segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

O problema da ideologia resposta a uma professora

Conforme com o que eu pus no meu livro “Petição de Principio”,no qual expresso os meus criterios de trabalho e de pesquisador,sou um pesquisador independente,que só tem especialização em filosofia moderna e contemporânea.

Sou,com muito orgulho,autodidata.Um esforçado(repito:com muito orgulho).Não fui recebido de forma republicana nas universidades onde eu tentei fazer o meu mestrado e doutorado.

As universidades são mais politica e reprodução de poder do que busca de saber.Muita gente vai desdenhar isto aí,mas eu tenho prova e mais argumentos para dizer estas coisas.

Por agora,no entanto,o que eu quero é simplesmente oferecer as razões ,já ditas,no meu referido livro,para não citar autores das supraditas universidades e não respondê-los quando insistemente vêm nas minhas redes contestar conceitos emitidos por mim.

Vou abrir uma exceção neste momento porque a insistência aumentou muito e por razões de minha vida pessoal acho que deveria polemizar com este autor,se este autor quiser.Porque eu não me coloco abaixo de ninguém,pelo que eu disse acima.Eu me considero uma pessoa capaz de discutir com quem quer seja estes temas de que  eu trato aqui,mesmo pessoas com mestrado e doutorado.Tirando Miguel Reale pai,Euclides da Cunha e Gilberto Freyre ,que obtiveram reconhecimento no exterior mui merecido,não estou abaixo de ninguém.

Em termos de marxismo me considero um dos maiores conhecedores não só no Brasil.

E por causa do modo como a minha relação se deu com a academia ninguém tem o direito,dentro dela,de me tratar professoralmente ou de cima para baixo ou muito menos me ameaçando.

O meu critério básico é que se alguém veio aqui é porque está lendo o meu trabalho.Se não gosta dele,passe ao largo.Se gosta ,mas não concorda e quer demonstrar isto ,vem até aqui e diretamente  e em público,reconhecendo a minha qualidade.

Defendo democracia de mérito,mesmo na sociedade de classes e o reconhecimento do valor de uma pessoa ,ainda que não tenha canudo,titulo.O meu conceito de reconhecimento é o de Hegel,que o tirou dos liberais.

Se acha que eu estou agindo mal,vai na justiça e me proibe,que eu vou até ao STF para lutar pelo meu direito.Se eu estivesse no socialismo real muitas pessoas que me atacam aqui já estariam me impedindo ou coisa pior(porque eu insistiria).Abandonei o socialismo real.

Então,pela primeira vez eu vou citar uma professora que vem sempre nas minhas redes,instagram e facebook,secundada por dois garotões  e eventualmente um senhor de meia-idade,numa postura de,penso eu,desafio.Como disse acima,se quiser falar comigo toma a iniciativa,porque já tomou.Eu não sou desafiante não,é ela:trata-se de Marilena Chauí,cuja trajetória,eu,como nós todos comunistas militantes,seguimos desde os anos setenta.

Eu ainda possuo jornais dos anos setenta aqui com entrevistas desta professora,que tem ,curiosamente ,interesse em reconhecer pessoas de fora  da academia e que não têm certificação por parte desta última,muito contrário.

Tiro estas conclusões de um documentário que assisti nos anos 90   sobre um crítico de cinema,se não me engano,Evaldo Cabral.Ela tem esta sensibilidade aparentemente.

Numa democracia de mérito não é a mediação do papel,do canudo,que legitima o reconhecimento,mas o fato real em si mesmo.Com a profissionalização de todas as atividades humanas,nos últimos decênios,ninguém reconhece o valor de alguem que atue sozinho e  que não tenha previamente algo por trás ou um titulo,ainda que não seja de um lugar de ponta.

Talvez o que impeça estes intelectuais de virem aqui me ver seja isto,que eles “estão concedendo este titulo” à minha pessoa.Acho tal coisa um absurdo.

Dito isto vamos ao que me  trouxe aqui.Continuando a seguir o trabalho desta professora,sempre de maneira crítica,lembro-me de dois episódios capitais:nos anos 80 acompanhei na ufrj um curso de filosofia do professor Roland Corbisier.Num determinado dia  o professor se referiu ao livro “O que é ideologia”,considerando-o “ muito ruim”(no entender dele,eu não acho). No final dos anos 90 uma pequena polêmica com José Guilherme Merquior que  a acusou de atribuir a si própria um pensamento de outro autor.Segundo Merquior ela “ teria esquecido umas aspas”.

O segundo episódio não tem importância.Não investiguei.Mas o primeiro gerou muitas questões a mim e a nós comunistas militantes que debatiamos o problema da ideologia.

A questão que fundamenta este artigo,como o leitor já nota,é o da ideologia.A professsora sempre manda uma aula de ideologia para minhas redes,baseada no seu livro famoso.

Em certa ocasião Corbisier esteve próximo da professora e nós, na juventude do partido, reclamamos(não diretamente)de não ter polemizado  com ela.

A polêmica naqueles anos,que já havia sido assentada na Europa,era se o conceito de ideologia de Marx estava superado pelas formulações de outros autores ,sobretudo Gramsci.

O que se punha era:se a consciência era falsa ,se não fundamentada na ciência,no real,na verdade ,era,no entanto,verdadeira para o sujeito.Montei no sindicato dos professores ,em 1984,um curso com Carlos Nelson Coutinho ,que,logo no inicio,exemplificou este fato com a frase “ainda que Deus não exista objetivamente,existe para quem acredita”,e eu digo e acrescento ,de vários modos possiveis(simbolo,valor,conhecimento,esperança).

Mas existencialmente a relação entre o sujeito e Deus é de modo básico e fundamental,não fechado,mas que supostamente adequa o homem a algo fora dele.

Esta reflexões valem para a ideologia.Para  a professora Marilena Chauí a ideologia é como Marx disse:falseia o real e é oposto à ciência ,ao conhecimento verdadeiro.Se Roland Corbisier fez uma crítica a esta definição ,o fez quanto à Marx igualmente.Chamou Marx de muito ruim...

O conteúdo do video confirma estas concepções.No entanto observemos este trecho do livro de Leandro Konder “ A questão  da Ideologia”.

Na introdução ele cita Bobbio e principalmente um autor que eu não conhecia,Stoppino,para quem “a ideologia tem dois significados,fraco e forte .[...]o  fraco é aquele que se refere ao conjunto de crenças,idéias e valores politicos que orientam os comportamentos coletivos na ordem publica.O forte é aquele que se refere à Marx ,como distorção do real.”

Francamente esta distinção não me parece válida:a questão é que a ideologia pode significar uma conformação do mundo,por parte do sujeito ou pode ser uma distorção.

A dificuldade de se definir Ideologia se dá porque é impossivel saber se um discurso é verdadeiro ou não ,na investigação da complexidade do real.O meu indefectivel Kant ajuda a entender:o real é um simulacro,é inalcançável,mediata e imediatamente(não gosto do termo simulacro,mas vou usá-lo aqui,porque é mais comum).Em que momento há a intencionalidade de distorcer o real,com algum propósito(intencionalidade um conceito fenomenológico,heusserliano),há que responder.

De novo a questão de Deus:Deus é usado para desviar a atenção do oprimido quanto à sua condição,mas não se há de duvidar da crença legitima e verdadeira de muitas pessoas.Em que momento há a manipulação e em qual, não.

Quer me parecer  que a professora continua numa concepção que já foi inteiramente superada.O falso pode ser verdadeiro para o sujeito,lembrando a dialética do falso e do verdadeiro em Hegel,de que Lukacs  trata no “História de Consciência de Classe”(de forma errada a meu ver).

Idêntico erro cometem os intelectuais de esquerda quanto ao direito.Esta é uma das razões pelas quais deploro a especialização dos profissionais do pensamento e da pesquisa.Quem faz filosofia,só estuda filosofia,mas quando se aborda um autor erudito e interdisciplinar como Marx os problemas aparecem.

Marx  fazia uma abordagem semelhante ao da ideologia,no que tange ao direito,exceto na sua juventude.Na “ critica à filosofia do direito de Hegel”,Marx ainda o entende como instância autônoma.Mas,  e esta é uma das provas de que existe um jovem e um velho Marx(me lembro de como tive dificuldade em explicar  esta verdade a Gerd Bornheim),a transformou numa “ superestrutura” destinada a falsear de igualdade as relações de exploração no capitalismo,fazendo do estado de direito inútil,o que facilitou muito a ação totalitária de Stalin...

O direito,como a ideologia, tem como ser a favor ou contra a opressão,dependendo da ação humana revolucionária e compreensiva.

Tem muito radical que vem me jogar pedra aqui que me joga na cara que o direito legitimou a escravidão ,mas o idiota não vê que outra lei fixou a liberdade dos negros,pelo menos formalmente,o que é muito importante.

A solução deste erro ideológico de Marx,no direito,é compreender a distinção entre  common law  e  civil  law .Na verdade o direito é repressivo,de fora para dentro,ao usar códigos,que visam exigir da sociedade,de uma sociedade que não se normatiza,o cumprimento das leis.A civil law é assim,mas a commom law é aquela em que o código não existe,uma vez que a sociedade é capaz de se normatizar e discutir cada caso com autonomia.Marx aqui foi ultrapassado e ,inadvertidamente ,criou as condições para  a violência em nome do comunismo do futuro.

A ideologia é mais dificil de deslindar.Quando eu tomei conhecimento da visão de ideologia de Marx achei estranho que figuras ligadas à revolução russa,como Bukharin e Suslov,fossem tidas como “ideólogos” neste sentido positivo,de verdade.Havia aí uma contradição.

O direito sovético,desde a constituição de 1937,sempre se submeteu à ideologia,aos ideólogos.Não que expressasse o pensamento deles,mas ainda que expressando,se submetiam às necessidades politicas futuras,se tornando letra morta quase que totalmente.A começar que você pode dizer o que quiser desde que não atinja a intocabilidade do governo ,que certamente não erra(como Lênin e  Stalin e Marx não erravam).

É assim que eu entendo ideologia,desde os anos 80 e muitos pensam assim.Supondo que a professora pense ainda como Marx,para mim é uma manifestação de sectarismo,tanto na filosofia, como no marxismo e no direito.

Com a palavra o(a)desafiante.

 


sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

A natureza humana nós manuais soviéticos

 

Tantas vezes venho aqui criticar o materialismo,que possui limites essenciais.Em artigo recente tratei desta verdade.Lá no fundo o materialismo que não se limita revela o seu caráter basicamente tosco.

Todo materialismo tem uma base muito duvidosa.A acusação de boçalidade,dos idealistas e teólogos,faz sentido,porque não raro esta linha de pensamento se torna muito redutiva,olhando o mundo só pelo seu prisma.

A oposição propalada pelo marxismo entre idéias e relações materiais,materialidade,é falsa como há muito tempo eu mostrei seguindo uma pletora de autores que já o tinham feito em outras épocas.

Desta forma o materialismo descamba para diversas distorções se não tiver esta capacidade de ver os seus limites.

Em Marx,a dialética materialista ,o materialismo dialético acaba sendo uma ideologia,no sentido dele próprio,porque como já foi demonstrado(por mim inclusive)não há uma dialética da natureza.A natureza,o Ser,não se movimentam por contradições,nem na concepção de Hegel e de Marx(que são afinal iguais[eu também já tratei disto]).

Em sua biografia se diz que Marx desejava escrever uma lógica,uma lógica dialética,a partir do Capital.A luta pela vida e a consequente falta de tempo o impediu.Lênin afirmou a respeito que embora Marx não tivesse elaborado este seu sonho,deixou-nos “a lógica do Capital”.

Forçoso é reconhecer que os manuais soviéticos futuros derivam deste sonho de Marx.Muita gente atribui a Engels o caráter limitado e dogmático deste manuais,principalmente porque teriam derivado das considerações do companheiro de Marx,em seu Anti-Durinhg,mas sabemos,por intermédio das pesquisas de Gustav Meier ,que Marx viu e aprovou este livro bastante dogmático,tendo,inclusive,contribuido um pouco para ele.

Os manuais soviéticos e porque não stalinistas são originários desta base marx engelsiana.

Em outros artigos pretendo analisar o grau de culpa dos dois nesta simplificação vulgar.Mas o ponto nodal ou os pontos nodais do problema eu ponho agora:

Os manuais partem de alguns principios ab ovo ,nas concepções dos fundadores.Que existe uma ciência dialética fechada explicativa de tudo.A consequencia nos manuais é que ,do ponto de vista deles,a solução do problema humano já está dada e é só segui-los para alcançar a utopia.

O segundo ponto vem daí:se é assim,basta ter a vontade para implementar aquilo que já está dado.A tomada de consciência do problema da exploração impulsiona a compreensão e a revolução.

Esta tomada de consciência,quando algum marxista diz é sempre taxado de “ idealista” e na URSS e em outros locais,muita agente foi presa ou sofreu algo pior por causa disto,mas no volume III das Obras Escolhidas de Marx e Engels,da editorial vitória ,Marx usa estes mesmos termos,em relação à ciência do proletariado,os materialismos histórico e dialético .

Tomar consciência destas “ciências” é a condição da transformação.

A partir daí,mas seguindo o roteiro simplificador do materialismo,os manuais e stalin consideraram como metafísica a existência de uma natureza humana,como base da ação humana e puseram na vontade pura e simplesmente a base da tomada de consciência.A vontade como base(que está em Marx também)é outro termo similar ao nazismo,ao totalitarismo de direita.

De quebra a crítica à natureza humana é uma crítica à filosofia de Tomás de Aquino,mas nos próximos artigos vou mostrar como estes manuais têm mais a ver com este filósofo do que se imagina.


Kant como ferramenta III

 Mas se liga às leituras de Habermas em que esta distinção entre a linguagem comum e a profissional se faz também,sem falar no livro discurso filosófico da modernidade em que há um cristianismo douto(teologia) e outra popular.Mas todas estas antinomias são fatos comuns no pensamento profissional e popular.De vez em quando ele aparece e adquire um significado revolucionário, como na independência dos eua(ou revolução)em que o senso-comum serviu de base para o avanço em direção à liberdade.

É o aprofundamento da simples razão que eu proponho aqui.À rede complexa de categorias ofereço critérios para a abordagem imediata do real,para quem está no senso-comum.Também aplicações eu quero fazer de Kant sobre a realidade.

Nisto o meu passado de professor me inspira.

Tal distinção,evidentemente,apresenta problemas:em certos setores do conhecimento,como na psicologia,o senso-comum parece prescindivel.

Questões freudianas são conhecidas no passado:a relação de Alexandre o grande com seu pai Felipe II são extremamente edipianas;no romance os Maias de Eça Queiroz também e igualmente no primo Basilio.Sem falar em Hamlet.Poderiam estas pessoas,pelo senso comum,pela experiência,resolver o problema que lhes afligia?Se sim,para quê Freud?Ainda não respondi a esta pergunta,mas o caminho não é o de prescindir de senso-comum.Não penso,como tantas vezes digo ,que o mundo seja monista,que só uma causa governa o mundo e só um método exista.Mas aí é outra questão.


terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Shakespeare I

 

Ao compreender o infinito alcance humano de Rei Lear eu nunca mais li Hamlet e já lá vão 30 anos talvez.Este primeiro artigo crítico sobre as obras de Shakespeare é o primeiro momento ,depois destes anos todos, em que retorno a refletir sobre aquela que é considerada a obra-prima do bardo.Há controvérsias.

Para mim Hamlet só fica um pouco à frente de Rei Lear porque é mais organizada do ponto de vista da narrativa,mas isto não quer dizer que haja algum defeito em Rei Lear.Apenas ela é muito transbordante,não obedecendo aos cânones clássicos de Hamlet.

Já escrevi um texto sobre o que significa para mim o Rei Lear e nestes artigos eu vou aprofundar algo mais ou muito mais que esta obra divina apresenta para interpretação.

Contudo como estou trabalhando agora em Shakespeare todo,eu quero refazer a leitura de Hamlet junto com quem me lê.

Primeiramente há que lembrar as inumeras interpretações sobre Hamlet:a interpretação psicanalítica,de Ernst Jones;as interpretações ,um pouco esparsas,do materialismo histórico que atribui influencia do meio social sobre a obra;e a s críticas corriqueiras que explicitam o que está no texto.

Neste meu referido livro eu coloquei a seguinte premissa:é certa a advertência de uma crítica como Barbara Heliodora quanto a dizer sobre Shakespeare aquilo que não está nele,mas a verdade é que em autores como ele,existem inumeras possibilidades de interpretação,que o autor mesmo não pespegou quando escrevia.

Certa vez o beatle Lennon fez alguns poemas e notou este fato:quando vc imagina alguma coisa ao colocá-la no papel ela sai de outro modo, inesperado.

Alguns criadores,não todos,são assim e Shakespeare ,entre muitos,é um dos mais exemplificativos disto.Isto não é desdouro,não é descontrole ou incapacidade e sim característica de alguém que compreende o real de tal forma que abre espaços inusitados para a sua compreensão,se esta é possivel,ou seja,se se esgota,afinal de contas.

E este tipo de criador se modifica na medida em que o tempo passa:no seu tempo Shakespeare era reverenciado por pequenas platéias,mas posteriormente,a partir do romantismo,ele se torna um modelo explicativo,compreensivo ,da humanidade.

À propósito esta dicotomia explicação/compreensão,mais afeita à ciência,serve igualmente para abordar uma obra como a de Shakespeare e é ela que eu uso para fazer a minha análise.Próximo artigo.


Freud e a virgem

 Conforme tenho dito anos a fio ,não sou psicanalista de formação nem médico,mas há que reconhecer que a contribuição de Freud extrapola os limites destas atividades e influencia diversas áreas do conhecimento.

Freud é legatário da tradição filosófica do final do século XIX(sem falar na da ciência logicamente),a “ filosofia da vida” que marcou a sua diferença com o passado recente do cientificismo monista,abrindo perspectivas novas para a compreensão do mundo.

Se neste passado recente a perspectiva é fechada ,vai se descobrindo depois ,que a ciência não é única ,que a sua previsibilidade é discutível e que sempre que o mundo é abordado há uma fratura em todo esquema explicativo causal fechado.

Não necessariamente Kant ou a física propiciaram bases para esta descoberta,mas a constatação geral de que os sistemas metafíscos,fechados, não davam conta do real.

De Kierkegaard até ao final do século XIX,com Nietzsche,Simmel,Dilthey e a psicologia em geral,a diluição desta crosta sobre o mundo real,sobre o real ,ocorre.

O processo de explicação adquire um papel ao lado dos métodos da compreensão e interpretação.Coisas que permitem a Freud elaborar a psicanálise.

Mas como eu tenho dito frequentemente,a psicanálise é um método terapêutico(médico) e uma concepção que modifica a visão que temos da relação do homem com a realidade em torno dele.

A pura adequação do sujeito com o mundo que parecia justificar a presença monistica da ciência como modelo rector da existência humana é posta em xeque definitivamente.

A respeito disto tenho me referido constantemente,coisa que traz consequencias ainda mais importantes para o pensamento em geral.

A despeito de Freud ter pensado ser a psicanálise a ciencia(definitiva)do psicologia(desmentido depois por Jung),não se há de negar que a sua contribuição colocou como problema cientifico a subjetividade.Aparentemente tal não rompe com o principio da adquação cartesiana sujeito/objeto,mas o modo de abordar a subjetividade destrói totalmente a exigência deste “ encaixe” porque não é possível extrair desta análise principios e leis,mas só uma interpretação,a partir de padrões hermenêuticos que se modificam no processo mesmo de interpretação (gadamer).



domingo, 11 de dezembro de 2022

Kant como ferramenta II

 

Em outro artigo eu pretendo usar uma pesquisa feita por um autor de direita que mostra como o que definia decisões cientificas na época de que estamos tratando era o que se entendia ser a ciência,que supostamente havia superado todos os saberes,principalmente a filosofia.

Mas na história da ciência existem outros momentos em que a oportunidade de avanços maiores se pôs e grandes mentes não perceberam:se Leonardo da Vinci tivesse prosseguido no seu trabalho talvez ele pudesse ter chegado à descoberta da circulação do sangue.

Sem dúvida o problema de Kant aí é acreditar que existem coisas pré-dadas.É o apriorismo.Toneladas de materialistas se afastaram de Kant por seu idealismo,mas a definição de Kant é ser criticista criteriologia,criteriológico.

Naturalmente um estudo acurado destas obras de Kant poderia ter revelado muita coisa,mas vai dizer isto de Marx para um seu seguidor...

Isto,no entanto,vale para um monte de gente,que lê os autores só uma vez,para acreditar,não compreender.

O meu trabalho é para aprofundar o papel de Kant,mostrar o seu caráter prioritário para certas coisas,para certas realidades.Não é que ele seja único,mas é o mais universal.

Sem duvida,o corte epistemológico é uma invenção que confirma aquilo que eu disse anteriormente.Por uma série de razões imagina-se que a ciência ,sendo capaz de obter a causa dos fenômenos,tem meios de provar que só ela é habilitada a tal,como se esta busca da causa fosse suficiente para um mundo tão complexo.Mas como eu disse,com o exemplo de Proudhon,há pessoas que antevêem os problemas.E,neste caso,há que recuar e reconhecer isto.

No plano da filosofia não há uma ruptura,muito menos o seu fim.Mas o marxismo como outras correntes,pensou assim e ficou sem base.Se o movimento é permanente,não há propriamente fim ,senão no plano axiológico,ou seja,finalidade.

Kant libera a linguagem que já não restitui a realidade como um todo.Ele reconhece,ou pelo menos é possivel reconhecer por seu pesamento,a infinidade do mundo e da linguagem propriamente.

Muitos autores,por isto, depois de Kant ,não existiriam sem ele,sem esta liberdade da linguagem.O caráter interpretativo do mundo se tornou algo dominante na filosofia ,principalmente a filosofia da vida,Dilthey,Nietszche e tantos outros,mas penso ser possivel ,no âmbito da distinção entre conhecimento filosófico,profissional e o popular,o senso-comum,levando em conta que não existe mais barreira posta por Platão,encontrar um caminho de abordagem bom para aquele que não é profissional.Uma ligação entre o senso-comum e a profissionalidade.

Esta questão é derivativa da minha preocupação de cidadão e professor e de militante,de elevar a consciência do povo quanto ao seu futuro e quanto ao seu mundo.


quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Kant como ferramenta I

 Este texto tem um significado decisivo em minha vida de pesquisador porque fixo as minhas concepções relativas à Kant,dentro da minha revisão do marxismo,a partir da II internacional, a qual relacionou Marx com Kant(contra a vontade dele provavelmente).

 Todo mundo tenta suprir a falta de uma filosofia em Marx,trazendo um seu caderno de juventude sobre Espinoza,tentando usar o estruturalismo,como Althusser e simplesmente deixando de lado esta questão.

Mas a verdade é que o único pensador que consegue isto é Kant,porque por ele se percebe o erro essencial de Marx e do marxismo: crença cientificista de que basta a ciência para compreender o real,decretando o fim da filosofia,como um saber metafísico ou mesmo sem fundamento.Isto está de acordo com o pensamento de Habermas em “para a reconstrução do materialismo histórico”,quando ele se refere ao cientificismo .

No lugar da filosofia,como disse Althusser,está(-ria) o materialismo dialético que seria a filosofia no seu sentido científico,uma ciência em si.

Neste passo,o marxismo é igual ao positivismo do século XIX,quando põe a filosofia sob leis do pensamento,o que a torna não uma filosofia propriamente, mas uma psicologia,perigo que o próprio Kant notara e evitara no seu tempo.

Mas não existe dialética senão no pensamento,como Proudhon verificou pela primeira vez.A ideia de um materialismo dialético é totalmente ficcional e subsiste em grande parte por desconhecimento da própria filosofia e da precariedade da ciência natural no tempo de elaboração do marxismo.E por desconhecimento de alguns filósofos quanto às ciências naturais.

Porque quer queiramos ou não ,somos limitados pelas condicionantes de tempo e espaço.A liberdade de pensamento e de pesquisa pode diminuir isto aí,mas de modo geral,de um jeito ou de outro,um preconceito,um temperamento,uma disciplina acaba atrapalhando.

Nós conhecemos a frustração de Einstein ao perceber que podia ter ido da energia para a matéria,o que o teria feito conseguir novas descobertas e adiantado mais o relógio da ciência.

No caso especifico de Kant, a sua dialética entrou na cabeça de certas pessoas,como Proudhon,mas em outras só a de Hegel,como é o caso de Marx.Porquê?Aqui neste caso nós temos uma conjunção de fatores:preconceitos pessoais,falta de recursos filosóficos e cientificos que levaram Hegel-Marx a seguir num caminho que depois se mostrou falso.Mas porque Proudhon teve um insight que o permitiu se adiantar?Condições subjetivas,escolhas casuais acertadas,mas também uma dose de genialidade e falta de preconceito.


terça-feira, 6 de dezembro de 2022

O Pensamento de Lênin II o lugar de Lênin

 


Quando era militante radical considerava Lênin um dos pouquíssimos politicos na história capazes de reunir numa só pessoa um filósofo e um politico propriamente dito.

Mas isto não é verdade em termos profissionais,em termos da definição destas atividades e se assim fizermos,isto é,considerarmos estas definições teremos que mudar um pouco a percepção do que é lênin.

Em primeirissimo lugar as obras completas de Lênin só são importantes por causa da revolução russa,menos do que a atividade politica de Lênin propriamente.

A atividade politica de Lênin é a sua revolução russa.Alguns dos livros de Lênin poderiam ter autonomia,mas a maioria só tem importância dentro deste grande fato histórico.

Mesmo se pensarmos no âmbito do marxismo,Lênin seria apenas um entre outros(como Marx).Dizer que só a Revolução deu a ele o seu nome universal seria uma afirmação tipica do conselheiro Acácio,mas para quem analisa eticamente a história isto é importante,importantíssimo até.

A pessoa que idolatra acriticamente um personagem só por sê-lo é um imbecil e um irresponsável.

A admiração que se tem por uma pessoa ,como tudo o que se pretende analisar ,depende de critérios axiológicos.Todo mundo considera que é bastante legitimar um feito histórico da politica mesmo que seja construido por algo injusto ,por uma base injusta .

Este texto,estas análises a partir das obras completas de Lênin,têm alguns escopos:a formação do pensamento de Lênin, a sua atuação,os seus métodos,os seus erros,o significado,como já disse ,da Revolução,sua legitimidade.

Mas o principal é exatamente discutir se a justificativa da violência é legitima ou não.

O estudo que faço aqui é para pensar que talvez a revolução russa só seja legitima se for o último esforço para tanto,para a utopia.Aprendendo com os seus erros e os de Lênin possamos evitá-los no futuro.

Naturalmente tenho consciênca de que metodológicamente são duas ordens de problemas:a revolução propriamente dita e o pensamento de Lênin e isto ficará claro nos artigos.Contudo não se há de perder de vista que há uma intersecção entre as intenções de Lênin e as suas consequencias no processo político da Revolução.

No passado fui muito fanático por Lênin,mas hoje ele é uma figura como Napoleão ou Cromwell:admiro,mas não aprovo.No caso de Cromwell nunca admirei.


quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Pais e Filhos x o que deve ser

Continuando as minhas reflexões sobre a relação entre pais e filhos,hoje e agora desejo revelar aquilo que eu considero fundamental na boa relação geracional. A decisão de ter os filhos é logicamente dos pais e eles ,dialeticamente,só o são porque tomaram esta decisão e os filhos nasceram:o pai depende do filho... A definição de pais e filhos pode ser dialética,mas nasce de uma escolha,dir-se-ia kantiana,axiológica.Da escolha à definição nós temos todo um caminho entre a razão e a emoção.Mas é este caminho que é a base da relação. À parte os problemas sociais,os pais têm a obrigação moral e humana de saber isto.Mas muitos acham que os filhos são responsáveis por nascerem e por isto um desbaratamento total das relações cria os problemas que nós conhecemos aí e que são muito mais do que a midia mostra,porque os pais os abandonam. Uma mediação nos ajuda a compreender todo este processo de desbaratamento,porque em termos sociais a organização da familia,desde priscas eras,busca manter um equilibrio entre os pais e os filhos para favorecer esta organziação social e politica que precede o nascimento dos filhos e a formação da familia. Não vou fazer nenhuma história aqui da familia,mas se nota no passado alguns momentos de luta para que a familia fosse um lugar de emoção e de subjetividade humana. Na verdade só a partir da segunda metade do século XIX,esta realidade se fez,como modelo de explicação e conformação das relações humanas familiares. No mais,no passado,um certo indiferentismo quanto a esta emoção predomina:os casamentos são arrumados,os filhos cumprem a decisão dos pais,filho de peixe peixinho é...imposições mil.Reações existem ,mas a vai no caminho. Quanto mais,no entanto,o ser humano constrói a sua subjetividade e entende a existência como potencialidades,desejo,autonomia,mais e mais a maioria luta contra estas imposições arcaicas e apesar de tudo,há que se dizer que ainda que tenhamos outras formas de imposição,como detalha Foucault,a perspectiva é otimista quanto ao crescimento desta liberdade associada ao desejo. O problema maior hoje é a dissolução da familia,a falta de orientação e isto é um tema futuro,mas reconheçamos as grandes permissões diante de nós. Neste sentido as relações entre pais e filhos,no meu entender,equilibrando todas as partes do problema,é aquela que eu vi nas narrativas da familia de Jorge Amado. Os pais de Jorge Amado construíram uma casa,a duras penas,para que pudessem abrigar os filhos e mais,que eles não sentissem necessidade de ir-se,senão por responsabilidade,desejo.Mas sem uma ruptura com o passado,uma vez que a casa estaria sempre lá,mesmo depois dos pais irem-se. Quando tomei conhecimento,jovem ,da vida de Jorge Amado,soube que seus pais e seu pai principalmente dispunham de exterma sabedoria prática,que inclusive,sem nenhum conhecimento de psicologia avançada,tomavam decisões,que esta ciência aprovaria:quando Jorge não aguentou os exercicios de português com Camões ,pulou o muro do Liceu baiano para morar com as quengas,seu pai vigiou,mas não reprimiu. Os psicólogos afirmam que quando um jovem tenta fugir é melhor deixar ele ir até ao final,para perder o medo do mundo e decidir voltar por si próprio,por decisão pessoal. Em qualquer circunstância a certeza de que a familia,o abrigo está atrás de nós nos dá força para enfrentar este mundo sem medo. Mas há pais que não compreendem isto.

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Desconstruindo o materialismo

 

Quando digo matéria  me refiro exatamente a quê?A palavra matéria,se olharmos no dicionário,significa muitas coisas,muitos conceitos,muitas idéias:physis,concreto,substantivo,oposto à energia,etc,etc.Desde Aristóteles inumeros conceitos,nomes,são atribuidos ao termo matéria.

Mas sob o termo matéria há uma infinidade de conceitos ,idéias,nomes,na verdade o Ser como um todo.

Aliás o termo designativo mais abrangente do que o de matéria é este " Ser",que denota a profissionalidade da Filosofia.

No lugar de matéria é melhor dizer " ser" aquilo que existe",até porque este termo inclui aquilo que não é considerado matéria,como energia.

Ser significa algo que é mais universal,mais permanente e é trans-temporal.É um dos elementos permanentes e quase meta-temporais da história e da história do pensamento.

Quando Heidegger elaborou o seu pensamento ,em " Ser e Tempo",recuperou a filosofia como profissão,como disciplina rigorosa.Ainda é cedo dizer se definitivamente,mas a verdade é que as condições para isto são muitas,depois dele.

O termo materialismo ,como se vê,é limitado,porque não engloba tudo e é uma especificação do Ser.O materialismo e os materialistas,entre eles,o indefectivel Marx,que eu sempre critico aqui(e critico agora)são decisivos e importantes para desvelar certas ilusões e mitos que se interpõem entre o sujeito investigador e a realidade e a objetividade.

Mas eles são indefetivelmente comprometidos de inicio com este vicio de fundamento,que no final sempre os delata:em todo o materialista há um fundamento tosco,uma boçalidade que ,mais cedo ou mais tarde aparece  porque o discurso explicativo materialista não abarca o real tanto quanto a filosofia.

No final deste artigo eu quero mais uma vez fazer uma observação contra idiota de esquerda e de direita que vem nas minhas redes para diminuir ou desqualificar o meu trabalho,afirmando que eu digo coisas que já foram ditas.

Prestem atenção:o que eu digo aqui não é novo.Desde o inico do meu trabalho eu disse que era um pesquisador,um garimpeiro que buscava pedrinha no lago como Heidegger preconizava e achava legitimo profissionalmente.

Neste caso do materialismo eu não o limito para valorizar crenças religiosas sempiternas ultrapassadissimas e medievais e sim para mostrar os caminhos futuros da atividade filosófica em geral,que o materialismo tentou destruir.Tem contribuição sim.

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Khruschev e os massacrados da União Soviética

 

Alguns amigos meus e conhecidos fizeram um livro sobre Kruschev e o relatório secreto 1956

e isto me deu uma ideia para escrever um artigo que inaugura uma sub-série

dos massacrados, os massacrados políticos.

Por massacrados políticos eu entendo todos os

injustiçados em todos os lugares e épocas.

Nesse escaninho pretendo analisar o problema da relação da história

com o direito, com o certo e o errado.

Não perco de vista nunca ,em nome de justiça, o problema de  

tanta gente usufruindo da vida cercada

de uma maioria que sofre as maiores privações. Mantenho a

 minha preocupação com essa questão

e com essa situação.

Aqui eu trato de todas essas pessoas que, eu penso, desde a primeira

guerra mundial foram atingidos injustamente

 por estilhaços da política e do poder.

Algumas entraram no processo porque queriam mas outras

receberam sim esses estilhaços,sem ter nada a ver.E muitas

vezes receberam PR ações feitas em nome delas.

E a tônica de nossa época:a partir da primeira guerra o número

de mortos civis supera os de militares.Parafraseando Tacitus

“o grande segredo havia sido descoberto”:ninguém

se importava agora a

Mínima com estes massacres ferozes,rápidos ou aos poucos,perpetrados

Pelos podres poderes do século XX,à direita e à esquerda.

Não vou abandonar os da direita não,mas

hoje eu inicio com os crimes da esquerda.Especificamente na União Soviética.

 

sábado, 22 de outubro de 2022

Massacrados IX

 

Assim eu entendo que se eu pago imposto ,trabalho,voto, tenho o direito de cobrar de todos que resolvam o problema social ,mas eu me reservo o direito de continuar tendo uma empatia com as pessoas.

Porque eu trato dessa questão?

Única exclusivamente porque a relação direta com as pessoas desvalidas é uma exigência ética apesar de tudo. Uma relação de comunhão universal que me era cara quando, na juventude, (quando era comunista,pelo menos no sentido corrente) não me seduz mais porque é lógico que a vida não é assim e como eu disse em outro artigo ,mesmo os desfavorecidos não aceitam mais ser tutelados por uma elite que lhe concede a utopia.

Mas é essencial para mim ,pelo menos aqui ,que o fenômeno da empatia exista ainda que de forma idealizada.

Eu já analisei esse problema tantas vezes recorrente nos filósofos :a ideia de uma comunhão universal é abstrata.É um ideal.

As pessoas concretas, individualizadas, são o real e nesse contexto não existe necessariamente uma comunhão entre as pessoas. Muito pelo contrário.

Contudo, como tenho dito sempre, a idealidade nos ajuda a dar sentido as coisas, dar sentido à vida e a partir daqui mesmo que idealizando ,o sentimento de empatia em relação aos outros éuma obrigação principalmente por parte daqueles que tem uma preocupação com a questão social.

Os fatos que eu narro aqui têm referencial no real.Ainda que tais pessoas não me conheçam e num contato pessoal eventual possa não haver uma integração ou concordância com as minhas ideias é por necessidade de empatia e de me proteger também no plano dos direitos humanos universais que eu me sinto no direito de narrar o que ocorreu com elas.

É o principio de Edmund Burke: “a liberdade é indivisivel”.Pelo menos na mediação da república,do corpo político,a intersecção entre a sociedade civil e o estado(sociedade politica como dizem alguns autores),aquilo que ofende a liberdade de uns ofende a de outros.

É neste sentido que a minha relação com os injustiçados deste mundo se constrói.


domingo, 9 de outubro de 2022

Eu e a matemática

 

Eu tenho falado muito em física e matemática nos meus textos sobre ciência,mas eu fui um aluno muito ruim nesta segunda matéria aí.

Então qual a legitimidade do meu uso destas matérias aqui nos meus blogs?Como eu consigo explicar?

Uma das coisas extraordinárias da atividade magisterial é notar que a educação consegue tudo,inclusive que se considera impossivel.E realmente o impossivel tem lugar.

O conhecimento,de modo geral,se dá da seguinte maneira:quantitativa e qualitativamente.Como nos ensinou Sócrates em meio ao conhecimento em quantidade deve-se buscar o discernimento dele,o seu valor,a sua importância e lugar,como quem acha uma árvore precisa em meio à floresta.

Em face disto eu procuro entender determinados problemas e formulas e verificar não estes critérios a que me referi acima,mas os seus fundamentos elementais e não elementares,embora,neste último caso seja exigivel em função do nivel do estudante para o qual me dirijo.

Mas o grande desafio do professor ´simplificar sem vulgarizar ou distorcer em ambos os processos,dos elemntais,básicos e os elementares que são aqueles mais rudimentares,apontando o caminho mas não mostrando tudo.

Para exemplificar tomemos o exemplo clássico do calor que atinge a poça d´água e provoca a sua vaporização.Para uma criança o elementar é só dizer isto;o elemental é dizer que as moléculas se movimentam e a condição natural da água se transforma.

Mas daí em diante sempre achei ser possivel explicar grandes e complexas idéias com um nivel de simplificação que não prejudicasse o entendimento e mais do que isto ,que abrisse caminhos de interpretação e compreensão.

A barreira ,no entanto,é a matemática.Como fazer o relacionamento entre a física e a matemática com estes elementos,os quais,afinal,são concretos,descritos pela linguagem?

No caso da física que se constitui de fórmulas não é tão dificil.Não tão dificil um professor explicar a equação de Einstein e=mc2.Mas no caso da matemática há complicações.Geometria também.

Neste caso eu faço o que eu queria fazer quando era pequeno e tinha imensas dificuldades de aprendizado desta matéria:relacioná-la o mais que posso com fatos concretos .Nem sempre é possivel,mas de modo geral para as grandes teorias serve.

A intersecção entre a filosofia e a matema´tica sempre me ajudou.O esquema do movimento em Aristóteles e nos eleatas sempre me foi um ponto de partida de compreensão possivel da matemática


Cada quadradinho é um instante do tempo,na sua forma mais simples.Mas se eu colocar em cada um um numero eu começo a entender um pouco de matemática e de suas ramificações.



A partir daí inumeras considerações filosóficas e matemáticas podem ser realizadas:o problema do uno e do diverso,o numero em Pitágoras e Platão e last but not least a teoria dos conjuntos que me atrapalhou na vida e é por onde eu recomeço coma ajuda de Bertrand Russell.





sexta-feira, 30 de setembro de 2022

o mundo é plural,não monistico,binário,triádico ou quaternário

 

Ao longo da história o problema de se conhecer foi importantíssmo,mas neste caso ele se liga ao problema de  até onde vai o conhecimento.Isto é,se como tudo o que existe é ou não infinito?

Este problema é decisivo no seguinte sentido:a finitude tem  a vantagem de facilitar as coisas para os donos do poder.Porque se nada muda indefinidamente(e infinitamente,lógico),aquilo que é estabelecido não é questionado(ou questionável).

Desde que esta questão é posta,sabemos que as rupturas,os questionamentos foram sempre recorrentes e é por isto que a história anda(e a vida).

Porque então,desde este inicio não ficou claro que a infintude era o mais provável?Porque esta indagação não é só soluvel no plano da linguagem,como estamos fazendo e sempre foi feito:a relação com o mundo põe dúvidas permanentes ao infinito(e ao finito[fim e recomeço]),ajudando o finito a prosperar.

Assim a tentativa de organizar o mundo a fim de compreendê-lo(definitivamente ou não)sempre oscilou entre a admissão da infinitude impossivel de alcançar ou a finitude ,pela qual se conhece o mundo e se explica o infinito(como em Hegel).Mas a questão aqui é provar que diante desta oscilação, o melhor,como gnose provisória,é pensar o mundo como infinito,porque assim evitamos certos erros cometidos pela humanidade,que tiveram consequencias graves para esta compreensão.

No plano do conhecimento,que nos interessa aqui,houve recorrentes afirmações do finito que causaram erros e ilusões terríveis para a humanidade,muito embora tenha que se reconhecer as limitações dos criadores e investigadores que os cometeram.Limitações de época inclusive.

Comecemos por Prolomeu,com a teoria geocêntrica:ele não é culpado do que a igreja fez  com o seu pensamento,mas a sua visão limitada favorece o dogma.

A concepção de que existe só uma unica causa para tudo o que existe ,que permeou(e permeia)toda a história (com exceções e fraturas)falseou o mundo real de maneira dramática,provocando erros inclusive politicos,porque movimentos usaram este principio  para oprimir.Na medida em que o conhecimento da causa de tudo supõe-se ajudar a sociedade,a sua negação constitui ataque ao bem-estar e ao progresso que o assegura.Exemplo é que muita gente na URSS foi torturada e morta por tentar pensar em outra coisa  que não aquela proveniente da “concepção monista da história”...

As tentativas de compreender o movimento (infinito)das coisas criou o principio dialético triádico,mas este igualmente se diluiu nas  discussões sobre se a sua realidade,como discurso,é a  do mundo.Como se o movimento se resumisse num principio só,da mesma forma que é dificil de entender um Deus monoteista dividido em pai ,filho e espirito santo.

Na verdade o principio triádico não esconde a sua filiação ao monistico,assim como o deus em três partes só se entende por alguma mediação unificadora que não se sabe qual é.Mas nós entendemos porque  a tríade não é senão uma coisa só:cada uma das partes da tríade não vale senão dentro da mediação do movimento(e do tempo).

No caso de uma concepção binária,ela nasce mais da matemática,mas também ela padece do problema de se reduzir afinal a um principio único abstrato que dá sentido ao mundo,para a subjetividade,para  a racionalidade.Assim se dá com o quaternário etc.

Estes conceitos definidores são abstrações porque o mundo,no minimo contato com a razão que ele tem,in limine,ab initio, só há de ser apreendido na sua complexidade,que se não é prova de sua infinitude está perto.

 

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

O mulato,de Aluisio Azevedo Naturalismo ou romance social?

 

Na verdade um único texto de Aluisiso Azevedo é naturalista:O Cortiço.Lágrima de Mulher e o Mulato devem ser vistos como parcialmente naturalistas,mas essencialmente realistas.

A descrição do sexo ,os elementos físicos da existência humana,seu despojamento cotidiano expressam esta verdade.Mas repito,a narrativa propriamente dos principais romances de Aluisio é realista.Se observarmos o Cortiço nós vemos que a narrativa é constantemente tomada pelos elementos naturalistas e o desfecho do romance expressa concepções do naturalismo:a exacerbação dos instintos bestiais resumidos por um crime brutal.A exposição desta realidade irracional e doentia caracteriza o romance como tal,mas no caso de O Mulato o desfecho contém uma denuncia social,algo além das questões cientificas e naturais.

A consciência do personagem central aduz mais um elemento anti-naturalista.Muito embora outros elementos participem da narrativa é este caminho subjetivo  que nos conduz em todo o romance.Mas só é possível percebê-lo no final.Quer dizer a consciência do personagem vai nascendo aos poucos ,como um bebê no útero, e dá à luz na parte final do romance.

 Mais do que isto ele já vai além  do puro realismo,porque traz uma denuncia social importantíssima  e aponta então para os futuros desenvolvimentos da literatura brasileira,que se tornou progressivamente mais e mais engajada nos problemas sociais.

Pelo viés social Aluisio Azevedo e este romance são antecipadores do modernismo.Este viés não foi  senão reconhecido a partir da fixação histórica do modernismo.O modernismo ,como sabemos,só começou a ter esta fixação a partir de  a bagaceira de José Americo de Almeida,que inaugurou o ciclo social do nordeste que se tornou o modernismo social em 30.

Inovações formais não estavam presentes em Aluisio,mas  ele representa o movimento óbvio de pura exposição da realidade nua e crua dos homens a se transformar em explicação do fenômeno social propriamente dito.Pode-se ler este romance como parte de estudos sociológicos da literatura.

Aluisio não está esquecido.Apenas ficou mais como referência porque os temas que ele abordou,especialmente neste romance, ficaram aparentemente triviais,mas  ele se insere neste amplo contexto de compreensão do problema social do Brasil.

 

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

A dialética e os manuais soviéticos.

 

Os estudos sobre dialética adquirem agora um novo papel no meu trabalho,porque se trata de fazer uma análise dos manuais soviéticos.Chegou a  hora de acertar as contas com estes manuais.

Lamentavelmente eu tenho que dizer que eles nasceram sim das pretensões de Marx.

Quantas vezes os militantes como eu ouviram que por falta de tempo Marx não pode realizar um dos seus sonhos dourados,que era o de fazer uma lógica.Uma lógica dialética materialista.Lênin,para diminuir o fracasso,disse que Marx deixou   “a lógica do capital”.

Mas é do Capital,da aplicação da dialética ao Capital que Marx deseja extrair as categorias de uma lógica do real.

Esta é a origem dos manuais soviéticos,daquela visão paupérrima tipica do cânon bolchevique(como de todos os canons em geral),que empobreceu enormemente o marxismo e que mutatis mutandi é o que reverbera nas cabeças  dos militantes brasileiros(mesmo os gramscianos)até hoje.Principalmente no Brasil,público ao qual sempre me dirijo.Embora eu veja isto também acontecer no novo socialismo estadunidense,me dirjo fundamentalmente ao público brasileiro,a este militante mal formado que eu fui um dia.E que continua justificando a ascensão da direita,como sempre.

Marx aplicou,como tenho dito em muitos artigos e livros,a dialética como Hegel a propôs.Não tem inversão nenhuma.Achando erroneamente que fizera esta recolocação da dialética sobre seus pés ele quis descortinar os segredos do movimento do real,mas apenas se iludiu e fez um ficção,porque a dialética hegeliana e a dele supostamente não existem no plano objetivo.

Muita gente atribui a Sartre a afirmação de que a dialética é produto somente da consciência ,mas foi Proudhon,como ressaltou Gurvitch,que emitiu tal conceito usando a dialética de Kant.Se é assim(e é)foi Kant quem afinal descobriu esta verdade.Os conjuntos práticos de Sartre estavam em Proudhon,mas em Kant a ideia de uma dialética subjetiva já estava.

Isto prova que os pensadores,por mais geniais que sejam cometem erros e escolhem de modo errado.Marx preferiu a dialética hegeliana,porque esta prometia uma nova ciência,numa época estreitamente cientificista,de recusa da filosofia.Ele era assim e por isto enveredou por um caminho que se revelou errado,décadas depois,um século depois.Houve outro que acertou e ELE ERROU.

 

 

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Esclarecimentos sobre a minha proposta de Freud como aconselhador

 

Nem bem eu acabo de escrever o artigo sobre Freud como aconselhador e já próceres aí da midia apareceram na minha linha do facebook para me criticar(sem falar diretamente,naturalmente).Não vou citar os nomes,mas eles estão lá.

Notem bem,meus criticos,com pós-doutorado:o que eu disse nos meus artigos e naquele especificamente é que o problema da clinica havia aparentemente sepultado Freud.E muita gente por aí,gente de nome,vê esta questão como resolvida.

A neurose em épocas passadas ,causava inumeros disturbios.Após as descobertas e o trabalho clinico de Freud isto tudo amenizou um pouco,quanto mais a psicanálise se disseminava.

Neste sentido muitos intelectuais decretaram o fim de Freud,porque as verdades que ele descortinara não eram mais importantes:o ser humano,mais dotado de massa crítica ,no cotidiano,cada vez mais aparentemente se desligaram de Freud,como terapeuta e/ou médico,restando algumas discussões intelectuais.

Mas o papel de Freud é fundamental na história do pensamento humano,porque ele libertou a subjetividade,tornando-a objeto rigoroso de ciência e de técnica médica ou terapêutica.Além do mais,dentro deste contexto,ficou claro que,diferentemente do que pensavam os antigos,o discurso explicativo do homem não era e não é  “encaixado” no objeto,no mundo real.Ele está ao lado de muitos pensadores,como Kant ,a escola pirrônica,que mostraram que o real é insuficiente para a subjetividade,que ela segue o seu curso,muitas vezes ,autonomamente.Isto por si só já o coloca como um dos grandes do pensamento humano.

Mas eu entendo que a clinica não está propriamente morta,porque conceitos que Freud emitiu ,sobre a vivência por exemplo,são passiveis de aplicação sobre pacientes neuróticos.

Tenho a impressão de que ao usar a expressão aconselhamento estes pós-doutores entenderam que eu queria reduzir Freud a um autor de auto-ajuda ou esoterismo de banca de jornal.Absolutamente.

Eu citei inclusive a figura de Maquiavel,o aconselhador-mor da História para mostrar a dignidade deste propósito.Porque Maquiavel,os seus conselhos ,são considerados clássicos e os conceitos,os discernimentos da clinica freudiana são entendidos como auto-ajuda?

Quando uma pessoa,um professor,por exemplo ,usa a sua epxeriência trazendo fatos de sua vida ou referenciais intelectuais ele não está necessariamente exigindo que estes modelos sejam seguidos,como fazem os livros de auto-ajuda,com exceções.É conhecido o conceito de que se conselho fosse bom ele seria vendido,mas o problema não é este:ao longo da vida a experiência humana se acumula e principalmente,com a mudança que ocorre no mundo constantemente,uma geração mais antiga tem mais condições de apontar certos valores,referências,conceitos para a geração seguinte.E na faina diária do homem comum,que não acompanha o trabalho intelectual(sem que seja obrigado)às vezes,num momento dificil,um referencial,um conceito,um conselho,pode ajudar  e ser decisivo.

Se nós observarmos,no entanto,os comentários de Napoleão sobre o “Principe”nós vemos que ele reinterpreta  certos conselhos e evolui.Quando um professor ,na sala de aula,passa informações  aos alunos,cada um os interpreta e aplica segundo a sua experiência própria,seus desejos e valores.

Na clinica é assim também.Freud emitia um conceito sobre a vivência,sobre a mudança que curava,segundo o qual quando não havia mais para onde ir,ou seja, a subjetividade não tem mais caminhos a escolher, a pessoa muda.

É aquilo que o verso do “maluco beleza” Raul Seixas diz “este caminho que é tão fácil seguir,por não ter onde ir”,expressa muito bem.

Foi isto que eu falei.Na clinica tal discussão tem validade.Mas os intelectuais acadêmicos,com este nome passageiro,acham que as discussões abstrusas que eles propõem é o que serve ,enquanto as necessidades do homem comum,que Freud tanto analisou na ''Psicopatologia da vida cotidiana”(foi ele quem trouxe o cotidiano para a história,para a ciência) são vistas como algo abaixo deles.

 

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Lorentz e Galileu II

 


Muitos me criticaram o artigo anterior por não falar em Lorentz,mas eu fiz um artigo dividido em dois.Pois bem:quando alguém pisa em algum lugar não é em lugar,mas no espaço tempo.Lugar e tempo não existem objetivamente,na natureza,mas de outras formas,comco conceitos abstratos e experiência psicológica.

Esta relatividade lorentziana,que põe em xeque a de Galileu(a supera)prova esta verdade extarordinária:andamos sobre algo que não é o que pensamos ser.Tal comprova as afirmações de Kant,de que o mundo não é abarcável.

Não foi preciso esta prova cientifica,mas ela confirma a filosofia,mostrando que às vezes o pensamento filosófico antecede e prevê o científico.

Ainda mais que os momentos do tempo são infinitesimais.Pelo infinitesimal recuperamos a importância de Galileu e de Newton.Era plenamente conhecida de Galileu a dicotomia entre o fenômeno físico e o matemático.Isto o liga aos modernos.E Newton aprofundou esta verdade com o cálculo infinitesimal.

É dificil, é quase impossivel  determinar o momento especificamente,o momento do tempo.Se tirarmos um pelo de nosso braço saberemos identificar este momento físico,mas em termos matemáticos,de passagem do espaço tempo,da matriz lorentziana,não é possivel.

E mesmo do ponto físico,esta depilação depende de prévios conceitos sobre o tempo contidos em nossa mente,porque se não fosse não seria integrante do tempo.De diversas formas nós podemos destrinchar este fato:a pessoa que tinha o pelo é diferente daquela que o retirou;por dentro das terminações da pele o fenômeno não se resume na depilação;mesmo que a pessoa se depile sempre,criando um padrão não se sabe quais as repercussões no corpo deste e certamente estes padrões dependem de uma temporalidade .A memória psicológica da depilação é um referencial de tempo.Isto sem falar na presença ipso facto do espaço.

Na verdade,se formos observar o espaço/tempo sempre esteve aí,mas era dificil achá-lo porque o liame macrocosmos/microcosmos não se apresentava.Falarei mutio ainda disto aí,mas por enquanto paro por aqui.