Pais e Filhos
Num determinado passo de sua
critica da razão dialética Sartre se refere a um autor que supõe
psosibilidades dialéticas em Freud,não necessariamente reconhecidas
por ele.
No fundamento de sua teoria
psicanalítica Freud afirma que a condição principal de crescimento
e inserção no mundo dos filhos é deixar para trás os pais ,como
norteadores de sua conduta.
Contudo,e isto nos revela as
questões críticas em relação ao pensamento de Freud,no que tange
a uma falta de concepção psicossocial,pois os pais também precisam
se liberar psicológicamente dos filhos.
É aí que surge uma dialética,uma
psicossocialidade,uma aufhebung.A relação entre pais e filhos só é
dentro de uma sociedade,dentro de uma potencial troca simbólica,o
que já aponta uma aufhebung ,ou seja,uma assimilação e superação
como a dialética hegeliana ensina:os pais ,na relação com os
filhos ,e vice-versa,produzem uma sintese na sociedade,em seu núcleo
básico e esta sintese se põe permanentemente como exigência
educativa(socialidade),afetiva (psicossocialidade) e
formadora(pedagógica).
Ao se falar em formação muitos
entenderão este termo como somente atinente aos filhos,mas se refere
igualmente(dialética[de novo]) aos pais,porque a formação,que se
insere na pedagogia em geral,se divide,como sabemos,em ensino e
aprendizagem(filhos[alunos])e educação(em geral),afeita a todos os
que possuem o interesse em aprender(se capacitando a ensinar).
É evidente que perpassa na
dialética,que se constitui por dois termos opostos(A-A),um princípio
de hierarquia ,psiquica e axiológica(hierarquia de valores),que é a
precedência óbvia dos pais,mas,no tempo,no processo de formação,de
continuidade da família,a dialética participa,assim considerada
como diz Sartre “ produto da consciência”.
Então
:A=Pais-B=filhos>Sintese=Familia.Mas a diferenciação,que pode
incidir sobre os pais ou os filhos(A ou B=Pais e A ou B=filhos)marca
a medida de consciência,pela diferenciação dos
papéis(socialidade[psicossocialidade])adquirida,no tempo.
Há sim uma dialética entre pais
e filhos,mas isto não significa que a obrigação de ensinar dos
pais se dilua,como valor,mas psicologicamente porque ocorre o
fenômeno,o fenômeno neurótico não visivel diante da assertiva
prévia de Freud,o da neurotização dos pais.
A chamada sindrome do “ ninho
vazio” deriva desta diluição e distorção,mas outras distorções
e diluições são comuns,quando os pais não compreendem a sua
obrigação e esta dialética inevitável da família:pais
rituais,ou seja,que só se preocupam com os aspectos externos e
sociais da edificação da família;pais mal formados,despreparados
para a tarefa e que sentem impactados com esta constatação;pais que
sentem obrigados a construir uma família;e pais que pensam mais em
termos de poder do que de afeição.
Todas estas questões e neuroses
são analisáveis ,mas podemos perceber claramente dois elementos
constantes:falta de afeição e preocupação social,de
poder.Supostamente teria escapado a Freud este lado da psicologia
humana,mas como não sociólogo é natural que estes liames não o
interessassem.A pergunta é se a inserção social deslegitima de vez
a psicanálise e a neurose.Se tivesse ocorrido a ele esta
dialética,ele seria filósofo ou sociólogo,mas não tendo ocorrido
é de se saber o papel do método criado por ele.
Ora as distorções dos pais ,a
repercutir eventualmente na formação dos filhos,têm uma origem
social,como de resto em toda a psicologia humana,mas guardam
autonomia e especificidade.
Dois exemplos do pensamento de
Freud ilustram esta problemática e põe a dialética num lugar
útil(ou não) na psicanálise.
A ideia de “ formação reativa”
e “ a mãe fálica”.No entanto nestes dois casos Freud sempre se
referiu aos filhos.Talvez no segundo caso não,mas não
aprofundadamente e não reconhecendo a dialética.Deveria,no entanto,
reconhecê-la?
Este artigo é para constatar a
dialética mas para mostrar em que ela contribui para a psicanálise
e mais ,para a cura de alguém.
No caso da socialidade está mais
do que provada a aplicabilidade da psicosociologia.Mas a dialética
contribuiria de que maneira?