quarta-feira, 21 de julho de 2021

Os limites de Newton e dos cientistas

 

As teorias como transhistóricas e coletivas


Continuando o artigo Kepler e Newton nós devemos usar aquele mesmo diagrama presente lá para explicar uma outra realidade que se interliga com aquela.

Todos nós conhecemos a lei fundamental da gravidade de Newton,enunciada como um dos principios mais geniais da história da humanidade:” matéria atrai matéria na razão direta das massas e no inverso do quadrado das distâncias”.

Eu já mostrei as limitações deste principio em outro artigo.Não se trata da distância,mas da massa.Da massa e da energia,porque no universo ,massa e energia se transformam constantemente uma na outra.

Aliás esta discussão é que motivou a discussão da mecânica quântica.

Contudo esta situação começou a ser discutida(não solucionada)quando Newton não pode extender este principio ao microcosmos.

Pouca gente se dá conta de que o outro principio de Newton:” A cada ação corresponde uma reação igual e contrária “ é relativa,porque os corpos se diferenciam em massa e tamanho e se se chocam no plano.A distância que percorrem é diferente e a medição delas é de acordo com a sua massa e tamanho,em relação ao outro corpo:o corpo maior empurra mais longe o menor(logicamente).E a distância percorrida é o equilibrio entre este empurrão e a massa do corpo,o seu tamanho.

Esta medida da distância percorrida não é só no plano e não é medida de distância:ela é medida de massa,de energia,presente em todo o universo.

Mas o que Newton não podia solucionar é a relação de um corpo,com um tamanho relativo e uma particula,um grão de areia.Se estes dois corpos tão desproporcionais forem jogados um contra o outro,haverá um choque?Claro que não.O maior corpo passará por cima da particula.

Isto feria o principio de uma lei geral única da natureza,como enunciara Newton.Porque ele ainda não possuia a compreensão deste todo único,que é o cosmos,como nós o entendemos hoje,depois de Einstein.

Hoje nós vemos o “ tudo”,o espaço e o tempo, como formas de existência da matéria e/ou da energia,mas até chegar a isto,de Newton até Einstein outras noções foram encontradas.

As condições gnosiológicas para que Einstein fornecesse a visão de mundo foram dadas como sabemos por dois físicos,um experimental e outro téorico,Faraday e Maxwell,que unificaram num campo só todas as formas de energia.

Faraday mostrou que toda corrente elétrica tem em volta de si um campo magnético:



O ponto central é a corrente elétrica,os traços são o campo magnético que a acompanha.Ou como na gravura de época:




Os fisicos que tomaram conhecimento desta realidade aplicaram a lei de Newton a este campo magnético.O conceito de distância(vácuo) é aplicado ao campo magnético,como afirmou Charles Augustin Coulomb.

Contudo o físico Oersted mostrou que este modelo não cabia,porque fazendo a experiência de indução eletromagnética provou que causava uma deflexão numa agulha magnética.

Se nós pensarmos esta questão desta forma:


Se tormarmos a figura acima como a relação de um fio condutor com uma agulha(tanto faz de um lado como de outro) ou como a de dois corpos ou ainda de um corpo com uma particula nós vamos poder entender como estas descobertas do século XVIII têm a ver com o cosmos que conhecemos hoje:se as ondas eletromagnéticas estão ligadas às ondas de luz e às ondas de energia(e às ondas gravitacionais)tal deflexão(desvio):


é simplesmente a gravidade!No eletromagnetismo está contudo potencialmente o problema da relativistica geral que conhecemos hoje.Quer dizer,a deflexão que foi vista por Oersted no plano é uma influência de outro corpo,mas isto prova qua não há distância(vácuo)mas uma força provinda de outro corpo que causa esta deflexão,este desvio.Como leibnitz notou,contra Newton,se a relação se dá de um corpo com outro corpo,a distância ou não tem valor nenhum ou se relaciona com os corpos todos do universo.E se é assim,por trás disto tudo está algo mais,identificada depois coma gravidade.

Era impossivel para Newton ,com a sua lei de ação e reação resolver este problema,opondo um corpo e uma particula,a qual só será encontrada e definida em 1889 ,como elétron,após toda esta evolução.

Assim a lei de ação e reação (como as transformações galileanas)é aparente e aproximativa,ocorrendo no plano,igualmente aparente e aproximativo.E ela não ocorre no cosmos,corroborando esta ilusão.

A lei da gravidade verificável nesta lei supostamente é achada sem a inércia,porque um corpo de choca com o outro,mas a extração do principio da gravidade confirma a inércia na medida em que se supera este plano e se vai para o macrocosmos,mas,paradoxalmente ,supondo a relativistica geral ,a inércia não é absoluta porque existe uma pequena resistência,quando o corpo se movimenta no universo infinito(será mesmo?)o que une Galileu,Newton e Einstein ,que trabalham num mesmo campo,ainda que não o saibam.A resistência é a deflexão,a gravidade ,que é a força de um corpo sobre outro corpo menor ou maior(ou vice-versa),numa ação/reação mediada pelo campo gravitacional.


quinta-feira, 8 de julho de 2021

Freud e a direita

 

A direita atual não ataca só o comunismo,com o seu “ livro negro”.Ela ataca figuras intelectuais ligadas à modernidade(já que ela é medieval).Num livro “ negro” sobre psicologia ela ataca Freud.Freud e outros próceres da psicologia moderna.

A direita tem razão em muitas coisas,como eu tenho dito aqui e em algumas críticas,não raro.

A narrativa da ciência é feita depois que as suas descobertas e realizações se fixam como provadas,mas quando isto se dá forma-se um esquema de poder em volta dela,um esquema que favorece mais aos seguidores do que aos cientistas e realizadores propriamente,embora eles às vezes ajudem na sua formação e participam dele.

Muito do que se diz a respeito de descobertas e realizações são construidas depois ou são distorcidas na passagem entre a realização e a chegada ao vulgo,ao senso comum.Mas igualmente os realizadores,datados e condicionados por limitações pessoais contribuem para estes problemas ,que,não raro,atrapalham a compreensão do valor real das descobertas e realizações.

No caso de Freud a história não é diferente(mas vale para outros).A direita toma o caso Dora,que teria sido o ponto de partida da clinica psicanalistica(já que a teoria já vinha se constituindo desde os anos 90 do século XIX) e relativiza a cura terapêutica ,digamos,imediata da paciente , e revela fatos que dão conta de que ela só efetivamente “ melhorou” muitos anos depois do encontro com Freud.Há outra hipótese que eu não discutirei aqui,segundo a qual a doença dela era física e não psicológica.

De fato as narrativas das curas de Freud,como a do “ homem dos ratos” ,dão a entender que esta é simples e imediata à atividade do analista.

Com os relatos que Freud deixou fica-se com a impressão de que a pura e simples narrativa compreensiva e auxiliada pelo terapeuta, do paciente é mais que suficiente para curá-lo.

Na verdade não foi bem assim.O processo psicanalítico não é um processo mágico,mas se tornou no plano geral,no reflexo popular que a ciência tem.

José Guilherme Merquior insistia muito neste aspecto:os filmes feitos sobre Freud ressaltavam mais a face palatável,artística de seu percurso biográfico e também de suas conquistas.O fato dele ser transposto para a arte, a arte que ele gostava e usava tanto em suas análises,confirmava esta visão de que a psicanálise,se não era um embuste,não era uma instância segura,uma ciência firme.

O problema da clinica é que ela deixou de ser o lugar da indetificação da neurose para construir narrativas egocêntricas,auto-referentes,fazendo da patologia um meio de vitimização,com o intuito de chantagem ou chamar a atenção para si.O paciente ,com a ajuda do terapeuta, produz um personagem.

O próprio Freud ajuda para esta concepção,na medida em que se coloca como o criador de uma ciência racional apta a explicar racionalmente uma coisa que prima pela variabilidade,pela imprevisibilidade,como é o inconsciente.

Ainda que Freud tenha recuperado o valor da superstição,como mediação legitima para explicar a natureza humana,ele mantém ,como farol,um racionalismo muito intenso,algo que foi muito criticado pelos seus seguidores e contestadores.

Quer dizer ele não é um racionalista rigoroso,mas não cai na profundidade do inconsciente,o que só pode ser explicado por ele não ter tempo de vida para notar isto,ou seja,não ser eterno.

O filósofo Husserl comentou esta fatalidade em determinado passo de sua vida intelectual:uma das questões mais terríveis da atividade intelectual ,que é extensiva e apresenta sempre muitas possibilidades,é que o tempo biológico é relativamente curto.

A direita se insere nisto aí para diluir totalmente com a contribuição de Freud e é também muito normal,porque é natural que as ideias de algum autor sejam testadas e analisadas no seu tempo e após a sua morte.

Isto pode parecer à primeira vista prova da qualidade do trabalho,mas é evidente que ronda o perigo real de sua dissolução e descrença.

No caso de Freud o que penso ser a decretação de sua perenidade é o fato de que ele sistematizou a inadequação do ser humano diante do mundo,uma ilusão racionalista que Freud mesmo devia de ter analisado acuradamente.De outro lado e seguindo nisto aí Freud prova que o falso não tem como ser abordado só pela ciência objetiva,mas por uma que considere a verdade subjetiva,que torna o falso verdadeiro.

As afirmações vindas de um Feuerbach sobre a sagrada família só têm explicação por uma visão psicológica que encare a verdade como algo igualmente subjetivo.Rigoroso,mas subjetivo.

Mas no que tange a esta problemática terapêutica,onde surge a cura mágica do paciente,algo similar assim ao comportamento do médico,que prescreve e está tudo solucionado,assiste razão à direita quanto à sua impossibilidade ,mas não quanto à sua veracidade no tempo.

Quero dizer no tempo extensivo de uma vida a clinica psicanalitica continua a ter validade,dentro de certos critérios,de certos limites e objetivos.Mas mais do que isto o aconselhamento ,com base na psicanálise, ainda tem importância.Eu vou falar deste último parágrafo no próximo artigo.



segunda-feira, 5 de julho de 2021

Assim como o Mal radica na Humanidade a melancolia também II

                                                                  esclarecimentos


Muita gente não cosneguiu entender o meu artigo anterior sobre esta questão e eu reconheço que usei muitas abstrações que fugiram à compreensão das pessoas nas redes.Reconheço também que isto fere o meu propósito de simplificar os meus artigos de modo a permitir que todo o arco social possa entendê-los,ou ,pelo menos,se esforçar.

Vamos lá explicar:eu fiz este artigo e às vezes penso que as pessoas já sabem certos conceitos ou relações de conceitos,mas ,como penso naqueles que não têm um previo conhecimento destas coisas,neste atual eu vou ter que mostrar.

O absoluto tão criticado no artigo anterior é relacionado com a dialética que se pretende como tal.Eu não explicitei isto aí.Na medida em que ela é fechada e expressa supostamente as leis do movimento, é um pretenso absoluto,racional e explicativo.

Porque a melancolia corresponde no caso da dialética ao principio de Kant “o mal radica na humanidade”?Porque a discussão sobre a dialética não comporta a questão axiológica(dos valores),mas só o problema do conhecimento.Indiretamente nós podemos fazer esta relação,mas a dialética dá a impressão de ser impermeável,como absoluto,aos limites e foi isto o que eu quis demonstrar com a questão da melancolia ,que é o reconhecimento([re-]conhecimento{gnosiologia}) da finitude humana,que por sua vez fundamenta e se conecta com a consciência que o homem tem de ser incapaz de alcançar,de outro lado, a infinitude do tempo,que se manifesta na constatação da finitude.Exatamente a consciência da finitude mostra que o homem ,condenado à morte,não vai alcançar o futuro,contido no conceito de infinitude.Isto prova uma dialética oposicional,mas não prova o movimento dialético(assunto para depois).

A melancolia ,como consciência da morte ,impõe um limite essencial na dialética hegeliano marxista que pensa resolver juntando no movimento o finito e o infinito,sem o conseguir.O movimento dialético absoluto não é apto a oferecer uma certeza deste tipo.

A certeza contida nestas proposições fundamenta o cientificismo e cria uma de suas mais perversas consequencias:a intenção da ciência(ou agora da ideologia cientificista) de substituir a religião,o que é também impossivel.Se a religião reconhece o fado da morte e oferece explicações,a ciência tem certeza de que supre as necessidades espirituais da melancolia ,o que gera distorções que eu vou discutir em outro artigo.

É como se fosse possível deixar de lado este sentimento,esta consciência,por uma razão cientifica.Spinoza falava em paixões tristes e alegres,mas ressaltav que o homem devia bsucar as últimas,sem afirmar o esquecimento total das primeiras.Esta visão da dialética parece suprimir as paixões tristes.

Eu tirei esta ideia daquele marxismo melancólico que Leandro Konder revela em Walter Benjamin.Eu o devia ter colocado,mas estou fazendo agora e vou aprofundar em artigos futuros,se houver...tempo.



Assim como o mal radica na humanidade a melancolia também

 

Kant,em seu extraordinário “ A Religião nos limites da simples Razão”,põs o problema de que o mal radica na humanidade.Isto quer dizer que dentro do homem há sempre o bem e o mal,e que para que o bem prospere é preciso muita luta e esforço.

Assim também nós podemos lembrar da distinção entre apolineo e dionisiaco em Nietzsche.Mas neste artigo,que ainda trata do problema do monismo dialético,quero tratar de uma de suas consequencias nefastas: a certeza gnosiológica que ela vende para a humanidade,no rastro do já explicado por mim:o cientificismo do século XIX.

A dialética assim considerada como uma explicação fechada e única(monista)de todo o movimento vende exatamente esta ilusão e só viceja na história da humanidade por causa das limitações de época que influenciam os seus criadores e defensores.

Pois a ciência ,em seu desenvolvimento(não o cientificismo[a ideologia científica])não confirma esta proposição.

No entanto,por um aspecto talvez fosse possível aos seus fautores perceber a falácia que criaram:se todo materialista ou filósofo parte da unidade essencial do Ser,não há como pensá-lo como dividido absolutamente,como faz a religião ou um idealismo desbragado.

Nem a dialética hegeliana o faz,porque entende que uma coisa é e não é ao mesmo tempo,sem,no entanto,ferir a identidade,que é condição essencial da integração.O princípio da contradição como motor do movimento real do Ser,se dá dentro dele,sem o diluir.Contudo a identidade já não é absoluta ,mas limitada por este movimento,que a torna parte e momento do movimento.

Já citei em outro lugar Jean Wahl,para quem o Ser é extático:funciona como numa ampulheta em que o Ser vai se diluindo,da parte de cima para a debaixo naturalmente.

Todas estas elucubrações são importantes mas não ferem o principio da certeza que todo o monismo dialético oferece.A capacidade de previsibilidade científica que ela oferece é absoluta:aplicando os seus termos é certo que as conclusões serão extraídas.

Ao longo da História da Ciência e da Filosofia há momentos em que os criadores e realizadores poderiam,com um pouco mais de esforço ou intuição,chegar a mais verdades,além daquelas encontradas por eles.Este é o caso de Einstein,que teria condições(como ele mesmo reconheceu)de fazer o caminho inverso do que fez:teria ido da matéria para a energia e da energia para a matéria.Mas aferrado ao rigor cientifico objetivo ,não teve este insight.

Na filosofia muitas ideias atribuidas aos filósofos somente,àqueles conhecidos e cristalizados num nome ,foram antecipadas ou ajudadas por criadores menos conhecidos.Muito do que Kant formulou estava já num pensador do direito ,Thomasius.Muito do que Freud sistematizou sobre o papel da mãe ,já estava em Pestalozzi em 1808 e quanto ao inconsciente,quem primeiro formulou foi o romantismo.

Então é perfeitamente legítimo discutir se aquilo que é considerado falso depois que um pensador propõe poderia ter sido evitado como erro antes.

A meu ver o monismo teria sido criticado(como foi)levando em conta a finitude temporal do ser humano,que se expressa no sentimento de melancolia.

Quem chegou mais próximo desta critica antecipada foi Mary Shelley,com seu “Frankenstein”,mas a verdadeira limitação do monismo é a constatação de que a condição limitada do homem(como de toda a vida)tem valor filosófico,gnosiológico e impõe um freio à certeza.

Assim como a reforma protestante mostrou que existe uma distância entre o homem e Deus,entre o transcendente e o transcendental,a finitude humana,a sua melancolia,a perda do que não se teve(do que não se pode ter)revelaria(a quem se esforçasse por buscar esta revelação)que não há nada fechado,não há explicação fechada de nada.Que não há nenhuma proposição absoluta.

Mesmo um crítico de todo o cientificismo,Kierkegaard,só vê no absoluto um elemento de fé.

Mas o absoluto vai ileso no pensamento de alguns filósofos e cientistas,sem contestação ou dúvida.

O absoluto é uma abstração,uma idealização como outra qualquer.Mesmo que a physis seja tida como tal,não há como nomeá-la sem parti-la em múltiplos significados:quando se diz que a Physis é matéria não se sabe que este termo significa a não ser adjetivando-o infinitamente.

Um ser finito como o homem perceber a possibilidade do infinito seria uma prova da ligação entre o transcendente e o transcendental,jogando por terra a minha tese aqui.

Mas a melancolia é a percepção de que este elo desaparece,desaparecerá,sendo o infinito inalcançável.O absoluto é inalcançável.

Uma vez conheci um beócio de esquerda que cismou que a música era absoluta,provava o absoluto,porque as notas musicais não eram atingidas pelas ideologias.Então eu disse a este jumento:se você for convidar sua namorada para um jantar para pedi-la em casamento usará como musica de fundo uma fanfarra militar?A música de Wagner pode ter múltiplas interpretações,mas ela não é infensa ao militarismo,como se viu depois,quando usada pelos nazistas.

O absoluto é uma abstração,uma idealização.Um limite.Se esta ideia tivesse sido explorada mais vezes o monismo teria sido diluido(e as suas consequencias nefastas)mais cedo.

Na verdade foi contestada,pela autora que eu citei e pela psicologia,mas a via mais segura era a compreensão das imensas possibilidades contidas na filosofia de Kant e que não foram investigadas no tempo devido.