sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Blade Runner I





Está sendo lançada a continuação de um dos últimos filmes de arte dos Estados Unidos ,antes do predomínio do blockbuster.Assistam primeiro a seqüência final do filme,que coroa um grande filme.Sempre que eu a vejo fico com os olhos marejados de lágrimas,pelos significados contidos nela e que eu vou comentar abaixo.


O personagem interpretado por Rutger Hauer é um andróide ,perseguido por Deckaard(o caçador de andróides[interpretado por Harrison Ford]{em sua melhor interpretação}),juntamente com outros,que foram produzidos por um capitalista selvagem do futuro para ações axiologicamente condenáveis.
O andróide de Hauer executa estas ações,mas vê em sua trajetória coisas tão extraordinárias e lindas,que acaba se modificando,adquirindo humanidade.Só que ele foi programado para viver só quatro anos(como a maioria dos outros).Cria um estratagema para encontrar o seu “ pai, e pede a ele “ mais vida”,mas sem conseguir.Mata o pai e segue sendo perseguido por Deckaard até esta cena final,que os leitores viram.
Deckaard está dependurado numa viga,em uma cidade caótica  e cheia a de edifícios,à mercê de Hauer.Espera-se que    o andróide o deixe cair,o mate,como fizera com seu “ pai”.
Mas quando o caçador  vai cair Hauer o segura pelo punho e o olha ,com seus olhos azuis penetrantes,o medo de Ford,como a dizer “ o que eu vou decidir?”É como um pater famílias que tem direitos de vida e de morte sobre sua família.Parece uma cena tirada do Coliseum.O andróide puxa-o para um lugar seguro(embora molhado) e diz:” é terrível viver com medo não é?” e aduz:”eu vi coisas maravilhosas,perto das estrelas,perto de Órion”.
Hauer tem uma pomba na mão e antes de  morrer a solta.
Os significados desta cena brilhante são claríssimos e resumem a forma como deve ser abordada a relação do homem com as máquinas,inclusive estas ,quase-humanas,já previstas pela ciência.
Apesar de sua função condenável ,o sentimento de culpa e a sua “ inexperiência” como andróide de quatro anos o torna um ser melhor,o qual ,num momento de paixão salva alguém,sem culpa,da morte,que ele tanto provocou.Paixão quer dizer “passio”,” passividade”,mas num sentido de ser tocado pelo outro e abnegar-se.A paixão de Cristo:Cristo se abnega pelos homens.Hauer,o andróide,faz algo semelhante.
O único  reparo que eu faço nesta cena e no filme é que logo a seguir à morte do andróide,Deckaard faz  a firmação óbvia,desnecessária,de “ naquele momento ele amou a vida como nunca antes”.Não era preciso.
E também sempre fiquei do lado da posição de Harrison Ford,quanto à necessidade de manter Deckaard como um ser humano.A versão de Ridley Scot dá conta de que o caçador é um andróide também,mas isto é um absurdo porque toda a questão  da relação do homem com a máquina fica perdida.Fica um problema da máquina,não havendo como humanizar um andróide que caça os outros.Se fosse assim outros problemas teriam que ser  postos.
Ainda não vi a continuação,mas os críticos dizem que é o melhor filme do ano.A idéia de Blade Runner é uma das melhores da história do cinema e o roteiro é bom quando a idéia central o é.
Muito embora eu considere o melhor filme de ficção científica dos Estados Unidos,” O Predador I”com Schwarzennegger(depois explico na próxima crítica),Blade é um dos últimos filmes de arte dos EUA,junto com este último,”Mishima”,”O Gigolô Americano” e “ O Acompanhante” todos feitos por um auxiliar de Ridley Scot:Paul Schrader,por isto mesmo banido de Hollywood.
Os filmes de arte,ruins de bilheteria, foram sendo progressivamente banidos,depois de “ À procura de Mr Goodbar”,fracasso de bilheteria.
Por causa da necessidade de ganhar dinheiro o sistema criou regras de roteiro,formas de condução da realização,que garantam de antemão o retorno econômico e financeiro e as discussões humanas ficaram em segundo plano.Tema para um próximo artigo de crítica.
Avisando aos navegantes:não é violação de direitos autorais colocar partes de filmes,pois eu já perguntei isto à instituição que cuida da distribuição dos filmes no Brasil.


domingo, 10 de setembro de 2017

O problema da morte.



Nas hostes heideggerianas da filosofia diz-se que ninguém tem a experiência da morte.Ela é uma representação “ pura”,um fato de consciência(“ esta região de onde ninguém nunca voltou”[Shakespeare]{Hamlet}).No entanto,acaso,como o homem adquiriu a consciência de sua finitude temporal?No inicio da história da humanidade a morte nem era propriamente admitida,mas uma passagem de um lugar para outro.
O conceito de morte não prescinde da temporalidade e da temporalidade histórica,porque a consciência humana vai descobrindo o que é isso(se é que descobre)e muda o seu conceito.Nós podemos dizer que a frase supra-citada de Shakespeare expressa melhor o que é ela:” o lugar de onde ninguém voltou”;ou talvez o conceito de Lacan,” vou desaparecer”.Aquele que não é visto pode estar morto,mas esta deve ser confirmada pela comunicação e pela verdade da sua ocorrência.
Estes momentos,estas também presentificações,acaso não são experiência?A morte deriva então de um outro-de-tempo,de um outro-de-razão,de um outro-de-presença.
Ex nihilo nihil como falava Parmênides.Não se pode construir uma vivência,um sentido de algo que não se experimentou,de algo que quando é presentificado não é verdade para quem “ desaparece”.
A não presentificação é o fundamento do sentido?O sentido de cada um é baseado,fundado, numa não vivência,num fato de consciência?Nós vimos que não,porque a consciência é uma experiência temporal,uma experiência modal e complexa,que se põe  de muitas maneiras,de muitos “ algos”.
O ser é “ aquilo que se põe à maneira de algo”,pois as essências não são senão presentificações.Como disse anteriormente é discutível se não há uma presença,mas a morte parece justificar,como ponto de partida do sentido,estas múltiplas presentificações.Contudo,se há uma conexão com o tempo e com uma experiência,que está no tempo,se existe uma passagem de um plano para outro( e vice-versa),algo deste algo permanece.
O “algo” da condição,exempli gratia,de professor não são as presentificações próprias do Ser professor?A repetição concreta e real destes atos não é presença?A memória,como experiência,não funda novos e futuros atos caracterizadores do ser professor?Ele não subsiste?
A consciência da morte,que se adquire na experiência n(d-)o mundo,inscrita na memória é que funda o sentido,não “ algo” que não é.
Assim sendo negar que aquele que não tem sentido não deve e não pode  ser reconhecido é uma negativa de “ algo” que está naquele que produz sentido e o alemão e o judeu são iguais.