quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Em torno a Napoleão III I

 

Eu considero importantíssimo falar sobre este personagem porque dele nasceram os problemas que vivemos hoje.

Em artigo anterior,de muitos anos atrás, eu disse algo que eu vejo se confirmar agora com a  continuidade dos meus estudos:é da revolução de 1848  que nascem os processos revolucionários ou não revolucionários do século XX com reflexos até agora.

Nos meus estudos encontrei um autor que intitulou seu livro da seguinte forma:


Napoleão III:homem do destino,estadista ou proto-fascista?

Neste livro,que eu ainda não conhecia,algumas questões postas por mim no passado são discutidas.

Mas o meu interesse principal não é aquele que diz respeito às qualidades pessoais de Napoleão III.

Como alguém que tem formação marxista a leitura de “O 18 Brumário de Luis Napoleão”ou “Luis Bonaparte”,orientou e orienta as minhas reflexões naturalmente ,com a maturidade,de um modo um pouco diferente da que eu tinha:Napoleão III não chega a ser um imbecil,embora não seja um gênio,como seu tio.

Não é também um “ cérebro de toucinho” na “ conceituação” de Marx neste mesmo livro.Uma figura cômica como Vitor Hugo o caracterizou(junto com o autor anterior).

O que me chama atenção neste livro acima,composto por vários pesquisadores é a hipótese  de ser ele “proto-fascista”.

A palavra proto  designa aquilo que tem o potencial de se tornar uma coisa,já tem elementos para ser alguma coisa,mas ainda não o é.

Antigamente nós falávamos de “proto-história”,àquele período imediatamente anterior à civilização,ao nascimento das primeiras cidades:agricultura,silos,exploração de rios,tudo isto contribuiria para o surgimento da cidade,mas ainda estavam desarticulados.

Quando se diz que alguém é um proto criminoso ou quando há um “proto crime” nós dizemos que certas características do crime estão presentes mas ele não se consumou ainda.

Ao se afirmar o caráter “proto-fascista” de Napoleão III quer se dizer que ele antecipou elementos fundamentais do que viria a ser o fascismo.

Como eu dissera no meu trabalho anterior ,Richard Wagner,ao cunhar a expressão “Revolução Nacional”,criou as bases do fascismo.Mas ainda não o era.

Eu expliquei na ocasião que como Napoleão III traiu as hostes da esquerda e da Revolução,deixando os alemães e os italianos à própria sorte,os primeiros resolveram abandonar a ideia de um revolução internacionalista comunista,para abraçar um ideal nacional de união das classes em torno de um cultura especifica.

Hitler nunca se referiu ao seu movimento como fascista.Isto era coisa dos italianos,que o tinham de fato fundado,a partir de Mussolini.

Para marcar a diferença dos italianos e propagandear o valor da Alemanha ele  se exprimia ao nazismo como “ Revolução Nacional”.

Como se vê  a consequencia mais duradoura da traição de Napoleão III foi a Revolução Nacional,um “proto-fascismo”.

Relembrando ainda a minha antiga análise,Napoleão III vivia exilado na Inglaterra,mas sabendo que mais cedo ou mais tarde haveria uma revolução de esquerda na Europa continental se colocou ao lado dos radicais e  da república para poder entrar na França,como fizera seu tio em determinados momentos  do passado.

Ao eclodir 1848 estes setores permitiram o seu retorno ,confiando em sua adesão à Revolução Internacionalista.

No desenrolar dos acontecimentos os radicais foram sendo progressivamente barrados em suas pretensões.

É famoso o episódio em que o conservador politico e  poeta Lamartine recusa   bandeira vermelha:



No entanto foi possível e por causa destes conservadores tradicionalistas, formar não uma republica vermelha ,mas uma clássica,liberal,que consagrou como Presidente o próprio Luis Napoleão.

No momento,porém,em que o seu mandato único expirava em 1852,as esperanças radicais nos calcanhares dos conservadores,Napoleão fez o que o seu tio fizera:aliou-se às classes altas e fundou o império ,em nome dos interesses nacionais da França.que não eram senão o destas classes.

Na prática este caminho é o do proto-fascismo.Aquilo que Wagner teorizou Napoleão III realizou na prática.

E é fácil  observar como em termos de racionalização politica trans-histórica este “modelo” de atuação de Luis Napoleão teve influência sobre Mussolini e Hitler:Mussolini era um socialista radical que foi cooptado por este nacionalismo das classes altas,contra o povo,para barrar os radicais e os comunistas.E Hitler fez o idêntico:se aproveitou  dos setores revolucionários mais populares,para ao alcançar o poder desfazer-se deles,vertendo sangue inclusive.Fazendo uma aliança com as classes dominantes.

Como não ver uma similitude nisto aí?Uma base?

Se Napoleão III tivesse seguido o mais radical comportamento de seu tio(que não se aprofundou numa revolução social)e uma revolução internacionalista e comunista ocorresse,unindo França e Alemanha , não teria havido já a utopia?Com estas condições da Europa desenvolvida na mão dos comunistas ou da esquerda radical,aquilo que Engels e Marx desejavam não teria se espraiado pelos países do leste(onde houve revoluções também)e para os países mediterrâneos e para a Bélgica e Holanda?

A bem da verdade esta relação da esquerda com um figura providencial perpassou o século XX inteiro ,de Lênin até Perón,passando por Getulio Vargas:em 1976 os Montoneros,diante da volta do caudilho ,o pressionaram sem sucesso a fazer uma revolução socialista.Aqui no Brasil Getulio e Jango sofreram esta pressão.

Assim sendo é dai que vêem as confusões entre esquerda e direita modernas:a origem social e politica das revoluções  atuais é esta aí,em 1848,envolvendo os meios de evita-la ,pelos reacionários,e os que desejam que uma figura politica forte nos conduza para a utopia.

Vou aprofundá-lo no próximo artigo.

 




sábado, 17 de fevereiro de 2024

Em torno à burguesia

 

Dentro das minhas reflexões sobre o que é o comunismo senti necessidade de colocar alguns temas correlacionados. O primeiro deles é sobre a burguesia, a grande culpada. Em toda a minha vida predominou em minha consciência aquilo que o movimento comunista me ensinou: o ódio à burguesia. O ódio de classe. 

Lembro-me quando peguei um manual básico de materialismo histórico ou de marxismo (não sei) de George Politzer e num  dos capítulos ele se refere à necessidade desse  ódio de classe  contra a burguesia,porque  a suprimindo o Paraíso, a utopia, estaria logo ali à nossa frente(dobrando a esquina).

Durante 2/3 de minha vida esse pensamento, ou melhor, esse conceito ,dirigiu a minha atividade militante, mas como acontece sempre, a maturidade coloca diante de nós uma realidade que é mais complexa e cheia de tonalidades do que essas afirmações emocionais.

Marx disse num dos  prefácios de O Capital que ele não se referia ao capitalista individualmente, ao burguês  individualmente, mas à representação dele, o seu papel no processo econômico.

Aparentemente as afirmações de Politzer e de Marx são contraditórias do ponto de vista pura e simplesmente da linguagem, mas de uma certa maneira a afirmação de Marx contém em si um projeto de postura científica mas não um critério de comportamento  real, da prática política real.E muito menos de postura humanitária.

Isso porque ele mesmo defendia a idéia  criada pelo operariado francês ,da ditadura do proletariado, (não foi ele quem criou o termo mas a classe operária francesa). A ditadura do proletariado tinha a sua razão de ser na medida em que  desde 1789  a burguesia, aliada ao proletariado, sempre traiu esse último, no último momento.

E do ponto de vista de como as pessoas vêem o papel da violência no processo histórico, a classe operária  tendo maioria não poderia ser governada e muito menos traída pela minoria dominante, a burguesia.

Em tudo isso, há uma potencial tensão, que leva à violência e à eliminação eventual daquele que se põe contra o direito da maioria. É sempre assim:todos os movimentos não praticam violência senão para obter aquilo que  o outro lado lhes retirou como direito.

Contudo não é bem assim.

A visão revolucionária marxista sempre teve como paradigma a Revolução Francesa:a luta para fazer valer os direitos do terceiro estado,que afinal sustentavam uma aristocracia que não produzia nada.

Ainda que se discuta o papel da burguesia ela não é comparável à vagabundagem da aristocracia francesa,que realmente vivia às custas dos menos favorecidos.

A burguesia fornece capital para a realização de coisas que foram úteis à humanidade e a fizeram progredir.Isto a inocenta de outros crimes e pecados?Não,mas relativiza o problema.Relativiza a culpa.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Enciclopédias IV

 

Eu vou tratar incialmente de duas enciclopédias:a famosa de Diderot,que é a maior delas ,porque cristalizou o papel contemporâneo do século XVIII,base das projeções humanas nos últimos trezentos anos.

Em primeiro lugar tentarei analisar aquilo que ficou das descobertas cientificas,dos valores e dos critérios de sensibilidade daquela época.

A outra enciclopédia de que tratarei sempre é a que me formou:Delta Larousse de 1970.

Vou explicar um pouco as duas:o interesse real de Diderot era reunir o conhecimento de seu tempo especial.

Já se sabia do caráter diferenciado deste século,o qual “ deveria ser colocado no Panteão”,segundo um deles.

Mas o objetivo também era contribuir para este projeto humanitário geral que acabou se constituindo na declaração de direitos.Não foi só  a enciclopédia ,mas ela o resumiu e eu vou tratar disto.

A segunda enciclopédia é aquela que me formou:Delta Larousse de  1970.


Esta enciclopédia,que eu tenho até hoje,foi criada para ajudar aos que tinham sido prejudicados pela ditadura militar,precisamente aqueles que perderam direitos políticos e principalmente os seus empregos,por conta dos atos institucionais.

Eu gostava da Barsa e quando perguntei ao meu pai comunista(stalinista)porque ele  comprou a delta e não a Barsa ele deu uma explicação irritada para esconder o verdadeiro motivo,que eu descobri depois.Não tinha necessidade de esconder,eu compreenderia.

Era uma forma de dar trabalho e eles.Vou apresentar os verbetes que mais me ajudaram neste escopo e que são os que mais lembro até hoje.

Até a idade adulta eu li esta enciclopédia e às vezes,na provecta,eu leio.


A definição de comunismo Segundo os direitos humanos III

 

A visão unificadora do que é comunismo,foi do inicio do cristianismo ,em que a ideia vicejou,até Marx,passando por uma pletora de autores comunistas.

Mas nós podíamos recuar até à ancestralidade e ver que ,mutatis mutandi,a idéia é a mesma.

Alguns exemplos nos ajudarão a compreender esta unidade histórica e o sentido real e problemático desta palavra tão polêmica.

Aqueles que viram o filme sobre Canudos e leram o livro de Euclides da Cunha,lembrar-se-ão de que quando novos peregrinos chegam ao belo monte ,um integrante da guarda católica mostra a eles um armazém onde  encontram tudo para sobreviver,podendo levar o que quisessem(menos cachaça).Para este depósito cada integrante que já estava lá ,contribuía naturalmente.

Há um documentário sobre os primeiros anos dos “novos baianos”, “Os filhos de João”,narrando como este grupo se reuniu num lugar próximo aqui de onde eu moro(estrada dos Três Rios[onde morou também Garrincha]),para trocar experiências musicais e crescer.

O  que cada um obtinha de dinheiro,de alguma forma,colocava num pacote simples de plástico,que ficava preso à maçaneta de uma porta  e ali iam todos quando precisavam.

No último período de sua vida ,em Arlés ,no sul da França,Van Gogh intentou  criar uma comunidade de pintores iniciantes como ele,para trocar experiências e crescer(crescer junto).

Acudiu ao convite de Van Gogh somente Gauguin  e foi o que se viu.

Como se observa basicamente a idéia comunista,de origem cristã ancestral ,se caracteriza por tornar a sociedade responsável e solidária por algo de comum a todos.

Esta idéia aparentemente me desmentiria quanto ao que eu venho dizendo sobre a desigualdade.

Fica claro que é possível que cada homem trabalhe como quiser e ganhe o que quiser sem se submeter a nenhum poder que o constranja.Não há em principio uma proibição quanto à liberdade individual.

Contudo,como venho ressaltando,esta idéia é muito bonita em sociedades “pequenas”,com capacidade produtiva exponencial(como pensava Rousseau).

Quer dizer:uma população controlada,mas muito capaz,em todos os sentidos(inclusive de cidadania),com um aparato técnico para produzir exponencialmente.E ai distribuir por todos igualmente ,segundo a sua necessidade e ...porque não?seu desejo(o desejo se libertaria pela primeira vez,sem culpa).

Era esta a idéia de Marx e de seus antecessores.Marx usa até uma metáfora do “armazém” em que todos iriam buscar o que precisassem,livremente,levando em conta os direitos dos outros,isto é,não poderiam levar o que quisessem,segundo o desejo talvez(limite do desejo[o desejo pela primeira vez se associa ao solidarismo]{mas o desejo pessoal de cada um não deveria ser desigual?}).

No fundo esta concepção é um republicanismo radical,a separação entre a vida privada e aquilo que é comum.

Como eu disse,comunista é obrigatoriamente republicano...

Mas numa sociedade complexa ,cheia de problemas herdados do passado não dá para desenvolvê-la simplesmente por um ato de vontade.

Talvez algumas cidades pelo mundo ,auto-suficientes ou com desejo de se tornar,prestes a se tornar,possam tentar implementar este projeto,mas diante de um mundo interligado e complexo, a coisa complica.

E de outro lado ,a questão de como viver a vida nesta utopia nos põe algumas dúvidas:porque o dinheiro vai ser desnecessário ipso facto ?Porque a iniciativa privada,pessoal,não tem valor e lugar?Quem garante que o administrador do armazém não vai dominar a vida dos outros,obtendo vantagens egoístas,como aconteceu no socialismo real?

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

A família

 

Tenho falado aqui em Pais  e Filhos  e vou continuar,mas agora outra série se inicia  e trata da família.

Meu pai stalinista sempre dizia que a família burguesa estava acabada  e que era preciso substitui-la pela familia socialista,sem dizer bem o que era.

Para mim desde os meus primeiros contatos com o marxismo e com o comunismo a familia tinha que ser assim: “de cada um segundo a sua capacidade,a cada um segundo a sua necessidade”.Como deveria ser a sociedade utópica do futuro.

Contudo nunca me passou pela cabeça que este projeto igualasse a todos. Se a última parte da frase dá a impressão de que tudo dever ser dividido,a primeira indica que ninguém é igualado em suas capacidades.

Eventualmente esta igualdade existe ,mas a admissão da diferença de contribuições prossegue como um fato real.

 A predominância da segunda oração sobre a primeira marca um abismo social e politico tremendo,porque obriga o despojamento das pessoas  e a perda de ambições individuais,tidas então até como “pecaminosas”, “diabólicas” e “ anti-sociais”.

Se aquele que tem mais passa para o que tem menos é um principio em principio justo,de outro lado  apresenta complexos problemas de verdade e justiça.

Isto porque o outro não fez nada para merecer o recebimento e mesmo que o tenha,até por injustiça cometida,tal solidarismo não serve de base senão para uma sociedade simples e nunca complexa.

Uma sociedade simples como a família,mas não complexa como a sociedade em geral.

Existe,no entanto,uma diferença ou descontinuidade entre estas duas partes ou momentos da vida social?

O percurso De Nietszche

 

Eu falei sobre o percurso de Aristóteles.Agora e como continuidade do artigo anterior sobre a anti-idolatria,trato de como o pensamento de Nietszche pode ser compreendido na sua evolução.

Estes artigos sobre os percursos mentais dos criadores são fundamentais para me localizar e localizar o leitor quanto ao papel e significado das suas ideias mais decisivas.

No caso d e Aristóteles nós já vimos o essencial.Mas agora é possível entender a obra de Nietzsche da seguinte maneira:até Zaratustra o que Nietzsche fez foi fundamentar a sua concepção e  a partir dela descontruir o pensamento metafísico do ocidente.

Depois disto pode fazer a sua grande proposta que se resume no Zaratustra.

Após este grande projeto ele o aplica no mundo real.Ele procura mostrar como os homens devem agir diante desta realidade moral que constrange os homens a abandonar as suas potencialidades em nome de um todo absolutamente falso e cujo objetivo  se vê por trás dele ,os podres poderes deste mundo.

Continuo achando que não há como suprimir os liames sociais entre os homens ,basicamente pela experiência comum deles,mas esta postura critica diluidora tem realmente um papel importantíssimo inclusive na luta pela utopia.

Não há nenhuma utopia coletivista.Se o todo não consagrar a liberdade do individuo ,assim reivindicada  por Nietzsche ,não há propriamente “progresso”, “ evolução”,no sentido do bem,que não raro é um conceito negado a Nietzsche.

Falarei disto no próximo artigo.

 

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Nova série Alunos e professores

 

Nesta série nova eu falo de relações entre professores e alunos famosos,conhecidos ao longo da história.Mas também trato de questões pedagógicas que aparecem na arte e em todo lugar.

O primeiro exemplo é o de Aristóteles e Alexandre,o Grande.Nenhuma relação entre professor e aluno foi maior do que esta e com consequencias politicas,filosóficas e pedagógicas(naturalmente)inigualáveis.

Esta nova série se liga fundamentalmente aos meus estudos sobre o Protágoras de Platão,o fundamento do ensino,que depende de sua possibilidade.

Analisando estes fundamentos notei que a sua aplicação na vida é elucidativa e também os seus exemplos oferecem a continuidade da pesquisa,o que muito me atrai.

Eu trabalho com filosofias aplicadas.Na medida em que faltam condições para se fazer uma filosofia brasileira original o que se pode  é aplicar os conhecimentos no real,os fundamentos da filosofia no real e tirar dele novos elementos de discussão e  reflexão.

E neste sentido é que a idéia de realizar esta  nova série assaltou-me o pensamento.E a ponho no papel agora.

Alexandre,o Grande de Aristóteles marca em primeiro lugar a discussão sobre as diferenças entre o mestre e o seu aluno e como o mestre,assim como a geração passada,pode estar errado.

Quero me dedicar agora,entre outros temas,ao fato de que Aristóteles não  aceitou o propósito politico de miscigenação com os Persas,de Alexandre,quando chegou na Babilônia.

O seu objetivo politico foi alcançado aí,porque ,com isto,os persas como etnia desapareceram.A sapiência de Alexandre foi colocar os seus soldados gregos e macedônios ,acostumados a se verem como superiores aos outros,bárbaros,diante do harém de Dario,o que destruiu todas as suas barreiras morais e politicas.

A miscigenação com povos inferiores,desaprovada por Aristóteles ,garantiu que nunca mais haveria risco de invasão da Grécia ,pela Ásia Menor.

O Protágoras de Platão

 

Um dos livros mais importantes de Platão para mim como professor e acho que para todos os professores,é o diálogo “Protágoras”,que versa sobre o ensino da virtude,se a virtude pode ser ensinada.

No final da leitura deste diálogo chego à conclusão de que,tal como hoje,na época em que foi escrito,o seu autor não tem condições de por ordem na aleatoriedade da vida humana.

Depende muito do casual(olha ele aí)se a virtude pode ser ensinada ou não.

Exceto por algo que eu já ressaltei nos artigos anteriores,Platão,como nós,não sai desta verdade acabrunhadora:se a pessoa a ser ensinada não o quiser não adianta a ajuda de outrem ,mas o que gera a discussão é o fato empírico de que ás vezes a ajuda de uma pessoa é fundamental para esta outra querer sair dos problemas em que entrou.

Em nosso tempo de drogas e vícios alguns exemplos são conhecidos ,de pessoas que só conseguiram sair do seu acuamento sabendo  que perto estavam apoiadores confiáveis:Nelson Gonçalves e Miles Davies são exemplos conhecidos.

Dialeticamente poderíamos perguntar se a decisão libertadora foi da pessoa mesmo ou dependeu desta certeza externa.Se esta certeza não estivesse,a pessoa tomaria a decisão?

Em última instância ,como solução psico-axiológica desta proposição,fica claro,no entanto,que se o “inadequado” não s e empenhar nada evolui.A decisão tem que ser do doente ou do desajustado.

O que marca pelo menos um limite da discussão.

Platão ,que era um filósofo extremamente comprometido com objetivos de poder e de classe,chegou à conclusão de que o ensino da virtude não era possível,o que justificava a permanência da escravidão,entre outras instituições e colocava na aristocracia “estudada” o papel auto-arrogado de dirigente.

domingo, 11 de fevereiro de 2024

O percurso de Aristóteles

 

Uma vez que nós estabelecemos uma compreensão básica sobre a filosofia de Aristóteles nós podemos  fazer um resumo de como ele chegou  e porquê.

Do ponto de vista do exegeta, datas,prova de autoria,influências reciprocas têm importância mas aqui tal só tem validade na medida em que explica a evolução do pensamento aristotélico e os seus saltos de qualidade.

Neste sentido nós entendemos o percurso da seguinte maneira:Aristóteles diverge de seu mestre Platão porque (talvez inevitavelmente)tenha buscado para a sua filosofia uma base no real,que já era parte da prática pessoal dele.

Dentro de sua época Aristóteles era um interdisciplinar,que hoje não seria  admitido:era um biólogo,um médico,um veterinário e um pesquisador da natureza.

Lembro-me bem das aulas do professor Leonardo Boff sobre ele,mostrando que apesar desta multiplicidade ultrapassada,o que fica e o que o torna mais lucido do que nós hoje,era o seu discernimento.

O conhecimento verdadeiro é qualitativo,ou seja,como discernimento.Ele é pré-socrático neste aspecto e socrático,porque busca os fundamentos daquilo que ele produz.A verdade por trás do conhecimento quantitativo.

Só deste modo ,sobrevive.

A física de Aristóteles foi totalmente superada pela ciência moderna e já era duvidosa e derivativa de crença no seu tempo,mas o estudo do real,da natureza, lhe permitiu em outros setores de sua obra “mapear” conceitualmente os seus elementos,permitindo a sua compreensão.

Até aos dias de hoje este mapa permanece “ contribuindo” para o entendimento do real,naturalmente perdendo exclusividade.

Então,como outros autores,Aristóteles estuda o real, a natureza,em algumas obras ,para depois na “Metafisica” ou “Ontologia”,organizar tudo conceitualmente.

Dai por diante ele aplica em outras áreas do real,digamos,sociais,estes princípios “ mapeados”.

Os próximos passos de sua análise são:analisar o movimento do real,continuar a pesquisa histórica dos filósofos antecessores e esta aplicação.

 

 

Enciclopédias II

 

O meu interesse por enciclopédias(e dicionários)vem desde os oito anos.Mas quando tomei conhecimento de “Cosmos” ,de Carl Sagan ,notei que elas poderiam ser uma forma de recuperar o que era a humanidade,no caso de ela deixar de existir.

“Cosmos” me mostrou que as enciclopédias ,que caducam com o tempo,podem ser “ rejuvenescidas com este escopo.

Mesmo que a humanidade consiga se eternizar,em outros lugares é possível tirar algo do passado,do passado que eventualmente caducou.

Mas se morrer ,se alguém encontrar uma ,terá como saber o que a humanidade foi.

Até ,pois,daquilo que se supõe ultrapassado algo pode ser retirado de útil,de instrutivo.

O meu horror à destruição,à exclusão,encontra assim uma outra forma de expressão,ou seja,um outro meio de fundamentação do principio de que tudo pode trazer algo de bom para a humanidade.

Na condição de criança(alguns ficam até a velhice)a derrota é algo que leva á morte,ao suicídio.

Ao descobrir que muitos “derrotados”,como Maquiavel e Clausewitz, contribuíram igualmente para a humanidade,uma evolução em direção à maturidade se deu em meu espirito.

E agora a maturidade se realiza(se é que a evolução pàra)ao constatar o valor permanente das enciclopédias,uma das quais, Delta Larrousse,praticamente me formou.

Este é outro aspecto a analisar:como as enciclopédias ensinam.Como manter os princípios da interdisciplinaridade e da erudição(aptidões legitimas),para as próximas gerações.

A inteligência tem uma preeminência sobre tudo,mas estas aptidões têm o seu lugar sim,sendo preconceito estúpido repudiá-las.

Aqui neste “escaninho” eu incluo dicionários e antologias.

sábado, 10 de fevereiro de 2024

A definição de comunismo Segundo os direitos humanos III

 

Outras reflexões eu faço aqui sobre esta       questão.Ser social-democrata não quer dizer anti-comunista ou muito menos anti-utopia.

No período inicial da Revolução Portuguesa Mario Soares afirmou num discurso que o objetivo dos socialistas era idêntico ao dos comunistas, “uma sociedade sem classes”,mas através da democracia.

A esquerda radical,e os comunistas entre eles,sempre jogou sobre certas figuras históricas uma pecha geral de incompetência,burrice,imbecilidade,porque elas não fizeram o que ela queria.

É assim com Napoleão III,de quem se esperava uma revolução, e que foi chamado,por não fazê-la,de “cérebro de toucinho”, “sobrinho do tio”,por Marx ou de “pequeno”,por Vitor Hugo.

E também no caso de Mario Soares ,por não aceitar a imposição destes radicais.

Mas os caminhos da utopia são mais complexos e por isto mais variáveis do que se imagina,do que imaginam os comunistas,que não são donos da vida e da história coisa nenhuma.Ninguém é dono nem de si mesmo,porque não há previsibilidade nem do momento em que partimos para o outro mundo.

A construção da utopia,portanto,é um processo que se faz fazendo,no cotidiano e não considerando necessariamente o nosso tempo de vida,como disse uma vez Erundina.

Partindo desta premissa nós temos que mudar um pouco o que os próceres do comunismo pensavam ser verdade no passado:ninguém pode afirmar que o dinheiro não será útil no futuro;e a idéia comunista é perfeitamente legitima se a entendermos “por cima”,distribuindo a riqueza por todos e não dividindo a miséria.

 

O nexo casual/causal Já está no nexo Hume/Kant

 

Não gosto de associar as transformações na filosofia à ciência.Se fosse assim nós teríamos que esperar a física quântica para fazer as reflexões do último artigo.

É lógico que para se chegar a uma conclusão deste tipo o modo como se vê o real tem que mudar e muitas vezes isto se dá da filosofia para a ciência  e para o contrário.

Sem falar nos outros saberes e práticas sociais que ajudam nesta visão do mundo.

A casualidade já era admitida desde o mundo antigo,através da escola pirrônica,que mostrou as ilusões do ser humano,especialmente a partir da experiência técnica e cientifica da medicina.

Pela primeira vez o termo eidola , “ idolatria”, “fumaça”,aparece articulado num pensamento rigoroso.

O ceticismo adquire  ai um ápice ao mostrar as incertezas:aquilo que se apresenta diante do sujeito nem sempre é o que parece.

Hume e Kant são tidos e classificados como “ céticos”.Hume tem famosos “ ensaios céticos” sobre os costumes humanos,morais e a politica em geral.

E foi ele quem tirou Kant do seu “ sono dogmático”,quando caiu na mão deste último “ O tratado sobre o entendimento humano”,em que o ceticismo surge como um conceito rigoroso e produtivo em termos filosóficos,levando em conta o movimento da ciência,que no século XVIII demonstrava mais e mais que a realidade ,o universo ,eram mais complexos do que se pensava.

Então não foi uma dependência da ciência que gerou a visão do casual moderna e contemporânea,mas uma continuação e adaptação do pensamento cético em relação ás novas descobertas.

Pela lei cientifica se estabelece um padrão determinado que oferece a possibilidade de previsibilidade,por causa(causa)da sua repetição.Nas condições devidas a lei ocorre .

Contudo,se estas condições não estão presentes ,não se tem certeza  de que algo vai acontecer.Ao dizer(o exemplo é de Hume): “a incidência da luz do sol sobre uma poça causará evaporação”,tal previsão não é certa,não s e tem certeza de que este nexo de causa  efeito vai se dar.

É aí que está  a casualidade:a possibilidade(mas não certeza),de que vai acontecer.

É um mito a previsibilidade cientifica.

Porque a dialética De Hegel/Marx não raro Emburrece

 

É sabido que Marx desejou no final da vida fazer uma logica dialética materialista,a partir de O Capital.Quando ele terminou a  sua obra-prima,intentou realizá-lo,mas a luta pela vida o impediu.

Isto,em primeiro lugar,prova que Marx aplicou a dialética da natureza,fechada e monística,no Capital e na vida e mais do que isto,que a origem dos manuais soviéticos está nele.

Marx apresenta os dois lados:ele é um refinadíssimo analista e simultaneamente sucumbe ao caráter falso e tosco desta base dialética e do materialismo.

Marx é como um gigante de pés de barro,o Capital também.Lá no fundo as limitações do materialismo aparecem.

E nos manuais soviéticos se percebem estas limitações fundamentais.

O ponto de partida de identificação destes limites é a questão que sobejamente venho tratando,qual seja,a da dialética entre o causal e o casual,entre o risco e a certeza.

Como já expliquei ,na visão hegeliana/aristotélica o casual se torna sempre causal e racional.

É por aqui que se entende o conceito dele de que “ o racional é real e o real é racional”.

Mas eu já mostrei a besteira que  é:o casual permeia a sociedade e também participa do processo de compreensão do real,tanto social como natural.Hoje com a teoria quântica o aleatório participa  da natureza e só se a compreende se incorporá-lo no processo de investigação.

Eu sei um exemplo que vem de slavoi zizek,um “ neo-ortodoxo” atual: “ você entra num ônibus ,senta numa cadeira e de repente você olha para o lado e tem uma menina com quem você começa a conversar.Marca de sair com ela e ela se torna a mulher da sua vida”.

O aleatório se tornou “ racional”.Contudo ,em volta do casal ,outros dois casais,sentados,não se formam.É possível racionalizar obrigatoriamente o porque de não ter acontecido nada?Claro que sim.

Até numa dialética negativa  e comparando com o casal formado pode-se dizer o porquê,mas aí este porque pode não ter nenhuma relação com a sociedade,com a explicação do seu movimento.

Se eventualmente os parceiros dos dois casais forem gays isto se conecta com tendências sociais,mas eventualmente também o fato de não haver liga há de ser um fato casual mesmo,compreensível como aleatório e não “ certo”.

A sociologia ,portanto,bate o nexo Hegel/Marx.A permanência no nexo ,como no passado,mantém o investigador numa limitação emburrecedora e quando ele é tido como solução do problema social,pior ainda:o sujeito se torna dono da verdade,dono do mundo e começa a xingar,babar e se considerar o centro do mundo e da vida.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

A definição de comunismo A partir dos direitos humanos II

 

Continuando o artigo anterior eu penso assim:o projeto comunista,a utopia comunista é a que está nos direitos humanos lançados pela burguesia.

Como,no entanto,não é possível construir uma sociedade só de empresários ou de operários(trabalhadores),há que se encontrar um meio-termo,que é a utopia.O marxista tradicional objetará que esta última é possível sim,mas como eu já expliquei ,este conceito que Roland Corbisier gostava tanto, “democracia de trabalhadores”,é contraditório quanto ao pensamento de Marx.

E ele consagra os erros de que tanto tenho falado aqui há tanto anos.Mais do que isto, não está em Marx uma visão de hegemonia pura e simples de trabalhadores,mas a criação de um tempo livre.Se todos trabalham para produzir a super-abundância,sobra tempo para que ela  possa se dedicar a si própria na sua verdadeira humanidade.

É impossível deixar de trabalhar,mas se este tempo (que não é absoluto[a não ser que as máquinas substituam os homens])vier e a qualidade do trabalho e das máquinas vier,este tempo para si mesmo virá sem dúvida.

Se o capitalismo conseguisse se espraiar pelo mundo todo,sendo controlado pela mediação pública,ele seria capaz de oferecer estas benesses a todos?Qual seria o motivo de ir avante,se todos estivessem satisfeitos?A superação de todas as classes é uma exigência  moral?

Estas perguntas são essenciais para mim,porque a questão (ou as questões)é esta mesmo:porque o comunismo,porque a utopia?Nem toda a pessoa vai se preocupar com uma sociedade sem classes se estiver bem e de acordo com as suas escolhas.

Não ficou provado que a supressão de uma classe garante a utopia.Então porque ela?Só por questões morais como disse Bernstein?Quais questões morais?

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Uma nota explicativa Sobre Hegel( e até certo ponto Marx)

 

Senti necessidade de fazer este artigo explicativo-histórico por certas duvidas que me foram colocadas por algumas pessoas.

Para nós hoje é muito complicado o porque destas discussões sobre as concepções de movimento de Hegel

Vira e mexe alguém me questiona que é inadmissível que um gênio da filosofia cometesse tantos erros assim.E por via de consequencia,por mais que eu coloque críticos para embasar o que digo,a  acusação de pretensão cai sobre mim do mesmo jeito.

Nós temos a pretensão(esta sim) de julgar o passado pelo que nos conhecemos hoje,mas na verdade,todos nós possuímos limitações de tempo e de conhecimento que alteram a nossa visão de mundo.

No passado as limitações eram maiores.Hoje nós temos (quase)plena liberdade de investigação.No passado tal não era possível e os recursos de investigação eram toscos  e poucos.

Quando Hegel naturaliza certos fatos da Revolução Francesa que hoje nos causam horror,como o terror,é porque ele não via alternativa para explicar segundo um critério de movimento  o que se dava diante dele.

Ele “ escolheu” uma dialética rígida.Para nós  hoje a recusa do terror não tem nada que ver com o movimento e não o paralisa,mas pare ele (e para outros pensadores da época)ética não explicava nada em termos de causação d e um fenômeno histórico(bem como d e outro qualquer).

As limitações de época faziam o seu estrago próprio.

Outros autores como Proudhon viram outras possibilidades de explicação histórica  e rejeitaram,como muitos intelectuais,o terror.

Os marxistas explicam isto como um projeto de classe que ele,Hegel,assumiu,mas não é só isto  que conta.

No próximo artigo trato disto.

 

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Leitura de Aristóteles Metafísica

 

Agora para mim faz bastante sentido a metafísica de Aristóteles.Na parte inicial,que é a que todo mundo conhece,há a definição de Filosofia.

Mas na segunda parte,que é a crítica de Aristóteles aos seus antecessores e dentre eles,principalmente Platão,seu mestre,é que se vê o albor da sua concepção original,nova:como Aristóteles é um analista do mundo real,sendo inclusive um médico(tal era possível no seu tempo),diverge totalmente das visões idealistas do passado,começando com os pré-socráticos e fundamentalmente de Platão,com sua teoria das Ideías e Formas perfeitas.

Como Aristóteles se separa de seu mestre e como alça vôo com o seus próprios pés?

A representação ideal do mundo(o mundo sub lunar)não o esgota de modo nenhum,porque “ sob” ele há uma substancia que participa da definição de todo o Ser.

A essência de algo em Aristóteles está indissoluvelmente ligada a esta substância(sub+stanz=aquilo que está sob o Ser[velado]{oculto}) e aí as reflexões do estagirita são no sentido de como conectar a representação(as idéias,as formas)com a substância,identificando as consequencias desta ação.

Substância em Aristóteles significa matéria.Pode-se dizer que ele era um “ materialista”,até certo ponto(depois veremos estas classificações).

Mas o que ele nota e defende é que neste processo de representação do real  o caráter extensivo da substância não permite  esta adequação(absoluta) que a teoria das idéias e dos princípios atesta.

A idéia de unidade não é possível num mundo real extenso e substantivo.

Nós falamos em artigo anterior que a idéia de Ser em Aristóteles se resume na palavra ousia ,que é  a distinção abstraída do real ,do movimento(no sentido aristotélico[as formas] do real.

Mas esta ousia ,Ser,não é senão um momento da substância que não pode ser medido por si mesmo,mas na relação com a sua extensão e nem pode s e relacionar com a representação formal e ideal que a define.

Aqui em Aristóteles,neste passo,se desenvolve parte significativa da filosofia ocidental e fica claro como a Metafisica é  base futura e constante do seu fundamento(e do pensamento de Aristóteles).

A concepção futura da prhonesis  ou prudentia está contida aqui:o conceito “ a virtude está no meio”,entre a “falta e o excesso” está já  in limine aqui.

A compreensão do Ser ( e tudo o mais)é esta passagem pela extensão da substância em que nem a medida pode ser substância(sem a forma),nem o relativo (a relação com a forma)expressa de uma vez só,monisticamente(critica aos pré-socráticos)todos os elementos do Ser:substância,potência,ato.

Razão porque a matéria em Aristóteles não é primária(relativizando o seu materialismo),mas secundária ,como elemento que sustenta o Ser,mas não é explicável por si mesmo(alguns materialistas “ modernos” deviam entender isto aqui),senão com estas categorias supra-ditas.

Quando eu digo “matéria”,não estou, a rigor,dizendo nada,apenas um principio,do qual outros derivam.

Quando eu digo “mesa”,estou me referindo a algo que está num momento especifico,o qual poderá deixar de ser depois,pela geração e  corrupção das coisas.

O desgaste do móvel muda a forma que gerará outro Ser ,a ser definido diferentemente.

Os materialismos dialético e histórico pensaram ser possível extender a matéria,na sua definição por si mesma,mas tiveram que fazer,sem fundamento,algo já preconizado por Aristóteles.

 

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Kant e Heidegger II

 


 

Sempre pensei que as rupturas são psicológicas apenas.Mesmo com o aparecimento do acaso,do casual per si ,a ruptura não se dá no plano da racionalidade explicativa.O casual é reconhecido quando é parte do processo explicativo.Quando sua incidência “ causa” algo.O que já fere o principio da ruptura.

Mas persistindo de per si ele mostra apenas que a ruptura objetiva,real,não tem consequencias.

No mais não admito na racionalidade explicativa e organizadora do real uma rutura.

Então entre o ôntico e o ontológico há sim uma ainda que tênue,ligação.Para Husserl a “estrutura” noético-noemática é a construção fenomenológica de sentido,que passou para Heidegger,seu discípulo.

Contudo não se há de falar numa fenomenologia,num processo de acontecimento,numa presença,que é um movimento previamente admitido e reconhecido,sem que as essências (nous )não s e reportem,ainda que,repito tenuamente, ao ontológico.

Cair no ontológico como fez Hegel é um outro problema.Mas no caso de toda a fenomenologia,há uma referência substantiva na essência.

Nas coisas especificamente é fácil encontrar esta ligação:num quadro,numa parede,não há como separar.

Mas no ser humano,nas ações humanas ,que inclusive organizam este mundo concreto,a relação é mais distante.Mas está lá.

O exemplo que sempre uso,porque facilita outros exemplos,e está em Heidegger é o do professor:onde está a substância concreta que fundamenta a essência do ensino(que não existe sem aprendizagem)?

Ora ,não se pode falar num professor e num aluno sem o corpo e ainda que o primeiro se vista de passista do salgueiro se ele for entendido,pelo aluno,não há como negar uma relação de ensino-aprendizagem.

Acaso tal troca não é concreta?Como s e define o concreto?

 

Kant e Heidegger

 


Quando fiz a minha especialização em filosofia a professora que me explicou Heidegger disse que a dialética hegeliana era uma base deste pensador do século passado.

Na medida em que na dialética há como se referir a uma coisa que pode ser outra,como macho-fêmea,burguês e não burguês(ou operário),um ser e seu contrário no processo do movimento,tal verdade ajuda na compreensão do dasein ,do isto  e do  sentido .Porque cada momento do movimento é um dasein  e a cada momento interligado com outros nós construímos um sentido.

Contudo penso ser possível construir tal coisa com Kant, a partir não do movimento ,mas da compreensão do mundo.Se,como já expliquei,não é possível saber a “ coisa-em-si”,porque existem dela inúmeras e infinitas manifestações,cada uma delas é um dasein ,um isto .

Conforme exemplifiquei em artigos anteriores ,existem múltiplas manifestações do ser ,da coisa, e eu sempre uso o exemplo cotidiano  da parede:há paredes de diversos tipos,materiais diversos,formas diversas e assim por diante.

Cada uma delas não tem como se adequar a uma abstração universal,um conceito universal que dê conta de todas  elas.

Como a parede não pensa nada,o homem é que lhe dá sentido:na frase “a parede onde está o quadro”,denota a presença de dois itens colocados com algum intuito pela mão humana.Dois itens , daseins ,portanto são unidos para formar um sentido.

Por isto em Kant há Heidegger,mas isto traz consequencias a analisar no pensamento deste último e que eu considero como algo critico e interpretativo no seu pensamento:

Neste isto  não há por acaso essência e substância ?Não há uma ligação ainda com Aristóteles?Próximo artigo.