Para
a história da ciência, Kepler tem uma variada importância:
Contudo,
em um aspecto, ele é fundamental: na sua contribuição, nós vemos o
deslinde entre o pensamento mágico e o científico-racional.
O
insight que provocou as suas reflexões sobre a harmonia do universo começa com
a tentativa de colocar o real num modelo pré-dado, os sólidos
perfeitos de Platão, e acaba com leis científicas rigorosas.
É
neste contexto que se deve ver o périplo que se inicia com Copérnico, passa por
ele e chega a Newton. A intenção, desde os albores da ciência moderna, a
aventura do conhecimento era "ler o pensamento de Deus".
Como
os recursos de investigação do real foram sendo criados simultaneamente a esta
busca, nem sempre os cientistas possuíam condições de dar uma resposta. Tal não
os impediu de formular concepções explicativas sobre aquilo que
pensavam conhecer, mas não conheciam.
Fatores
sociais e de política e poder entram na compreensão desta conduta, mas nós não
falaremos disto agora.
Algumas
noções do passado, provindas de Platão e Aristóteles,
"socorriam" estes investigadores modernos, mas alguns destes, como
Galileu, também realizaram o deslinde entre o passado e o futuro, entre
o mundo mágico e o real.
Mas
não foi só este o aporte de Kepler: pela terceira lei formulada por
ele, se vê que se pode ver o real de diversas formas sem que isto iguale
o real ao mágico e imaginário.
A
adequação entre o discurso explicativo e o real, ainda que não tenha como
restituir (nunca) toda a sua complexidade, toca-lhe concreta ou realmente (no
plano social).
Se
falarmos na sua terceira lei, falamos de verdade, mas se o fizermos como se
fosse uma antecipação da lei de gravitação universal, não provamos
o mágico, mas o modo de ver que se adequa à complexidade do real,
complexidade que é, afinal, pluralidade.
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