quinta-feira, 10 de abril de 2025

O fantasma do pai de Hamlet II

 

Eu já falei muito sobre o caráter republicano de Shakespeare.E da maioria dos mestres renascentistas.Fica evidente nos elogios que ele faz a Brutus,encobrindo suas preferências na questão da inveja.

Brutus foi o único que matou César,seu pai,por convicção e não por inveja.Não pelo poder,mas pelo principio politico.

Em toda esta questão dos fantasmas nas peças de Shakespeare me parece existir uma danação das monarquias  e um favorecimento das repúblicas,como regime legitimo,cujo fundamento é legitimo.

O que faz o fantasma do pai de Hamlet senão lembrar a seu filho da legitimidade dele face ao seu cunhado,que tomou o trono e a sua esposa?

É certo que a legitimidade aqui é monárquica e a ilegitimidade é a força,é a pura ambição,que já tinha “danado” Macbeth.

No entanto,em toda a obra de Shakespeare se relaciona a monarquia com estes atos ignominiosos de tomada do poder,porque o poder está na mão de famílias,de pessoas e não de grupos que são responsáveis pelo estado.

No passado a noção de republica era menos relacionada ao sufrágio do que à divisão do poder.

O que opõe os senadores  a César é exatamente  esta contraposição entre o poder dividido e aquele que é enfeixado numa mão só.

O desenlace de Hamlet é uma resolução dramática ou tem um significado associado a estes problemas?Parece-me mais uma questão dramática e familiar,mas certamente Hamlet  tem um quê de vingador republicano ,porque a tarefa dele não é só familiar.Isto se depreende da sua condição edipiana.A sua tarefa é acabar com um poder ilegítimo.

 

terça-feira, 8 de abril de 2025

O fantasma do pai de Hamlet

 

O fantasma do pai de Hamlet é uma metáfora.Os fantasmas de Macbeth são uma metáfora,mas têm um significado psicológico sim,que mobiliza o corpo do personagem,que deve transparecer nas suas ações e no seu rosto:uma angustia muito séria que acompanha os ilegítimos e a ambição sem fundamento de poder.Como vimos no artigo anterior.

O fantasma do pai de Hamlet é uma metáfora porque o personagem(Hamlet)guarda a sua racionalidade intacta diante das tarefas que lhe são exigidas.

O complexo edipiano evidente,como notou Freud,revela a presença das emoções e sentimentos,mas ele está no comando,o que não acontece em Macbeth,em que as circunstâncias vão conduzindo o personagem para o desenlace fatal de sua trajetória,mostrando também que a previsão das três “ bruxas” não era tanto assim,porque óbvia,exceto pelo homem não nascido de mulher.

Hamlet cumpre estas tarefas enfrentando dramas pessoais,crises de consciência e sofrimento psicológico intenso,mas  a razão está lá,a guiá-lo.

São dramas edipianos sim,avant la lettre .E nos remetem à impossibilidade de Hamlet resolver estes conflitos(faltou um psicanalista).

Na esfera do real a solução é sangrenta,como todo o nascimento:no fundo Hamlet é semelhante a Lear,uma vez que está se tornando homem e independente.

Mas uma coisa é resolver questões de estado,outra,familiares.

Pouca gente nota isto em Hamlet:os problemas do estado se imbricam com os familiares,como acontece nas monarquias.

Poderiamos pensar num inicio de totalitarismo em Hamlet.

domingo, 6 de abril de 2025

Os fantasmas de Shakespeare II

 

Nós sabemos que muitas figuras históricas fizeram coisas terríveis e que nunca tiveram o mais minimo remorso.

Quando Shakespeare trabalha com estas figuras históricas ele não está propriamente com as figuras históricas ,mas com conceitos que elas representam.

A figura de Macbeth é a da ambição desmedida,que não tem fundamento.Certamente isto não ocorreu pensar ao Macbeth real,mas os acontecimentos de sua vida ensejam uma discussão sobre a ilegitimidade de seu poder.

Esta ilegitimidade pode ser em diversos níveis:pessoal(de onde surgiriam os delírios);politica;histórica.

A histórica é a narrativa dos descaminhos do poder de Macbeth;A politica é o meio pelo qual ele chega ao poder e em Shakespeare a força não tem autenticidade para implantar e manter um poder.

Acima de tudo Shakespeare critica o que não está certo no fundamento das ações.Ele não é moralista ou moralizador ,mas uma analista da psicologia humana  avant la lettre ,usando só os elementos empíricos da vida e  as ações:construir um poder a partir da destruição leva à destruição.

E do ponto de vista pessoal ,que é onde está a psicologia ,as consequencias  dos seus atos são vistas nos delírios,nos fantasmas.

Mas a premissa artística é que vale ,não a figura histórica propriamente,não os fatos históricos em si.

O mesmo acontece com Cidadão Kane:William Randolph Heart jamais viveu qualquer contradição daquelas expostas no filme,mas os conceitos relativos à riqueza pela riqueza,à solidão de quem quer  impor seu pensamento a qualquer custo estão lá “ estudados” pelo cineasta.

Uma coisa é a realidade outra  a arte .

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Os fantasmas de Shakespeare

 

Em outro artigo eu expliquei em pessent todos os fantasmas das peças de Shakespeare.Mas eu quero fazer uma pergunta agora e contrapor dois deles:eles são fruto também de alucinações por parte dos personagens?Ou seja pode-se fazer uma leitura psicológica deles?

Na minha opinião, o fantasma do pai de Hamlet é só  arte,só teatro.Não há psicose possível de identificar no aparecimento diante do principe.Ele não está em alucinação.

Mas no caso especifico de Macbeth não há como não ver um problema psicológico na sua visão do rei deposto.

Mas só o sentimento de culpa,de ilegitimidade,é suficiente?

De modo geral o núcleo central de toda psicose é uma contradição interna,insolúvel ,que se espraia para a  “ objetividade”.

No caso de Macbeth é isto.Não vendo em si legitimidade para governar,ele começa a ter delírios.Sentimento de culpa?Da mesma forma nós vemos algo semelhante no aparecimento de César diante de Brutus no campo de Batalha e os delírios auditivos de Ricardo III,no final de sua peça.

Estes exemplos são psicóticos,não só artísticos,mas expressam uma compreensão empírica avant la lettre ,da psicologia humana:não há uma explicação freudiana ou junguiana,mas a experiência humana indica  que em momentos de contradição pessoal,culpa,medo extremo,imagens fictícias ,delírios aparecem para aterrorizar estas pessoas.

Mas por trás de tudo isto as razões politicas,pessoais,éticas assumem um papel decisivo:o sentimento de culpa em Brutus,por ter matado seu pai;a ilegitimidade do poder em Macbeth e o medo  em Ricardo III.

Existem intersecções entre estas razões e a psicose?Próximo artigo.

domingo, 30 de março de 2025

A formação do pensamento de Einstein

 

O ano decisivo da carreira do cientista foi 1905,o ano mirabilis da ciência daquele tempo e ele acaba por ocupar um lugar primacial.

Contudo,foi um grande esforço até chegar a este ponto.E é sempre assim na ciência e nas realizações.

Como eu já disse em outro artigo,de muitos anos atrás,o campo magnético de Faraday possui a mesma natureza da teoria da gravidade:a distância de um ponto a  outro deste campo é elevado ao quadrado,delta 2.

Como ocorre na gravidade.

Em 1901 Einstein tentou transpor este esquema para os gases,no esforço,junto com outros cientistas de identificar a existência de moléculas,coisa que ainda não era admitida,bem como os átomos.

O famoso movimento browniano intrigava os cientistas:como partículas de folhas se movimentavam num recipiente inteiramente fechado.

A única explicação é que havia moléculas que se movimentavam.

Outros cientistas,como Helmontz,deram resposta positiva a esta pergunta,assim como Einstein,mas a preocupação própria dele em um artigo do ano citado era comparar a lei da gravitação universal com este campo fechado ,de gases,ou magnético,confome exposto acima.

Ele não conseguiu,uma vez que a movimentação das moléculas é probabilística ,diferentemente do que acontece no universo e esta constatação é um dos inícios da física estatística,que confirmará  a teoria quântica depois.


terça-feira, 25 de março de 2025

Da insubstitutibilidade II

 

A verdade é que além da percepção que legitima a irrepetibilidade de cada um de nós,existe uma outra forma de insubstitutibilidade:a imortalidade pela realização.

Durante anos lutei para igualar aquele que não tem imortalidade com aquele que tem,mas hoje estou seguro de que tal não é possível e alguns são lembrados enquanto outros não.

Se não encontrarmos uma forma de imortalidade para todos não há saída:uns são e outros não são.

Um trabalhador comum é igual a tantos,apesar de ele ser um ser humano irrepetível.Mas o Einstein é um só;Galileu é um só e não tem escapatória.

Grande parte da inveja ,dos ressentimentos é por causa disto e superá-lo talvez diminuísse estes fenômenos.

Einstein é um ser humano como outro qualquer,singular,perceptível como tal,mas a sua realização o põe na imortalidade universal e trans-temporal,porque ele ficará por um bom tempo,pelo menos,reconhecido e lembrado.

Se cada pessoa pudesse  ter a “ sua” imortalidade tudo se desvaneceria num congraçamento,mas não sendo assim e vivendo numa sociedade desigual o ressentimento é certo.

Nós podemos analisar da seguinte forma:todos têm olhos,boca,barba(ou não)nariz,mas só alguns têm algo além disto,que é uma realização a ser obrigatoriamente lembrada e considerada.

Então os verdadeiros  insubstituíveis são estes ,imortais,por uma realização,que se impõe aos outros,ao reconhecimento dos outros.

Hegel fala muito do reconhecimento,que é uma categoria complexa e fundamental na sociedade.

segunda-feira, 24 de março de 2025

O lugar da paleontologia No meu trabalho

 

Eu sempre mantive o interesse pela interdisciplinaridade no meu trabalho e a maneira de mantê-lo é usar a ciência,as diversas ciências.

Uma delas,que eu sempre estudo,é a da paleontologia humana,a seleção natural aplicada ao homem,bem como às espécies.

A partir daquilo que eu falei no artigo anterior,uma idéia,uma hipótese se me apareceu na cabeça:os rostos humanos são o resultado,enquanto singularidades,diferenciação e irrepetibilidade,do deseonvolvimento antropológico e social da humanidade,desde seu aparecimento como hominídeos até a humanidade propriamente dita.

Os animais são iguais.Identificamos algumas diferenças pontuais nos animais,mas eles são padronizados.

O ser humano rompeu com esta realidade,com esta padronização e constrói a sua diferenciação por conta das relações sociais que estabelece com o mundo,sem esquecer a relação de trabalho com este mundo natural,edificando afinal,a sociedade,uma mediação sobrenatural.

É no interior desta que os rostos humanos vão expressar a realidade complexa e no tempo destas relações psico-sociais.

Na verdade o próprio termo psico-social é já uma construção,inserida nesta moldura a que estou me referindo.

A psicologia humana,por trás dos rostos,surge neste processo de desenvolvimento social e a cada etapa eles se modificam de modo que a história da humanidade fica marcada em algumas faces ,podendo ,inclusive,permitir,o estudo das épocas.

O retrato de uma mulher em 1800 é diferente da de hoje.

domingo, 23 de março de 2025

Da insubstitutibilidade do individuo

 

Quando li em épocas melhores o livro de Leandro Konder “Marxismo e Alienação” ,uma idéia que eu só viria a encontrar na fenomenologia,apareceu:do caráter insubstituível  e inigualável de cada pessoa.

Husserl se refere à esta realidade ao propor o “ eu transcendental”,seguindo Kant.

E de modo geral outras filosofias e pensamentos buscaram esta singularidade.

A resposta para a admissão da singularidade,daquilo que os fenômenólogos chamam de “visada”,irrepetível,eu já venho colocando inúmeras vezes aqui:só se pode perceber a singularidade e admiti-la a partir daí.Ao buscá-la racionalmente é impossível dentro do conceito de que a coisa em si é incognoscível.

A filosofia busca fundamentos,mas a partir de Nietzsche há um momento em que o fundamento básico,o fundante de todos os fundamentos aparece:a própria perspectiva individual e singular.

O fundamento de um fundamento sem fundamento:assim é que se entende a teoria do eterno retorno.O fim de algo é a possibilidade do começo de outra coisa,de outro fundamento.de outra linha de fundamentos inter-relacionados.

Mas este começo é um fundamento sem fundamento e aí que a irrepetibilidade,a singularidade,surgem para justitificar o pensamento de que há coisas que se reduzem à própria individualidade:o individuo.

Este é o sonho:pensar sempre que se é singular,que não existe outro como eu na vida e a única forma de concebê-lo é pela percepção e não pelo discurso lógico explicativo.

A fenomenologia tratou disto,mas em “Marxismo e Alienação”quem apontou este caminho foi Levi Bruhl,um antropólogo.

De diversos lugares se pode chegar à singularidade.

sábado, 22 de março de 2025

Quando eu era professor IV

 

Então o mundo e  a vida parecem uma luta entre aquilo que morre frequentemente e aquilo que tem vocação para ficar.

No processo da aufhebung a mudança está pari passu ao processo de conservação e a perspectiva de imortalidade está além do homem,mas passa por ele.

O que é aquilo que mais se conserva?A religião,que acompanha a humanidade.Depois ,as criações da cultura;depois as nações.

Eu diria que os problemas humanos têm vocação para a eternidade.O sexo?A vida apesar das espécies?

Se a vida sobrevive apesar das individualidades,o que estas são?A individualidade é a vida concreta ,mas a vida em geral também é concreta.

Eu procuro aquilo que é fugás de fato,o que é?As pedras não se modificam,mas continuam pedras ,de outro modo?

São as realizações da cultura que podem permanecer um tempo quase idêntico ao da eternidade,como os poemas de Homero e Dante;ou como as cidades,como Roma.

O que mais chama a atenção no entanto é que poderíamos ficar indefinidamente(eternamente?)estabelendo aquilo que muda e perece(só assim muda)e aquilo que permanece.

Os pincéis mudam,mas as pinturas não.

No fundo é a subsistência se aguentando no mar de insubsistências.No fundo é a luta entre o que perece e o que é perene.

Existe uma dialética entre estas duas coisas?Certamente que sim,mas a própria dialética subsiste eternamente,como principio?Ela não perece nunca,como produto da cultura?

Como algo perene define o que perece,o que muda?Só se resolve esta contradição(dialética?)se abordarmos o termo mudança.

A mudança é perene enquanto perece permanentemente.Mas aquilo que fica nega para sempre a mudança?

sexta-feira, 21 de março de 2025

O mein kampf II

 

Não era propriamente um império o que Hitler queria ,mas uma arianização e/ou germanização do mundo.A “melhor” forma de evitar a derrocada de um império é eliminar o dominado.

Mas certamente os beneficiários desta germanização não iam aceitar in totum,todos,esta eliminação.

Receber de um oprimido,de um injustiçado uma vantagem sempre cobra um preço moral inarredável.

E na Alemanha e nos países conquistados quantas pessoas não foram desalojadas de suas casas,para que alemães arianos pudessem viver?

Para muitos isto não trouxe drama de consciência ,mas no cômputo geral,sim.Um anátema caiu sobre a Alemanha ,até aos dias de hoje.

Não era,repitamos,a construção de um império,embora Hitler pensasse em manter uma certa cota de “escravos” à disposição.

Era modificar o mundo ,controlando o diferente e/ou o eliminando,sem culpa,mas como manifestação de um direito de sobrevivência do povo alemão e ariano.

Já que os alemães corriam risco ou melhor correram risco sempre, a melhor forma de se proteger é eliminar em definitivo este perigo,que não era só o comunista.

Um credo de cerco,de auto-defesa definitiva com relação aos outros povos e ,numa semelhança com a idéia comunista,dispor de vastos territórios capazes de ofertar matérias primas  e riquezas para os arianos.

Uma população ariana espalhada por estes territórios e recolhendo estes valores per capita para ela própria.

Tal era o objetivo de Hitler no mein kampf:unificar os povos arianos e destruir os outros e/ou neutralizá-los de alguma forma.

quinta-feira, 20 de março de 2025

o mein kampf

Amigos eu vou retomar aqui a biblioteca ,esquecida por alguns anos ,mas vou colocar neste blog,não num blog separado.

E recomeço tratando de um livro,o qual já abordei(inclusive o assunto)mas que aprofundarei agora:

O capitulo mais elucidativo deste livro é aquele que se intitula “o homem forte é mais forte quando está só”,onde o autor expressa a sua concepção totalitária,pela qual não existe ética em vencer o outro,segundo regras pré-estabelecidas,mas a necessidade imposta pela natureza de destruir este outro,o qual será sempre uma ameaça.

Uma vez eu comparei Hitler a Cortez que destruiu a civilização asteca,quando poderia usá-la em seu favor.

Mas tanto Hitler como a inquisição espanhola tinham como perspectiva a destruição do diferente e permanência só de quem assim procedeu e venceu.

Num certo sentido a visão de escravização dos povos era transitória porque no final só ficariam os povos arianos.

Os escravos seriam destruídos também,como uma ameaça permanente de revolta.E como uma cultura concorrente,por isto perigosa.

O perfil psicológico do autor é destrutivo,integralmente destrutivo, e muitas decisões foram tomadas neste sentido.

Ele só admitia manter uma outra cultura se a concorrência dos arianos fosse incontrastável ,como aconteceu com Paris.

 

quarta-feira, 19 de março de 2025

Quando eu era professor III

 

Naturalmente todas as considerações que venho fazendo até agora têm um tom de blague.Contudo as contradições são reais entre aquilo que é e aquilo que se modifica permanentemente.

É um tipo de contradição insolúvel e que só se deslinda na concepção do Ser:Jean Wahl afirmava que o ser é extático.Ele flui como a matéria que  cai na ampulheta.

Eu já fiz esta observação em outros artigos,mas hoje eu quero aprofundar o que eu disse  asseverando que o que fica do Ser é esta matéria que vai se desfazendo  e se recompondo permanentemente.

Também disse uma vez que se denominarmos o ser como matéria nós não estamos vendo senão parte do Ser,porque ele é mais do que isto.

Contudo,nossas últimas análises demonstram que se não houver um termo limitador na sua definição,é impossível sair da contradição entre o movimento e a permanência,o que fica e o que muda(a aufhebung de Hegel).

Sem esta realidade limitadora nós não podemos dar seguimento aos estudos filosóficos sobre o Ser.

E afinal de contas ainda que a  mudança modifique o ser ela modifica parcialmente,não totalmente o ser.

O ernesto que se modificou continua sendo o ernesto,apesar de diferente daquele que não se coçou.Restam sim  elementos constitutivos do ser,que o definem e lhe dão sentido.

Dito isto nós temos que analisar mais uma vez a contradição:o que permanece na passagem do tempo e o que fica,se fica nesta mesma voragem.

Ao longo do tempo e das épocas coisas permanecem e outras vão desaparecendo.Elas têm vocação de eternidade?

terça-feira, 18 de março de 2025

Quando eu era professor II

 

Continuando o artigo anterior:

.................

Se eu relacionar cada ponto com cada vazio(que não é vazio)haverá uma contradição insolúvel porque não é possível conciliar cada um deles,indistinto com a realidade que os perpassa.

Supondo que estes pontos são os diversos ernestos,que se modificam a cada segundo ou a cada minuto e no meio ,nos interstícios está o ernesto,como conciliar o ernesto 2 com o ernesto em geral que já se modificou?E se cada ponto é um pouco o ernesto em geral,qual a diferença entre um e outro?

Isto nos remete para a conclusão final de Kant:é impossível apreender de fato o real,muito menos in totum .

O real é uma contradição insolúvel que só uma construção subjetiva dá sentido.

Os instantes do tempo são momentos fugazes reais?Nós podemos dizer que há um momento,separado de outro?Problemas que a ciência,a ciência física,tenta resolver.

Admitindo que sim ,nós temos como fazer um acordo entre a subjetividade e o real,por mais fugaz que seja.Mesmo assim esta fugacidade nos remete para outros problemas:o que vem depois e antes desta fugacidade?Ela é separada de fato do mundo?Então como é um instante fugaz,um átomo?Um momento?

Tudo nos leva para a mesma conclusão anterior,que dá conta de que o mundo é inapreensível e que suas realidades só são compreensíveis naquele modo que Da Vinci gostava de falar: “ O conhecimento é como a ação das mariposas em volta da luz:se se aproximam demais,queimam as asas”.

Há um limite,uma prudência exigível no ato de conhecer e o que resta do antigo racionalismo é esta eventual adequação entre sujeito e objeto no tempo e no movimento.

segunda-feira, 17 de março de 2025

Quando eu era professor

 

Quando eu era professor(embora ainda seja),nas aulas de filosofia, eu costumava brincar com os alunos: “prestem atenção em mim agora,porque esta pessoa que vocês estão vendo vai ser outra em um segundo”.

Todo mundo ficava estupefacto.

E aí mostrava a razão da minha assertiva,da minha previsão:eu me coçava e “ tirava” algumas células de meu corpo e me tornava alguém diferente daquele que ainda não se coçara.

Após o riso geral eu mostrava como isto tem a ver com a filosofia e com algumas de suas categorias fundamentais.

O tempo,a dissolução do Ser,o Ser e sua natureza.Tudo isto e mais alguma coisa se apresentava diante do que eu fizera,até mesmo a referida previsibilidade.

Mas o primeiro problema colocado pelos alunos era o fato de que eu permanecia como Ernesto,professor,apesar de diferente.

Isto era um mote para discutir a aufhebung de Hegel,mas antes de entrar neste filósofo eu respondia à questão:certo,eu sou ainda o Ernesto,mas não aquele igual a antes da coçada,como não seria se colocasse uma pinta ou fizesse piercing.

Não se há de negar que cada atividade desta formaria diversos Ernestos diferentes,que não afastam o principal,mas qual principal?Se é da natureza das coisas o movimento e portanto,a mudança?

Quando não se admitia o movimento era possível pensar numa integralidade,que já era falsa,porque desde sempre o mundo(o Ser) se movimenta e muda.

O não-movimento é uma ilusão e uma imagem falsa aquela que coloca diversos pontos não interligados:

. . . . . . . . . . . .

Entre estes pontos existe algo que os liga?

domingo, 16 de março de 2025

O inventário das dicotomias Marx

 

Eu disse que voltava a Marx,não disse?Pois é, neste inventário dos filósofos e pensadores   que trabalham com uma contraposição Marx também está presente.

A contraposição dele é a relação do homem com a natureza.

Todos os filósofos de que temos falado,inclusive Marx,desenvolvem uma integração entre o sujeito e o objeto cartesianos.

Kant os integra,na experiência;Hegel,no movimento (dialético)e Marx os integra na categoria do trabalho,que transforma a natureza,transformando(dialeticamente)o homem,num processo infinito e necessário de mudança e permanência.

A mudança se dá nas novas realidades que derivam do trabalho  e a permanência é o próprio trabalho mesmo,a atividade, a vita activa ,consciente ,que transforma a  natureza e  “faz”
o mundo.

Ora isto não é a continuidade da dicotomia sujeito/objeto?Claro que sim,Marx é cartesiano e racional.

Mas introduz uma mediação diferente dos filósofos citados,porque estes permanecem na dicotomia,nas idéias ,na ação compreensiva do sujeito,enquanto que em Marx algo além (mas não dissociado)da dicotomia aparece.

Neste sentido ele acrescenta um “ algo”a esta contraposição,uma hierarquia que vai de cima para baixo,da dicotomia para o trabalho e de baixo para cima ,do trabalho para a dicotomia.

Na verdade Marx descobre que quem produz esta dicotomia é a mediação do trabalho.A origem da dicotomia não é só o pensamento do filósofo,mas o lugar dele no desenvolvimento histórico,que permite produzir a contraposição.A autonomia do filósofo continua,mas já agora situado num processo de formação que joga um papel decisivo.

quarta-feira, 12 de março de 2025

O inventário das dicotomias

 

Hegel

Se Descartes criou a dicotomia sujeito/objeto,Hegel integrou estes dois lados no processo do movimento dialético.

O contrário do sujeito é o objeto e vice-versa e por causa desta contradição o movimento de integração,a sua dinamis ,se faz.

Até chegar a este ponto rolou muita água debaixo da ponte.A intenção de Hegel provém da teologia,da teologia protestante que se seguiu à reforma:num processo de mundanização da religião foi necessário reconciliar deus com os homens e o método para isto,foi a dialética,o movimento dos homens na relação com eles mesmos e deles com Deus(e de Deus com os homens).

A partir do momento em que o outro reconhece a si mesmo no outro de razão,de sentimento,de valores,a possibilidade desta reconciliação é imensa.

O primeiro ponto positivo da dialética é destruir estas barreiras(medievais)entre os homens e entre eles e o mundo.

É o reconhecimento como célula mater da relação humana,quiçá um inicio de sociologia...Pelo menos as condições de uma sociologia estão dadas aqui neste reconhecimento.

E Hegel está inserido,junto com a sua dialética,no “ desencantamento do mundo”,o qual perde todos os véus místicos e míticos,para se tornar um lugar real ,com o qual se interage sem rebuços,mas  realmente .

Convém,no entanto,reconhecer também que a mediação da dialética é um tanto quanto mítica também,porque ela pretende explicar o mundo,de fora dele,quando ela faz parte dele.


segunda-feira, 10 de março de 2025

Kant e a matemática

 

Dentro da filosofia de Kant, a matemática adquire novos significados.Na medida em que a linguagem não restitui o real ,não podendo abarcá-la ,a matemática também não s e referencia a uma quantidade especifica mas o nomeia aquilo que a razão distinguiu no mundo real.

Distinguiu como numero ou antes,como numeral,como algo que nomeia,mas que expressa uma verdade subjetiva dada pela sensibilidade.

Não tem,pois,relação com uma quantidade presente na natureza,no mundo.

Dizer que uma pedra é uma pedra  e depois somar com outras pedras nos remete a uma realidade factual,quantitativa,mas que só é apreendida pela percepção dos sentidos ,não tendo correspondência objetiva com a linguagem.

O melhor é perguntar:o que é uma pedra e nós teremos milhares de manifestações de pedras,as quais só têm valor matemático individualizadas e percebidas pelos sentidos e pela apercepção,a junção entre os sentidos e o a priori,que lhes dá direção.

Daí que se faz esta separação entre numero e numeral.No passado nós falávamos em numero como algo objetivo,mas hoje nos referimos à notação,ao numeral,porque o numero é uma construção subjetiva,uma distinção entre categorias criadas por esta mesma subjetividade:o único e o múltiplo,as contas especificas propriamente ditas e assim sucessivamente.

O numeral é como um epifenômeno ,uma forma construída subjetivamente para designar um fenômeno do mundo apercebido,percebido.

Portanto a matemática assume um papel diferente no pensamento de Kant e este pensamento tem influência até hoje.

domingo, 9 de março de 2025

O inventário das dicotomias Descartes

 

Eu não ia incluir Descartes neste trabalho,neste inventário,mas analisando Pascal vi que é importante estudar a dicotomia sujeito/objeto.

A criação da racionalidade...o momento em que o homem racional se reconhece como tal.Se duvido,penso,penso ,logo existo.

A existência depende desta razão que caminha com evidências.Ela não corre sozinha,mas dependente da razão.

Aqui está a grandeza e a limitação de Descartes:a razão nasce com ele mas o existir se submete a um critério explicativo,que Sartre mostrará depois ser impossível.

Não sou daqueles  que não gostam de Descartes.Gosto sim,porque ele é fundamental.

Mas é um dos filósofos  com mais limitações de época que existem.Ele é como Marx e fica tentando ultrapassar uma visão de mundo limitada pelo sujeito que observa a natureza,por recorrer à religião,a Deus.

Descartes era anti-ateista.O positivismo no século XIX tentou torná-lo como um precursor do mais deslavado ateísmo,mas ele originalmente era cristão e considerava que só uma visão consequente de Deus ,poderia enfeixar todos os impasses que a observação da natureza punha:Descartes sofre dos mesmos problemas de consciência de Pascal,mas a solução busca adequar Deus a este racionalismo,do qual não tem como sair.

A descoberta do cogito é uma coisa,outra o que este cogito faz diante de uma natureza que já não é aquela da idade media:é infinita supostamente,complexa,quiçá inabarcável,contendo mistérios nunca antes conhecidos e até então não revelados.

O máximo de racionalismo esbarra na inevitabilidade de seu limite,porque quanto se conhece,menos se sabe.

sábado, 8 de março de 2025

A qualquer hora Retorno a Marx

 

Não esqueci Marx não,nem o processo social.Acabei de ler a biografia de Marx de Gareth Jones,o jornalista e escritor que foi assassinado provavelmente pelos bolcheviques ,por denunciar a coletivização forçada na Ucrânia.

Esta é a melhor biografia,embora possua problemas de aprofundamento e de erros quanto aos fatos.

Mas uma biografia de Marx só pode valer se for crítica.A biografia dos soviéticos apresenta interesse ,mas é laudatória,deixando de lado problemas excruciantes do percurso do pensador.

Marx era mais pensador do que filósofo,pois tratava de diversos assuntos,enfeixados pela dialética.

A sua filosofia é muito derivativa de Feuerbach,mas é uma contribuição real,a se reconhecer realmente como válida.

Mas eu vim falar de Marx e relembrá-lo por causa do movimento social.

O que eu falei aqui teve pouca repercussão.Não preguei no deserto,porque não houve expectativa nenhuma,como não há nas hostes da esquerda.

Não há em lugar nenhum.A nave vai do jeito que dá ,como se tudo estivesse no seu lugar.

Não arrefeceu em mim o espirito de luta ,mas sozinho não tem muito sentido,além de desenvolver uma esperança de que algo aconteça.

Sempre fui contra esta postura:penso que devíamos insistir,criar alternativas,grupos,açulando a vontade.Contudo a condição objetiva não se move e aí ,sem nem mesmo uma esperança ,eu não me movo também.

Não consigo ver Marx como um acadêmico:é sempre associado à luta,mas neste contexto de desolação não resta também senão incluir no processo de luta certas discussões filosóficas ou pensamentais a respeito de Marx:suas origens e influência,o tema da alienação e do comunismo,mas não se há de negar que ele foi descarnado.

Pelo menos esta é a minha sensação,depois de destrinchá-lo.Para minha tristeza.

O inventário das dicotomias Pascal

 

Pascal entendia o homem como um caniço que pendia para o mundo e pendia para si mesmo.

Isto nos leva a pensar neste verbo:pender.Vem da raiz latina pondere  “pensar sobre” alguma coisa.Daí é que vem responsabilidade ,resposta,responder.

Significam ponderar sobre a coisa,ponderar sobre o que acontece.

A ética de Pascal é a da responsabilidade,diante de um mundo em que a presença de Deus já não é tão reconhecida assim como óbvio,espicaçando de dúvidas um cristão sincero como o filósofo.O filósofo do Deus absconso ,isto é,escondido,caché em francês.

Pender está no mesmo diapasão:aquilo que pondera é porque pende para a realidade do mundo,onde está também esta subjetividade,que realiza todas estas complexas tarefas.

Assim como Descartes estabelece uma outra forma de relação com o mundo,construindo o sujeito e o objeto,o  cogito ,Pascal focaliza na passagem entre estes dois momentos e do ponto do ethos humano ,mostra como o ser humano se encontra na busca de uma certeza reconfortadora,que a objetividade,como dissemos,não existe mais.

Diferentemente de Descartes ele não tem mais confiança no objeto cognoscível ,mas só num novo homem à procura da certeza.Sem necessariamente encontrá-la.

A proposta da aposta pascalina não elimina o risco,a dúvida,em relação a Deus e só a fé consegue um elemento,tênue que seja, de certeza frente a este Deus obscurecido pela natureza e pela ciência.

sexta-feira, 7 de março de 2025

O inventario das dicotomias

 

Muitos filósofos trabalham com dicotomias:Pascal,Nietzsche,Hegel,um pouquinho Marx e outros que tais.

É sempre uma relação determinada com o mundo:o caniço de Pascal;o além do homem;dialética em Hegel;a relação de trabalho para Marx.

Mas nós acrescentaríamos  os dialéticos e discutir se existe uma dialética em Platão.Proudhon que usa a dialética,os conjuntos práticos,a elaboração de totalidades.Sartre que também maneja isto aí,embora sem reconhecer a anterioridade de Proudhon.

Mas hoje nós falaremos sobre  o homem e o além do homem ,de Nietzsche.

Nietzsche se refere à passagem do homem para o além do homem.O homem ,este conceito abstrato ,é superado pelo além dele,que é a perspectiva(individual?)de cada um.

O homem concretamente ,não submetido a esta idealização,mas  referenciado a si mesmo,se preocupando consigo,inserido nesta “nova” comunidade de perspectivas iguais.

Muito se discutiu este termo ,“super-homem”,mas na verdade Nietzsche  construiu o termo “ além do homem”,alguém que deixou o seu passado e vive num novo presente,produzindo futuro.

É o popular “fui!”,que nós usamos tanto no Brasil.

Nietzsche propõe esta nova figura,que nada tem a ver com estas abstrações racionais,que só existem,segundo ele para confinar naquilo que ele também denomina “ consciência de rebanho”,que é o atributo do moralista,que se compraz em se adequar a estas idealizações!

quinta-feira, 6 de março de 2025

Massacrados

 

Muita gente não entendeu o que eu disse no artigo anterior,especialmente no que tange à Aristóteles.

Em primeiro lugar uma coisa é o sentimento do mundo,como Drummond dizia,outra a sua explicação,que nunca alcança este sentimento e o mundo.

Em segundo lugar e como corolário, o ser humano está entre estes dois fogos:a percepção e a explicação.

Sempre os filósofos trabalharam de um jeito ou de outro com a relação do homem com o mundo.Pascal ,Aristóteles,Leibnitz,Nietzsche sempre trabalharam com esta dicotomia básica do homem frente ao mundo.

Quando citei Aristóteles no âmbito do problema do sofrimento eu quis dizer que o ser humano se mantém prudentemente entre o seu esquecimento e a sua lembrança.

Não há como viver no sofrimento o tempo todo,nem há como esquecê-lo.

O esquecimento,no entanto,pode revelar muitas coisas e  a lembrança outras,mas eu não diria que aí estaria a diferença entre uma boa pessoa e outra má.

Contudo no plano geral da humanidade,não no plano individual,o esquecimento é viver só o momento,o presente,sem se lembrar das suas questões coletivas.

O esquecimento é o fim da utopia;a lembrança é a sua continuidade.

Supondo que o engajamento geral seja possível ,esquecer é culpa quanto a esta utopia.Supondo não ser possível o engajamento geral,a postura de esquecimento não tem nada de mais,a não ser dar de ombros para o sofrimento.

Mas este foi o meu objetivo ao falar de Aristóteles.O homem é uma passagem,uma nonada,como diria Guimarães Rosa.Está entre dois fogos,sempre.

 

Massacrados

 

Não é pelo fato de que a ciência explica a exploração que devemos esquecer  a percepção do sofrimento.Eu já expliquei esta questão trabalhando com Kant:a linguagem não restitui o mundo,mas a percepção sensível nos mostra parte dele,o qual revela-o.

A percepção mais firme e decisiva é a do sofrimento,que nos impulsiona para a relação.Metendo Aristóteles no terreiro de Kant,nós podemos dizer que o homem oscila entre o reconhecimento deste sofrimento e a  sua explicação,mas há uma rutura entre eles,sempre ameaçando a relação.

O esquecimento do sofrimento,criticado por São Paulo é uma forma,ou a forma pela qual se estabelece na subjetividade esta rutura,este...descompromisso.

A questão é saber como levar para a linguagem esta relação e este reconhecimento da sensibilidade.

Kant parece ter apontado o caminho ,mas a rigor a linguagem dele é explicativa também e  ele só aponta o problema.

Curiosamente um pensador tantas vezes criticado por seu individualismo,como Nietzsche ,me parece estar mais próximo desta identificação entre a percepção e a linguagem.

Só que ele sacrifica a explicação optando por uma linguagem poética,descritiva,narrativa,que estabeleceria uma relação equânime entre estes dois lados.

Nietzsche sempre fala por narrativas,por demonstrações do real,com imagens.Nunca racionaliza ou explica o que é,por exemplo,o amor.

Sempre retrata-o nas suas diferentes manifestações ,com as suas consequencias,positivas ou negativas.

Tal resolve o problema?Pelo menos os dois lados se aproximam.

quarta-feira, 5 de março de 2025

A revolução como processualística

 

A minha visão do processo revolucionário segue os princípios do marxismo ocidental:não uma atitude voluntariosa,mas um processo,conforme Gramsci e seus seguidores elaboraram.Sem relativismo moral:em alguns lugares vale o Lênin ,em outros Gramsci.

A primeira antinomia de Gramsci acabou,tudo é ocidente.E é só pela via ocidental que podemos chegar lá.

A partir daí há que se pensar no fim deste processo revolucionário ocidental:eu particularmente não acredito numa pura e simples transformação do estado burguês,mas  acredito que é possível uma hegemonia do mundo do trabalho,até porque em alguns lugares isto já existe.

Mas haverá o momento em que as distinções de classe terão que desaparecer e aí isto se dará como?Com uma maioria de trabalhadores será preciso reprimir violentamente as classes altas?Como se dará esta diluição?Por decreto?

Só vejo uma possibilidade pacifica disto aí:a igualação de todos no patamar produtivo das classes altas.

Mas se não for assim,porque nem todo mundo tem a  perspectiva de atingir o nível das classes altas,ou as tem como modelo,não vejo como escapar de um momento de imposição hegemônica.Uma igualação pela força,já com condições prévias determinadas.

O ideal é que tal se desse numa região total como a Europa,onde a força hegemônica do trabalho fosse capaz de fazê-lo evitando reações.

A capacidade produtiva, igualando de fato a todos,implicaria numa progressiva diluição das classes altas,como queria Bernstein?Não acho.

Nem todo mundo entraria na sociedade anônima,como ele pensava.Penso que vai ter que ter uma igualação no modo-de-produção.

Teoria quântica e teoria da relatividade II

 

Continuando os estudos sobre esta disputa  histórica e partindo do artigo anterior,devo dizer que usando o esquema passado nós podemos entender que a visão quântica do universo é total.

Qualquer construção de um campo de investigação parcial e especifico na teoria quântica não elude o fato de que ela é uma proposta universal de compreensão de tudo o que existe .

Nesta perspectiva não há um risco sempre criticado por mim aqui,de que haja uma adequação entre o discurso explicativo e  a realidade?O que contraria a percepção kantiana de que não é possível abarcar o mundo totalmente?

Bem,continua esta percepção kantiana ,na medida em que ninguém tem a condição de notar e perceber todos os fenômenos do real.

Contudo,um principio de indeterminação como algo absoluto parece colocar os mesmos problemas de uma dialética:basta aplicar este principio em qualquer lugar que previamente sabemos o que pode ou não acontecer.

A mecânica quântica tem este viés problemático.A visão de Einstein é muito limitada,mas ele tem razão em desconfiar de algo que explica o universo definitivamente,a partir de uma noção.

Não seria uma recuperação do monismo?Não haveria algo de metafísico na teoria quântica?

São perguntas que me assaltam frequentemente  e que não sei responder,pelo menos agora.

Não haveriam referenciais,como Einstein propôs ,que a colocariam por terra?

São indagações e mais indagações,mas da próxima vez falarei mais sobre a questão do campo,de investigação e das forças da natureza.

terça-feira, 4 de março de 2025

Planck e Einstein

 

Continuando o artigo anterior,que nos remete para a história das duas tendências físicas do século XX,a relatividade e a teoria quântica nós podemos dizer que:

A soma física de duas velocidades :sum(v1,v2) com uma direção comum é dada por v1+v2/1+v1 ao quadrado xv2 ao quadrado/c(velocidade ao quadrado).

Para velocidades pequenas esta equação impõe um limite “legal” que não vale para o mundo plano,o mundo imediato,mas vale sim para velocidades maiores,infinitas,havendo pois,ainda,uma comunhão com os mestres do passado.Galileu,Newton.

É sempre esta  a realidade,a do plano e a do infinito.

A teoria quântica trabalha não com os corpos como tais efetivamente.Ela trabalha com o intra-ser.

Quer dizer ela, busca não o movimento só, mas a natureza própria dos corpos:calor;energia;o mundo sub atômico e assim sucessivamente.

Neste momento a relatividade e a teoria quântica se distanciam porque elas não falam sobre a mesma coisa:não é mais o movimentos dos corpos somente, mas  manifestação deles enquanto  dotados de certa natureza especifica.

Quando se analisa,como se fazia em 1905,o calor dos corpos,o seu comportamento diante de altas temperaturas vê-se que muitas noções clássicas não valem mais.

Como no esquema abaixo:

O movimento dos corpos é dado pela física clássica e relativística,enquanto que os corpos em si mesmos,em relação com os outros e com o espaço são tratados pela física quântica.