As minhas
leituras profisionais de filosofia recomeçam com Platão,o Platão do diálogo
Protágoras,dedicado à virtude e ao seu ensino,se é possivel ou não.
Antes de
entrar propriamente na leitura faço algumas reflexões prévias.
Nos dias
atuais a admissão de que é factivel
ensinar a virtude é maior ou totalmente aceita,em grande parte por causa
da psicologia e da sócio-psicologia.Existem provas de que algumas pessoas que
se desviam voltam para o caminho reto.
Mas na sua
concepção rigida e dogmática e porque não dizer ideológica,Platão põe uma
barreira ,quiçá definitiva,para justificar talvez a escravidão.
Na sua
concepção utópica de estado ele admite a mobilidade ascendente,mas isto não é
reservado a todos.
A
questão,para mim mais importante,nestas palavras prévias,é que efetivamente ninguém faz nada pelo outro,se
este não o quiser.
Curiosamente,na
humanidade há esta barreira excepcional,que ,por paradoxo,é a condição de
mudança individual e redenção.
O homem
joga para os deuses,para o além, a tarefa de redenção,de expiação do crimes e
erros cometidos.
Os gregos
têm na figura de Hèrcules um exemplo de expiação pessoal,pelo uso da força para
o bem,orientada para o bem,mas foram os deuses consultados para definir a saída
redentora,cujos critérios são humanos e divinos,exigindo do criminoso ou
pecador uma prova real da intenção de mudar.Uma prova divina é algo
supostamente maior do que o homem suporta.
Com o tempo
mais e mais o ser humano busca encontrar em si mesmo algo que ninguém lhe
tira,que é exatamente a capacidade de se esforçar na expiação.
Quando
alguém toma consciência dos graves erros que cometeu a primeira barreira(entre
outras,em cada caso)é que esta auto-consciência acrescenta mais
sofrimento.Somos induzidos a crer que se
tomarmos esta consciência,o alivio se apresenta.
Tal pode
ser momentâneo:a constatação da verdade traz uma certa esperança de trilhar o
caminho certo.Mas a idealidade não se identifica imediatmente com a
complexidade do real e do real subjetivo
distorcido,que deve começar a ser compreendido.
Então no
caminho da redenção por um bom tempo,duas ordens de problemas dificeis se
colocam diante do sujeito:a luta para superar os problemas e os problemas
propriamente ditos,que permanecem e não raro reagem à tentativa de sua
supressão.
Esta
verdade inicial,esta esperança inicial é que serve de mote,não ainda
sentido,para se chegar ao fim.De certa maneira isto nos lembra a teoria da
reminiscência de Platão:aquilo que está no inicio é o fim e o que está no
fim,está no inicio.A alma que busca crescimento( e redenção)está na verdade
indo para trás.
A
autoconsciência inicial do homem o conduz para a frente onde e quando no
momento de sua redenção,ele se esquece do passado,relembrando-o,pois superou o
problema e se redimiu.(Hegel?).
Platão
admite uma identidade entre esperança e realidade,depois do esforço.