segunda-feira, 12 de agosto de 2024

O papel de Kepler

 

Para a história da ciência, Kepler tem uma variada importância:

Contudo, em um aspecto, ele é fundamental: na sua contribuição, nós vemos    o deslinde entre o pensamento mágico e o científico-racional.

O insight que provocou as suas reflexões sobre a harmonia do universo começa com a tentativa   de colocar o real num modelo pré-dado, os sólidos perfeitos de Platão, e acaba   com leis científicas rigorosas.

É neste contexto que se deve ver o périplo que se inicia com Copérnico, passa por ele e chega a Newton. A intenção, desde os albores da ciência moderna, a aventura do conhecimento era "ler o pensamento de Deus".

Como os recursos de investigação do real foram sendo criados simultaneamente a esta busca, nem sempre os cientistas possuíam condições de dar uma resposta. Tal não os impediu de formular concepções explicativas   sobre aquilo que pensavam conhecer, mas não conheciam.

Fatores sociais e de política e poder entram na compreensão desta conduta, mas nós não falaremos   disto agora.

Algumas noções do passado, provindas de Platão e   Aristóteles, "socorriam" estes investigadores modernos, mas alguns destes, como Galileu, também realizaram o deslinde entre o passado e o futuro, entre   o mundo mágico e o real.

Mas não foi só este o aporte de Kepler: pela terceira lei formulada por   ele, se vê que se pode ver o real de diversas formas sem que isto iguale o real ao mágico e imaginário. 

A adequação entre o discurso explicativo e o real, ainda que não tenha como restituir (nunca) toda a sua complexidade, toca-lhe concreta ou realmente (no plano social).

Se falarmos na sua terceira lei, falamos de verdade, mas se o fizermos como se fosse   uma antecipação da lei de gravitação universal, não provamos o mágico, mas o modo de ver que se   adequa à complexidade do real, complexidade que é, afinal, pluralidade.

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário