quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

palinha de meu livro sobre aristóteles

 

Para Platão o ente,aquilo que é está identificado com a essência das coisas.Na concepção imobilista de Platão tinha que ser assim,mas em seu discipulo ,observador da realidade teria que haver uma rutura.Na forma de apresentação unificada do Ser,Aristóteles encontra uma pluralidade,onde avulta a forma destaa oresentação e aquilo que o define,a essência.O termo ousia é ,no entanto,aquele que permite fazer esta mudança na concepção porque expressa a possibilidade de conter um momento deste Ser,que não e movimento propriamente,mas se revela em múltiplas manifestações.

Se Platão recusava a mobilidade ela aparece na inegável percepção d e Aristóteles de que ele não se põe da mesma maneira,dos mesmos modos. A condição de observador cientifico e manipulador da natureza exigiu uma rutura com o mestre.Na apresentação indistinta das coisas Aristóteles viu modos e momentos,fixando estes momentos e modos.Este é o sentido de ousia,essência.Aquilo que se chamou depois de essência era a ousia,um momento do ente,uma sua manifestação.


domingo, 9 de janeiro de 2022

Massacrados VIII

 

De modo que apesar das mudanças me sinto no direito de me solidarizar com as pessoas,nos seus momentos de sofrimento,que,hoje,são muitos e mais.É um tiro no escuro saber se haverá retorno desta solidariedade(vivemos numa época egoista e competitiva),mas eu ajo e penso que toda pessoa de bem deve agir assim,por convicção,pela vontade incondicionada de Kant.O senso de dever e de convicção.

Nietzsche dizia que tal postura de compaixão é falsa,traduzindo mais o desejo de aparecer, mais do que se solidarizar,porque ninguém vive o sofrimento do outro.Mas eu acredito que a compaixão gera a luta para ajudar a terminar as imensas injustiças que a humanidade perpetra diuturnamente,principalmente contra quem é mais fraco,contra quem não tem dinheiro,contra quem não tem nada.

Mas ,não quero nem saber ,eu vou denunciar e protestar aqui ,gostem ou não.

A minha formação de socialista e de comunista se fez de diversas maneiras:leituras e consumo de cultura ,que expressava estes valores.Neste aspecto avulta em importância a visão de Chaplin nos seus filmes e especialmente para mim “Luzes da Cidade”.

A imagem de uma florista cega que corre o risco de ser despejada por não pagar o aluguel culpabiliza a burguesia, e como um todo o sistema capitalista em geral:

Ela encontra o amor de sua vida,pensando ser ele um homem rico.Mas na verdade é Carlitos:




Em determinado momento sublime(entre tantos neste filme genial)ela olha para o céu(onde Deus está?),põe a mão no coração e constrói a sua esperança(utopia)amorosa e ...financeira,porque esta história ,como o discurso da esquerda, une,num discurso monista,o problema pessoal(entre os quais o amoroso)com a história,a exploração, a economia,a totalidade.Não que seja esta a intenção de Chaplin,mas ele reflete(como em outros filmes “Tempos Modernos”)este referido discurso da esquerda,a qual ele pertencia e cuja visão acompanhou desde pequeno,de Londres até à Suiça.



A conexão direta entre este sofrimento individual e a burguesia fica assim “provada”,mas na verdade não é bem assim.Desfazendo este discurso monista ,uma coisa são as relações inter-individuais,pessoais e outra o sistema social todo.Está certo,o sistema influencia a vida privada,mas esta guarda autonomia.

E Chaplin ,com mais genialidade e sensibilidade ,vai neste sentido que eu estou construindo:na cena final famosa em que a moça,recuperada da cegueira,por causa dos esforços de Carlitos(e não por causa de um homem rico como ela pensava e queria),o reconhece ao recolocar a mão no seu ombro,para adaptar uma flor na lapela do mendigo,ela cai em si e diz que “agora pode ver”,pode ver a vida como ela é.

Nesta narrativa genial,Chaplin não concilia com a burguesia,mas a critica no personagem do milionário,que estando sóbrio não reconhece as pessoas humildes e que quando bebe o faz,numa bipolaridade induzida.Ora,por mais vítima que a florista seja ela quer ser guindada a esta burguesia e ter uma vida de riqueza,mas aprende que este ideal não é absoluto,não é absolutamente justo.

Aí que está o que eu quero dizer:não se trata de vitimizar o pobre,o explorado:o discurso libertário,emancipatório,não é vitimilógico,mas compreensivo e fundante de uma prática consciente.

O radical de esquerda,que vai ler este artigo, me chamará de lacaio da burguesia,de conciliador de classes,estas bobagens,mas não é isto não.Historicamente ficou claro que suprimir pela força e pela violência a classe burguesa não significa a implantação imediata e redentora da utopia.A vitória da utopia se dá no cotidiano do capitalismo,na construção de uma base subjetiva e objetiva(econômica)que num determinado momento vai tornar a superação da classe exploradora inevitável,não no sentido do socialismo evolucionário de Bernstein,mas no de que será possível à maioria tomar a decisão de superação,diluindo a minoria,não a matando.

Em muitas ocasiões a burguesia não precisou destruir a aristocracia,mas a modificou por dentro:foi assim nas revoluções inglesas,na Itália do Risorgimento e mesmo na França do século XIX.

O ódio de classe que o titio Stalin aconselhava não serve de nada.Apenas aplaca a necessidade compensatória dos ressentidos de qualquer idade.O ódio ao outro valoriza a si mesmo,a pessoa que não tem nada,senão este ódio.