Muita
gente não entendeu porque,no meu artigo anterior sobre o personagem
de Clarice Lispector,Macabéa, disse que ela era vocacionada,apesar
da baixa escolaridade e do siderúrgico infantilismo ,para a
filosofia,jornalismo e outras profissões.
Ora,
o desejo de saber expressado na sua conduta de perguntadora contumaz
é parte do processo de conhecimento,como já nos provara Sócrates
há mais de 2000 anos.
Pode
parecer algo comum ter este “ vicio”,mas na verdade o seu
aparecimento não é patológico(exceto pelo exagero,o que não é o
caso),mas parte de uma disposição psicológica legitima.
Então
porque Macabéa não toma a iniciativa de buscar formação e
,profissionalizando-se ,sair da sua situação de pobreza extrema?Uma
pergunta nacional e humana.
Não
se trata das circunstâncias imediatas de vida de Macabéa,ou
seja,não é cupa dos que estão próximos dela(inclusive o seu
namorado),mas da sua vida pregressa,com a falta de formação,falta
de experiência de vida e desconexão total com um propósito.
O
que está por trás de todas estas carências é a falta de
sociabilidade,socialização.A incompreensão do papel social que o
indivíduo deve ter.Este
insight decisivo não
ocorre a todas as pessoas.
Freud diz que os elementos formadores da personalidade desde a infância são em grande parte aleatórios,mas fazendo a necessária crítica sociológica,há que reconhecer as circunstãncias sociais como um elemento decisivo.
Freud diz que os elementos formadores da personalidade desde a infância são em grande parte aleatórios,mas fazendo a necessária crítica sociológica,há que reconhecer as circunstãncias sociais como um elemento decisivo.
Macabéa
vive o seu imediato apenas.O faz por inércia,sem maiores objetivos
do que este que se apresenta diante dela:uma datilógrafa desastrada
e que e,no final,despedida(ou pelo menos parece).
Há
uma insinuação de que sem emprego o destino da estrela é o
bordel,mas é só insinuação.O que avulta é a exigência de
socialização do personagem brasileiro abandonado à própria sorte.
Ainda
que não possa mais ser factível torná-la profissional,a
intervenção auxiliadora da sociedade é obrigatória diante do
referido abandono e o reconhecimento da autenticidde vocacional de
Macabéa fundamenta o minimo de esforço de obtenção da sua
inclusão social.
Mas
o abismo a que fiz alusão no artigo anterior é o abismo da
sociabilidade:falta de formação;relações familiares frágeis e
pouco educacionais;falta de recursos materiais;pouca relação com
outras pessoas(desde a infância provavelmente).A superação
destes problemas todos é necessária ou pelo menos de alguns para
adptá-la à sua situação.Tarefas para psicólogos e pedagogos.Não
ao indiferentismo.