiros se
referem a isto e este foi um dos problemas da feitura de o capital.
Mas
o ponto nodal que facilita a explicação de Gareth Jones é a contraposição entre
trabalho vivo e trabalho morto.
A
definição de cada um destes itens é a seguinte:
O trabalho
morto é o trabalho vivo que se acumula na forma de
produção de bens de capital. Brevemente, segundo Marx, trabalho vivo é
o que o homem pratica quando se envolve na transformação da natureza em seu
benefício. ... O trabalho morto é o trabalho vivo que
se acumula na forma de produção de bens de capital.
O
que é o trabalho vivo?
[O trabalho
vivo é o] ato que se passa entre o homem e a natureza. Nele, o próprio
homem desempenha, diante da natureza, o papel de uma força natural. As forças
de que seu corpo é dotado, braços e pernas, cabeça e mãos, ele as põe em
movimento, a fim de assimilar matérias, dando-lhes uma forma útil à sua vida.
O trabalho
vivo em ato nos ajuda a olhar para duas dimensões: uma, é a da
atividade como construtora de produtos, de sua realização através da produção
de bens, de diferentes tipos, e que está ligada à realização de uma finalidade
para o produto (para que ele serve, que necessidade satisfaz, que ‘valor de uso’
ele possui.
Então
o eixo central da compreensão de O Capital é esta dicotomia.Aliás toda a sua
compreensão se dá por dicotomias:tempo/modo;estrutura explicativa/dinamis
permanente do capital;trabalho/trabalho vivo/trabalho morto;departamento
I(capital variável[mais-valia]{bens de salário ou de consumo})/departamento
II(capital constante[máquinas,bens de capital]).
O
trabalho vivo é o que produz mais-valia e que é responsável pelo
consumo,através do salário;é o capital variável(v),enquanto que o morto é o
constante(c),o que se constituiu como máquinas e instrumentos para a produção.
A
discussão é o desenvolvimento histórico de todos estes itens e o modo de
funcionamento do capitalismo.
Foi
um problema para Marx mostrar como juntar estas duas mediações:a imediata,do
capitalismo hoje e o seu desenvolvimento histórico,que permanece na dinamis
atual,mas é passado(acumulado[acumulação]).
Assim,o
processo de formação do capitalismo começa nos interstícios do
feudalismo,quando pessoas que acumulam um certa renda dinamizam um comércio
cada vez maior.
A
primeira fase do capitalismo ,como aprendemos na escola,é o comercial,que é o
ápice do processo de troca mercadológica ,que se iniciou no seio do senhorio e
feudalidade,mas no interior deste novo modo de produção ,o capitalismo como nós
conhecemos,a se chamar de industrial ,vai se reforçando ,como a serpente no
ovo.
É
aí que Marx apresenta os esquemas famosos e que juntam o passado e o presente
do capitalismo(e o futuro?):
M=M
troca simples.
M=D=M
troca comercial.
D=M=D
ampliação da troca comercial.
D=M=D’
troca capitalista.D’ é extraído para uma poupança do capitalista,para
investimento e reinvestimento.Ele extrai esta mais-valia para satisfazer as
suas necessidades(reprodução simples).
Neste
passo existe a distinção também
importante que são a reprodução
simples do capital e a ampliada.
Entendemos,
pois, como reprodução simples capitalista, a reprodução em que o capitalista
emprega toda a mais-valia arrancada da exploração dos seus operários para
satisfazer suas necessidades.
Mas
num determinado momento o capitalista não usa esta mais -valia e a separa para reintroduzi-la no processo
capitalista.
1. Há
reprodução capitalista ampliada ou acumulação do capital quando o capitalista,
não consumindo toda a mais-valia de que se apropria, consagra parte da mesma à
produção e a transforma em capital complementar.
2. O
crescimento do capital e o aumento da produção da mais-valia são os resultados
da acumulação do capital.
Este
processo ampliado são o resultado da acumulação(histórica)do Capital.E é sua
reprodução.
Diante
desta estrutura básica nos podemos entender como funciona o capitalismo,tanto
no seu movimento atual ou permanente,como na sua história pregressa,de formação
e estabelecimento.
De
qualquer modo e de acordo com os conhecimentos que temos hoje,a questão do
capitalismo s e apresenta em Marx como as razões pelas quais as crises
inevitáveis levarão ao fim deste modo-de-produção e aí nós temos muitas
perguntas a responder:Marx estava certo?A mais-valia permanece como ele
definiu?A questão econômica é suficiente
para levar à utopia?A revolução é a única forma de chegar lá?
Falava-se
no tempo numa revolução econômica .Mas tudo isto são discussões que
precisam ser baseadas na compreensão da dinamis do capitalismo.
O
processo todo se resume no diagrama e nos seus interstícios nós podemos
entender como funciona:
No
momento em que se dá a acumulação primitiva
nós temos D=D´,a reprodução ampliada do capital que se mantém no
processo de exploração da mais-valia e reproduz a acumulação através de seus
métodos ,apontados por Marx.
No
processo de desenvolvimento do capitalismo,no seu núcleo central nós temos a
composição orgânica do capital que se faz pela conexão entre o capital
variável(onde está a mais valia e os salários[departamento I]) e o capital
constante(departamento dois)o maquinário e as condições extáticas para o
capitalismo atuar.
O
trabalho vivo está no departamento I e o morto no II,bem como os bens de
salário(consumo) e os bens de capital.
Ao
longo da história nós vemos como este processo se deu:os estados/nação foram
feitos com o sacrifício do departamento I em favor do II,porque as burguesias
aliadas aos reis municiaram o estado de mecanismos de unificação da administração do território
e “ obrigaram” população a se adaptar a
este novo conceito,chamado de nação.
E
até aos dias de hoje este mecanismo predomina,mas eu não vou falar disto agora.
O
que interessa é usar os diagramas supra-citados para resumir o capital de Marx
e o capitalismo,apresentando o meu diagrama e a minha explicação.