quarta-feira, 28 de março de 2018

A distância entre os criadores


O falecido Tancredo  Neves dizia que ,apesar dos cataclismos e problemas e agitações,a vida cotidiana deve continuar.Vou falar sobre os acontecimentos políticos,mas paro,às vezes,um pouquinho,para tratar de assuntos igualmente importantes do tempo de vida,que permanece,apesar de tudo.
Eu tenho falado aqui neste blog sobre Einstein,Darwin,Marx e as grandes teorias que moldaram e moldam o nosso tempo.E uma das coisas que tenho ressaltado sempre é que a distância entre os criadores é pequena e que a condição de formulação destas grandes teorias,bem como do conhecimento,depende fundamentalmente de muitos outros criadores que vivem contemporaneamente.
Como dizia Mário de Andrade,” para existir um grande poeta é preciso que outros de grande qualidade apareçam junto com ele”.E na famosa entrevista dada ao Pasquim,antes de morrer,Alceu Amoroso Lima corroborava com esta afirmação dizendo que na Europa o aparecimento de pessoas de alto nível dependia da quantidade de pessoas menos conhecidas,que ajudavam cada época a abordar os seus problemas básicos.E exemplificava que ,certa vez,viajando pela França,ao pedir orientação para chegar a um lugar,no campo,a pessoa que o ajudou revelou que neste lugar havia “ um grande mestre renascentista”.O camponês médio da Europa tem uma bagagem cultural imensa e  nos interstícios do continente figuras artísticas e produtores de conhecimento desconhecidos ,mas de qualidade,existiam.
Na ciência isto é freqüente ,mas na arte também.O período mais importante e fecundo da comédia foi o do início de Hollywood,com os grandes comediantes conhecidos:o Gordo e o Magro,Buster Keaton,Harold Lloyd e o indefectível Chaplin.Contudo outros deram a sua contribuição para este “ top de linha”:Max Linder,Ben Thurpin e Billie Ritchie.Quem?
Chaplin sempre reconheceu a sua dívida com Max Linder,mas copiou o modelo de Carlitos de Billie Ritchie.Este último  alegou que fazia filmes ao mesmo tempo que Chaplin,mas Chaplin o repudiou .Há uma discussão aí.
 
Mas não importa,porque é sempre assim na História:existe cópia,existe assimilação de idéias semelhantes de outros.
Os sketches do vaudeville inglês e americano foram usados por todos e os modelos de personagens eram comuns a todos.Isto não quer dizer que Chaplin não tenha mérito,porque ele deu significados artísticos e sociais ao personagem.Quem vê Max Linder,que Chaplin estudava,percebe as contribuições dadas por ele.Quem vê Billie Ritchie,percebe o mesmo,mas também os acréscimos renovadores,sociais e estéticos de Chaplin.

terça-feira, 27 de março de 2018

A “ Ideologia Cientificista” morreu?

Mas um conceito é mais complexo:o de ciência.Isto porquê ele permite ,ao contrário dos outros,uma discussão segundo os modos diversos pelo quais ele é entendido.Não que os outros não o possam,mas de modo geral eles cristalizam mais rapidamente a vontade dos povos,como a história  provou.
A ciência,no entanto,tem,de plano, legitimidade e é,por isso,freqüentemente chamada a embasar todos os outros modelos universalistas.Mas quando isto acontece ela se torna ideologia pura,como consciência falsa e distorcida da realidade.Quero dizer, quando serve de modelo,por si mesma,já atingiu esta condição,porque não é tarefa dela,segundo a sua natureza.
A ciência sempre se repropõe,é provisória,mas a ideologia científica diz o contrário.
Busca-se  na ciência uma identidade nacional,um conceito de povo,de nação,mas a história da ciência demonstra a sua variabilidade,a realidade de suas leis tendenciais e não absolutas.
Infelizmente o reconhecimento regenerador de sua essência levou muito tempo para se estabelecer e até que o fizesse inúmeros erros e crimes foram cometidos em seu nome.
Se observarmos as figuras de Einstein e Marx,descabelados


dois judeus famosos, nós veremos um caso clássico de aplicação da “ ideologia científica”.Com o nascimento da microbiologia





o mesmo fenômeno de ideologização da teoria da evolução,ocorrido depois da publicação de “ Origem das Espécies”,se dá após as provas apresentadas por Pasteur(acima).
Partindo das premissa de que a sujeira esconde seres minúsculos  infecciosos,a limpeza se torna uma questão obrigatória moral e de estado,na maioria das nações européias(e no Brasil )e de modo paroxístico no nazismo.
A falta de higiene designa um ser humano não moralmente evoluído,despreocupado de si e dos outros,como propagador de doenças e infecções.A medida da ética humana individual e coletiva passa a ser a ciência,não restando nada de autenticidade e legitimidade existencial naquele que não se estetiza,isto é,não se limpa,não se higieniza.
Pior ainda, a higiene acompanha a beleza,que é prova dos cuidados com a saúde
O quadro de Van Gogh “ Os comedores de batatas”



 
  



Não representaria a condição,imposta de fora para dentro,de pobreza,mas de desleixo, e a existência destas pessoas teria que ser mudada,de cima para baixo(pelo estado totalitário).
No nefando filme “ O Judeu Eterno”,os nazistas expressam esta ideologia científica expondo os hábitos pessoais do dois judeus acima.


Mas depois da derrota do nazismo,estas distorções acabaram?”A Curva de Bell”,na década de 90,o esfacelamento da Iugoslávia, o nacionalismo russo atual,Trump e suas bravatas contra os mexicanos e o problema dos migrantes não são uma continuidade?