sábado, 29 de novembro de 2025

O tempo em Descartes o Instante

 

Diante de uma “nova” realidade natural Descartes tem diante de si uma necessidade também nova:o definir o tempo.Nós temos que entender a questão do tempo:vários instantes numa sucessão.

Mas estes instantes são interligados?Diante de uma natureza que é vista agora sob o conceito de extensão como se pode entender estes instantes sem inter-relacioná-los?

O tempo,para estar na extensão precisaria ser um fluxo,vórtices.Gassendi opõe às concepções de Descartes,para quem o tempo é esta sucessão,uma ideia de fluxo que segue a extensão da natureza.

O tempo é elaborado como conceito e prática pelos homens,na observação diuturna do movimento,o movimento dos corpos,das coisas.

Mas as coisas,os corpos ,se movem em determinados momentos ,distinguidos pelos observadores.Quando se observa um carro se movendo nós podemos separar os momentos de sua locomoção:o primeiro momento perto de uma árvore,o segundo perto de um hidrante e assim por diante.Mas isto demove o caráter da extensão do objeto,do carro?

Mas objetar-me-á alguém que todos estes momentos não se comunicam,senão a partir desta extensão,que Descartes e os cartesianos definem.

Mesmo assim nós podemos definir que nesta extensão,que comunica-se com o momento anterior e o posterior,há momentos também,com possivelmente outros referenciais ,diluindo-a totalmente também,de modo infinito.

Em Descartes se fala de instantes infinitos que são apreendidos de modo fugaz e que não há como limitar estes instantes e o tempo.

Embora seja em última instância uma abstração criada pelo homem,a física moderna demonstra a veracidade desta assertiva ,de que há instantes infinitos:um átomo se movimente em instantes também.

Fala-se inclusive em átimo,o tempo de um átimo,o de movimentação do átomo e seus constitutivos,elétrons e prótons.



As explicações de Heidegger

 

No estudo que faço sobre “Ser e Tempo”,verifico que Heidegger afirma que na apreensão do ente existe um entendimento do ser,algo do Ser,mas este não tem universalidade de gênero .Ele não é generalidade.

Isto separa o ecz stens das essência,porque em toda generalidade existe uma essência de generalidade,uma sua definição.É neste momento que Heidegger retira toda a essência do Ser,que não é o “Ser em geral”,como às vezes colocamos aqui,mas o próprio ser como existência.

No entanto,eu continuo pensando no Ser que se coloca à maneira de algo,há momentos no tempo em que a essência se fixa,ou que está presente,presentificada,no tempo.

Esta passagem de um por-se a outro é no tempo e o tempo é feito de momentos que,ainda que fugazes ,mantêem a essência,uma réstia,pelo menos.

Eu devo me reportar a uma premissa que coloquei há muito e que devo colocar aqui para que o leitor me entenda:no dizer de Heidegger o homem não é isto ou aquilo,mas sentido,visto que sentido é presentificar-se ,é o por-se como algo e passar-se para um outro algo,permanentemente.

Sob dois aspectos isto sempre me causou espécie,porque no pensamento humano,como na vida humana não há uma rutura na experiência,exceto na psicologia e assim mesmo não é uma rutura completa,pois não se liberta da experiência como um todo.

E em segundo lembrando Heidegger,o fato de se falar em essência não significa que ela possua aristotélicamente uma substância,embora exista inevitavelmente.

A escolha do dasein tem como deixar de lado a substanz,mas não um minimo aspecto da experiência que dela dimana:um professor ensina por atos de ensinar,por se colocar de um modo,de um algo que ensina.

Como não diferenciar este algo,do de um médico?O sentido da vida só se constrói à maneira de algo?Se fossem duas presentificações pura e simplesmente como difrenciá-las?

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

PROUDHON E MARX O confronto

 


Agora também inicio um trabalho de comparação entre Marx e Proudhon,uma relação polêmica entre dois homens que amigos uma vez se tornaram inimigos figadais,diga-se de passagem,muito em função de Max.

Conheceram-se em Paris e tiveram noites de discussão acalorada ,mas respeitosa, sobre o problema candente de sua época,uma pergunta colocada nos idos de 1820,que dizia “com tanta capacidade produtiva,porque existem tantos miseráveis?”.

Ignora-se o que eles falavam nas madrugadas de Paris,mas provavelmente foi este o assunto.E embora inicialmente Marx tenha tecido elogios rasgados a Proudhon,depois destas tertúlias,mudou completamente a sua opinião.

Vejo a questão da seguinte maneira,após ter estudado o livro de Proudhon “Filosofia da Miséria”:o que separou Marx de Proudhon,foi o fato de que este último alegou ter descoberto o principio da mais valia,que está lá definida em seu texto.

Aquilo que Marx alegou ter sido descoberta dele,foi enunciado pela primeira vez por Proudhon: “tempo de trabalho socialmente necessário paraa produção de mercadorias”.

A meu ver,repito,foi este o motivo da discórdia entre os dois e de fato quem chegou primeiro a responder à pergunta de 1820,na segunda onda industrial, foi Proudhon.

Isto não quer dizer que Marx plagiou totalmente Proudhon,mas o roteiro explicativo do problema estava lá todo delineado.

Pretendo começar este confronto analisando o capitulo de Proudhon sobre o valor(depois eu falo sobre o que veio antes)e neste caso devo dizer que Marx corrigiu imprecisões de Proudhon,que era um prático sem formação universitária,mas a explicação está lá,in totum.

É duro de admitir mas é a verdade e tal corrobora com as afirmações que fiz em muitos artigos sobre os duvidosos(em termos éticos inclusive)caminhos da ciência e da busca do conhecimento.

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

a extinção do estado e o advento do comunismo


Este é o livro a que eu me referi em artigo anterior.Mudou a minha cabeça em relação a Marx e à União Soviética.Não mudei imediatamente a minha visão do socialismo real ,mas ao longo de décadas eu não esqueci dele.

Hoje eu posso dizer que o desenho do Estado Socialista é burguês.O que caracteriza o estado burguês?Ele serve a uma minoria que mantém a maioria em segundo plano.

No estado socialista real uma minoria também governa e determina como deve ser a distribuição igualitária do produzido pelo país.

Nós vemos que em Marx que esta igualação é ilegitima e que o que ele preconiza é um estado socialista provisório,transitório,que unindo a sociedade, produza abundância de bens necessária à sua manutenção e progressiva extinção deste estado burguês,na medida em que se constrói um arcabouço administrativo que o substitui paulatinamente e suporta posteriormente a capacidade exponencial de produção.

Agora acrescento eu:quanto mais este sistema se mantém, mais tempo livre se pode obter e o ideal comunista verdadeiro(não o socialismo real),se implanta.

 

As várias dialéticas

 

Inicio aqui o meu texto tão esperado sobre as várias formas de dialética que eu espero desembocar em Hegel\Marx. Eu vou associar esta nova linha de pesquisa com a discussão sobre as categorias da dialética constantes dos manuais soviéticos que eu estudei quando era mais jovem e neófito do marxismo.

Este trabalho está podendo ser feito única e exclusivamente porque encontrei uma lista destas dialéticas num livro de sociologia de Georges Gurvitch.

Ele inicia a sua lista com o indefectivel Platão.Em um artigo há muitos anos passados eu já houvera posto o problema de se não há ou não uma dialética em Platão e revelei que para alguns autores sim e para outros não.

Contei uma historinha de que perguntei-o a meu professor Sotero Caio,da UERJ e ele meio enfadado disse que não porque Platão afirmou que para contrapor dialéticamente os seus termos,de modo a realizar a sua ascese teve que fazer o seu famoso “ parricidio” com relação a Parmênides,o homem do “ o que é,é e o que não é”.

Mas na verdade o reconhecimento do parricidio mostra o contrário:ó há parricidio quando se mata o pai e as suas concepções que ficam esquecidas ou superadas.

Ele teve sim que construir uma dialética,muito retorcida.Uma dialética só ascensional,que recusa a queda na empiria e que se constitui por uma recusa da sensibilidade pela metade,porque ela é essencial à ascese.

Há dialética porque não há uma recusa total mas um reconhecimento do perigo que é cair na empiria na doxa(opinião),procurando lembrá-lo permanentemente no processo de subida à pefeição,ao mundo das ideias perfeitas.

Gurvitch faz uma lista de características das várias dialéticas:positiva,negativa,apologética,intuitiva,empirica,racional,ascendente,descedente e assim por diante.

A de Platão ele diz ser apologética,ascendente,positiva e racional.O destrincharemos em um próximo artigo.

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Um novo escaninho Filósofos da religião Sto Agostinho e o tempo

 

No capitulo XI da autobiografia de Sto Agostinho nós vemos um dos momentos altos da filosofia ocidental:o tempo.

E logo na abertura ele expõe aquilo que seria no futuro a doutrina da predestinação de Calvino: Deus decide desde sempre ,de forma perfeitissima e sua vontade não pode ser modificada pela do homem.

Este é um dos motes fundamentais do futuro protestantismo:a volta a Santo Agostinho,deixando para trás a figura de São Tomás de Aquino,que colocara a igreja católica como intercessora única entre homem e Deus.

Em Sto Agostinho esta relação se dá pelo coração humano e o coração de Deus,mas é lógico que somente Deus tem a certeza da fé humana.E mediada pelo tempo.

Trata-se de trabalhar e viver a vida na esperança de que Deus dê ao homem a sua graça.

Mas acima de tudo este artigo visa a mostrar como uma (re-)volta ao passado tem como impulsionar o futuro através de modificações no presente.

E também inaugura uma trilha de pesquisa que sempre me interessou:os filósofos religiosos e aqueles que perpasssam uma época de poucas descobertas cientificas válidas.

No passado e no rastro do cientificismo eu acreditva que havia uma relação necessária entre a ciência e a filosofia e em grande parte esta relação se dá na história não poucas vezes,mas quando há uma ausência de trabalhos científicos o que faz a filosofia?

Discute a linguagem,discute Deus como um simbolo(embora não o seja para os teólogos),discute a história,as narrativas biblicas,tirando-lhes significados psicológicos e axiológicos.

De modo que esta dicotomia ciência/filosofia não é obrigatória e por isto podemos utilizar os filósofos teológicos como uma outra via,digamos,de compreensão da filosofia diante do homem e da vida.

domingo, 16 de novembro de 2025

Os aforismos de Hegel

 

O ano de 1806 para Hegel foi decisivo.Foi neste ano que ele assistiu a batalha de Iena e dela tirou conclusões universais,a partir da vitória de Napoleão.E também se casou e teve sua lua-de-mel...

O ano em que ele escreveu a fenomenologia do espirito,mas “evoluiu” para uma concepção “científica” da dialética.

E neste ano escreveu alguns aforismos que retratam um pouco a sua mentalidade naquele periodo em que realiza uma tremenda mudança no seu pensamento e na vida.

Este terceiro aforismo vai ser comentado por mim.Está em castellano.

§3

Existe efectivamente un partido cuando éste se escinde en sí mismo. Así sucede con el Prostentatismo, cuyas diferencias ahora se deben reparar con intentos de unificación –una prueba de que ya no existe. Ello porque, en el escindirse, la diferencia interna se constituye como realidad. Con el nacimiento del Prostentatismo habían cesado todos los cismas del Catolicismo. –Ahora la verdad de la religión cristiana viene a ser continuamente probada, pero ya no se sabe para quien; porque ya no es con los Turcos que tenemos que ver.


Ele se refere ao fato de que o protestantismo,básico no seu pensamento,nasceu quando já não havia mais cisma na Igreja Católica,mas agora existem cismas constantes na religião reformada,que não aproveita para ninguém,na Europa.

Digo eu:só para a religião mesmo e para seus interesses.

Uma das características mais importantes do protestantismo,desde Lutero,ou principalmente a partir dele,foi ter admitido múltiplas interpretações possíveis da Biblia.

Talvez não fosse um desejo dele Lutero e de muitos reformadores,mas sem isto não possível destruir a estrutura monolitica e hierárquica da igreja católica na idade média.

O pluralismo ocidental ganhou força com esta verdade:existem muitas vozes para chegar a Deus,para chegar a uma verdade e isto tem que ser admitido,apesar das divergências.

Hegel se propõe a fazer uma renunificação através da filosofia,que busca reconciliar o homem com Deus ,através da dialética,deixando de lado estas inumeras vozes e colocando a religião num novo patamar e com um novo papel:rector das condutas,mas não dirigente da politica e da sociedade.

Este é um dos motivos para uma ciência da lógica dialética.




sábado, 8 de novembro de 2025

Não existe totalidade absoluta

 

No pensamento de Hegel a totalidade é vista como coincidente com absoluto,com o Ser em geral.Mas,lembrando Kant,não há principio que se identifique totalmente com o absoluto.

A totalidade é construída e limitada.Ela diz mais respeito à ciência ,com um objeto formal de investigação,do que à filosofia,mas Hegel a extende para esta última.

A totalidade particular,científica,tudo bem,mas na filosofia apresenta problemas e perigos.

A generalidade filosófica não tem como ser abarcada ,como dissemos,pela totalidade.Muito embora Hegel não associe a totalidade ao gênero,considera a filosofia como ciência e que ,portanto,possui um objeto formal, a ser restituido pela linguagem.(ciência da lógica dialética).

Há uma diferença entre a totalidade legitima e totalitária,que seria aquela,esta última,que extrapola os limites da totalidade construida,segundo critérios objetivos.

Ainda que seja possível fazer,na filosofia ,uma totalidade,há que ter cuidados para ela não se tornar uma totalidade absoluta.

O absoluto é só uma verdade subjetiva psicológica,uma “queda” no dizer de Kierkegaard.

Já falei muito sobre esta limitação de Hegel não reconhecida por ele.Daí é que vinha o seu pânico com relação à dialética,como pontuou Leandro Konder ,que era o pânico de controlar o movimento.

A totalidade de tudo o que existe,do Ser,é impossivel.A dialética mesmo é impossivel de acompanhar,pois suas leis são sempre ultrapassadas pelo movimento real.

Mas nesta problemática entre totalidade legitima e totalitária,ou seja,que se impõe existe algo muito sério,porque se a totalidade fica nos seus limites ela acaba com o movimento e por isso a totalidade que vai além destas linhas ,é necessária,como negação da legitima,para que tudo continue.

Contudo,isto não elimina o que eu disse ,que não existe totalidade absoluta,bem como o absoluto.



quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Aplicações da fenomenologia Heidegger

 

Na verdade,para ser fiel ao pensamento de Heidegger nós temos que reconhecer que não há mais essências,muito menos no ontisch .

Eu,ao colocar essências no ontisch ,estou me referindo,segundo ele, a coisas paradas,extáticas,dir-se-ia como Platão.

O ser é colocado por Heidegger no tempo e tem,pois,uma dynamis,que o fundamenta agora.

Aquilo que chamamos a existência ,que se manifesta de diversas maneiras,não é como essências,mas como um ente que se põe à maneira de algo.

Assim sendo a marcha da existência se faz não pela sucessão de essências,mas como a marcha dos entes que se colocam de um determinado modo,como um algo,que é o ser do ente.

Graciliano Ramos detestava colocar em seus escritos a palavra algo ,que,para ele,não designava nada.

Mas no caso de Heidegger o “algo” se refere a alguma coisa que se move no tempo e que não pode ser reduzido a uma essência definitiva.

A essência do professor,que dá aula,convive com a de pai,irmão,cidadão e assim por diante ,cabendo ao observador(mas não ao praticante)abstrair estas outras essências,para ficar com uma,no caso,a de professor.

Mas a prática objetiva,o modo de agir no tempo ,no imediato,é o ato de ensinar,condicionado pelas circunstâncias.

O ser do ente é aquele que se põe neste modo e ente(ontisch)é este algo,depurado pela observação e praticado em si mesmo no tempo.

Eu continuo dizendo que uma coisa não exlcui a outra e que Heidegger exagera um pouco nestas distinções,mas não há como negar que a existência é esta prática constante,no tempo,no cotidiano e que a sua distorção pode ser analisada e recuperada pela fenomenologia,que funda uma psicologia,uma possível nova psicologia.

É neste processo psicológico que eu acho que ainda mantém Aristóteles no timão:como analisar um professor,no seu caminho existencial,sem trabalhar com o extático,com o Ser e as essências?

O que significa o Ser pelo Ser Heidegger

 

A diferença entre as visões do Ser de Aristóteles ,Platão e de Hegel para a de Heidegger é que esta última uma visão é pura,pelo ser mesmo.

Nos filósofos citados,o Ser é tudo e nada ao mesmo tempo.Ele é a possibilidade de tudo e como definição ele é nada,porque nenhuma essência,contida nele ,o define,o abarca totalmente.

Assim sendo quando falamos do Ser não dizemos nada.É um falatório constatativo,como o materialismo histórico.

Somente pela fenomenologia,quando procuramos as possibilidades de essências ,dizemos algo do Ser,sem citá-lo,mas admitindo-o como existente.

Hegel colocara esta problemática na sua “ Fenomenologia” ao dizer que Deus esquecia-se do mundo,do Ser,ao constatar e construir essências infinitas,municiando o mundo.

Mas aqui ainda temos um Ser que se define pelas essências,inclusive a sua ,o ecz-stenz,a existência.

Em Aristóteles e Platão só se analisa o Ser pela sua essência,a ser investigada e estudada.No caso de Platão as Idéias,enquanto que Aristóteles define o Ser como uma essência substantiva.

Tomemos o exemplo de Hans Kelsen,no caso do direito:a teria pura do direito explica o direito por ele próprio. O conteúdo do direito é a sua força para se impor.A sua heteronomia imposta(Estado).

Mas é lógico que existe uma crítica de minha parte,que sou kantiano:se o direito só subsiste se for capaz de se impor,não prescinde de conteúdos justificadores e organizadores,porque a força ,em si mesma,não cria nada,como mostrou Rousseau.

No caso de Heidegger,e sua proposta de explicar o ser-por-si-mesmo,sofre,de mim,idêntica crítica:se é verdade que o Ser no tempo se modifica,não permanece como Ser,mas como manifestações de essências ou antes manifestações das essências.

Heidegger se encaminha para chamar estas transformações de existência (embora ele não se declare como tal[existencialista]),mas quais são estas transformações da existência?



Canudos e o comunismo III reflexões sobre o que é de fato comunismo

 

Depois de décadas reobtive um famoso livro sobre a ditadura do proletariado,de Ettienne de Balibar,que li em 1977.

Neste livro eu verifiquei os verdadeiros critérios usados por Marx para definir o que é ditadura do proletariado,socialismo e comunismo,no sentido,este último,que ele entendia e que foi,a meu ver ,deturpado pelo socialismo,por Lênin e os bolcheviques.

Vamos com calma,é muita coisa.

As questões que vão ser colocadas por Marx aqui,provêem de dois textos importantíssimos: “A critica ao programa de Gotha” e “ A Guerra Civil em França”.

As nossas primeiras elucubrações começam com uma carta de Marx a Bracke de 5 de Maio de 1875.

Como Marx põe a questão da extinção do Estado na rabeira do desenvolvimento do capitalismo e do comunismo?

Balibar ressalta que há uma diferença entre Engels e Marx quanto a esta questão.Numa carta de 1891 a Bebel,Auguste Bebel de 28 de março deste mesmo ano,Engels preconiza o fim do Estado,enquanto na carta a Bracke Marx ainda fala de um “estado no futuro comunista”.

Balibar tem um certo sofrimento com esta diferença,mas tanto Marx quanto Engels entendiam o estado futuro como uma instãncia administrativa apenas.Isto está nos textos sobre o anarquismo. Os dois possuiam esta visão homogênea sobre o Estado.

O Estado opressor é só aquele que serve a uma classe. O Estado de classe.

Balibar tenta juntar os dois pela questão de extinção deste Estado,mas a premissa é aquele que eu coloquei acima.

Na discussão com a social-democracia,com Lassalle,que inventou o termo,o problema do que é o estado,de como ele deve ser aparece.

Eu vou tratar disto no próximo artigo.

Leituras de Hegel II

 

O segundo problema aventado acima é o da pedra de toque da dialética.Existem várias dialéticas,mas o que a define fundamentalmente é a oposição básica entre dois termos,supostamente reais ou mentais(produtos da consciência).

Leandro Konder ,em seu livro sobre Hegel,faz a analogia com o “dia”.

Esta palavra “ dia” tem a ver com o dia,de cotidiano:ele significa a translação do sol de um ponto de ascensão para o de chegada no horizonte;dia quer dizer esta passagem de um ponto a outro que se opõem.Lética,vem de “ aletheia”,verdade.

A busca da verdade por um processo de oposição minima entre dois pontos.A construção de algo entre eles é a dialética.

Em meio às várias formas de dialética o ponto essencial é que o movimento tem que ser explicado.E a condição é que um ponto se explica pelo outro.

Em Platão a racionalidade se opõe à sensibilidade,que é o seu contrário(persiste a discussão se em Platão existe uma dialética[mas o método é dialético]).

Neste duplo,existe já a negação do primeiro termo,dir-se-ia ,a tese:a antítese é a sensibilidade,mas podemos fazer ao contrário.

Uma das características da dialética é que podemos começar de qualquer lado para “produzir” e compreender o movimento,mas na verdade na dialética de Hegel sempre existe um ponto de partida,uma tese,que é “contestado” por uma antitese,mas o movimento tende a diluir esta preeminência.

Hegel cria um ser que se movimenta pelo seu oposto ou não-ser :o oposto de macho é fêmea,que gera a sintese do filho.No caso do finito e do infinito,seguindo a dedução racional(Aristóteles),este segundo precede o primeiro,dentro do conceito de totalidade.

Mas outros dialéticos reformulam o conceito de dialética:David Straus coloca a triade cristã,pai,filho e espirito santo ou na ordem pai,deus-pai,espirito santo e filho(Cristo).

Se olharmos bem não há oposição entre deus e ES e com o filho que também é deus ,a não ser colocando o epiteto pai e filho,mas mesmo assim o espirito santo não não-deus,mas “diferente”.Se a relação se dá entre deus e maria,é entre macho e fêmea e gera um filho humano\deus,mas Maria não é Deus.

Outra forma de dialética é a de Proudhon ,com os conjuntos práticos,que Sartre reinvindicou para si,mas que são de Proudhon.



Mais leituras de Hegel

 

Continuando as minhas leituras de Hegel e preparando meu segundo livro sobre ele,trato novamente do fulcro do seu pensamento:a dialética.

A dialética visa explicar o movimento,visa responder a esta questão candente dos últimos dois séculos(considerando o tempo de Hegel),que veio desde o nascimnto da ciência moderna:se o movimento existe e se aplica à sociedade.

Já me referi em outro artigo à origem dos fundamentos do pensamento hegeliano,que está na sua(dele) análise sobre a Revolução Francesa e o acometimento do terror e da reação termidoriana.

O fato é que dois problemas já foram abordados por mim:o problema de se uma coisa é ele e outra ao mesmo tempo e qual é a pedra de toque da dialética.

No primeiro eu analisei o pensamento de Popper e vou aplicá-lo na questão central da dialética hegeliana:o finito e o infinito.

Nós vimos que se não houver uma dialética entre estes dois termos não há possibilidade de explicar a dialética,provando-a e muito menos o universo,o Ser em geral.

Se cada um destes termos fosse visto de per si,não haveria como explicar o infinito,que seria uma noção atemporal e metafísica.Se só abordássemos o finito não teriamos a existência do infinito,o que é absurdo,embora muitos o ponham.

O infinito guarda uma relação dialética com o finito,que o compõe ,em infinitas partes.

Segundo a dialética no finito está o infinito,a sua condição e no infinito está o finito,sua condição.Ambos são uma coisa e outra,concomitantemente.

Mas analisemos o problema:se dissermos que no finito está o infinito,já não será o finito,finito,mas infinito;se dissermos que a parte finita constitui o infinita teremos que separar estes dois termos e mudar a dialética,pois o não-ser do finito é infinito(absurdamente separado dele)e do infinito é o finito,que está separado dele,para constituir o infinito.

Como se vê,no nascedouro a dialética demonstra que uma coisa não pode ser ela e outra simultâneamente,só explicando o erro de Hegel a sua concepção de tempo e suas limitações temporais.

Mas é uma tentação pensar que estes dois termos se relacionam no tempo.O tempo finito das coisas,do Ser,se une ,no tempo,para fazer o infinito,mas dividir assim em partes o tempo,mesmo a filosofia anterior a Hegel(Descartes),encontrou dificuldades.

O segundo problema eu vou tratar no próximo artigo.



sábado, 1 de novembro de 2025

CANUDOS COMO COMUNISMO II

 

Eu ia manter o artigo anterior como suficiente para responder ao professor que veio no meu youtube,mas revirando a minha biblioteca digital descobri um texto muito bom de Luiz Antonio Moniz Bandeira “O sentido social e o contexto politico da guerra de Canudos”,onde,no segundo parágrafo,ele se refere ao “ comunismo cristão”.

A região de canudos fora ocupada ,em priscas eras,por indigenas,que tinham a terra como propriedade coletiva.Quando Conselheiro ,em 1893,fundou o Belo Monte,manteve esta característica.

Moniz Bandeira cita Euclides da Cunha:

... a propriedade tornou-se-lhe uma forma exagerada de coletivismo tribal dos beduínos: a apropriação pessoal apenas dos objetos móveis e das casas, comunidade absoluta da terra, das pastagens, dos rebanhos e dos escassos produtos das culturas, cujos donos recebiam exígua quota parte, revertendo o resto para a companhia. Os recém-chegados entregavam ao Conselheiro noventa e nove por cento do que traziam, incluindo os santos destinados ao santuário comum. Reputavam-se felizes com a migalha restante.”

Este relato não é exato,não é bem assim,mas está próximo do igualitarismo cristão.Não s e contentavam com migalhas.Possuíam a propriedade das casas e dos instrumentos de trabalho,mas a terra era uma proporpiedade comunal e o principal da produção era entregue ao grupo ,para repetir os preceitos de São Paulo(São Paulo era comunista[aliás seu fundador]):

Entre eles nenhum necessitado havia, pois todos os que possuíam terrenos ou casas vendiam-nas, traziam o produto da venda e depositavam-no ao pé do Apóstolo. E a cada um era distribuído conforme a sua necessidade" 32.
Por este texto Moniz Bandeira nós ficamos sabendo que Euclides comparava Canudos às propostas utópicas de Fourier e Owen,em que não havia propriedade sobre a terra.

E no século XVIII,ainda seguindo a narrativa de Moniz Bandeira,a experiência da República Guarani 33 repetia o modelo do comunismo cristão e das formas de organização indigenas,que não estavam presentes no Sul,mas em todo o Brasil,por motivos óbvios.

Vou fazer uma análise disto no próximo artigo.