Esta semana morreu Ruy
Fausto,irmão de Boris Fausto,e como eu procuro sempre apoiar as
minhas concepções aqui no trabalho de outras pessoas que já
abordaram estes temas,os quais são objeto de investigação ,no
âmbito do marxismo,há muito tempo,sinto-me compelido a fazer
algumas considerações sobre sua obra,na medida em que ela vem me
influenciando,diretamente e indiretamente há tempos.
A preocupação de Ruy Fausto
sempre foi o de apontar novos caminhos para a esquerda e para o
marxismo e este é um propósito,entre outros,da minha atividade
aqui.Então tenho acompanhado ,na medida do possível, o seu
pensamento.
Mas eu escolhi para resumir estas
minhas relações com ele uma entrevista que ele concedeu à usp.São
muitas as afirmações importantes de Rui ,mas uma me chamou a
atenção porque se coaduna com o que tenho dito.
“Acho
que é preciso ligar duas coisas que se costuma considerar como
antitéticas: a exigência democrática e o ideário
anti-capitalista. Supõe-se que
os dois têm soma nula. O que acontece de fato. Mas não de direito. É
preciso reafimar a exigência democrática. E isso por várias razões. Sem
ela, por exemplo, nem se entende a história dos séculos XX e XXI. Mas,
ao mesmo tempo, importa retomar a crítica do capitalismo. E aí há muita novidade. Na minha opinião, é preciso cruzar Marx com o socialismo
dito pequeno-burguês (Sismondi, Hodgskin, Leroux, Proudhon, etc.). Eu
acho que Marx erra. Ele queria ditadura do proletariado, comunismo, e
acho que isso está errado. Sociedade transparente não dá. Agora, Marx
era moderno. O mal dele é que ele era mais ou menos prometeano. Mas já
aquela turma [do socialismo “pequeno-burguês”] tinha o grande mérito de
querer manter mercado e dinheiro.”
os dois têm soma nula. O que acontece de fato. Mas não de direito. É
preciso reafimar a exigência democrática. E isso por várias razões. Sem
ela, por exemplo, nem se entende a história dos séculos XX e XXI. Mas,
ao mesmo tempo, importa retomar a crítica do capitalismo. E aí há muita novidade. Na minha opinião, é preciso cruzar Marx com o socialismo
dito pequeno-burguês (Sismondi, Hodgskin, Leroux, Proudhon, etc.). Eu
acho que Marx erra. Ele queria ditadura do proletariado, comunismo, e
acho que isso está errado. Sociedade transparente não dá. Agora, Marx
era moderno. O mal dele é que ele era mais ou menos prometeano. Mas já
aquela turma [do socialismo “pequeno-burguês”] tinha o grande mérito de
querer manter mercado e dinheiro.”
É o que tenho dito aqui e já
anunciei num texto sobre Marx em “ A Ponte” intitulado “ um
contorcionismo de Marx”.Nele eu dizia que Marx começava como
protestante e terminava como católico.Significa que ao constatar as
condições de desenvolvimento do comunismo no interior do
capitalismo ele era protestante ,mas nos meios revolucionários de
chegar a ele,de forma imediata, defendia uma rejeição deste mundo
velho e a implantação do novo ,onde não haveria dinheiro e só
relações do homem com o homem(grundrisse).Isto é,admitia que as
condições de transformação eram capitalistas mas queria
superá-las logo.
O caminho,no entanto,se revela
muito longo e dificil e nós temos que conviver com mais realidades
do capitalismo,que é,no fundo o que este trecho de Rui Fausto
expressa.Mas ele,especificamente,preso à sua formação,não o
diz,mas eu o digo.
Marx afirmava que o comunismo
derivava do desenvolvimento do capitalismo,mas este desenvolvimento
era no plano econômico,das forças produtivas,não no plano dos
valores,conceitos e instituições burgueses.
Sómente com o surgimento da
concepção ampliada do estado é que a concepção de
Marx,simplista,de tomada pura e simples do estado para realizar o
comunismo,é superada por uma realidade muito mais complexa.É a
primeira das antinomias de Gramsci:a oposição entre o estado
ocidental e o oriental,hoje inexistente,porque todas as sociedades
são complexas e ocidentais.
Neste estado a tomada do poder é
algo ilusório e quiçá impossível,porque o poder não se localiza
na administração do estado,entendido por Marx como comitê de
assessoramento da burguesia,o qual deveria ser contestado pelo estado
do comitê de assessoramento da classe operária,proposto por sua
visão.
Não é Marx e Gramsci
é Marx ou Gramsci e
a maioria dos militantes parece não entender este fato.Rui Fausto
entendia,mas também demonstrava uma imensa dificuldade para sair dos
labirintos da dialética e do pensamento marxista que informava e
informa a militância.
Isto
se dá por um problema psicológico que tenho analisado
frequentemente,até porque faz parte da minha vida e da minha
formação:como sinalizou Benedeto Croce em seu “ Materialismo
Histórico e Ciência Econômica”,o marxismo junta a ciência com a
axiologia (na dialética[digo eu]) e em função desta crença(a
palavra é esta mesmo[dialetica{pensamento mágico}]) de que este
conhecimento liberta a si e aos outros,formando uma realização
existencial definitiva(?),que une o indivíduo ao todo(imperativo
categórico?[regra de ouro do cristianismo?{amai-vos uns aos outros
como eu vos amei}]);a sua perda(pela perda da crença na dialética e
da existência[que é dialética,supostamente])pela perda da
ideologia(fim do comunismo),da concepção,joga o sujeito no
vazio(existencial) e obscurece a sua capacidade de análise daquilo
que o formou(e ele se liga a algo que não existe mais e aí ele não
existe mais também).Então nós vemos discussões intermináveis
sobre se a dialética ainda vale ou deve ser abandonada.
Mas
outro aspecto,de certa maneira também pessoal, avulta:o
intelectual,defensor da dialética ,hegeliano marxista, não lê
senão o que lhe interessa ,afastando o pensamento conservador e de
direita e muito mais,nesta caminho,a filosofia,vista por ele como
saber especulativo,sem estar fincado no real(o que faz do marxismo
uma forma de positivismo[segundo Gramsci]{“ o marxismo possui
incrustações positivistas”}).E não se importa(e isto vale para
Marx e Engels)com as ciências naturais,que não autorizam a
dialética da natureza.Não autorizam a dialética
objetiva,real,dando vitória a Kant e a Sartre,reconhecendo a
dialética como produto da consciência.
O futuro dura muito tempo.O
processo de construção da utopia é mais demorado,exigindo mais
tempo para a formação das suas pré-condições.Diante desta
realidade a esquerda tem que pensar em comos e relacionar com
valores,com as liberdades e... com o dinheiro.Se permanecer na visão
católica(de despojamento e rejeição de certos elementos do
real),que parece se misturar com o iluminismo de Marx(contra a
religião),formando um monstrengo,este futuro pode nem chegar.Do
ponto de vista psicológico e teórico é diante desta constatação
que a esquerda está há muito tempo,sem desatar este nó.