sexta-feira, 26 de abril de 2024

Minha relação profissional com a filosofia II

 

Dentro daquilo que eu considero condição para se construir um pensamento modelar em qualquer matéria e em filosofia ,não vejo condições para que eu faça este trabalho e nem muito menos os professores que habitam as universidades,mas aí é por outra razão,que depois eu destrincho.

E qual é esta condição?O poeta russo Pushkin elaborou um conceito básico neste debate: “ se queres ser universal,volta-te pra a tua aldeia”,que Dostoievski amplificou mais tarde.

De fato uma pessoa só não é capaz,ela própria,sozinha,de elaborar os elementos aptos a construir um modelo universal.

Há necessidade dela se conectar com o trabalho continuado de sua “aldeia” para poder usar o conhecimento acumulado e chegar a este fim.

Depois, a continuidade desta acumulação é mais que necessária ,para manter as condições para entrar na criatividade.

Em momentos específicos da história brasileira nós tivemos intelectuais e cientistas capazes de servir de modelo para outros países,mas por causa de certos fenômenos comuns ao Brasil e estas outras nações.Por exemplo:Euclides da Cunha tem repercussão na América Latina e nos países de língua hispânica,em virtude  ter analisado o “ salvacionismo”,que tem revérberos em Portugal,o sebastianismo.

O caso de César Lattes é outro elucidativo do problema:ele se qualificou aqui,porque foi um período de liberdade de investigação ,mas só conseguiu criar quando foi para os grandes centros e se aproveitou(legitimamente)do acumulado de lá.

Miguel Reale ,pai,tem a sua teoria tridimensional reconhecida internacionalmente,mas ela não serve como modelo universal,não se tornou uma referência universal.Um modelo para os outros países.

Muito embora a análise de nações tenha sido anterior a Gilberto Freyre,ele foi o primeiro a analisar cientificamente,sociologicamente,um páis,se aproveitando de métodos de fora e de uma realidade nacional acumulada como conhecimento.

Contudo não é um modelo porque o Brasil precisava desta auto-definição e não sei se outros países o necessitam.

Sendo ele um analista do Brasil ,a sua “ construção” não é válida obrigatoriamente para outrem ,embora os seus métodos possam ajudar.

Voltarei ao tema.

 

domingo, 21 de abril de 2024

Filosofia Expontânea Dos cientistas

 

Jacques Monod ,na década de 60 do século passado lançou a idéia da “ filosofia expontânea dos cientistas”,se referindo basicamente às reflexões de Galileu sobre suas descobretas,especialmente na sua caracterização histórica de criador do empirismo ,do experimentalismo,coisa que não é verdade.

No entanto,hoje,em termos éticos,eu penso que a filosofia expontânea é algo importantíssimo na atividade científica,porque ela acaba por oferecer um reconhecimento ao cientista,que ele não obteria por suas eventuais descobertas.

A imagem da História da Ciência é pululada de grandes feitos e grandes cientistas,mas existem contribuições importantes,que são mais simples e que não têm repercussão na mídia.

Quando um cientista assim obtém pelo seu pensamento algo mais do que a sua atividade cientifica tem uma chance maior de reconhecimento e continua  a oferecer contribuições úteis para a sociedade.

Isto evita que o cientista muitas vezes ultrapasse a ética para fazer coisas,dizer coisas,além daquilo que deveria,produzindo distorsões,falsidades,que têm um efeito ainda mais grave sobre esta mesma sociedade e sobre as gerações futuras.

Para aparecer e até para poder divulgar o seu trabalho ultrapassa os limites éticos de sua profissão.

Cientista só fala quando tem comprovação daquilo que propõe, daquilo que apresenta como verdade.

Fora isto ,não pode ir além,a não ser colocando tudo em termos de teoria ou hipótese.

Há cientistas que diante desta incapacidade de provação,inventam e insistem num caminho sem saída.

Acontece com todo mundo.

sábado, 20 de abril de 2024

O meu posicionamento profissional II

 

Continuando as reflexões anteriores e já me referindo aos filósofos eu cito Marx e Hegel,mas por razões que explicitarei mais abaixo,Heidegger.

Devo me referir  também a  correntes de pensamento recorrentes no meu trabalho,como é caso da fenomenologia.

Aliás a citação da fenomenologia é o que explica a presença de Heidegger.

Dentro de uma visão profissional e utilitária da filosofia a  pergunta é qual a utilidade hoje de Hegel ,de Marx e de Heidegger e a fenomenologia,que este último não aceitava como classificação (im-)posta sobre ele(muito menos existencialismo[mas que eu acho que cabe]).

A ciência da lógica de Hegel ninguém atribui grande importância e eu vou tratar disto em artigos vindouros,mas a fenomenologia ainda tem valor,não só como parte da História da Filosofia,como aplicação profissional à realidade.

Tal constatação nos remete a Heidegger.Muito embora ele não admita ,aparentemente,fica claro que a análise de tudo o que existe,a pluralidade de tudo o que existe, só é apreensível pela essência,ainda que a substância(aristotélica)não esteja presente .

Na dialética hegeliana é factível estabelecer conexões contraditórias a partir do fenômeno,de modo a trazer novas verdades e contribuições para a sociedade.Sempe me lembro do exemplo da sala de aula  em que há uma dialética útil em relação ao aprendizado.Se faltar o diálogo dialético acaba o aprendizado.Assim eu continuaria mostrando exemplos,mas não agora.

E no caso de Marx a minha preocupação não é mais  com ele,embora ele  esteja no processo:minha preocupação é com o movimento social e revelar algumas questões já reconhecidas no mundo todo,como plágios e problemas de compreensão do seu pensamento.

O meu posicionamento Profissional diante de alguns filósofos

 

A minha preocupação profissional aqui,na condição de investigador e pesquisador,é trazer um mínimo de novidade sobre os assuntos tratados aqui.

Não vejo possibilidade diante de mim,de construir um pensamento filosófico universal,mas no processo de investigação entendo que sempre  se abre a porta para achar novos nexos,novas realidades,ainda que pequenas ,para que novas descobertas sejam reconhecidas.

Mas neste sentido,e seguindo na perspectiva profissional,trabalho com “ filosofias aplicadas”,aquelas que trazem eventualmente nexos e descobertas úteis para a sociedade e a vida humana.

Eu gosto de me considerar um investigador criminal,que procura os nexos causais de um crime,para fazer justiça.O que eu procuro na minha atividade de blogueiro,além da exposição magisterial dos conteúdos,da transmissão destes conteúdos,é achar pedrinhas,sob o rio de águas claras e mostrar às pessoas.

O novo existe sim.Buscá-lo,encontrá-lo e mostrá-lo é uma tarefa nobre e necessária.Buscar o novo a qualquer  custo é uma postura distorsiva em vários sentidos,mas o novo bem “ cuidado”,contextualizado,é essencial.

A minha abordagem de alguns filósofos mudou terrivelmente nos últimos anos,principalmente aqueles ligados ao marxismo.Esta mudança não é desconhecida no mundo todo e eu não faço nada de novo(ouviu pasqualy?)mas  aqui no Brasil  é importantíssimo expô-la   a certos setores da sociedade politica.Digo mesmo que é fundamental na América Latina,em que se sonha com um novo impulso revolucionário,a partir das ruinas (previsíveis)do socialismo cubano.

Este caminho (e eu tenho o direito de dizê-lo)não serve mais e tem vícios de origem.No próximo artigo eu explico a aplicação disto nos filósofos.

quarta-feira, 17 de abril de 2024

O Estado de Aristóteles A Marx Passando por Hegel

 

As mudanças havidas no estado concretamente considerado e como parte de teorias começa com Aristóteles e atinge o nosso tempo principalmente em Hegel e Marx.

Mas eu queria ressaltar que essencialmente não há uma diferença assim tão grande  entre a família e o estado e isso para mim é muito importante porque modifica um pouco a visão da utopia,que separa,no marxismo,a família do estado e   da politica,um problema que a economia politica resolve.

Aristóteles foi o primeiro a fazer esta distinção entre a economia da casa,as tarefas da casa e as da polis.

Como Hannah Arendt explicaria em a “Condição Humana” foi esta  a razão pela qual se criou o conceito de “otium cum dignitate”,mas também a separação entre o trabalho comum e braçal e o intelectual,bem como cria-se a finalidade de produzir obras imortais:para cuidar da liberdade dos cidadãos o homem se afasta da família e só se dedica ,em tempo integral  aos problemas da cidade,à  estratégia de sua realização(por isto os lideres gregos,como Péricles, são chamados estrategas).

No século XIX Hegel ia pelo mesmo caminho de Aristóteles ,mas como a sociedade era outra,se complexificou ,aparecendo a sociedade civil burguesa e a economia,ele encontrou no termo sociedade civil o elo necessário entre estado moderno e a sociedade em si mesma ,em suas relações econômicas burguesas.

Como leitor de Adam Smith ,ele absorve esta nova realidade e é partir de sua organização ou de sua compreensão,em “ A Filosofia do Direito”,que Marx realiza a sua crítica.

Para ele estas relações são falsificadas,porque legitimadas apesar de seu caráter de exploração e de desigualação.Esta desigualdade conspurcaria este estado/cidadão do passado e do presente.A cidadania não seria senão uma falsidade.to be continued.

domingo, 7 de abril de 2024

Ernst Mach

 

Há muito queria escrever este artigo.Na verdade eu já fiz um outro  sobre um livro famoso deste autor:o comportamento psicológico correspondente aos métodos propostos ao longo da história.

Mas agora trato da polêmica de Mach com Lênin,ou melhor,deste último com ele.

No inicio do século XX começou a se provar a existência  do átomo e da molécula ,coisas que não eram admitidas no final do século XIX,por influência do positivismo em geral,que só admitia a ciência daquilo que podia ser “observado”.

Mas a contribuição de Rutherford ,mostrando que havia alguma coisa além do eléctron,do elemento que “produzia” a eletricidade,desencadeou toda uma discussão sobre como abordar a realidade e ficou claro que havia outros estados da matéria,outras realidades físicas que iam além da matéria.

Aquilo que a filosofia vinha notando ao longo do tempo,a física confirmou ,avançando na compreensão de que o mundo é plural e não monístico,movido por uma causa única.

A descoberta do átomo ,da molécula ,tem este significado e aqueles que ainda se aferravam à ciência do século XIX,atacaram aqueles que aceitaram a nova realidade.

Foi o caso de Lênin em relação a Ernst Mach.Mach,seguindo Kant,elaborou a teoria da “coordenação de princípios”,pela qual o sujeito cognoscente ,tendo as sensações do real o organiza para que tenha sentido e explicação.

Lênin (e o materialismo ligado ao marxismo)se insurge contra esta idéia ,em nome da objetividade como algo essencial à ciência.

Este debate precisa ser esmiuçado para entender alguns problemas do entendimento da filosofia e da ciência ,nas suas relações mútuas.

sábado, 6 de abril de 2024

Outra transcendência Em O Capital de Marx

 

Uma outra prova da existência  em O Capital(livro imanente) do transcendente é a questão do trabalho.

André Gorz chama atenção para algo que foge à percepção de todo mundo(talvez até a Marx,porque não encontrei prova em contrário disto nele):uma coisa é o emprego,outra o trabalho.

No processo de explicação da exploração o que desponta é o emprego,é a relação do trabalhador,operário com a fábrica,com a  indústria  e com todos os setores que produzem mais-valia para o empregador(capitalista[segundo Marx]).Mas o trabalho em si transcende àquela relação empregatícia e de exploração.

O emprego está no processo dialético explicativo imanente de O Capital,mas o trabalho,o trabalho com sua natureza especifica transcende o processo todo,como um modo de relação do homem com a natureza e a sociedade,um modo autônomo e que tem relação com aquela criatividade humana,que Marx quer liberar com a sua utopia proposta:o tempo livre .

Então é um erro crasso do marxismo vulgar em não ver elementos de transcendência e autonomia no âmbito do capitalismo e no Capital.

Os efeitos disto são terríveis porque o ato em si de criatividade para produzir algo ,para além do processo de exploração,sofre uma repressão e paralisia,porque a sua admissão “legitima”(supostamente)o capitalismo.

Mas como eu disse o comunismo não é contra o capitalismo ,é a partir dele.

O não reconhecimento desta distinção fundamenta um comportamento recorrente entre os militantes(mas desde Marx)que é chamado por Max Weber como a rejeição religiosa do mundo ,que é pensar que a utopia está pronta e acabada na esquina e que enquanto  ela não vem a interação com o capitalismo é pecaminosa .

A luta pela utopia se dá nos interstícios do capitalismo.Qualquer “ espera” é religiosa e a revolução ,do modo como entende Marx(e seus seguidores)é mais religião do que politica ou história.

quinta-feira, 4 de abril de 2024

A filosofia se vingou do marxismo

 

Há um livro que trata destas relações entre o marxismo e a filosofia,para além do que Edmund Wilson disse:é o livro “marxismo,alvorada ou crepúsculo”do sr. Jorge Boaventura.

Há muitos anos escrevi um artigo em que afirmava que o marxismo era igual ao aristotelismo e principalmente ao tomismo,porque a relação com a  filosofia era digamos assim tutelar.

No caso do marxismo não é propriamente tutelar ,mas de “ condescendência” com um período supostamente “ infantil” da humanidade.

A posição do marxismo  é semelhante à do positivismo:a filosofia é de uma época em que os homens ainda não compreendiam realmente como era o mundo ,a natureza,porque estavam obscurecidos pelo véu da ignorância e da religião.

Quando superaram esses limites puderam fazer “ ciência verdadeira”.

Nos manuais soviéticos se vê muito disto aí:enquanto os homens,na relação com a natureza  ,não possuíam uma “ verdadeira” compreensão dela,de suas “ leis”,ficaram envoltos no véu do mito e da religião.

É a consequencia daquilo que Horkheimer chama de “ desencantamento do mundo”,que ainda marca presença nos dias de hoje.Tratarei deste fato em próximo artigo.

Engels,como já expliquei,é que determinou  momento de ruptura com o “ passado filosófico”.

No prefácio ao terceiro volume de O Capital ele compara Marx a Lavoisier e seu uso da balança ,que teria operado um “ corte epistemológico”com o “ passado” da filosofia identificada com a metafísica,mas tal não aconteceu e nós vemos  que a falta de uma base filosófica comprometeu inapelavelmente o marxismo.To be continued.


 

domingo, 31 de março de 2024

O contexto histórico Para se entender o nexo Hegel/Marx

 

A meu ver só se entende os erros e acertos deste nexo dentro da perspectiva  histórica,do que estava acontecendo no período imediatamente posterior à revolução francesa.

Já aventei algumas conclusões no artigo anterior sobre o mesmo tema.Mas vou aprofundar agora algumas questões importantes:o problema central era que pela primeira vez na História o movimento  físico era amplamente admitido,pelo menos pelos setores cientificos e intelectuais da europa.

Para nós hoje isto chega a ser escandoloso,nós que encaramos o movimento como algo tão natural e corriqueiro.

Mas ainda havia dúvidas por parte inclusive destas referidas elites.Com a  revolução francesa tudo mudou e aí era necessário explicar este movimento na sua relação com o tempo e  na vida social.Na vida social e  na História.

Tanto Hegel quanto Marx estão tateando neste caminho.Dar sentido às coisas,à história,ao tempo,significa o quê para eles?

Proudhon e outros autores(até Kant podemos incluir)não atribuíam propriamente importância a esta questão,porque viam tudo dentro de uma perspectiva dir-se-á meta-histórica ,e acima de tudo ética e moral.

Como muitos utopistas eles viam o esforço humano para melhorar a humanidade como algo concreto,de iniciativa das pessoas,dos militantes em prol do bem geral.

Modelos explicativos e justificadores e de previsão cientifica não tinham importância.Só a iniciativa real e concreta das pessoas.

Porquê Hegel e Marx faziam questão disto aí?Por causa do sentido,da visão do sentido que as coisas deviam ter,mas também acoplado a isto ,uma razoável preocupação com o movimento e sua natureza.Isto sem falar que nos objetivos dos utopistas a perspectiva era essencialmente limitada.

 

 

quinta-feira, 28 de março de 2024

Série Ciências Politicas Jean-Jacques Rousseau

 

Há certos autores que são como rios caudalosos para mim.Dostoievski sempre me chama atenção,sempre encontro uma pepita de ouro nos seus textos(Tolstoi não).O mesmo acontece com Rousseau:sempre descubro uma esmeralda,uma pedra bonita e quiçá nova sob suas águas.

Agora inicio uma série tantas vezes planejada sobre Rousseau e neste primeiro artigo ponho os pródromos de sua análise:

Primacialmente as condições de formação de seu pensamento que podem ser encontradas na biblioteca do Presidente estadunidense Madison em que a primeira versão do contrato social se encontra guardada.

Os críticos sempre disseram que Rousseau ia fazer um tratado de instituições e é ele que está lá.Depois ele enveredou por algo mais teórico,uma análise da politica corrente,como um programa novo para basear a politica e orientar o mundo novo onde novas verdades surgiam diante dele.Ele queria ser um “ novo” Montesquieu,mas acabou indo mais na direção de Aristóteles para  ser ele mesmo no fim.Como se deu esta passagem nós vamos ver nos próximos artigos.

Outras premissas de seu estudo dizem respeito às reais conexões com o pensamento Politico de Tomás de Aquino,em que o principio de soberania popular está potencialmente,ab ovo .

E mais do que isto,as relações críticas com Thomas Hobbes e sua visão do contrato social e politico.

Cotudo,estes artigos não são pura e simplesmente  sobre o Contrato Social.

As outras obras(quase todas)me chamam a atenção como aquele rio de que eu falei acima.

E neste sentido idéias de Rousseau serão discutidas e avançadas se possível,por mim aqui.

 

Série História Mitos e Verdades da II Guerra Mundial

 

A segunda Guerra ainda provoca debates acalorados porque além dela possuir influência sobre o mundo em que vivemos,alguns dos seus fatos são polêmicos ,embora não desconhecidos.

Quero dizer:todo mundo sabe que a guerra foi perdida pela Alemanha em fevereiro de 1943.Porque não acabou aí?Porque foi preciso morrer mais gente depois ,mais do que neste período inicial?

Eu conheci um professor na PUC que se esgoelava diante de um outro aluno,para quem ela dava aula,ressaltando dramaticamente o fato que estando a guerra perdida os nazistas mataram assim mesmo os judeus,aliás,depois da derrota principalmente.

Penso que dentro das premissas dos nazistas este era um fato natural e lógico(ele era e é um professor de ciência politica,não sabia lógica[filosofia]),embora não justificável de forma nenhuma.

Os nazistas viam a sua luta como algo a longo prazo,como uma guerra biológica e por isto,mesmo sabendo que perderam, queriam que no futuro esta tarefa de suprimir o inimigo estivesse resolvida para que as gerações futuras tivessem menos trabalho(digamos assim).

Do outro lado ou dos outros lados a coisa pega porque tais premissas não estão presentes.Elas foram criadas na época e por uma reunião dos grandes em que faltou Stalin:a conferência de Casablanca.Stalin concordou com praticamente tudo que foi decidido lá,mas o principal para o que estamos discutindo aqui é a rendição incondicional da Alemanha .

Os termos de fundo forma postos por Roosevelt e  fazem sentido evidentemente:depois de duas guerras não tinha razão de se  negociar o que quer que fosse com os alemães.

Para Roosevelt os alemães precisavam saber que perderam e que não tinham condições de revanche.Era necessária uma dissuasão completa e definitiva.

Mas se se negociasse e se se desse um fim na guerra neste fevereiro muita gente não teria sido poupada?

Discuto esta questão nos próximos artigos da série.

 

quarta-feira, 27 de março de 2024

O fulcro do pensamento de Kant II

 

(b) partindo do suposto que nosso conhecimento de experiência se guie pelos objetos como coisas em si, o incondicionado “não pode ser pensado sem contradição”;

Agora eu prossigo na análise do pensamento de Kant,passando para o item b.

Este item nos coloca em confrontação direta com a dialética do Ser e da Natureza ,em Hegel e em Marx e Engels.Vamos ver.

Se nós aceitarmos as coisas em si(ding an sich)aquilo que é incondicionado “ não pode ser pensado senão em contradição”(termos de Kant).

Vamos aplica-lo ao fulcro do pensamento dialético de Hegel,que expliquei em um livro e em artigos:

Para Hegel(e seus seguidores)tem que haver uma relação real entre o Ser e o não Ser,porque certas contraposições não ficariam explicadas.

O exemplo clássico de Hegel é este:se não houvesse esta dialética real o problema do finito e do infinito não seria explicável.

Hegel afirma que havendo separação entre um termo e outro o infinito não teria explicação como sucessão de finitudes,ad infinitum.E o finito seria algo aleatório ,sem finalidade e sentido .

Os dois,como outras dicotomias,só se explicam juntos e admitindo uma contradição  na representação,ou seja,admitndo que o mundo,o Ser,a natureza,tudo,se move por contradições (infinitas).

Mas como vimos no primeiro item de Kant ,tal é falacioso,porque não se prova esta contradição no Ser.É uma “ assertiva improvável”.A razão não prova que a realidade existe.Ela é percebida e manipulável pela experimentação(cientifica) e pela aquisição na memória de fatos que se tornam experiência ,o saber sabido.

Por razões que analisaremos em Hegel ,este filósofo ,para explicar a mudança não admitia as teses de Kant.Sem a dialética,para ele,não haveria como explicar o movimento do Ser.Depois nos ateremos a isto.

A representação pespega apenas uma parte do real,uma parte momentânea e organiza(condiciona)os fenômenos e fatos,não incidindo contradição(explicativa porque real)senão aquelas que derivam da consciência humana,desta consciência “organizativa”,digamos assim,não teriam sentido,no que é o inicio das críticas de Proudhon e de Sartre à “ Razão Dialética”em Hegel/Marx(e Engels).

Foi neste ponto que a critica de Bohm-Bawerk ao Capital se escudou:não existe prova das relações dialéticas propostas por Marx na sua obra-prima,sendo “O Capital” teórico e interpretativo.

Para concluir ,lendo a última frase de  Kant no item b:Uma coisa incondicionada só se explicaria em contardição com outra,a partir de outra.

Mas não vamos além disto aí hoje.Até amanhã,se Deus quiser.


 

Os quatro santos da Rússia Tolstoi e seu “ problema”

 

A posição injusta de Tolstoi em relação Shakespeare é que ele entendia que o bardo inglês expressava interesses de classe.A sua visão é um pouco limitada pelo século em que viveu,em que vicejavam formas de preconceito,no rastro do milenarismo,que era parte também da sua psicologia,calcada na religião.

O eventual comprometimento de um autor com uma classe não necessariamente o invalida.Max Beer em sua “ História do socialismo” acusa Shakespeare de desrespeito aos camponeses e aos mais pobres,colocando-lhes caracteristicas  ruins e baixas ,mas se o leitor observar em muitos momentos Shakespeare mostra sim o caráter humano destas figuras.

No Rei Lear ,v.g, o bobo é encarregado de mostrar o erro de um dos vassalos que foi para o cepo.A obediência excessiva leva a estes transtornos.Eu voltarei à questão.

O outro momento sublime e polêmico de Tolstoi é “ Anna Karenina”:eu já ouvi que este romance é um “novelão”,um roteiro  avant la lettre  para filmes de sessão da tarde ou novelas latinas,inclusive aqui no Brasil.E é possível usá-lo assim, mas tirando-lhe o conteúdo e a mensagem fundamental.

A mensagem deste romance é a discussão psicológica sobre a guerra como válvula de escape para pessoas(inclusive da aristocracia)oprimidas pelas convenções sociais.

Estas convenções tiram de Anna o seu filho querido,o que já um baque.Mas depois,mesmo junto ao seu amor ,a heroína se sente abandonada e desvalorizada o que a faz suicidar-se.Analisarei proximamente este suicídio.

 

Tal problemática já aventara Tolstoi em “ Guerra e Paz”,na figura de Bolkonski,o qual não se protege na batalha de Austerlitz ,esperando morrer,o que ocorre muito tempo depois.

Mas em “ Anna Karenina”tal análise torna-se mais profunda.

 

 

Pais e filhos A medida certa da relação

 

É sempre uma pretensão estabelecer para qualquer coisa uma base definitiva,um fundamento definitivo,uma medida irretocável(ad infinitum).

Tolstoi em seu grande livro “Anna Karenina” ,começa desta forma(reproduzo de cabeça): “Cada família é feliz do mesmo modo,mas  sofre à sua maneira”.

Este é um principio filosófico,moral,psicológico,que explica muito do que é a humanidade:o sofrimento,como noticia ruim, chama mais a atenção do que a felicidade.O mundo fica “chato” com todo mundo feliz.Não há motivo para escrever romances...e tal.

É uma contradição que eu discuto sempre no escaninho literário e de crítica  e que continuarei fazendo,mas agora o meu escopo é a questão  de como entendo que a família deve ser.Como é o caminho para ela o ser(feliz).

Não é uma base definitiva e que certamente nem todo mundo aceita ,mas que eu considero pelo menos como a média do comportamento familiar,pelo qual não s e retorna ao sofrimento ou não se cai nele de novo.

A mediação decisiva desta questão é a relação entre pais e filhos.

Ao ver o filme bem razoável sobre Maria Antonieta de Sofia Coppola me lembrei dos estudos de história que demonstram que nas sociedades arcaicas era assim que funcionava:filho de peixe peixinho é.E a forma de garanti-lo se vê no filme,numa cena que eu descrevo de novo:Maria Antonieta acorda no horário definido pelo “coletivo” de sua época,monarquia,igreja católica,estes monstros;realiza todos os rituais da manhã,à vista de todos,inclusive as necessidades essenciais.Depois,é assim até voltar para a cama de noite,com algumas exceções eventuais em festas e reuniões.

Lembrando de Foucault,aparentemente estas práticas foram superadas pela Revolução Francesa,que é a Revolução dos filhos contra os pais (como geralmente toda a revolução é)

Mas  não em todos ao países  e até hoje,pelo menos no nível da consciências e das práticas decorrentes:ainda se vê um esforço dos pais para determinar o que os filhos devem fazer.

Numa época,no entanto,de cada vez mais liberdade ou numa sociedade fundamentalmente  dinâmica,voltada para o futuro,estes esforços arcaicos só distorcem o real e causam os problemas da família no mundo de hoje.Não só isto,mas dentro da família este é um dos fatores.

A medida da liberdade é simples:basta ver os fundamentos.

Enquanto os filhos são incapazes os pais os “ comandam”,mas segundo a lei ,a ordem moral,que os “ orienta também” . E quando os filhos adquirem progressivamente capacidade eles passam a ser iguais aos pais,os quais têm que reconhece-lo ,havendo apenas o dever de respeito aos mais velhos,à sua eventual decadência física ou mental(mas não necessariamente)e cuidados em relação a eles. Mas não dependência,de ninguém.

E a saída dos filhos que não é obrigatória ,mas decorrente de seus desejos,é total ,como corolário da liberdade.

Os pais não teriam este direito?Certamente,mas levando em conta os direitos dos filhos,se estes seguissem estes princípios supra-ditos.

 

terça-feira, 26 de março de 2024

O fulcro do pensamento de Kant

 

“(a) o que “nos impele” a ultrapassar os limites da experiência é “o incondicionado que a razão exige nas coisas em si [...] para todo condicionado, a fim de completar assim a série das condições”;

(b) partindo do suposto que nosso conhecimento de experiência se guie pelos objetos como coisas em si, o incondicionado “não pode ser pensado sem contradição”;

(c) supondo, contrariamente, que nossa representação das coisas, tais como elas nos são dadas, se guie não por estas como coisas em si, mas que estes objetos, como fenômenos, se guiem pelo nosso modo de representação, “a contradição desaparece”; do que resulta: que o incondicionado “tem de ser encontrado não em coisas enquanto as conhecemos, (como nos são dadas), mas sim nas coisas enquanto não as conhecemos, como coisas em si mesmas”.”

Coloquei esta citação tirada do livro de Klein, “Comentários à obras de Kant”,publicado pela universidade federal de santa catarina,porque ela resume toda a problemática compreensiva da proposta filosófica de Kant.

Como é muito complexo eu vou tratar neste artigo só do item a.

“(a) o que “nos impele” a ultrapassar os limites da experiência é “o incondicionado que a razão exige nas coisas em si [...] para todo condicionado, a fim de completar assim a série das condições”;

A experiência humana é um contato com o real que ,dependendo da situação, se torna memória essencial do sujeito:se o sujeito se queima ou se machuca em algum lugar ele sabe que dali por diante deve evitar estas situações.Ele é condicionado a agir assim depois de ter uma experiência desagradável.

Mas  a razão não fica limitada a este condicionamento.Se fosse assim o homem não seria mais do que animal.Sabe-se pelos biólogos que um rato quando toma uma paulada na cabeça não volta mais no lugar em que isto ocorreu. É discutível,mas não aqui,se esta é uma experiência ou não.De qualquer forma os requisitos para considerá-lo como tal estão dados:o rato se “ lembra” da dor,do local e não volta ali por causa deste “ lembrança”.Talvez a reflexologia possa  explicá-lo.

Se a razão não s e resume a isto,qual o papel da experiência na subjetividade humana e para a razão?O homem seria puramente objetal se aceitasse(como Locke?)esta relação como suficiente para sua subjetividade racional.

A razão reconhece a experiência ,mas não se reduz a ela.Porquê?Não é simplesmente porque ela é a base de compreensão, a priori ,da experiência.Isto também,mas a explicação é mais profunda.

A razão para existir não se reduz a este  condicionado mas “ exige” o  incondicionado  contido nas coisas em si,percebidas pela sensibilidade.

Nós nos lembremos dos artigos que eu tenho posto aqui sobre Kant,bem como os livros:a linguagem não restitui as coisas individualmente ,mas padroniza racionalmente algo que só temos como perceber.Não existe um pedra,mas muitas,infinitas,que a razão padroniza,sem se condicionar com uma em particular ou singularmente.O nexo sujeito/objeto não vale aqui,havendo rutura com o cogito  cartesiano.

Mas por outro lado,como dizia Carlos Nelson Coutinho(aos comunistas dogmáticos),a filosofia,bem como a razão,não prova que a realidade existe,o que reforça a tese de elaboração cartesiana do  cogito de que o sujeito só existe por sua capacidade de pensar.E só sabe que existe por tal capacidade.

E na última frase: , a fim de completar assim a série das condições”;

Tal quer dizer que quando o sujeito observa um dado do real,uma coisa, ele o faz  condicionadamente ,pelo reconhecimento da experiência,mas a  razão só se constitui indo além da experiência,deste  condicionado ,formando uma série de condicionamentos ,padrões,sentido,significado,tendência e etc.

O sujeito num dia bate num rato ,come,brinca com uma pedra ou uma bola,faz amor e depois vai dormir.Cada uma destas atividades são experiência,mas  a série é  a razão,transcendente/transcendental.

É por isto que quando Hegel propõe uma dialética universal e total do movimento do Ser,falseia o real e o distorce,porque fica claro que não é possível representar todo o Ser.Não há principio único capaz.

Estou preparando um artigo sobre a dialética do Ser e este ponto é muito importante de guardar.Mas por hora paro por aqui.

 

 

 

 

 

 


Série Freud Além do Principio do Prazer O Ernesto como Sheherazade

 

Eu ia continuar o artigo anterior desta série sobre o complexo de Electra ,mas eu sou como Sheherazade em “ As Mil e uma Noites”:eu vou entremeando estórias ,para deixar todos com curiosidade e atentarem para mim e para meu percurso pessoal.

Outra área do pensamento de Freud é a sua “ guinada” de 1919,quando publicou “Além do principio do prazer”,sob o impacto recente da primeira guerra mundial ,cujas consequencias sobre a psique humana lembraram a Freud a necessidade de estudar os comportamentos aparentemente irracionais e inexplicáveis da humanidade,como o sadismo,masoquismo e outras “ contradições” mórbidas.

Em antigo artigo o que me interessava e interessa primordialmente era a tênue linha de conexão  entre o mundo real,objetivo e o subjetivo ,no que me libertou em grande parte da preocupação jusnaturalista(que ainda persiste aí em alguns setores da sociedade)de compreender o  social a partir da natureza e suas leis “ férreas”.

No entanto,esta linha tênue existe.embora amenizada.A relação prazer/desprazer,supostamente racional(ou pelo menos lógica),permanece ,unindo numa bestimung (destinação)o homem à sua natureza.O homem tem uma natureza sim(São Tomás de Aquino).

Estes liames tênues são os liames entre o pensamento em geral e  a questão  cientifica,biológica e médica dos comportamentos “ irracionais”.Mas eles não ferem a questão da relação com a natureza ,mas causam danos dentro dela.

Porque o homem perverte desta dicotomia prazer/desprazer?Se existe uma influência  social(psico-social)a relação com os limites ainda permanece,mas Freud introduz nesta sua “ guinada” intelectual e  científica um conceito da natureza para (tentar)explicá-lo:a pulsão.

De um lado temos então a socio-psicologia e de outro Freud a pulsão.

Proximo artigo(quando será?)

 

A sociologia venceu o marxismo

 

Quem venceu a batalha das idéias no campo social foi a sociologia,não o marxismo.Mais do que isto a socio-psicologia é a que faz a ligação entre a s explicações cientificas e o comportamento coletivo e individual da humanidade.

Em artigo passado eu critiquei alguns colegas meus do passado(hamilton)e outros do presente(Safatle)que respondiam à derrota de Lula e de Dilma com explicações a meu ver parciais,calcadas em padrões aristotélicos ,incapazes de identificar tendências  e descrever os fenômenos sociais com amplitude.

A dialética e o marxismo não acrescentam nada a esta avaliação do legado aristotélico ,que serve para algumas coisas,mas não entra no mundo complexo e principalmente sequioso de democracia e igualdade de hoje.

Outro dia vi uns vídeos de José Paulo Netto,um dos grandes de minha época  que ainda está aí felizmente(Konder já se foi ,bem como Carlos Nelson Coutinho).

Neles José Paulo critica estas “ novas” ciências,antropologia,sociologia e mais uma outra que não estou lembrando,de terem sido criadas com propósitos de justificação da hegemonia burguesa.

Isto é fato sim:a antropologia surgiu como uma forma de justificar o neo-colonialismo,afirmando a superioridade da raça branca européia e seu dever civilizatório.

No caso da sociologia,surgiu como técnica investigativa,quando a burguesia quis identificar os problemas da classe operária que se revoltava e pôs Frederick Le Play para anotar suas queixas .A partir daí a sociologia teórica e praticamente se constituiu profissionalmente.

Mas tanto no caso dela como no da antropologia os objetivos iniciais foram substituídos por fundamentos científicos sólidos.

Aprofundarei esta questão em artigo próximo,mas agora,no atual eu devo dizer que isto se dá,ou seja,a validação estas ciências, porque a burguesia também é humana e o seu diálogo com as outras classes é humano,dirimindo os muros de classe.

Ainda que a finalidade hegemônica seja verdade e se manifesta constantemente em muitos exemplos,por debaixo da politica,do processo politico, há algo transcendente e permanente ,que a ciência pode e deve explicar.

Tirando a inferiorização de outros povos a antropologia trata pela primeira vez do homem como um todo,em todos os lugares.Isto já a valida,para além da burguesia.

A idéia de ouvir a classe operária para ouvir-lhes as queixas e mantê-la no mesmo lugar,acabou,de plano,já a colocando um pouco acima deste lugar,no que é o começo de sua ascensão.