Conforme com o que eu pus no meu livro “Petição de
Principio”,no qual expresso os meus criterios de trabalho e de pesquisador,sou
um pesquisador independente,que só tem especialização em filosofia moderna e
contemporânea.
Sou,com muito orgulho,autodidata.Um
esforçado(repito:com muito orgulho).Não fui recebido de forma republicana nas
universidades onde eu tentei fazer o meu mestrado e doutorado.
As universidades são mais politica e reprodução de
poder do que busca de saber.Muita gente vai desdenhar isto aí,mas eu tenho
prova e mais argumentos para dizer estas coisas.
Por agora,no entanto,o que eu quero é simplesmente
oferecer as razões ,já ditas,no meu referido livro,para não citar autores das
supraditas universidades e não respondê-los quando insistemente vêm nas minhas
redes contestar conceitos emitidos por mim.
Vou abrir uma exceção neste momento porque a
insistência aumentou muito e por razões de minha vida pessoal acho que deveria
polemizar com este autor,se este autor quiser.Porque eu não me coloco abaixo de
ninguém,pelo que eu disse acima.Eu me considero uma pessoa capaz de discutir
com quem quer seja estes temas de que eu
trato aqui,mesmo pessoas com mestrado e doutorado.Tirando Miguel Reale
pai,Euclides da Cunha e Gilberto Freyre ,que obtiveram reconhecimento no
exterior mui merecido,não estou abaixo de ninguém.
Em termos de marxismo me considero um dos maiores
conhecedores não só no Brasil.
E por causa do modo como a minha relação se deu com a
academia ninguém tem o direito,dentro dela,de me tratar professoralmente ou de
cima para baixo ou muito menos me ameaçando.
O meu critério básico é que se alguém veio aqui é
porque está lendo o meu trabalho.Se não gosta dele,passe ao largo.Se gosta ,mas
não concorda e quer demonstrar isto ,vem até aqui e diretamente e em público,reconhecendo a minha qualidade.
Defendo democracia de mérito,mesmo na sociedade de
classes e o reconhecimento do valor de uma pessoa ,ainda que não tenha
canudo,titulo.O meu conceito de reconhecimento é o de Hegel,que o tirou dos
liberais.
Se acha que eu estou agindo mal,vai na justiça e me
proibe,que eu vou até ao STF para lutar pelo meu direito.Se eu estivesse no
socialismo real muitas pessoas que me atacam aqui já estariam me impedindo ou
coisa pior(porque eu insistiria).Abandonei o socialismo real.
Então,pela primeira vez eu vou citar uma professora
que vem sempre nas minhas redes,instagram e facebook,secundada por dois
garotões e eventualmente um senhor de
meia-idade,numa postura de,penso eu,desafio.Como disse acima,se quiser falar
comigo toma a iniciativa,porque já tomou.Eu não sou desafiante não,é
ela:trata-se de Marilena Chauí,cuja trajetória,eu,como nós todos comunistas
militantes,seguimos desde os anos setenta.
Eu ainda possuo jornais dos anos setenta aqui com
entrevistas desta professora,que tem ,curiosamente ,interesse em reconhecer
pessoas de fora da academia e que não
têm certificação por parte desta última,muito contrário.
Tiro estas conclusões de um documentário que assisti
nos anos 90 sobre um crítico de
cinema,se não me engano,Evaldo Cabral.Ela tem esta sensibilidade aparentemente.
Numa democracia de mérito não é a mediação do papel,do
canudo,que legitima o reconhecimento,mas o fato real em si mesmo.Com a
profissionalização de todas as atividades humanas,nos últimos decênios,ninguém
reconhece o valor de alguem que atue sozinho e
que não tenha previamente algo por trás ou um titulo,ainda que não seja
de um lugar de ponta.
Talvez o que impeça estes intelectuais de virem aqui
me ver seja isto,que eles “estão concedendo este titulo” à minha pessoa.Acho
tal coisa um absurdo.
Dito isto vamos ao que me trouxe aqui.Continuando a seguir o trabalho
desta professora,sempre de maneira crítica,lembro-me de dois episódios
capitais:nos anos 80 acompanhei na ufrj um curso de filosofia do professor
Roland Corbisier.Num determinado dia o
professor se referiu ao livro “O que é ideologia”,considerando-o “ muito
ruim”(no entender dele,eu não acho). No final dos anos 90 uma pequena polêmica
com José Guilherme Merquior que a acusou
de atribuir a si própria um pensamento de outro autor.Segundo Merquior ela “
teria esquecido umas aspas”.
O segundo episódio não tem importância.Não
investiguei.Mas o primeiro gerou muitas questões a mim e a nós comunistas
militantes que debatiamos o problema da ideologia.
A questão que fundamenta este artigo,como o leitor já
nota,é o da ideologia.A professsora sempre manda uma aula de ideologia para
minhas redes,baseada no seu livro famoso.
Em certa ocasião Corbisier esteve próximo da
professora e nós, na juventude do partido, reclamamos(não diretamente)de não
ter polemizado com ela.
A polêmica naqueles anos,que já havia sido assentada
na Europa,era se o conceito de ideologia de Marx estava superado pelas
formulações de outros autores ,sobretudo Gramsci.
O que se punha era:se a consciência era falsa ,se não
fundamentada na ciência,no real,na verdade ,era,no entanto,verdadeira para o
sujeito.Montei no sindicato dos professores ,em 1984,um curso com Carlos Nelson
Coutinho ,que,logo no inicio,exemplificou este fato com a frase “ainda que Deus
não exista objetivamente,existe para quem acredita”,e eu digo e acrescento ,de
vários modos possiveis(simbolo,valor,conhecimento,esperança).
Mas existencialmente a relação entre o sujeito e Deus
é de modo básico e fundamental,não fechado,mas que supostamente adequa o homem
a algo fora dele.
Esta reflexões valem para a ideologia.Para a professora Marilena Chauí a ideologia é
como Marx disse:falseia o real e é oposto à ciência ,ao conhecimento verdadeiro.Se
Roland Corbisier fez uma crítica a esta definição ,o fez quanto à Marx
igualmente.Chamou Marx de muito ruim...
O conteúdo do video confirma estas concepções.No
entanto observemos este trecho do livro de Leandro Konder “ A questão da Ideologia”.
Na introdução ele cita Bobbio e principalmente um
autor que eu não conhecia,Stoppino,para quem “a ideologia tem dois
significados,fraco e forte .[...]o fraco é aquele que se refere ao conjunto
de crenças,idéias e valores politicos que orientam os comportamentos coletivos
na ordem publica.O forte é aquele que se refere à Marx ,como distorção
do real.”
Francamente esta distinção não me parece válida:a
questão é que a ideologia pode significar uma conformação do mundo,por parte do
sujeito ou pode ser uma distorção.
A dificuldade de se definir Ideologia se dá porque é
impossivel saber se um discurso é verdadeiro ou não ,na investigação da
complexidade do real.O meu indefectivel Kant ajuda a entender:o real é um simulacro,é
inalcançável,mediata e imediatamente(não gosto do termo simulacro,mas vou
usá-lo aqui,porque é mais comum).Em que momento há a intencionalidade de
distorcer o real,com algum propósito(intencionalidade um conceito
fenomenológico,heusserliano),há que responder.
De novo a questão de Deus:Deus é usado para desviar a
atenção do oprimido quanto à sua condição,mas não se há de duvidar da crença
legitima e verdadeira de muitas pessoas.Em que momento há a manipulação e em
qual, não.
Quer me parecer
que a professora continua numa concepção que já foi inteiramente
superada.O falso pode ser verdadeiro para o sujeito,lembrando a dialética do
falso e do verdadeiro em Hegel,de que Lukacs
trata no “História de Consciência de Classe”(de forma errada a meu ver).
Idêntico erro cometem os intelectuais de esquerda
quanto ao direito.Esta é uma das razões pelas quais deploro a especialização
dos profissionais do pensamento e da pesquisa.Quem faz filosofia,só estuda
filosofia,mas quando se aborda um autor erudito e interdisciplinar como Marx os
problemas aparecem.
Marx fazia uma
abordagem semelhante ao da ideologia,no que tange ao direito,exceto na sua
juventude.Na “ critica à filosofia do direito de Hegel”,Marx ainda o entende
como instância autônoma.Mas, e esta é
uma das provas de que existe um jovem e um velho Marx(me lembro de como tive
dificuldade em explicar esta verdade a
Gerd Bornheim),a transformou numa “ superestrutura” destinada a falsear de
igualdade as relações de exploração no capitalismo,fazendo do estado de direito
inútil,o que facilitou muito a ação totalitária de Stalin...
O direito,como a ideologia, tem como ser a favor ou
contra a opressão,dependendo da ação humana revolucionária e compreensiva.
Tem muito radical que vem me jogar pedra aqui que me
joga na cara que o direito legitimou a escravidão ,mas o idiota não vê que
outra lei fixou a liberdade dos negros,pelo menos formalmente,o que é muito
importante.
A solução deste erro ideológico de Marx,no direito,é
compreender a distinção entre common
law e civil
law .Na verdade o direito é repressivo,de fora para dentro,ao usar
códigos,que visam exigir da sociedade,de uma sociedade que não se normatiza,o
cumprimento das leis.A civil law é assim,mas a commom law é aquela em que o
código não existe,uma vez que a sociedade é capaz de se normatizar e discutir
cada caso com autonomia.Marx aqui foi ultrapassado e ,inadvertidamente ,criou
as condições para a violência em nome do
comunismo do futuro.
A ideologia é mais dificil de deslindar.Quando eu
tomei conhecimento da visão de ideologia de Marx achei estranho que figuras
ligadas à revolução russa,como Bukharin e Suslov,fossem tidas como “ideólogos”
neste sentido positivo,de verdade.Havia aí uma contradição.
O direito sovético,desde a constituição de 1937,sempre
se submeteu à ideologia,aos ideólogos.Não que expressasse o pensamento
deles,mas ainda que expressando,se submetiam às necessidades politicas
futuras,se tornando letra morta quase que totalmente.A começar que você pode
dizer o que quiser desde que não atinja a intocabilidade do governo ,que
certamente não erra(como Lênin e Stalin
e Marx não erravam).
É assim que eu entendo ideologia,desde os anos 80 e
muitos pensam assim.Supondo que a professora pense ainda como Marx,para mim é
uma manifestação de sectarismo,tanto na filosofia, como no marxismo e no
direito.
Com a palavra o(a)desafiante.