Eu
considero importantíssimo falar sobre este personagem porque dele nasceram os
problemas que vivemos hoje.
Em
artigo anterior,de muitos anos atrás, eu disse algo que eu vejo se confirmar
agora com a continuidade dos meus
estudos:é da revolução de 1848 que nascem
os processos revolucionários ou não revolucionários do século XX com reflexos
até agora.
Nos
meus estudos encontrei um autor que intitulou seu livro da seguinte forma:
Napoleão
III:homem do destino,estadista ou proto-fascista?
Neste
livro,que eu ainda não conhecia,algumas questões postas por mim no passado são
discutidas.
Mas
o meu interesse principal não é aquele que diz respeito às qualidades pessoais
de Napoleão III.
Como
alguém que tem formação marxista a leitura de “O 18 Brumário de Luis Napoleão”ou
“Luis Bonaparte”,orientou e orienta as minhas reflexões naturalmente ,com a
maturidade,de um modo um pouco diferente da que eu tinha:Napoleão III não chega
a ser um imbecil,embora não seja um gênio,como seu tio.
Não
é também um “ cérebro de toucinho” na “ conceituação” de Marx neste mesmo livro.Uma
figura cômica como Vitor Hugo o caracterizou(junto com o autor anterior).
O
que me chama atenção neste livro acima,composto por vários pesquisadores é a hipótese
de ser ele “proto-fascista”.
A
palavra proto designa aquilo que
tem o potencial de se tornar uma coisa,já tem elementos para ser alguma
coisa,mas ainda não o é.
Antigamente
nós falávamos de “proto-história”,àquele período imediatamente anterior à
civilização,ao nascimento das primeiras cidades:agricultura,silos,exploração de
rios,tudo isto contribuiria para o surgimento da cidade,mas ainda estavam desarticulados.
Quando
se diz que alguém é um proto criminoso ou quando há um “proto crime” nós
dizemos que certas características do crime estão presentes mas ele não se
consumou ainda.
Ao
se afirmar o caráter “proto-fascista” de Napoleão III quer se dizer que ele
antecipou elementos fundamentais do que viria a ser o fascismo.
Como
eu dissera no meu trabalho anterior ,Richard Wagner,ao cunhar a expressão “Revolução
Nacional”,criou as bases do fascismo.Mas ainda não o era.
Eu
expliquei na ocasião que como Napoleão III traiu as hostes da esquerda e da
Revolução,deixando os alemães e os italianos à própria sorte,os primeiros
resolveram abandonar a ideia de um revolução internacionalista comunista,para
abraçar um ideal nacional de união das classes em torno de um cultura
especifica.
Hitler
nunca se referiu ao seu movimento como fascista.Isto era coisa dos
italianos,que o tinham de fato fundado,a partir de Mussolini.
Para
marcar a diferença dos italianos e propagandear o valor da Alemanha ele se exprimia ao nazismo como “ Revolução Nacional”.
Como
se vê a consequencia mais duradoura da
traição de Napoleão III foi a Revolução Nacional,um “proto-fascismo”.
Relembrando
ainda a minha antiga análise,Napoleão III vivia exilado na Inglaterra,mas
sabendo que mais cedo ou mais tarde haveria uma revolução de esquerda na Europa
continental se colocou ao lado dos radicais e
da república para poder entrar na França,como fizera seu tio em determinados
momentos do passado.
Ao
eclodir 1848 estes setores permitiram o seu retorno ,confiando em sua adesão à
Revolução Internacionalista.
No
desenrolar dos acontecimentos os radicais foram sendo progressivamente barrados
em suas pretensões.
É
famoso o episódio em que o conservador politico e poeta Lamartine recusa bandeira vermelha:
No
entanto foi possível e por causa destes conservadores tradicionalistas, formar
não uma republica vermelha ,mas uma clássica,liberal,que consagrou como
Presidente o próprio Luis Napoleão.
No
momento,porém,em que o seu mandato único expirava em 1852,as esperanças radicais
nos calcanhares dos conservadores,Napoleão fez o que o seu tio fizera:aliou-se
às classes altas e fundou o império ,em nome dos interesses nacionais da França.que
não eram senão o destas classes.
Na
prática este caminho é o do proto-fascismo.Aquilo que Wagner teorizou Napoleão
III realizou na prática.
E
é fácil observar como em termos de racionalização
politica trans-histórica este “modelo” de atuação de Luis Napoleão teve
influência sobre Mussolini e Hitler:Mussolini era um socialista radical que foi
cooptado por este nacionalismo das classes altas,contra o povo,para barrar os
radicais e os comunistas.E Hitler fez o idêntico:se aproveitou dos setores revolucionários mais populares,para
ao alcançar o poder desfazer-se deles,vertendo sangue inclusive.Fazendo uma
aliança com as classes dominantes.
Como
não ver uma similitude nisto aí?Uma base?
Se
Napoleão III tivesse seguido o mais radical comportamento de seu tio(que não se
aprofundou numa revolução social)e uma revolução internacionalista e comunista
ocorresse,unindo França e Alemanha , não teria havido já a utopia?Com estas
condições da Europa desenvolvida na mão dos comunistas ou da esquerda
radical,aquilo que Engels e Marx desejavam não teria se espraiado pelos países do
leste(onde houve revoluções também)e para os países mediterrâneos e para a Bélgica
e Holanda?
A
bem da verdade esta relação da esquerda com um figura providencial perpassou o
século XX inteiro ,de Lênin até Perón,passando por Getulio Vargas:em 1976 os Montoneros,diante
da volta do caudilho ,o pressionaram sem sucesso a fazer uma revolução
socialista.Aqui no Brasil Getulio e Jango sofreram esta pressão.
Assim
sendo é dai que vêem as confusões entre esquerda e direita modernas:a origem
social e politica das revoluções atuais
é esta aí,em 1848,envolvendo os meios de evita-la ,pelos reacionários,e os que
desejam que uma figura politica forte nos conduza para a utopia.
Vou
aprofundá-lo no próximo artigo.