sábado, 12 de outubro de 2024

O laboratório Hegel III

 

Continuando a mexer com as pipetas e os tubos de ensaio nós vemos o índice de Hegel ,a fenomenologia do espirito:

Eu tinha feito umas balizas para o estudo total da Fenomenologia ,mas antes de retomar o escopo, algumas observações devem ser feitas sobre alguns temas famosos de Hegel.

Em primeiro lugar há muitos anos que já ficou claro que que as simplificações de Engels sobre a dialética não constam da obra de Hegel e não constam da Fenomenologia.

Mas existem outros mitos, que vão horrorizar as pessoas. Há um autor moderno e contemporâneo, Chris Arthur, que mostra num artigo, que tanto em Hegel como em Marx, a dialética do “Senhor e do Escravo” não tem o caráter central que os seguidores atribuem e que, a rigor, no caso de Hegel, não tem o mesmo significado que em Marx,o qual,para alguns,teria tirado do mestre tudo o que dele veio,portanto,professor e aluno seriam iguais.

Não é bem assim.Segundo Arthur, Sartre foi quem lançou esta idéia, supostamente em 1935,ao acompanhar,supostamente ,preleções de Alexandre Kojeve.

Arthur mostra que não há prova do comparecimento do futuro filósofo francês a estas aulas.

Marx teria acompanhado o pensamento de Hegel,que colocou na centralidade esta dialética.Nós vemos o local onde está a questão no indice da fenomenologia ,acima:não está tão no centro...

Mas ao dizer que Marx seguiu Hegel nesta perspectiva não só se falseia o real,como distorce os fatos.

Quando Marx elabora a sua teoria da alienação não se livra nem da teologia e nem da metafísica hegeliana,seguindo as suas premissas de desejada rutura .

Exceto pelo fato de que repudia a desalienação otimística que se dá pela autoconsciência em Hegel.Para Marx a questão da alienação é material,a alienação do trabalho e só por ele o homem se re-encontra consigo mesmo.

A meu ver o problema da auto-consciência como meio de desalienação é uma das aberturas possíveis na metafísica de Hegel.

Porque ela é real.Embora ,do ponto de vista da humanidade e do ponto de vista do trabalho,pode-se sim,miserável e ominosamente,se  desalienar.

Os padrões aristotélico-hegelianos-marxistas totalitários não servem como explicação e modificação da sociedade em geral e burguesa em particular.

Existem aqueles que já desalienaram e outros que não.

Se é verdade que Marx tem razão ao dizer  que só mudando o modo-de-produção e que se desaliena isto só vale para determinados setores.

Isto nos remete para a  conclusão e a dialética do “ Senhor e do Escravo” tem um outro significado.

Em principio, o senhor também está alienado (quiçá reificado) porque depende do escravo e(porque) o teme. Mas na   verdade constrói o seu ócio e se ocupa dele mesmo e de sua vida integralmente ,às custas do escravo.

Embora este ultimo tenha a chance de se libertar por seu trabalho ele está limitado em si mesmo pela priorização do seu “dono” e falta de tempo para cuidar de si mesmo.

A alienação não é um valor e um conceito absolutos :ela é um processo (negociatio jurídica{moral}[politica]) quantitativo e qualitativo de superação das barreiras ideológicas (consciência falsa), teológicas ou outras, que se realiza num mar de injustiças e que o homem está condenado a resolver.

Sartre não tem razão quando diz que o homem é condenado a se libertar: ele é condenado a se desalienar, porque a história está cheia de exemplos de pessoas que abrem mão deste bem, de bom grado(servidão voluntária).

Os equívocos destes autores provêm de uma interpretação errônea  da dialética senhor/escravo.


 



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