Eu
já falei muito sobre o caráter republicano de Shakespeare.E da maioria dos
mestres renascentistas.Fica evidente nos elogios que ele faz a
Brutus,encobrindo suas preferências na questão da inveja.
Brutus
foi o único que matou César,seu pai,por convicção e não por inveja.Não pelo
poder,mas pelo principio politico.
Em
toda esta questão dos fantasmas nas peças de Shakespeare me parece existir uma
danação das monarquias e um
favorecimento das repúblicas,como regime legitimo,cujo fundamento é legitimo.
O
que faz o fantasma do pai de Hamlet senão lembrar a seu filho da legitimidade
dele face ao seu cunhado,que tomou o trono e a sua esposa?
É
certo que a legitimidade aqui é monárquica e a ilegitimidade é a força,é a pura
ambição,que já tinha “danado” Macbeth.
No
entanto,em toda a obra de Shakespeare se relaciona a monarquia com estes atos
ignominiosos de tomada do poder,porque o poder está na mão de famílias,de
pessoas e não de grupos que são responsáveis pelo estado.
No
passado a noção de republica era menos relacionada ao sufrágio do que à divisão
do poder.
O
que opõe os senadores a César é exatamente
esta contraposição entre o poder
dividido e aquele que é enfeixado numa mão só.
O
desenlace de Hamlet é uma resolução dramática ou tem um significado associado a
estes problemas?Parece-me mais uma questão dramática e familiar,mas certamente
Hamlet tem um quê de vingador
republicano ,porque a tarefa dele não é só familiar.Isto se depreende da sua
condição edipiana.A sua tarefa é acabar com um poder ilegítimo.