quarta-feira, 26 de junho de 2024

A introdução de meu livro sobre Kant

 

Introdução

 

 

 É o reconhecimento de uma pessoa de formação marxista como eu de que não existe uma filosofia no marxismo,o que me move aqui.Por mais que muitos tentem não há nenhuma filosofia aplicável ao marxismo exceto a de Kant,mas o materialismo dialético foi sempre uma falácia.Então  a unica maneira de preencher este vazio é aceitar Kant e a sua criteriologia e isto passa para o marxismo.

Não existe uma totalidade fechada,uma dialética fechada,mas é possivel pela experiência dos povos discutir os temas do marxismo,como fizeram os austro-marxistas e a II internacional,dos quais eu vejo uma continuidade para os tempos atuais.

Dar um sentido profissional à crítica kantiana  e fazê-la participar das atividades humanas é o que eu acho importante.Toda a crítica,inclusive a literária, parte de critérios de organização/compreensão da sociedade.No caso da sociedade o encaixe  desta explicação é importante mas não definitivo,porque a interpretação tem como sugerir mudanças num determinado setor ou situação.

Muita gente,inclusive no marxismo,entende que a interpretação joga a objetividade num pântano intransponivel,mas não é esta a realidade porque ,seguindo Kant,e segundo o seu critério, a objetividade continua lá,na condição de elementos constitutivos do real.É um erro fatal considerar Kant subjetivista ,embora elementos subjetivos autônomos sejam essenciais na sua filosofia.

Devo reconhecer que esta questão da subjetividade põe em dúvida o problema   do apriori em Kant e  é muito mais complexa do que uma simples diluição ou rejeição.Há coisas na humanidade que são dadas desde sempre,tanto filogenética quanto na ontogenética.Os homens sabem que o fogo queima.Não há prova de que precisaram queimar as mãos para saber do perigo,embora isto tenha acontecido.Há certas aptidões,inclusive nos animais que são dadas desde sempre.

Mas eu não me refiro a isto não.

Os próprios  critérios subjetivos têm uma origem na relação com o mundo,mas antes e sempre antes desta relação, algumas aptidões pré-dadas estão lá:capacidade de pensamento,a própria habilidade de elaborar critérios.

Parece uma questão bizantina,mas não se pode imaginar que a consciência ,mesmo que formada na relação,não tenha antes algo que a permita fazer isto,se relacionar.O que já impõe uma hierarquia ,dir-se-ia kantiana,precedente ao processo histórico de formação.

A relação pura e simples de adequação não explica o processo de formação da consciência,porque se não houvesse antes possibilidade real de relação ela não haveria.

De toda ciência até a dialética a pura adequação é falsa,mas a sua tentativa ou crença submete o homem ao objeto,como modelo dele,o que é escandaloso e fonte de distorções,que vão da politica para as doenças mentais.

Ter como modelo aquilo que está fora de si como objeto causa dissociação psiquica.Kant não trata deste assunto,mas o seu pensamento é um lenitivo quanto a isto,porque pela dialetica hegeliana ,por exemplo, há um momento em que o sujeito se define pelo que está fora dele e na verdade toda a dialética de Hegel conduz a isto.

Sim,uma linha fundamental da filosofia ocidental depende de Kant.

Mas o que eu trato aqui é da criteriologia,do crivo crítico,que transcende a ele,inclusive.Uma das características que eu mais ressalto em Kant (e gosto)é o fato de ele se colocar na crítica também.

Quando s e fala em crítica pensa-se na arte,mas de certo modo existe na filosofia ocidental,além do aspecto eminentemente filosófico o elemento permanente e universal que engloba as atividades humanas e o senso comum,de critica,que permite afirmar  a autonomia do individuo no tempo,eliminando certos erros crassos.

Quer dizer ,para além de uma autonomia do individuo esta  visão transcendente e transcendental oferece ao homem comum possibilidades desconhecidas de crescimento e de capacidade critica,evitando estes erros como crenças sem fundamento,capacidade de evitar idolatrias;ceticismo ativo são alguns dos possiveis ganhos que esta “nova” subjetividade oferece.

Sem dúvida.o que pretendo é continuar o trabalho de sistematização da razão autônoma do homem comum,da simples razão.É claro que existe em mim um propósito revolucionário ,mas para além da educação das massas e da revolução existe uma atualização presente do homem com o seu meio,sem perder esta base. Esta base começa em Kant e é a comunidade universal.

Uma das leituras mais horriveis que fiz na vida foi a  introdução de Prosper Merimé ao seu romance “Crônica do Reinado de Carlos IX”,que provocou a  noite de São Bartolomeu.Lá ele diz  que é legitimo que cada país tenha o seu modo de solucionar os seus problemas inclusive usando de violência brutal,como no episódio.Antes da comunidade universal o que tinhamos eram os principios cristãos que foram muito contestados ao longo do tempo e isto parece ter ensejado  um relativismo moral como este.

Estou certo de quem leu este prefácio na época,sendo cristão,usou estas minhas palavras.

A origem da comunidade universal de Kant é o cristianismo e o filósofo reconhece,mas em certos periodos da história tal não foi reconhecido. Não há justificativa mais para pensar que  o sofrimento humano é desigual e fundar um relativismo moral.Isto tem implicações,porque é preciso uma elite para defender e controlar isto aí. Porque  é preciso entender que certos povos são muito atrasados.Aqui no Brasil existem indios que abandonam os filhos que não podem criar e não são punidos porque não são considerados imputáveis.

 

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