Introdução
É o reconhecimento de
uma pessoa de formação marxista como eu de que não existe uma filosofia no
marxismo,o que me move aqui.Por mais que muitos tentem não há nenhuma filosofia
aplicável ao marxismo exceto a de Kant,mas o materialismo dialético foi sempre
uma falácia.Então a unica maneira de
preencher este vazio é aceitar Kant e a sua criteriologia e isto passa para o
marxismo.
Não existe uma totalidade fechada,uma dialética fechada,mas
é possivel pela experiência dos povos discutir os temas do marxismo,como
fizeram os austro-marxistas e a II internacional,dos quais eu vejo uma
continuidade para os tempos atuais.
Dar um sentido profissional à crítica kantiana e fazê-la participar das atividades humanas é
o que eu acho importante.Toda a crítica,inclusive a literária, parte de
critérios de organização/compreensão da sociedade.No caso da sociedade o
encaixe desta explicação é importante
mas não definitivo,porque a interpretação tem como sugerir mudanças num
determinado setor ou situação.
Muita gente,inclusive no marxismo,entende que a
interpretação joga a objetividade num pântano intransponivel,mas não é esta a
realidade porque ,seguindo Kant,e segundo o seu critério, a objetividade
continua lá,na condição de elementos constitutivos do real.É um erro fatal
considerar Kant subjetivista ,embora elementos subjetivos autônomos sejam
essenciais na sua filosofia.
Devo reconhecer que esta questão da subjetividade põe em
dúvida o problema do apriori em Kant
e é muito mais complexa do que uma
simples diluição ou rejeição.Há coisas na humanidade que são dadas desde
sempre,tanto filogenética quanto na ontogenética.Os homens sabem que o fogo
queima.Não há prova de que precisaram queimar as mãos para saber do
perigo,embora isto tenha acontecido.Há certas aptidões,inclusive nos animais
que são dadas desde sempre.
Mas eu não me refiro a isto não.
Os próprios critérios
subjetivos têm uma origem na relação com o mundo,mas antes e sempre antes desta
relação, algumas aptidões pré-dadas estão lá:capacidade de pensamento,a própria
habilidade de elaborar critérios.
Parece uma questão bizantina,mas não se pode imaginar que a
consciência ,mesmo que formada na relação,não tenha antes algo que a permita
fazer isto,se relacionar.O que já impõe uma hierarquia ,dir-se-ia
kantiana,precedente ao processo histórico de formação.
A relação pura e simples de adequação não explica o processo
de formação da consciência,porque se não houvesse antes possibilidade real de
relação ela não haveria.
De toda ciência até a dialética a pura adequação é falsa,mas
a sua tentativa ou crença submete o homem ao objeto,como modelo dele,o que é
escandaloso e fonte de distorções,que vão da politica para as doenças mentais.
Ter como modelo aquilo que está fora de si como objeto causa
dissociação psiquica.Kant não trata deste assunto,mas o seu pensamento é um
lenitivo quanto a isto,porque pela dialetica hegeliana ,por exemplo, há um
momento em que o sujeito se define pelo que está fora dele e na verdade toda a
dialética de Hegel conduz a isto.
Sim,uma linha fundamental da filosofia ocidental depende de Kant.
Mas o que eu trato aqui é da criteriologia,do crivo
crítico,que transcende a ele,inclusive.Uma das características que eu mais
ressalto em Kant (e gosto)é o fato de ele se colocar na crítica também.
Quando s e fala em crítica pensa-se na arte,mas de certo
modo existe na filosofia ocidental,além do aspecto eminentemente filosófico o
elemento permanente e universal que engloba as atividades humanas e o senso
comum,de critica,que permite afirmar a
autonomia do individuo no tempo,eliminando certos erros crassos.
Quer dizer ,para além de uma autonomia do individuo
esta visão transcendente e
transcendental oferece ao homem comum possibilidades desconhecidas de
crescimento e de capacidade critica,evitando estes erros como crenças sem fundamento,capacidade
de evitar idolatrias;ceticismo ativo são alguns dos possiveis ganhos que esta
“nova” subjetividade oferece.
Sem dúvida.o que pretendo é continuar o trabalho de
sistematização da razão autônoma do homem comum,da simples razão.É claro que
existe em mim um propósito revolucionário ,mas para além da educação das massas
e da revolução existe uma atualização presente do homem com o seu meio,sem
perder esta base. Esta base começa em Kant e é a comunidade universal.
Uma das leituras mais horriveis que fiz na vida foi a introdução de Prosper Merimé ao seu romance
“Crônica do Reinado de Carlos IX”,que provocou a noite de São Bartolomeu.Lá ele diz que é legitimo que cada país tenha o seu modo
de solucionar os seus problemas inclusive usando de violência brutal,como no
episódio.Antes da comunidade universal o que tinhamos eram os principios
cristãos que foram muito contestados ao longo do tempo e isto parece ter
ensejado um relativismo moral como este.
Estou certo de quem leu este prefácio na época,sendo
cristão,usou estas minhas palavras.
A origem da comunidade universal de Kant é o cristianismo e
o filósofo reconhece,mas em certos periodos da história tal não foi
reconhecido. Não há justificativa mais para pensar que o sofrimento humano é desigual e fundar um
relativismo moral.Isto tem implicações,porque é preciso uma elite para defender
e controlar isto aí. Porque é preciso
entender que certos povos são muito atrasados.Aqui no Brasil existem indios que
abandonam os filhos que não podem criar e não são punidos porque não são
considerados imputáveis.
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