Continuando
a mexer com as pipetas e os tubos de ensaio nós vemos o índice de Hegel ,a
fenomenologia do espirito:
Eu
tinha feito umas balizas para o estudo total da Fenomenologia ,mas antes de
retomar o escopo, algumas observações devem ser feitas sobre alguns temas
famosos de Hegel.
Em
primeiro lugar há muitos anos que já ficou claro que que as simplificações de
Engels sobre a dialética não constam da obra de Hegel e não constam da Fenomenologia.
Mas
existem outros mitos, que vão horrorizar as pessoas. Há um autor moderno e
contemporâneo, Chris Arthur, que mostra num artigo, que tanto em Hegel como em
Marx, a dialética do “Senhor e do Escravo” não tem o caráter central que os
seguidores atribuem e que, a rigor, no caso de Hegel, não tem o mesmo
significado que em Marx,o qual,para alguns,teria tirado do mestre tudo o que
dele veio,portanto,professor e aluno seriam iguais.
Não
é bem assim.Segundo Arthur, Sartre foi quem lançou esta idéia, supostamente em
1935,ao acompanhar,supostamente ,preleções de Alexandre Kojeve.
Arthur
mostra que não há prova do comparecimento do futuro filósofo francês a estas
aulas.
Marx
teria acompanhado o pensamento de Hegel,que colocou na centralidade esta
dialética.Nós vemos o local onde está a questão no indice da fenomenologia ,acima:não
está tão no centro...
Mas
ao dizer que Marx seguiu Hegel nesta perspectiva não só se falseia o real,como
distorce os fatos.
Quando
Marx elabora a sua teoria da alienação não se livra nem da teologia e nem da
metafísica hegeliana,seguindo as suas premissas de desejada rutura .
Exceto
pelo fato de que repudia a desalienação otimística que se dá pela autoconsciência
em Hegel.Para Marx a questão da alienação é material,a alienação do trabalho
e só por ele o homem se re-encontra consigo mesmo.
A
meu ver o problema da auto-consciência como meio de desalienação é uma das
aberturas possíveis na metafísica de Hegel.
Porque
ela é real.Embora ,do ponto de vista da humanidade e do ponto de vista do
trabalho,pode-se sim,miserável e ominosamente,se desalienar.
Os
padrões aristotélico-hegelianos-marxistas totalitários não servem como
explicação e modificação da sociedade em geral e burguesa em particular.
Existem
aqueles que já desalienaram e outros que não.
Se
é verdade que Marx tem razão ao dizer que só mudando o modo-de-produção e que se
desaliena isto só vale para determinados setores.
Isto
nos remete para a conclusão e a
dialética do “ Senhor e do Escravo” tem um outro significado.
Em
principio, o senhor também está alienado (quiçá reificado) porque depende do
escravo e(porque) o teme. Mas na verdade constrói o seu ócio e se ocupa dele
mesmo e de sua vida integralmente ,às custas do escravo.
Embora
este ultimo tenha a chance de se libertar por seu trabalho ele está limitado em
si mesmo pela priorização do seu “dono” e falta de tempo para cuidar de si
mesmo.
A
alienação não é um valor e um conceito absolutos :ela é um processo (negociatio
jurídica{moral}[politica]) quantitativo e qualitativo de superação das
barreiras ideológicas (consciência falsa), teológicas ou outras, que se realiza
num mar de injustiças e que o homem está condenado a resolver.
Sartre
não tem razão quando diz que o homem é condenado a se libertar: ele é condenado
a se desalienar, porque a história está cheia de exemplos de pessoas que abrem
mão deste bem, de bom grado(servidão voluntária).
Os
equívocos destes autores provêm de uma interpretação errônea da dialética senhor/escravo.
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