sábado, 30 de dezembro de 2023

tradução do livro de Tsiolkovski de 1903


Os mini-balões com instrumentos automáticos de observação subiram apenas a uma altitude de não mais do que 20 verstas.Dificuldades para levantar balões cresceram extraordinariamente rápido com o crescimento da altitude.


Em torno a Freud I

 

Os meus textos sobre um dos cinco judeus de minha vida retornam tratando de todo o Freud,sua obra completa.Mas eu parara nos estudos sobre o importantíssimo texto “Para além do Principio do Prazer”.

Até as minhas análises sobre o materialismo e o imanentismo não havia ainda entendido este titulo,mas então um insight mo revelou:o prazer é o limite material da existência.Além dele é a razão,a alma ,algo que não se reduz à matéria ,mas que não prescinde dela para existir ,num paradoxo que identifiquei no livro sobre os dois temas supraditos.

É neste texto de Freud que a s coisas ficaram claras para mim.O limite do ser humano é este desejo orientado para uma determinada finalidade(libido),mas nec plus ultra ?

O homem tem como controlar o desejo,mas não tem como apartar-se dele.No entanto,ao longo do tempo,de Buda até Freud,passando por Cristo,persiste o sonho de não ser “ tocado”,porque o desejo é base de toda a frustração e dor da humanidade,por ser também impossível de realizar integralmente.

Em Freud a orientação da libido se dá no nascimento da consciência, que por sua vez, já é ,no seu  momento inicial,uma limitação ao desejo,quando de fora para dentro se ouve um (primeiro) “não!!” .

A busca do desejo é o prazer e aqui já há uma distinção entre estes dois termos.O desejo sem orientação é o quê?Prazer puro?Ou oscila entre o nada e a sua distorção?

O certo é que o prazer pelo prazer é o vicio que domina o desejo e o ilude permanentemente.

Este “ permanentemente”,a continuidade do desejo,do prazer,Freud usa para mostrar a possibilidade de apartação  entre a consciência e o desejo,entre o desejo e o prazer,pondo o problema de se a “ alma” existe.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

A matemática de O Capital I


Inicio aqui uma série sobre a explicação e comentário sobre “O Capital” de Marx privilegiando a matemática,que,naturalmente,ocupa um  lugar decisivo no processo de sua explicação.

Sempre fui muito ruim em matemática.Mal comparando(kkkk),sou como santo Agostinho,que nunca pode ler Aristóteles no original porque nunca aprendera o grego e passou a vida tentando corrigir esta “ falha”.

Eu,por meu lado,creio ter tido mais sorte(em termos ,porque dei um duro danado),porque depois de muitos anos de esforços,não me tornei um matemático,mas pude compreender alguns problemas postos pelas ciências,os quais necessitam de uma mínima compreensão nesta matéria.

Usei o principio de que por mais hermético que seja um saber ele tem uma tradução humana possível,na medida em que o mundo não é fechado,havendo várias vias para se chegar a este conhecimento.

Aprendi tal coisa no meu oficio de professor:diante de minhas dificuldades eventuais e dos alunos busquei estes outros caminhos e fui em grande parte bem sucedido.

Em outro texto explicarei como o fazia,porque agora desejo expor algumas dúvidas sobre O Capital o qual tem sido analisado por mim em inúmeros textos e livros.

E a matemática oferece oportunidades mais profundas para entender a profundidade deste livro.

O primeiro problema que me chamou a atenção sempre de leitor constante(a vida toda)de O Capital é o do capital constante(c) ser reduzido a zero por Marx na análise do processo de produção das mercadorias.

Naturalmente eu não entro sozinho nesta “selva selvaggia”(Dante):uso ajuda também de um autor de esquerda bastante crítico e afamado na década de 60 do século passado:Paul Sweezy,em seu livro “Teoria do desenvolvimento capitalista”.

Na tradução brasileira ,na página 91 diz ele:

“Várias observações devem ser feitas em relação a essa razão. Em primeiro lugar, ao identificar diretamente a mais-valia com o lucro, estamos supondo que nenhuma parte dela terá de ser paga ao proprietário da terra na forma de arrendamento ou renda. Marx mantém essa suposição até a Parte VI do volume III de O Capital, onde pela primeira vez apresenta o problema da renda. Esse procedimento ele o explicou numa carta a Engels, em que expunha um esboço preliminar de O Capital. “No total dessa parte [na época denominada “Capital em Geral”] . . . a propriedade da terra é tomada como = 0; ou seja, nada tem, ainda, com a propriedade da terra em sua condição e relação econômica. Essa é a única forma possível de evitar o trato de tudo, em cada relação particular.” 91 Estando fora do alcance limitado deste livro a discussão da teoria da renda, seguiremos a suposição em questão em todo o presente trabalho.”

E mais acima:

“Marx escreveu quase sempre com a suposição simplificadora de que a taxa da mais-valia seja a mesma em todos os ramos da indústria e em todas as firmas dentro de cada indústria. Essa suposição implica certas condições que não se consubstancia, senão parcialmente, na prática. Primeiro, deve haver uma força de trabalho homogênea, transferível e móvel. Essa condição já foi examinada detalhadamente em conexão com o conceito de trabalho abstrato. Quando satisfeita, podemos falar de “uma concorrência entre os trabalhadores e um equilíbrio por meio de sua emigração contínua, de uma esfera de produção para outra”. 8U Segundo, cada indústria e todas as firmas dentro de cada indústria devem usar exatamente o total de trabalho socialmente necessário nas circunstâncias existentes. Em outras palavras, supõe-se que nenhum produtor opera com um nível técnico excepcionalmente alto nem excepcionalmente baixo. Na proporção em que essa condição não for satisfeita, alguns produtores terão uma taxa mais alta ou mais baixa de mais-valia do que a média social, e essas divergências não serão eliminadas pela capacidade de transferência e mobilidade do trabalho entre ocupações e firmas.

É importante compreender que a suposição de taxas iguais de mais-valia se baseia, na análise final, em certas tendências muito reais da produção capitalista. Os trabalhadores realmente passam das áreas de baixos salários para as de altos salários, e os produtores procuram aproveitar-se dos métodos técnicos mais avançados. Conseqüentemente, a suposição pode ser considerada como apenas uma idealização de condições reais. Como disse Marx:

“ O Capital, III, p. 206.

M A1S-YALIA li CAPITALISMO 95

Essa taxa geral de mais-valia — uma tendência, como todas as leis econômicas — foi suposta para uma simplificação teórica. Mas, na realidade, constitui uma premissa verdadeira do modo de produção capitalista, embora seja mais ou menos obstruída pelos atritos práticos que provocavam localmente diferenças mais ou menos consideráveis, como o estabelecimento de leis para os trabalhadores agrícolas ingleses. Mas, na teoria, é hábito supor que as leis da produção capitalista se desdobram na sua forma pura. Na realidade, porém, há apenas uma aproximação. Mesmo assim, essa aproximação é tão grande que o modo capitalista de produção se desenvolve normalmente, sendo superada a sua adulteração pelos remanescentes de antigas condições econômicas. 80”.

E em outro passo:

(...)Marx supõe que todo capital tenha um período de recuperação idêntico de um ano (ou qualquer outro período de tempo escolhido dentro dos objetivos da análise). Isso deixa implícito que o processo demanda um ano, que o material, maquinaria e capacidade de trabalho adquiridos no início do ano estão esgotados no final, e que o produto é então vendido e todos os investimentos recuperados, com o acréscimo da mais-valia. Isso não quer dizer que Marx ignora a questão ligada aos vários períodos de recuperação, tal como não ignora os problemas da renda. Pelo contrário, uma grande parte do volume II é dedicada às complicações provocadas pelas diferenças de período de recuperação dos diversos elementos do capital. Mas aqui, novamente, a fim de limitar o âmbito de nossa exposição e focalizar nossa atenção sobre os elementos essenciais da teoria, conservaremos a suposição acima mencionada durante todo o presente trabalho.”

Esta última observação,embora anterior às outras duas é a que eu uso para dar a minha visão ,coisa que eu já venho dizendo e anunciando nos textos citados acima e anteriormente:

Marx,ainda que tenha criticado décadas antes o “ Tableaux Economique” de Quesnay,por admitir uma homogeneidade de todo o sistema econômico,criou outra,a partir da dialética.

E em todo o Capital se vê como isto não tem conexão com a  pratica,porque os vários setores da produção econômica capitalista,em seus mais diversos aspectos,apresentam um caráter diferenciado no tempo ,no movimento ,não podendo justificar uma certeza absoluta de homogeneidade do sistema.

Marx nunca negou isto,mas oscilou sempre entre esta perspectiva homogênea e outra tendencial,variável,sem se desatar.

E além do mais e aí é que entra a matemática, o uso do cálculo diferencial e integral preconiza que no inicio da série infinitesimal(produção de mercadorias) o ponto de partida é zero como na equação:

A coordenada básica do cálculo é que no tempo,em qualquer análise de uma realidade complexa e infinita,como a produção de mercadorias (se é que é infinita) se não s e começar do zero não se há de extrair uma tendência ,um  sentido inteligível.Isto é sim uma influência da dialética como pretensa ciência(mas que é filosofia)na ciência,que não tem a obrigatoriedade deste prévio compromisso,porque(e é verdade)tal elo distorce a realidade.

Este zero é mera suposição e abstração.Mas na realidade não é deste modo.

domingo, 3 de dezembro de 2023

Trecho dos meu comentários sobre O Capital de Marx

 

Conforme a definição do próprio Marx o capital fixo são as máquinas,os lugares,os insumos necessários para se fazer algum bem;o capital variável é o salário,com o qual o capitalista retira a mais-valia e o seu lucro.

O capitalista antecipa os seus custos do capital constante e espera obter uma mais-valia que lhe permita não só obter o seu lucro(taxa de lucro),pela  mais-valia relativa, o trabalho socialmente necessário (no tempo lembre-se)para obtê-la.

Quando ele empata o seu capital  ele não tem nada ,então tudo s e reduz a zero 0.

Assim sendo,diz Marx,sendo 0 o c o capital adiantado é reduzido a  v  e o valor do produto a (c+v)+ m(mercadoria) ao produto do valor ou (v+m).Se o produto do valor é de 180 libras no qual está contido o tempode trabalho necessário paara  produção do bem temos que descontar ,de plano,o capital variável v(salários) para obter o mais-valor.Se os salários são cobertos por  90 libras sobram de mais-valor,90.Este valor correspondente a m(mercadoria)é ,para Marx,a grandeza absoluta do mais valor,mas s sua grandeza proporcional,isto é,a “ proporção em que s e valorizou o capital variável”,que é definida pela relação da mercadoria com os salários m/v é chamada por ele “taxa de mais-valor”.

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

O despertar da besta triunfante

 

O drama da igualdade e da desigualdade

Kruschev ao fazer a desestalinização em 1956 incorreu na ira de Mao Tsé-Tung,que não a aceitou.

Na primeira visita de Kruschev à China,Mao fez questão de mostrar esta discordância, humilhando o premiê soviético,fazendo-o nadar na piscina,com uma bóia,como se fosse uma criança....

Nas suas “ Memórias” Kruschev observou certos erros de Mao na hora da condução do “ Grande Salto para  a  Frente”,os quais ele vira também na “Coletivização Forçada” de Stalin:Mao afirmou(e também Stalin),contrariando o fundamento do comunismo ,que a idéia de “cada uma segundo a sua capacidade e cada um segundo sua necessidade” era essencialmente “ burguesa” e que por isto todo o processo de construção do socialismo deveria  seguir um rígido igualitarismo.

Até aos dias de hoje esta distorção do pensamento comunista,que Marx não aceitava e não preconizava(Critica ao Programa de Gotha)segue sendo a “ base” do “ pensamento” destes radicais de esquerda ,alguns que vêm aqui para me jogar pedras,sem nunca ter passado da orelha de seus livros(como é o caso de Mao-Tsé-Tung(e porque não Kruschev,que aprendeu na prática o erro destas premissas.)

Kruschev “aconselhou” Mao a não entrar por este caminho e a reconhecer as diferenças entre as pessoas,os trabalhadores.

Na  perestroika,Gorbachev desejava reconhecê-lo ainda de modo mais profundo e a sua implementação ,num sistema já quase paralisado,o pôs abaixo,por razões que eu não vou discutir aqui,mas em outro texto.

Da leitura da “Ideologia Alemã”,na parte referente ao comunismo,se depreende que Hannah Arendt tinha razão ao associar o comunismo em geral e a proposta de Marx em particular ao liberalismo(em seu livro “A Condição Humana”):no fundo o que Marx quer é que cada homem tenha condição de ser livre individualmente.A luta é coletiva,não coletivista ;é o objetivo para todos,mas não igualitariamente,porque as pessoas são diferentes.Este Ideal é para todos e tem que mudar o modo-de-produção.

É como dizia o dramaturgo brasileiro Jorge Andrade: “libertar o homem do homem”.Este projeto é liberal e todas as correntes contestatórias,socialistas,anarquistas e comunistas o querem igualmente.

No inicio da atividade revolucionária e de construção da utopia admitir a desigualdade é ruim,mas a médio prazo se não o aceitar o sistema cai por terra.

E é fácil falar nas diferenças quando se está por cima,à frente dos outros,mas aquele que está atrás,se ressente .É sabido que os países menos invejosos são os que distribuem melhor a renda e em que a distância entre as pessoas é menor,bem como o usufruto das benesses da produção são divididos por cima e por quase toda a sociedade(quase).

A consequencia de tudo isto é que há uma discrepância evidente entre o pensamento comunista e socialista original e a de comunismo identificada com o socialismo real,que é mais afeito a uma religião cientificista,objetivista e atéia(outra contradição terrível).

Nesta predomina  o principio de “dividir a escassez”,os poucos bens  de que todos dispõem.Como ordenou Ananias ,confessor e batista de São Paulo,às comunidades cristãs do primeiro século.

Mas isto não tem  nada a ver com o comunismo,no sentido de Marx e ,portanto,a liberdade individual,de progredir,não é uma contradição com a  idéia e nem ,muito menos,uma traição aos outros,à comunidade:progredir individualmente é pressuposto,sine qua non ,da utopia.


quarta-feira, 29 de novembro de 2023

As lições dos estóicos

 

Como se sabe a base filosófica do cristianismo e um de seus elementos formadores é o estoicismo,principalmente o conceito de ataraxia.

Este conceito foi emitido por um dos seus fundadores,senão o seu fundador, Zenon de Cicio.

Por ele entende-se que a pessoa deve ter imperturbabilidade diante do sofrimento.Dele derivam dois problemas inter-relacionados:o que é esta impertubabilidade e como consegui-la.

Ser imperturbável diante das coisas ruins que s e apresentam diante de ti,como aconselhava um dos próceres estóicos,Epicteto(um dos maiores)é algo não muito difícil,mas o mais candente é enfrentar a  dor física,objeto de análises de Marco Aurélio e Epicuro.

Extrair da dor uma lição.

Da  questão da dor especialmente eu vou tratar em outro artigo,muito embora tenha a ver ,claro,com este atual que escrevo,mas como demanda mais esforços de compreensão e argumento,farei assim.

Aqui quero trabalhar com a intersecção entre o estoicismo pré-cristão e o cristianismo,na sua contribuição para formar o mito de Cristo.

O estoicismo é uma filosofia pré-cristã sem dúvida e ela ajuda a compreender a noção que subjaz à ataraxia,que é “anular-se a si mesmo”.

Esquecer-se  de si é uma noção que vem do pensamento oriental e adquire cristalização na figura do Buda,que quer algo semelhante ao estoicismo:superar a dor matando o desejo.Estas verdades vão ter reflexo no c ristianismo e  em Cristo através de uma visão mais radical do que a superação do desejo:o sacrifício,o auto-sacrificio.

Neste momento as tradições oriental e ocidental se juntam num ponto pela negação do desejo e do prazer,como célula motora da humanidade.

É isto o que eu desejo ressaltar:sempre o desejo foi tido como o elemento motivador,mas há nestas duas tradições,quando se unem ,uma inversão total da “ espoleta”da centelha,que é algo fundamental na história da humanidade, a partir desta interseccão.

A partir deste aprofundamento:aquilo que era ataraxia nos estóicos tornou-se sacrifício e auto-sacrificio no cristianismo e no protocristianismo dos mártires judeus.

Esta “mudança” é muito importante e explicita aquilo que quero dizer aqui.O aprofundamento significa uma atitude um poco mais “ coletiva”do que a simples | “imperturbabilidade”.Esta é mais pessoal,mas intima,indireta,só chegando aos olhos e ouvidos da comunidade através de textos,exemplos pessoais e assim por diante.

Através do martirológio judeu nota-se que ele serve de exemplo mora,ético e educativo para a comunidade.O martirológio judeu “ ensina” e  “ educa” a comunidade para manter o seu sentido.

Além de criar o mito da morte,como sacrifício e ensinar,pela primeira vez,à humanidade,que se deve saber morrer,que se deve “usar” a morte para fins sociais,morais e até políticos.

É neste passo histórico que se cristaliza o (auto-)sacrifício.Há,no entanto,outra questão,que vai se sincretizar em cristo:o papel educativo e psicológico deste auto-sacrificio.

Enquanto nos estóicos era a resistência à dor ,agora é “ ressurgir”,fazer do auto-sacrifico um meio de espicaçar as resistências psicológicas e superá-las pela continuidade do esforço.

Embora no cristianismo a promessa pelo sacrifício seja o da “ ressurreição”,em termos laicos,nós podemos entendê-la como superação das resistências psicológicas,no que é um modo de (auto-)educação.

Às vezes a crueldade do meio nos ensina,mas não raro,nós mesmos temos que ser cruéis conosco.

domingo, 19 de novembro de 2023

Minha Enciclopédia


 

Enquanto digitalizo a enciclopédia que me formou,conforme eu disse no artigo anterior,alguns dos seus verbetes ,que eu guardo na memória (e no coração),vão ser expostos e explicados aqui,sob estes vários aspectos que eu tenho apresentado constantemente:a influência sobre mim;a emoção;o gozo que é poder aprender com susbtância;a possibilidade de reler muitos destes artigos,ao longo da vida, e ter uma experiência multifacetada nova,acrescentativa e não meramente repetitiva.

Em outros momentos de minha vida, em que narrei a intenção e realizar este trabalho,as pessoas de modo geral viam um exagero em atribuir importância a meros verbetes de dicionários e enciclopédias.

Era motivo de riso e oportunidade para me carimbar com uma suposta incapacidade pessoal de  pensar,de elaborar textos e compreendê-los ,como deve ser o principal atributo de um intelectual profissional.

Mas como o dicionarista Aurelio,eu sempre entendi os termos,os conceitos e definições como um manancial de possibilidades interpretativas e gnosiológicas.Ao ver uma definição  ,a sua decomposição me mostrava um verdadeiro mundo,o qual eu queria seguir,sem poder,porque assim deixaria para trás outros mundos ainda mais sedutores.

Outra  acusação me era feita :aquele que define pura e simplesmente não tem condições senão de “ compreender” superficialmente as coisas e como a libélula,este tipo de pessoa põe a bundinha na agua ,mas não entra nela.

Repito,no entanto,que isto só é válido,esta critica só é válida,para aquele que decora o significado básico da expressão.Aquele que,tendo fundamento filosófico,sabe o que é uma definição,tem chance de ir para a frente,como eu fiz a vida toda e faço agora de modo ainda mais complexo.

Aliás a rejeição atual da definição por parte dos intelectuais “ profissionais” da academia,os “ scholars”,cuja natureza e razão de existir eu já expliquei em outros artigos,é para manter os seus pupilos dependentes destes “ novos sábios”de nossa época,os novos “ mandarins”,porque a difusão da capacidade de definir,permite que qualquer pessoa possa produzir conhecimento,não somente esta casta.


sábado, 18 de novembro de 2023

Corte epistemológico


Eu inicio agora uma nova série,que há muito venho planejando:a série sobre itens e verbetes de dicionários não só de língua portuguesa,mas também dos científicos.

O primeiro item é de filosofia:o famoso corte epistemológico,que é criado  por Gaston Bachelard e que se refere à história da ciência,ao modo como ela é produzida.Segundo ele a ciência se faz por “ cortes epistemológicos”,rupturas constantes entre um saber anterior e outro que nasce de sua crítica,de sua superação.

Contudo,esta conceituação não esgota o problema do “ corte epistemológico”,que tem,como noção polissêmica,vários significados.

Historicamente o corte epistemológico nasce num dos prefácios de Engels ao terceiro volume de O Capital,quando ele compara Marx e Lavoisier,que tinha “ fundado” a química,com o uso da balança.

Esta idéia ,a respeito de Lavoisier, foi propagada por ele mesmo(Lavoisier) e pelo papel cientifico nacional francês que ele desempenhou,ou seja,para conferir um significado decisivo maior à sua contribuição e à de seu país no plano histórico e produtivo de avanço da ciência ,com suas consequencias econômicas conhecidas.

O mesmo queriam Marx e Engels.Mas este “ corte” não existe da forma absoluta que se  pretende:muitas águas rolaram até que pudéssemos nomear uma ciência de química( e olhe lá).

E também a acepção de corte epistemológico que mais perdura na história da ciência é aquele que nos remete à Kant,quando determina que a subjetividade constitui os setores de conhecimento no real.

Às ilusões hegeliano-marxistas, Kant propõe não um conhecimento cientifico geral,mas construído  permanentemente  e aí o próprio conhecimento “ padece” de um movimento  que põe as suas conclusões sempre em xeque ,o que nos faz concluir que há uma ponte entre Kant e Bachelard.

A questão do corte epistemológico, a sua importância capital como problema,está em induzir a todos a pensar que não há conhecimento durável,o que é uma crítica de Hegel(e Marx[?])e sua(-s)aufhebung .

Assunto para um próximo artigo.

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

(meus)comentários ao Capital


Prefácio

A decisão de  escrever livros e artigos sobre o capital não é na verdade uma decisão,mas uma imposição existencial complexa.Eu ouço falar do capital,na minha casa,desde o útero.

E quando caí do berço a situação não foi diferente:ouvia meu pai falar do capital,com o livro,como se fosse uma biblia(ele que se preparara para ser pastor),quase todo dia e tinha,às vezes,que parar o joguinho de botão no chão para ouvi-lo explicar a teoria.

Como consequencia,estudei este livro,intermitentemente,a vida toda.E continuo.E talvez o meu fim terreno me colha ainda nestes estudos...

O Capital é um livro enorme,mas dentro do método e das proposições de Marx não passa de um fragmento e os estudos que lhe correspondem provavelmente o são.

Num determinado momento a compreensão se deu inteiramente ,seguindo os passos do autor e este caminho é um caminho intuitivamente idêntico ao processo racional de construção desta explicação,encetado por Marx desde a Miséria da Filosofia.

Levando em conta a mediação da dialética,que segundo Marx conduz o movimento do real e do capital,são duas as pilastras  do estudo do Capital:o método de abordagem e o objeto propriamente dito,o capital.

Mas se levarmos em conta também que o próprio método está eivado de movimento dialético nós poderiamos pensar que em determinado momento o método e a realidade se tocam e é verdade,mas é aí que os problemas aparecem:porque se é assim ,s e há esta continuidade nós teremos que lembrar o caráter dubio da dialética hegeliano/marxista que confunde o modelo explicativo do tempo com o tempo mesmo.Melhor o movimento.

Se há esta interligação  ela é dialética ou temporal?Marx responderia ser um falso problema,mas ela é um modelo de explicação que explica o movimento ou é o movimento  mesmo?A resposta óbvia a esta questão é que o modo de abordagem não se encaixa perfeitamente no real e o investigador tem diante de si uma realidade complexa que ele pensa abarcar coma a dialética,pensando nesta pura adequação.

Como já explicamos em outros textos a dialética não pode ser o movimento,porque se assim fosse as suas “leis” do movimento seriam algo além do movimento,modos de movimento que não seriam leis propriamente ,mas modos somente.

Afirmar estas leis,como absolutas,totais,têm um caráter interpretativo,mas que se arrogam um absoluto,definitivo.

Esta interpretação,mal auto-reconhecida,é o método que não s e interliga com o real,mas que o aborda.

Esta premissa é fundamental para nós analisarmos daqui por diante o Capital e elas voltarão na conclusão.

sábado, 4 de novembro de 2023

Como ler Hegel hoje

 Uma vez que fica estabelecido uma vez por todas que não existe uma dialética no(e do) Ser ou muito menos uma dialética objetiva,como se deve ler Hegel?E porque não Marx?É de se pensar que se aquilo que eles consideravam essenciais nas suas teorias e textos não tem esta validade,todo o sistema rui por terra e é quase isto,mas ,como eu disse,em outro texto,no caso de Hegel,sobra a fenomenologia.

A fenomenologia sobreviveu até aos dias de hoje.Hegel permanece como filósofo por ela,mas Marx ,que se considerava só um cientista, o que sobra dele?

Tratarei agora só de Hegel,depois do outro.Existem autores que abordam aquilo que sobreviveu em Hegel,especialmente a ciência da lógica .Alguma coisa sobreviveu deste livro,que perdeu em grande parte o seu valor ,o seu significado.

Relembrando o que eu disse no outro artigo ,a diferença entre a fenomenologia do espirito e a ciência da lógica  é que Hegel põe na substância do Ser,na sua materialidade,o principio da contradição,como se esta fizesse parte do Ser,de tudo.

A essência do Ser é aquilo que o diferencia de outro Ser ou o põe nos seus padrões próprios,já que não há singularidade.A essência do Ser são os seus atributos distintivos,mas a substância é o seu contato com o mundo,com o Ser ou tudo aquilo que existe.

Inserir na existência a contradição como motor de seu movimento é algo que diferencia o Hegel da fenomenologia  do da ciência .

Porque na  fenomenologia a  interpretação ,a construção de códigos explicativos do real,é permitida,enquanto que na  ciência a adequação entre o discurso e o real é exigido.

Uma das coisas mais geniais de Hegel é dizer que,pela dialética fenomenológica o sujeito não é observador somente do Ser,mas é o Ser,parte dele,no movimento.Só assim entendemos a integração sujeito\objeto na dialética,no movimento dialético.

Contudo,num segundo momento do movimento dialético,no processo do movimento se destaca a sua consciência,que é algo distinto do movimento,embora movimento.Ao fazer esta integração famosa Hegel comete um estupro,porque no real não há um “encaixe”,absoluto.

Aqui assiste razão à Garaudy em dizer que o deus de Hegel não existe e que ele o matou.E há uma semelhança entre esta concepção e as tentativas de Descartes de colocar Deus como garantidor e sustentador das relações sujeito\objeto,dicotomia criada por ele.

O movimento acaba com deus,mas ele não é absoluto,não é um deus também .Hegel  diviniza o movimento,torna-o pensamento mágico,quando o absolutiza.

Sabemos que o que afastou Hegel da fenomenologia foi a visão do imperador Napoleão em Iena,em 1806.Como portador dos princípios e valores da Revolução Francesa,Napoleão representava a comunidade universal,proposta pelos “direitos do homem e do cidadão”.Esta proposta era(e é)para toda a humanidade e o périplo napoleônico “ parecia” incorporar toda a sociedade neste projeto.Pela primeira vez na humanidade uma pessoa encarnava um período,uma época.Daí veio a epocalidade,este conceito que  se traduz na linguistica,entre o sujeito e predicado.

Tal não é verdade,mas parece o ser por causa da dinâmica da época,que era esta luta.Algo mais do que o movimento não era explicável e por isto Hegel se colocou na perspectiva racional de explicar tudo por este seu “ racionalismo{aristotélico}dinâmico[absoluto]).

A linguagem trivial ainda não existia(embora Habermas tenha entrevisto uma possibilidade)e tal limitou a ele e a seus seguidores,como Marx.

Mas a Ciência da Lógica pode ainda ser lida,se retirarmos estes seus elementos substantivos,esta essência contraditória que pretende se integrar num movimento real inexistente .Transformando a ciência numa fenomenologia ou numa interpretação rigorosa ,é possível tirar-lhe algumas lições ainda ,bem como de toda a ciência.

 

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Cosmos II

 Continuando a série,lembro-me que quando lecionava filosofia e falava sobre Kant eu exemplificava a sua filosofia de uma forma muito tradicional:a filosofia de Kant é como uma urna misteriosa que chega à praia,vinda do mar,sem nada gravado nela.O sujeito que a toma nas mãos escreve nela o que bem entende,para lhe dar um significado ,para si e para os outros(e para a vida).



O Mapa de Marte que se vê acima e que eu já colocara no primeiro artigo pode bem ser esta urna e a explicação do sistema de Kant tem como ser feita olhando-o.

Contudo esta utilização torna um exemplo simples em algo mais complexo,porque aí se trata de construir subjetivamente uma nva vida em um novo lugar.

Isto se coaduna com os meus textos sobre Kant,especialmente o último em que falo do caráter transcendental a posteriori de sua filosofia.

Rejeitando o Eu Transcendental de Husserl e as visões aprioristicas de Kant ,penso que jháum transcendental que não rejeita a experiência,antes a utiliza para projetar uma nova realidade.

Assim,olhando para estas regiões do planeta vermelho,o ser humano inventa uma nova vida,mas baseada nas suas experiências passadas as quais serão deixadas de lado ou usadas para este futuro.

Em determinado lugar edificarei minha casa ,coma minha família.Em outro estará meu trabalho.Tudo isto não saberei como será,mas está aqui na minha mente a ser posto lá na futura urna da humanidade.

Junto com estes artigos desta série eu colocarei aqui ,aos poucos,a minha tradução de Tsiolkovski,mais precisamente de seu livro “Investigação do Espaço através de veiculos Reativos”,de 1903.Farei também comentários.



Olinto de Pretto

 

As pessoas dizem que sou pretensioso,que acho que sei tudo,mas uma das coisas mais gostosas da vida é aprender sempre e na velhice você adquire uma certa base e identifica melhor aquilo que de novo aprende,no dia a dia.

Até ao último domingo eu nunca ouvira falar neste nome aí do titulo.Ele me chegou através de um dos meus contatos no Facebook,o do fisico e principal discipulo de Carl Sagan e continuador da série Cosmos,Tyson,que trouxe esta figura e o problema de um possível plágio de Einstein.

Explicando:em 1903 este Olinto publicou um texto em que relacionava a matéria no seu movimento na velocidade da luz teria energia cinética igual a mv2.

Ora,para quem conhece isto ,tal fórmula é nada mais nada menos do que aquela proposta dois anos depois por Einstein,e=mc2.Teria Einstein plagiado este ilustre desconhecido até agora?

É uma discussão de que tratarei depois,mas isto confirma o que eu tenho dito aqui,seguindo os estudos de tantos epistemólogos nos últimos 100 anos:as descobertas cientificas não são feitas por uma única pessoa,mas por coletivos não necessariamente conectados que se debruçam sobre desafios de sua época.

No entanto ,agora neste artigo,quero tratar de um outro aspecto do problema geral da relatividade.

Este Olinto de Pretto descobriu neste mesmo texto a força do átomo,a força desta energia.

Sempre soube que esta força foi conhecida pelos fisicos desde o inicio.Por isto eu ainda não estou certo de que os motivos pelos quais os alemães não construíram a bomba,não passaram por uma postura desviacionista de Heisenberg.Uma postura consciente.

Nos últimos anos,mas com base no que os americanos viram em 1945 do propalado programa nuclear nazista,levanta-se a certeza de que foi um erro de cálculo o que o atrasou felizmente.

Não me sinto convencido de que os fisicos alemães,Heisenberg à frente,se enganaram na quantidade de urânio para fazer o artefato.

Além do conhecimento que se tinha das possibilidades de liberação de uma enorme energia,em 1939 a pilha atômica,de grafite,já mostrara as condições de controle da reação nuclear e não há porque acreditar num erro grosseiro deste tipo.


quarta-feira, 25 de outubro de 2023

A má consciência do marxista ortodoxo

 Porque não possuo mestrado ou doutorado não escrevo nesta nefanda revista Terra é Redonda,mas sou obrigado a receber artigos de pessoas que escrevem lá e que ,naturalmente,no minimo,estão fazendo doutorado.

Como é o caso do Sr. Mateus Silveira,já meu conhecido do facebook,de muitos anos.Ele me enviou ontem um artigo sobre classe média e ressentimento,repetindo coisas que eu cnheço há mais de trinta anos:acusações a esta classe de sofrer de ressentimento e servir de apoio à “ exploração burguesa”,etc.,etc,o receituario comum do marxismo ortodoxo,que não muda de jeito nenhum.

É aquele velho milenarismo,o enclave religioso no marxismo,que eu já expliquei tantas vezes e que estabelece quem são os “ eleitos” do futuro,como fazia e faz a religião em todas as épocas.

Eu publiquei um livro recentemente sobre classe média,que eu não sei se este senhor e a revista nefanda tomaram conhecimento,mas lá eu trato dos fundamentos desta besteira recorrente:talvez o próprio Marx tenha s e sentido um pouco deslocado em defender o caráter essencial da classe operária como fautora da Revolução salvadora.Ele era pessoalmente de classe média e possivelmente inventou que o trabalhador de classe média produzia mais-valia(vol.II de “ O Capital”)quando recebia salário.

Assim o sentimento eventual de culpa de Marx de ser beneficiário da exploração acabava.Contudo,seu amigo pessoal Bernstei,n mostrou-lhe a falácia deste argumento:ou pelo menos eu entendo assim.

Marx não tem uma relação total com Kant na medida em que ele entende que o mercado não é o paradigma da humanidade,a partir do reconhecimento da capacidade de escolha do homem,quanto às suas necessidades.

Marx é materialista e deriva o seu materialismo da “Filosofia do Direito” de Hegel,principalmente do sistema de carecimento.

E é por isto que na “Contribuição à Crítica da Economia Politica” ele “localiza” tudo na produção .

Há certos carecimentos que são inarredáveis.Não são passiveis de escolha e marcam o grau de independência de um povo e são a base do comunismo,na sua acepção real(não socialismo).

Isto não é uma escolha kantiana,nem uma afirmação definitiva do mercado como instãncia da liberdade.Marx tem razão aqui.

Tais afirmações básicas já estão na “ Miséria da Filosofia”e é em razão disto que ele escanteia esta dicotomia da “ oferta e da procura”:ela é falsa por natureza ou limitada pelo problema definitivo da capacidade produtiva.

Contudo, estas afirmações verdadeiras limitam a sua tentativa de incluir o assalariado em geral no grupo de trabalhadores aptos a construir o comunismo:é aí que entra Bernstein em seu “Socialismo Evolutivo”,mostrando que certas industrias são inarredáveis.Não são todas as industrias que produzem mais-valia.

O capitalista usa outras formas de obtençao de mais-valia para o seu “ jogo de exploração”:o capital variável,venha de onde vier “ colabora”.

Mas a origem da mais-valia vem deste nucleo inarredável aí.Uma industria de camisa de jogador de futebol produz mais-valia,mas ninguém vive independentemente por uma industria deste tipo,pois será sempre dependente da contribuição essencial de outros lugares.

Os países nórdicos ,por exemplo,não têm estas industrias e portanto o comércio é fundamental para a sua existência.Não têm ,pois,condição ,de por si mesmos,produzir o comunismo.

Tal discussão quebrou a cabeça do último Guevara,o qual perdeu sua posição na Revolução Cubana,por suas concepções a respeito.

O Japão conseguiu sair do feudalismo para a era industrial imitando a industria ocidental,mas precisa de matérias-primas,porque no seu território não tem nada.

Em vista do monismo marxista o ortodoxo de modo geral confunde o problema econômico com a questão pessoal.

Este tipo de acusação me é feita frequentemente,mas eu é que separo os conceitos,não os meus críticos,como este senhor Mateus Silveira(e Terra é Redonda).

Não importa a maneira como uma determinada classe social se comporta culturalmente em certas épocas,importa o papel que ela exerce na economia.

É certo que no inicio do século passado as classes médias apoiaram o fascismo,mas outras defenderam o estado de direito,que permitiu a liberdade dos comunistas de atuar ainda hoje(dentro de uma kombi).

A realidade é dinâmica:os ortodoxos no fundo,seguindo Hegel,pensam que acompanham o movimento,mas ,na verdade,se paralisam,que é a bestimung (destinação)da dialética hegeliana.Pior do que isto:é o retorno ao passado ou ficar nele ,sempre,achando que está no futuro.

Mesmo no tempo de Marx não há como pensar numa sociedade que prescinde do trabalho da classe média.A crença estúpida de Marx(e de outros)de que a vinda do “ comunismo” acabaria com a necessidade destas atividades já era tola no periodo em que “ formulou” tais bobagens:duas partes do pensamento de Marx( e de Lukacs)são as coisas mais idiotas que eu já pude ler, a questão do trabalho produtivo e a consciência de classe.

Ambas foram desmentidas fragorosamente nos anos de sua vida:as reflexões de Marx sobre a Comuna de Paris não levam em conta aquilo que já era percebido por todos:a Comuna só teria chances razoáveis de sucesso se a França toda como nação estivesse empenhada em participar da Revolução.Não sei como isto escapou à Marx,em “ A guerra civil em frança”.

Não é uma caracteristica inarredável da classe média ser ressentida e ficou claro desde a parte final da vida de Marx que era inevitável o seu crescimento:não tem anda a ver com um propósito malévolo da burguesia “ crescê-la”,como aparato justificador da burguesia.

A ascensão histórica da burguesia não se deu como conspiração e não foi totalmente ilegitima na marcha da liberdade.A conspiração da burguesia se fez presente quando ela foi contestada.

O ortodoxo tem tendências deliroides de transferir anacronicamente para o passado o seu modo de interpretação (desta vez) “ cientifica”.

Aquilo que aconteceu no passado não era claro pelos seus atores e só agora se pode saber a causa,como se o passado não tivesse nada.

É o paroxismo de Voltaire que não via nada na Idade Média.É um preconceito iluminista e cientificista.E sobretudo também uma egocentria infantilóide inacreditável.A história convergiu para mim.

O ressentimento atinge não só a classe média,mas a classe operária,que interagiu em todo o lugar da burguesia(leia Hobsbawn meu caro Mateus Silveira),bem como qualquer pessoa e eu especificamente ,que me senti indiretamente citado,deixei este ressentimento de esquerda quando passei a pensar no meu caminho só.

Todos os comunistas que eu conheci ,com exceções(euzinho incluido)eram e são recalcados,ressentidos,com a burguesia,mas o comunismo não é para ter o que burguesia tem, é para liberar o ser humano das amarras que o prendem.Não é a inveja da burguesia que nos move,mas garantir de vez a liberdade humana.



domingo, 8 de outubro de 2023

Interestelar II

 Continuando o artigo anterior vamos explicar os dois principios básicos que permeiam este filme:o paradoxo de schrodinger e a hipotese de Poincaré,que nós já apresentamos.

Comecemos por esta última.Antes ,no entanto,eu quero fazer uma observação quanto a pessoas que me criticam por escrever artigos que eles não entendem:em primeiro lugar eu não sou demagógico e a busca do conhecimento não é.

O que eu faço aqui,como eu já disse,não é senso comum,é saber sim e neste sentido eu não posso vulgarizar o conhecimento,porque isto o distorceria.

Eu simplifico o mais que posso,se realmente for possível,mas não faciltio a ponto de mutilá-lo,esconder suas bases e o distorcendo.

Quem não tem interesse em certos temas que eu trato aqui é só não ler.A coisa mais importante que a pessoa aprende comigo é ser livre.

Só a liberdade de escolher é que facilita o conhecimento,porque ele passa a ser prazeroso,bom e a favor da pessoa e assim é assimilado melhor.

Dito isto vamos à Poincaré:esta hipótese nos mostra,como o experimento de Galileu nas torres de Pisa (que não foi feito por ele,mas por seu discipulo Vincenzo Viviani)ela não é perfeita,porque não há adequação entre a matemática e a física.

A proposta de Poincaré era provar que esta curvatura do espaço e a sua “tendência” ,a tendência dos pontos do espaço de se encontrarem,era matematicamente viavel.Não fisicamente.

Eu tive um professor de pré-técnico,antes de entrar na universidade,que não era bom pedagogicamente,muito pelo contrário,mas me ensinou uama coisa importantíssima,inclusive filosoficamente,quanto à queda dos corpos:as bolas caem simultâneamente em termos matemáticos,mas não fisicos.

Mas se existe uma diferença fisica,por pequena que seja,na queda dos corpos a matemática teria como “ expressar” a diferença,a descontinuidade,o “ desencaixe” entre uma realidade concreta e outra abstrata.

Então,há uma adequação entre sujeito/objeto,entre linguagem e realidade objetiva,desmentindo o que eu tenho dito aqui.

Contudo um elemento me mantém no foco:o tempo.O tempo e o movimento são noções controversas até ao século XVIII e por causa disto a fisica e a matemática sempre tiveram a tentação da imobilidade e do “ encaixe”.

Mas a verdade é que mesmo no passado o tempo foi inegável e é ele que “ garante” a inadequação real entre sujeito/objeto.

A partir desta premissa nós entendemos o que foi dito acima:a matemática expressa estas diferenças infinitesimais e inventou um cálculo para isto.Mas ela não é senão uma “ perseguidora” da “ fuga cósmica”(Carl Sagan)e aí o abstrato e o concreto ,a matemática e a física de Poincaré provam a tendência a se unirem,na natureza e no pensamento humano,mas não realmente,porque o tempo é inalcançável,defintivamente inalcançável.

Vamos ver estes esquemas:

Os dois pontos tendem a se unir(como no filme).


Se os pontos se unissem o universo seria fechado e o movimento acabaria ou se inscreveria aos seus limites,não tendo resposta o que tem além deste “ fechamento”,que seria um bis idem ,um igual no igual,um moto continuo indiferenciado.

Como não é assim,ainda que estes pontos se tocassem continuariam se movendo no tempo,pelo tempo,pelo movimento que os inere.Admitindo que não existe “ nec plus ultra”.

Assim é mais verdadeiro:


o movimento fisico (apreensivel pela matemática)continua nesta linha (curva[respeitando sempre a curvatura do espaço/tempo]{mas o espaço é curvo e o tempo o quê?})



O vermelho representa a continuidade ,a tendência,a mudança,o tempo,o movimento,a diferença,o novo.





Mas nós podemos imaginar outras linhas,outras possibilidades e assim por diante:


Como eu disse em outros artigos os modelos de universo são variados,mas todos não jogam com a possibilidade de seu fechamento.

No filme,quando o pai encontra a filha não existe fechamento,mas aberturas.Se esta hipotese é real,entrando pelos “ buracos de minhoca”,de Einstein,é possível encurtar as viagens espaciais.
Mas por enquanto é tudo hipotese.Menos a de Poincaré,que foi provada matemáticamente.






quarta-feira, 4 de outubro de 2023

História da Direita




A História da direita começa evidentemente na época da Revolução Francesa,reunindo aqueles que por diversas razões se opuseram a ela.

A definição do que é direita se impõe no inicio deste trabalho pelo motivo óbvio de não nos atrapalharmos em analisar certas correntes de pensamento de modo a evitar injustiças e falsidades históricas.

Acima de tudo num tema que suscita tão acalorados debates ter equidistância ou o máximo de frieza possível é uma exigência a todo pesquisador honesto como eu.

Inclusive porque eu vim da esquerda e continuo lá,de outro modo.Eu já sei que por tratar deste tema um monte de cretinos recorrentes virão me jogar mais pedras,como se fosse ilegitimo alguém contrário à direita tratar dela ,cientifica e historiograficamente.

Eu me lembro sempre de uma besteira que Sartre sempre dizia a alguém que criticava o marxismo: “só se pode criticar o marxismo se você participar dele”,o que é uma estupidez muito grande.

Então eu não posso criticar o nazismo que cometeu crimes e erros porque não fiz parte deste movimento ora essa...

Não tem sentido nenhum.

Contudo o que me impulsiona a analisar a direita é exatamente o fato de diabolizá-la a vida inteira e ver alguns de seus setores terem razão em algumas críticas(não poucas)à esquerda.

Nesta simbiose perversa entre esquerda e direita este tipo de postura de diabolização serve não raro aos propósitos de esconder do seu lado os erros (e crimes)cometidos.

Outras bobagens foram ditas para impedir que a direita tivesse razão muitas vezes,ao denucniar os crimes de Stalin,coisa que depois a própria esquerda reconheceu.

Roland Corbisier dizia que a “ direita não pensava”, “ não podia ,por sua natureza,pensar”,mas isto tudo é justificativa para não reconhecer os descaminhos reais da esquerda no século passado.

É sob esta batuta que escrevo esta história breve da direita.