terça-feira, 30 de julho de 2019

Dois Judeus:Freud e Cristo(ou Cristo e Freud)

É conhecida a afirmação de Freud sobre a religião caracterizando-a como a “ neurose obsessiva da humanidade”.Para enfrentar a inadequação com a realidade,que é insuficiente para a subjetividade e mais do que isto,impõe limites intoleráveis(como a morte)o homem inventou a religião.
Assim sendo o sofrimento de Cristo seria inteligivel dentro desta visão,como um modo de tornar suportável o insuportável.Os deuses em geral seriam assim.E a religião em torno deles cumpriria uma função de manutenção deste escopo.
Ao longo da História do pensamento esta caracterização foi sempre feita de diversos modos,bastando lembrar Feuerbach e Marx,mas ambos os fenômenos são mais complexos do que a pura constatação de sua inobjetividade,de sua inadequação com o rela.Quero dizer, a pura oposição do real ao mito falseia o mundo e mantém o homem iludido e desviado de suas tarefas principais,inclusive e principalmente consigo mesmo.
Algo se dizia e se diz ,semelhante,sobre os romances e as artes.Onde haveria uma figura como a de Dom Quixote?Ou de qualquer personagem da literatura?Não é importante,para mim,pelo menos,saber se Cristo é real ou não.Ele é como Dom Quixote ou o Capitão Rodrigo de Érico Veríssimo:um resumo da humanidade em seu significado mais importante,a dor do mundo,que é a única coisa que unifica o ser humano em todas as épocas,como um transcendente trans-histórico permanente.
Cristo é uma metáfora,mas ele é mais do que isto.Não é um elemento da arte.Ele é isto na medida em que a arte expressa tendências da vida que devem ser expostas diante do ser humano.
Na medida em que estas mediações se imbricam com a religião não se pode concordar com a visão de Freud,a não ser quanto à expectativa sempiterna de compensação,mas como fenômeno humano ela atende,como Cristo ,a necessidades construtivas de sentido,de elaboração de sentido,de comunicação de valores e idéias.
Como Feuerbach e Marx,Freud padece um pouco de cientificismo e não vê totalmente claro que as suas próprias contribuições municiam a subjetividade de uma autonomia ,em cujo âmbito a religião e os personagens dentro dela, adquirem um significado positivo de portadores de valores,significados e idéias.
Toda a discussão sobre a inadequação do mito com o real,a perversão eventual das superstições,é válida,mas este núcleo básico não se altera.
Cristo,como Dom Quixote,expressa milhões de pessoas que sofrem e que não foram ajudados(ainda)pela ciência e pela politica e que vêem na sua figura um modo de expressão.
E no caso de Freud,que preconizava a aproximação do terapeuta com o sofrimento do paciente,para ajudá-lo a “curar-se”,a figura sofredora de Cristo oferece um ensinamento(pedagogia) técnico ao terapeuta:que o sofrimento é real(adequado)e não sempiterno.



É conhecida a afirmação de Freud sobre a religião caracterizando-a como a “ neurose obsessiva da humanidade”.Para enfrentar a inadequação com a realidade,que é insuficiente para a subjetividade e mais do que isto,impõe limites intoleráveis(como a morte)o homem inventou a religião.
Assim sendo o sofrimento de Cristo seria inteligivel dentro desta visão,como um modo de tornar suportável o insuportável.Os deuses em geral seriam assim.E a religião em torno deles cumpriria uma função de manutenção deste escopo.
Ao longo da História do pensamento esta caracterização foi sempre feita de diversos modos,bastando lembrar Feuerbach e Marx,mas ambos os fenômenos são mais complexos do que a pura constatação de sua inobjetividade,de sua inadequação com o rela.Quero dizer, a pura oposição do real ao mito falseia o mundo e mantém o homem iludido e desviado de suas tarefas principais,inclusive e principalmente consigo mesmo.
Algo se dizia e se diz ,semelhante,sobre os romances e as artes.Onde haveria uma figura como a de Dom Quixote?Ou de qualquer personagem da literatura?Não é importante,para mim,pelo menos,saber se Cristo é real ou não.Ele é como Dom Quixote ou o Capitão Rodrigo de Érico Veríssimo:um resumo da humanidade em seu significado mais importante,a dor do mundo,que é a única coisa que unifica o ser humano em todas as épocas,como um transcendente trans-histórico permanente.
Cristo é uma metáfora,mas ele é mais do que isto.Não é um elemento da arte.Ele é isto na medida em que a arte expressa tendências da vida que devem ser expostas diante do ser humano.
Na medida em que estas mediações se imbricam com a religião não se pode concordar com a visão de Freud,a não ser quanto à expectativa sempiterna de compensação,mas como fenômeno humano ela atende,como Cristo ,a necessidades construtivas de sentido,de elaboração de sentido,de comunicação de valores e idéias.
Como Feuerbach e Marx,Freud padece um pouco de cientificismo e não vê totalmente claro que as suas próprias contribuições municiam a subjetividade de uma autonomia ,em cujo âmbito a religião e os personagens dentro dela, adquirem um significado positivo de portadores de valores,significados e idéias.
Toda a discussão sobre a inadequação do mito com o real,a perversão eventual das superstições,é válida,mas este núcleo básico não se altera.
Cristo,como Dom Quixote,expressa milhões de pessoas que sofrem e que não foram ajudados(ainda)pela ciência e pela politica e que vêem na sua figura um modo de expressão.
E no caso de Freud,que preconizava a aproximação do terapeuta com o sofrimento do paciente,para ajudá-lo a “curar-se”,a figura sofredora de Cristo oferece um ensinamento(pedagogia) técnico ao terapeuta:que o sofrimento é real(adequado)e não sempiterno.