segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

O problema da ideologia resposta a uma professora

Conforme com o que eu pus no meu livro “Petição de Principio”,no qual expresso os meus criterios de trabalho e de pesquisador,sou um pesquisador independente,que só tem especialização em filosofia moderna e contemporânea.

Sou,com muito orgulho,autodidata.Um esforçado(repito:com muito orgulho).Não fui recebido de forma republicana nas universidades onde eu tentei fazer o meu mestrado e doutorado.

As universidades são mais politica e reprodução de poder do que busca de saber.Muita gente vai desdenhar isto aí,mas eu tenho prova e mais argumentos para dizer estas coisas.

Por agora,no entanto,o que eu quero é simplesmente oferecer as razões ,já ditas,no meu referido livro,para não citar autores das supraditas universidades e não respondê-los quando insistemente vêm nas minhas redes contestar conceitos emitidos por mim.

Vou abrir uma exceção neste momento porque a insistência aumentou muito e por razões de minha vida pessoal acho que deveria polemizar com este autor,se este autor quiser.Porque eu não me coloco abaixo de ninguém,pelo que eu disse acima.Eu me considero uma pessoa capaz de discutir com quem quer seja estes temas de que  eu trato aqui,mesmo pessoas com mestrado e doutorado.Tirando Miguel Reale pai,Euclides da Cunha e Gilberto Freyre ,que obtiveram reconhecimento no exterior mui merecido,não estou abaixo de ninguém.

Em termos de marxismo me considero um dos maiores conhecedores não só no Brasil.

E por causa do modo como a minha relação se deu com a academia ninguém tem o direito,dentro dela,de me tratar professoralmente ou de cima para baixo ou muito menos me ameaçando.

O meu critério básico é que se alguém veio aqui é porque está lendo o meu trabalho.Se não gosta dele,passe ao largo.Se gosta ,mas não concorda e quer demonstrar isto ,vem até aqui e diretamente  e em público,reconhecendo a minha qualidade.

Defendo democracia de mérito,mesmo na sociedade de classes e o reconhecimento do valor de uma pessoa ,ainda que não tenha canudo,titulo.O meu conceito de reconhecimento é o de Hegel,que o tirou dos liberais.

Se acha que eu estou agindo mal,vai na justiça e me proibe,que eu vou até ao STF para lutar pelo meu direito.Se eu estivesse no socialismo real muitas pessoas que me atacam aqui já estariam me impedindo ou coisa pior(porque eu insistiria).Abandonei o socialismo real.

Então,pela primeira vez eu vou citar uma professora que vem sempre nas minhas redes,instagram e facebook,secundada por dois garotões  e eventualmente um senhor de meia-idade,numa postura de,penso eu,desafio.Como disse acima,se quiser falar comigo toma a iniciativa,porque já tomou.Eu não sou desafiante não,é ela:trata-se de Marilena Chauí,cuja trajetória,eu,como nós todos comunistas militantes,seguimos desde os anos setenta.

Eu ainda possuo jornais dos anos setenta aqui com entrevistas desta professora,que tem ,curiosamente ,interesse em reconhecer pessoas de fora  da academia e que não têm certificação por parte desta última,muito contrário.

Tiro estas conclusões de um documentário que assisti nos anos 90   sobre um crítico de cinema,se não me engano,Evaldo Cabral.Ela tem esta sensibilidade aparentemente.

Numa democracia de mérito não é a mediação do papel,do canudo,que legitima o reconhecimento,mas o fato real em si mesmo.Com a profissionalização de todas as atividades humanas,nos últimos decênios,ninguém reconhece o valor de alguem que atue sozinho e  que não tenha previamente algo por trás ou um titulo,ainda que não seja de um lugar de ponta.

Talvez o que impeça estes intelectuais de virem aqui me ver seja isto,que eles “estão concedendo este titulo” à minha pessoa.Acho tal coisa um absurdo.

Dito isto vamos ao que me  trouxe aqui.Continuando a seguir o trabalho desta professora,sempre de maneira crítica,lembro-me de dois episódios capitais:nos anos 80 acompanhei na ufrj um curso de filosofia do professor Roland Corbisier.Num determinado dia  o professor se referiu ao livro “O que é ideologia”,considerando-o “ muito ruim”(no entender dele,eu não acho). No final dos anos 90 uma pequena polêmica com José Guilherme Merquior que  a acusou de atribuir a si própria um pensamento de outro autor.Segundo Merquior ela “ teria esquecido umas aspas”.

O segundo episódio não tem importância.Não investiguei.Mas o primeiro gerou muitas questões a mim e a nós comunistas militantes que debatiamos o problema da ideologia.

A questão que fundamenta este artigo,como o leitor já nota,é o da ideologia.A professsora sempre manda uma aula de ideologia para minhas redes,baseada no seu livro famoso.

Em certa ocasião Corbisier esteve próximo da professora e nós, na juventude do partido, reclamamos(não diretamente)de não ter polemizado  com ela.

A polêmica naqueles anos,que já havia sido assentada na Europa,era se o conceito de ideologia de Marx estava superado pelas formulações de outros autores ,sobretudo Gramsci.

O que se punha era:se a consciência era falsa ,se não fundamentada na ciência,no real,na verdade ,era,no entanto,verdadeira para o sujeito.Montei no sindicato dos professores ,em 1984,um curso com Carlos Nelson Coutinho ,que,logo no inicio,exemplificou este fato com a frase “ainda que Deus não exista objetivamente,existe para quem acredita”,e eu digo e acrescento ,de vários modos possiveis(simbolo,valor,conhecimento,esperança).

Mas existencialmente a relação entre o sujeito e Deus é de modo básico e fundamental,não fechado,mas que supostamente adequa o homem a algo fora dele.

Esta reflexões valem para a ideologia.Para  a professora Marilena Chauí a ideologia é como Marx disse:falseia o real e é oposto à ciência ,ao conhecimento verdadeiro.Se Roland Corbisier fez uma crítica a esta definição ,o fez quanto à Marx igualmente.Chamou Marx de muito ruim...

O conteúdo do video confirma estas concepções.No entanto observemos este trecho do livro de Leandro Konder “ A questão  da Ideologia”.

Na introdução ele cita Bobbio e principalmente um autor que eu não conhecia,Stoppino,para quem “a ideologia tem dois significados,fraco e forte .[...]o  fraco é aquele que se refere ao conjunto de crenças,idéias e valores politicos que orientam os comportamentos coletivos na ordem publica.O forte é aquele que se refere à Marx ,como distorção do real.”

Francamente esta distinção não me parece válida:a questão é que a ideologia pode significar uma conformação do mundo,por parte do sujeito ou pode ser uma distorção.

A dificuldade de se definir Ideologia se dá porque é impossivel saber se um discurso é verdadeiro ou não ,na investigação da complexidade do real.O meu indefectivel Kant ajuda a entender:o real é um simulacro,é inalcançável,mediata e imediatamente(não gosto do termo simulacro,mas vou usá-lo aqui,porque é mais comum).Em que momento há a intencionalidade de distorcer o real,com algum propósito(intencionalidade um conceito fenomenológico,heusserliano),há que responder.

De novo a questão de Deus:Deus é usado para desviar a atenção do oprimido quanto à sua condição,mas não se há de duvidar da crença legitima e verdadeira de muitas pessoas.Em que momento há a manipulação e em qual, não.

Quer me parecer  que a professora continua numa concepção que já foi inteiramente superada.O falso pode ser verdadeiro para o sujeito,lembrando a dialética do falso e do verdadeiro em Hegel,de que Lukacs  trata no “História de Consciência de Classe”(de forma errada a meu ver).

Idêntico erro cometem os intelectuais de esquerda quanto ao direito.Esta é uma das razões pelas quais deploro a especialização dos profissionais do pensamento e da pesquisa.Quem faz filosofia,só estuda filosofia,mas quando se aborda um autor erudito e interdisciplinar como Marx os problemas aparecem.

Marx  fazia uma abordagem semelhante ao da ideologia,no que tange ao direito,exceto na sua juventude.Na “ critica à filosofia do direito de Hegel”,Marx ainda o entende como instância autônoma.Mas,  e esta é uma das provas de que existe um jovem e um velho Marx(me lembro de como tive dificuldade em explicar  esta verdade a Gerd Bornheim),a transformou numa “ superestrutura” destinada a falsear de igualdade as relações de exploração no capitalismo,fazendo do estado de direito inútil,o que facilitou muito a ação totalitária de Stalin...

O direito,como a ideologia, tem como ser a favor ou contra a opressão,dependendo da ação humana revolucionária e compreensiva.

Tem muito radical que vem me jogar pedra aqui que me joga na cara que o direito legitimou a escravidão ,mas o idiota não vê que outra lei fixou a liberdade dos negros,pelo menos formalmente,o que é muito importante.

A solução deste erro ideológico de Marx,no direito,é compreender a distinção entre  common law  e  civil  law .Na verdade o direito é repressivo,de fora para dentro,ao usar códigos,que visam exigir da sociedade,de uma sociedade que não se normatiza,o cumprimento das leis.A civil law é assim,mas a commom law é aquela em que o código não existe,uma vez que a sociedade é capaz de se normatizar e discutir cada caso com autonomia.Marx aqui foi ultrapassado e ,inadvertidamente ,criou as condições para  a violência em nome do comunismo do futuro.

A ideologia é mais dificil de deslindar.Quando eu tomei conhecimento da visão de ideologia de Marx achei estranho que figuras ligadas à revolução russa,como Bukharin e Suslov,fossem tidas como “ideólogos” neste sentido positivo,de verdade.Havia aí uma contradição.

O direito sovético,desde a constituição de 1937,sempre se submeteu à ideologia,aos ideólogos.Não que expressasse o pensamento deles,mas ainda que expressando,se submetiam às necessidades politicas futuras,se tornando letra morta quase que totalmente.A começar que você pode dizer o que quiser desde que não atinja a intocabilidade do governo ,que certamente não erra(como Lênin e  Stalin e Marx não erravam).

É assim que eu entendo ideologia,desde os anos 80 e muitos pensam assim.Supondo que a professora pense ainda como Marx,para mim é uma manifestação de sectarismo,tanto na filosofia, como no marxismo e no direito.

Com a palavra o(a)desafiante.

 


sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

A natureza humana nós manuais soviéticos

 

Tantas vezes venho aqui criticar o materialismo,que possui limites essenciais.Em artigo recente tratei desta verdade.Lá no fundo o materialismo que não se limita revela o seu caráter basicamente tosco.

Todo materialismo tem uma base muito duvidosa.A acusação de boçalidade,dos idealistas e teólogos,faz sentido,porque não raro esta linha de pensamento se torna muito redutiva,olhando o mundo só pelo seu prisma.

A oposição propalada pelo marxismo entre idéias e relações materiais,materialidade,é falsa como há muito tempo eu mostrei seguindo uma pletora de autores que já o tinham feito em outras épocas.

Desta forma o materialismo descamba para diversas distorções se não tiver esta capacidade de ver os seus limites.

Em Marx,a dialética materialista ,o materialismo dialético acaba sendo uma ideologia,no sentido dele próprio,porque como já foi demonstrado(por mim inclusive)não há uma dialética da natureza.A natureza,o Ser,não se movimentam por contradições,nem na concepção de Hegel e de Marx(que são afinal iguais[eu também já tratei disto]).

Em sua biografia se diz que Marx desejava escrever uma lógica,uma lógica dialética,a partir do Capital.A luta pela vida e a consequente falta de tempo o impediu.Lênin afirmou a respeito que embora Marx não tivesse elaborado este seu sonho,deixou-nos “a lógica do Capital”.

Forçoso é reconhecer que os manuais soviéticos futuros derivam deste sonho de Marx.Muita gente atribui a Engels o caráter limitado e dogmático deste manuais,principalmente porque teriam derivado das considerações do companheiro de Marx,em seu Anti-Durinhg,mas sabemos,por intermédio das pesquisas de Gustav Meier ,que Marx viu e aprovou este livro bastante dogmático,tendo,inclusive,contribuido um pouco para ele.

Os manuais soviéticos e porque não stalinistas são originários desta base marx engelsiana.

Em outros artigos pretendo analisar o grau de culpa dos dois nesta simplificação vulgar.Mas o ponto nodal ou os pontos nodais do problema eu ponho agora:

Os manuais partem de alguns principios ab ovo ,nas concepções dos fundadores.Que existe uma ciência dialética fechada explicativa de tudo.A consequencia nos manuais é que ,do ponto de vista deles,a solução do problema humano já está dada e é só segui-los para alcançar a utopia.

O segundo ponto vem daí:se é assim,basta ter a vontade para implementar aquilo que já está dado.A tomada de consciência do problema da exploração impulsiona a compreensão e a revolução.

Esta tomada de consciência,quando algum marxista diz é sempre taxado de “ idealista” e na URSS e em outros locais,muita agente foi presa ou sofreu algo pior por causa disto,mas no volume III das Obras Escolhidas de Marx e Engels,da editorial vitória ,Marx usa estes mesmos termos,em relação à ciência do proletariado,os materialismos histórico e dialético .

Tomar consciência destas “ciências” é a condição da transformação.

A partir daí,mas seguindo o roteiro simplificador do materialismo,os manuais e stalin consideraram como metafísica a existência de uma natureza humana,como base da ação humana e puseram na vontade pura e simplesmente a base da tomada de consciência.A vontade como base(que está em Marx também)é outro termo similar ao nazismo,ao totalitarismo de direita.

De quebra a crítica à natureza humana é uma crítica à filosofia de Tomás de Aquino,mas nos próximos artigos vou mostrar como estes manuais têm mais a ver com este filósofo do que se imagina.


Kant como ferramenta III

 Mas se liga às leituras de Habermas em que esta distinção entre a linguagem comum e a profissional se faz também,sem falar no livro discurso filosófico da modernidade em que há um cristianismo douto(teologia) e outra popular.Mas todas estas antinomias são fatos comuns no pensamento profissional e popular.De vez em quando ele aparece e adquire um significado revolucionário, como na independência dos eua(ou revolução)em que o senso-comum serviu de base para o avanço em direção à liberdade.

É o aprofundamento da simples razão que eu proponho aqui.À rede complexa de categorias ofereço critérios para a abordagem imediata do real,para quem está no senso-comum.Também aplicações eu quero fazer de Kant sobre a realidade.

Nisto o meu passado de professor me inspira.

Tal distinção,evidentemente,apresenta problemas:em certos setores do conhecimento,como na psicologia,o senso-comum parece prescindivel.

Questões freudianas são conhecidas no passado:a relação de Alexandre o grande com seu pai Felipe II são extremamente edipianas;no romance os Maias de Eça Queiroz também e igualmente no primo Basilio.Sem falar em Hamlet.Poderiam estas pessoas,pelo senso comum,pela experiência,resolver o problema que lhes afligia?Se sim,para quê Freud?Ainda não respondi a esta pergunta,mas o caminho não é o de prescindir de senso-comum.Não penso,como tantas vezes digo ,que o mundo seja monista,que só uma causa governa o mundo e só um método exista.Mas aí é outra questão.


terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Shakespeare I

 

Ao compreender o infinito alcance humano de Rei Lear eu nunca mais li Hamlet e já lá vão 30 anos talvez.Este primeiro artigo crítico sobre as obras de Shakespeare é o primeiro momento ,depois destes anos todos, em que retorno a refletir sobre aquela que é considerada a obra-prima do bardo.Há controvérsias.

Para mim Hamlet só fica um pouco à frente de Rei Lear porque é mais organizada do ponto de vista da narrativa,mas isto não quer dizer que haja algum defeito em Rei Lear.Apenas ela é muito transbordante,não obedecendo aos cânones clássicos de Hamlet.

Já escrevi um texto sobre o que significa para mim o Rei Lear e nestes artigos eu vou aprofundar algo mais ou muito mais que esta obra divina apresenta para interpretação.

Contudo como estou trabalhando agora em Shakespeare todo,eu quero refazer a leitura de Hamlet junto com quem me lê.

Primeiramente há que lembrar as inumeras interpretações sobre Hamlet:a interpretação psicanalítica,de Ernst Jones;as interpretações ,um pouco esparsas,do materialismo histórico que atribui influencia do meio social sobre a obra;e a s críticas corriqueiras que explicitam o que está no texto.

Neste meu referido livro eu coloquei a seguinte premissa:é certa a advertência de uma crítica como Barbara Heliodora quanto a dizer sobre Shakespeare aquilo que não está nele,mas a verdade é que em autores como ele,existem inumeras possibilidades de interpretação,que o autor mesmo não pespegou quando escrevia.

Certa vez o beatle Lennon fez alguns poemas e notou este fato:quando vc imagina alguma coisa ao colocá-la no papel ela sai de outro modo, inesperado.

Alguns criadores,não todos,são assim e Shakespeare ,entre muitos,é um dos mais exemplificativos disto.Isto não é desdouro,não é descontrole ou incapacidade e sim característica de alguém que compreende o real de tal forma que abre espaços inusitados para a sua compreensão,se esta é possivel,ou seja,se se esgota,afinal de contas.

E este tipo de criador se modifica na medida em que o tempo passa:no seu tempo Shakespeare era reverenciado por pequenas platéias,mas posteriormente,a partir do romantismo,ele se torna um modelo explicativo,compreensivo ,da humanidade.

À propósito esta dicotomia explicação/compreensão,mais afeita à ciência,serve igualmente para abordar uma obra como a de Shakespeare e é ela que eu uso para fazer a minha análise.Próximo artigo.


Freud e a virgem

 Conforme tenho dito anos a fio ,não sou psicanalista de formação nem médico,mas há que reconhecer que a contribuição de Freud extrapola os limites destas atividades e influencia diversas áreas do conhecimento.

Freud é legatário da tradição filosófica do final do século XIX(sem falar na da ciência logicamente),a “ filosofia da vida” que marcou a sua diferença com o passado recente do cientificismo monista,abrindo perspectivas novas para a compreensão do mundo.

Se neste passado recente a perspectiva é fechada ,vai se descobrindo depois ,que a ciência não é única ,que a sua previsibilidade é discutível e que sempre que o mundo é abordado há uma fratura em todo esquema explicativo causal fechado.

Não necessariamente Kant ou a física propiciaram bases para esta descoberta,mas a constatação geral de que os sistemas metafíscos,fechados, não davam conta do real.

De Kierkegaard até ao final do século XIX,com Nietzsche,Simmel,Dilthey e a psicologia em geral,a diluição desta crosta sobre o mundo real,sobre o real ,ocorre.

O processo de explicação adquire um papel ao lado dos métodos da compreensão e interpretação.Coisas que permitem a Freud elaborar a psicanálise.

Mas como eu tenho dito frequentemente,a psicanálise é um método terapêutico(médico) e uma concepção que modifica a visão que temos da relação do homem com a realidade em torno dele.

A pura adequação do sujeito com o mundo que parecia justificar a presença monistica da ciência como modelo rector da existência humana é posta em xeque definitivamente.

A respeito disto tenho me referido constantemente,coisa que traz consequencias ainda mais importantes para o pensamento em geral.

A despeito de Freud ter pensado ser a psicanálise a ciencia(definitiva)do psicologia(desmentido depois por Jung),não se há de negar que a sua contribuição colocou como problema cientifico a subjetividade.Aparentemente tal não rompe com o principio da adquação cartesiana sujeito/objeto,mas o modo de abordar a subjetividade destrói totalmente a exigência deste “ encaixe” porque não é possível extrair desta análise principios e leis,mas só uma interpretação,a partir de padrões hermenêuticos que se modificam no processo mesmo de interpretação (gadamer).



domingo, 11 de dezembro de 2022

Kant como ferramenta II

 

Em outro artigo eu pretendo usar uma pesquisa feita por um autor de direita que mostra como o que definia decisões cientificas na época de que estamos tratando era o que se entendia ser a ciência,que supostamente havia superado todos os saberes,principalmente a filosofia.

Mas na história da ciência existem outros momentos em que a oportunidade de avanços maiores se pôs e grandes mentes não perceberam:se Leonardo da Vinci tivesse prosseguido no seu trabalho talvez ele pudesse ter chegado à descoberta da circulação do sangue.

Sem dúvida o problema de Kant aí é acreditar que existem coisas pré-dadas.É o apriorismo.Toneladas de materialistas se afastaram de Kant por seu idealismo,mas a definição de Kant é ser criticista criteriologia,criteriológico.

Naturalmente um estudo acurado destas obras de Kant poderia ter revelado muita coisa,mas vai dizer isto de Marx para um seu seguidor...

Isto,no entanto,vale para um monte de gente,que lê os autores só uma vez,para acreditar,não compreender.

O meu trabalho é para aprofundar o papel de Kant,mostrar o seu caráter prioritário para certas coisas,para certas realidades.Não é que ele seja único,mas é o mais universal.

Sem duvida,o corte epistemológico é uma invenção que confirma aquilo que eu disse anteriormente.Por uma série de razões imagina-se que a ciência ,sendo capaz de obter a causa dos fenômenos,tem meios de provar que só ela é habilitada a tal,como se esta busca da causa fosse suficiente para um mundo tão complexo.Mas como eu disse,com o exemplo de Proudhon,há pessoas que antevêem os problemas.E,neste caso,há que recuar e reconhecer isto.

No plano da filosofia não há uma ruptura,muito menos o seu fim.Mas o marxismo como outras correntes,pensou assim e ficou sem base.Se o movimento é permanente,não há propriamente fim ,senão no plano axiológico,ou seja,finalidade.

Kant libera a linguagem que já não restitui a realidade como um todo.Ele reconhece,ou pelo menos é possivel reconhecer por seu pesamento,a infinidade do mundo e da linguagem propriamente.

Muitos autores,por isto, depois de Kant ,não existiriam sem ele,sem esta liberdade da linguagem.O caráter interpretativo do mundo se tornou algo dominante na filosofia ,principalmente a filosofia da vida,Dilthey,Nietszche e tantos outros,mas penso ser possivel ,no âmbito da distinção entre conhecimento filosófico,profissional e o popular,o senso-comum,levando em conta que não existe mais barreira posta por Platão,encontrar um caminho de abordagem bom para aquele que não é profissional.Uma ligação entre o senso-comum e a profissionalidade.

Esta questão é derivativa da minha preocupação de cidadão e professor e de militante,de elevar a consciência do povo quanto ao seu futuro e quanto ao seu mundo.


quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Kant como ferramenta I

 Este texto tem um significado decisivo em minha vida de pesquisador porque fixo as minhas concepções relativas à Kant,dentro da minha revisão do marxismo,a partir da II internacional, a qual relacionou Marx com Kant(contra a vontade dele provavelmente).

 Todo mundo tenta suprir a falta de uma filosofia em Marx,trazendo um seu caderno de juventude sobre Espinoza,tentando usar o estruturalismo,como Althusser e simplesmente deixando de lado esta questão.

Mas a verdade é que o único pensador que consegue isto é Kant,porque por ele se percebe o erro essencial de Marx e do marxismo: crença cientificista de que basta a ciência para compreender o real,decretando o fim da filosofia,como um saber metafísico ou mesmo sem fundamento.Isto está de acordo com o pensamento de Habermas em “para a reconstrução do materialismo histórico”,quando ele se refere ao cientificismo .

No lugar da filosofia,como disse Althusser,está(-ria) o materialismo dialético que seria a filosofia no seu sentido científico,uma ciência em si.

Neste passo,o marxismo é igual ao positivismo do século XIX,quando põe a filosofia sob leis do pensamento,o que a torna não uma filosofia propriamente, mas uma psicologia,perigo que o próprio Kant notara e evitara no seu tempo.

Mas não existe dialética senão no pensamento,como Proudhon verificou pela primeira vez.A ideia de um materialismo dialético é totalmente ficcional e subsiste em grande parte por desconhecimento da própria filosofia e da precariedade da ciência natural no tempo de elaboração do marxismo.E por desconhecimento de alguns filósofos quanto às ciências naturais.

Porque quer queiramos ou não ,somos limitados pelas condicionantes de tempo e espaço.A liberdade de pensamento e de pesquisa pode diminuir isto aí,mas de modo geral,de um jeito ou de outro,um preconceito,um temperamento,uma disciplina acaba atrapalhando.

Nós conhecemos a frustração de Einstein ao perceber que podia ter ido da energia para a matéria,o que o teria feito conseguir novas descobertas e adiantado mais o relógio da ciência.

No caso especifico de Kant, a sua dialética entrou na cabeça de certas pessoas,como Proudhon,mas em outras só a de Hegel,como é o caso de Marx.Porquê?Aqui neste caso nós temos uma conjunção de fatores:preconceitos pessoais,falta de recursos filosóficos e cientificos que levaram Hegel-Marx a seguir num caminho que depois se mostrou falso.Mas porque Proudhon teve um insight que o permitiu se adiantar?Condições subjetivas,escolhas casuais acertadas,mas também uma dose de genialidade e falta de preconceito.


terça-feira, 6 de dezembro de 2022

O Pensamento de Lênin II o lugar de Lênin

 


Quando era militante radical considerava Lênin um dos pouquíssimos politicos na história capazes de reunir numa só pessoa um filósofo e um politico propriamente dito.

Mas isto não é verdade em termos profissionais,em termos da definição destas atividades e se assim fizermos,isto é,considerarmos estas definições teremos que mudar um pouco a percepção do que é lênin.

Em primeirissimo lugar as obras completas de Lênin só são importantes por causa da revolução russa,menos do que a atividade politica de Lênin propriamente.

A atividade politica de Lênin é a sua revolução russa.Alguns dos livros de Lênin poderiam ter autonomia,mas a maioria só tem importância dentro deste grande fato histórico.

Mesmo se pensarmos no âmbito do marxismo,Lênin seria apenas um entre outros(como Marx).Dizer que só a Revolução deu a ele o seu nome universal seria uma afirmação tipica do conselheiro Acácio,mas para quem analisa eticamente a história isto é importante,importantíssimo até.

A pessoa que idolatra acriticamente um personagem só por sê-lo é um imbecil e um irresponsável.

A admiração que se tem por uma pessoa ,como tudo o que se pretende analisar ,depende de critérios axiológicos.Todo mundo considera que é bastante legitimar um feito histórico da politica mesmo que seja construido por algo injusto ,por uma base injusta .

Este texto,estas análises a partir das obras completas de Lênin,têm alguns escopos:a formação do pensamento de Lênin, a sua atuação,os seus métodos,os seus erros,o significado,como já disse ,da Revolução,sua legitimidade.

Mas o principal é exatamente discutir se a justificativa da violência é legitima ou não.

O estudo que faço aqui é para pensar que talvez a revolução russa só seja legitima se for o último esforço para tanto,para a utopia.Aprendendo com os seus erros e os de Lênin possamos evitá-los no futuro.

Naturalmente tenho consciênca de que metodológicamente são duas ordens de problemas:a revolução propriamente dita e o pensamento de Lênin e isto ficará claro nos artigos.Contudo não se há de perder de vista que há uma intersecção entre as intenções de Lênin e as suas consequencias no processo político da Revolução.

No passado fui muito fanático por Lênin,mas hoje ele é uma figura como Napoleão ou Cromwell:admiro,mas não aprovo.No caso de Cromwell nunca admirei.