terça-feira, 8 de julho de 2025

O ôntico e as essências e seu significado terapêutico

 

O conceito de ôntico (ontisch) em Heidegger é fundamental para compreender a diferença entre os níveis de análise do ser em sua filosofia. Em Ser e Tempo, Heidegger distingue o ôntico do ontológico para mostrar que a investigação filosófica do ser não se confunde com o simples exame dos entes. O ôntico refere-se ao nível do ente enquanto tal, na sua facticidade, particularidade e presença no mundo. Ou seja, diz respeito ao “fato de que” algo é, lidando com os entes em sua concretude, como uma árvore, uma casa, um corpo humano ou um planeta.

No cotidiano, o ser humano vive imerso em preocupações ônticas: suas atividades, seus projetos imediatos, suas dores, alegrias e o uso dos instrumentos que o cercam. A ciência, enquanto tal, também opera no nível ôntico ao estudar os entes a partir de suas propriedades, estruturas e leis. Contudo, Heidegger observa que essa abordagem não questiona o ser destes entes, mas apenas os toma como dados para análise, sem perguntar pelo sentido do ser que os faz serem o que são. Assim, a ciência permanece “ôntica” porque descreve entes, mas não reflete sobre o “ser” que funda a possibilidade de aparecerem como entes.

A originalidade de Heidegger está em mostrar que o ser humano (Dasein) possui uma peculiaridade: é um ente que, ao existir, possui uma compreensão prévia de ser, mesmo que vaga e não tematizada. O Dasein, portanto, tem um modo de ser que é ontológico, pois se interroga sobre o seu próprio ser, mas simultaneamente é ôntico, pois existe de fato no mundo entre outros entes, com suas necessidades e finitudes. Heidegger chama isso de “facticidade” do Dasein: o ser humano está lançado em um mundo de entes, vivendo de maneira ôntica, mas possui a abertura para questionar o ser destes entes, o que o torna ontológico.

Outro ponto importante é que, para Heidegger, a filosofia tradicional esqueceu o ser por ter reduzido toda a sua investigação ao nível ôntico, transformando a metafísica em uma ciência dos entes supremos em vez de questionar o sentido do ser em si. A superação deste esquecimento exige que o Dasein suspenda o olhar meramente ôntico, transformando sua relação com os entes para abrir o horizonte ontológico, onde a questão do ser pode surgir novamente de modo radical.

No entanto, a análise ôntica não é desprezada por Heidegger; ela é necessária como ponto de partida, pois o Dasein só pode empreender a análise ontológica a partir de sua condição ôntica concreta. Em outras palavras, a existência cotidiana, mesmo imersa em preocupações e ambiguidades, contém o germe da abertura ontológica, pois é nela que o ser se dá de modo velado, e é por meio dela que o Dasein pode desvelar-se para si mesmo.

Assim, compreender o ôntico em Heidegger é reconhecer que nossa relação imediata com o mundo e com os entes não é suficiente para nos fazer compreender o sentido do ser, mas é o campo a partir do qual essa questão pode emergir. O desafio heideggeriano permanece: partir do ôntico sem ficar prisioneiro nele, abrindo-se ao ontológico, para que a pergunta pelo ser possa iluminar nossa existência de modo mais autêntico.

Como eu tenho dito nos textos anteriores,penso que no ôntico há essências.O “ homem não é isto ou aquilo”,mas sentido.Para,no entanto, construir sentido há que trabalhar com essências,compreender as essências ,modificá-las ,tratá-las.

É aqui que eu vejo um elemento profissional da filosofia,porque ao tentar melhorar a condição existencial de uma pessoa,o seu sentido perdido,nós podemos saber o que está errado com a essência e modificá-la ou substituí-la.

Uma vez eu discuti com uma pessoa ,uma menina,que estava deixando o magistério,para o qual se preparara trinta anos,para se casar,pois segundo ela,a sua verdadeira vocação era a família.

Eu citei então um caso de uma pessoa que fez a mesma coisa que ela e que se arrependeu.Eu disse que depois de se preparar por tanto tempo para conseguir um ideal e descobrir que não o era,significava desqualificar a vida inteira e demonstrava incapacidade da pessoa de definir os seus rumos,quer dizer,reconhecer uma certa inaptidão para a vida.Um certo desaquilibrio e ambiguidade.

Esta menina negou ,mas anos depois sentiu que eu estava certo.A aconselhei a não sair do magistério,mas ela substituiu tudo.Ela trocou uma vida por outra e se deu mal.

Ao longo dos textos sobre Heidegger eu vou tratar de exemplos como este,para evidenciar como,a partir de sua filosofia,se pode,não necessariamente caindo na psicologia,entender o sentido da vida ,o seu sentido e o dos outros,de modo a ter saúde e felicidade e bem-estar na vida.

A essência de professor,tanto tempo buscada,foi substituida pela de mãe,um tanto quanto natural e obrigacional e porque não dizer,automática.

Uma essência desapareceu para dar lugar a outra,mas ,no final,não teve a mesma força que a do magistério.

Por razões óbvias ela trocou a sua procura,que se provou,tanto tempo,por uma que não era almejada.Porquê?

Para fazer o que a sociedade quer?Por não resistir à pressão e ser solteira?E não ter discurso para ser solteira,apesar da pressão dos outros?Neste momento as perguntas típicas heideggerianas adquirem um significado de apontar para os outros(e a filosofia apontar)o caminho verdadeiro da pessoa que decide.

Em princípio a rutura não teve consequencias,mas depois teve ,porque a pessoa sentiu que o que ela queria era o magistério,porque procurou a vida inteira.Ela se descolou de algo real por uma noção ideal,sempiterna até,de casamento e família.

Democracia contra o Capitalismo

 

A democracia nasceu para conter poderes absolutos. No entanto, ao longo dos séculos, outro poder emergiu: o capitalismo, com sua lógica de acumulação, concorrência e domínio do mercado sobre as demais esferas da vida. Se o capitalismo organiza a produção e a circulação de bens, ele também gera desigualdade, concentração de poder econômico e crises periódicas que ameaçam a estabilidade das sociedades. Aqui, a democracia se apresenta como a força capaz de limitar, controlar e, em muitos casos, opor-se ao capitalismo em nome do bem comum.

O controle democrático do capitalismo se dá por meio de leis que regulam o mercado, impostos progressivos que redistribuem renda e políticas públicas que garantem direitos universais, como saúde, educação e previdência. A democracia confere aos cidadãos o poder de eleger representantes que possam estabelecer limites ao capital, proibindo monopólios, regulamentando salários mínimos, garantindo condições dignas de trabalho e impedindo a exploração sem freios que o capitalismo, em seu movimento natural, tende a realizar. Assim, quando a sociedade se organiza politicamente, ela pode estabelecer que o lucro não está acima da dignidade humana.

Além do controle, a democracia também se opõe ao capitalismo quando este coloca em risco o meio ambiente ou desestabiliza sociedades ao gerar miséria em busca de lucros crescentes. O voto e a mobilização popular podem barrar projetos predatórios e exigir modelos de desenvolvimento que não destruam ecossistemas nem agravem o aquecimento global. A democracia pode também enfrentar o poder dos grandes conglomerados financeiros, impondo regulações que impeçam especulações que colocam em risco economias inteiras, como ocorreu em crises recentes.

Contudo, a democracia deve estar viva e atuante para exercer esse controle e oposição. Quando se fragiliza, seja por apatia dos cidadãos, seja pela captura do Estado por elites econômicas, o capitalismo retoma seu caráter predatório e passa a dominar a política, transformando-a em instrumento de seus interesses. A aliança entre cidadãos conscientes e instituições democráticas fortes é o caminho para que os valores de solidariedade, justiça e igualdade prevaleçam sobre a lógica do lucro a qualquer custo.

Por fim, o confronto entre democracia e capitalismo não é necessariamente a destruição de um pelo outro, mas a constante tensão que obriga o capitalismo a se submeter às exigências de uma sociedade que não aceita ser reduzida a cifras. Quando a democracia cumpre seu papel, ela civiliza o capitalismo, subordina o mercado ao interesse coletivo e afirma que a riqueza deve servir ao povo e não o contrário. Nesse equilíbrio tenso, reside a esperança de uma sociedade mais justa.

Este último parágrafo denota o que é a sociedade nos dias atuais,mas para aqueles que pensam numa utopia,como eu,este processo de controle é uma fase preparatória,que incide fundamentalmente o capitalismo faz de pior,que é submeter tudo e todos ao dinheiro.

A carcaterística mais degradante do capitalismo é legitimar tudo pelo dinheiro.Se deu dinheiro,vale,vai em frente.

Em outro artigo eu procurarei mostrar quais os valores que informam a minha relação com o dinheiro.

Mas agora incido sobre este lado podre do capitalismo.O sentido real da alienação é este,além da falta de tempo livre para os demais.

No filme Babilônia,sobre os primórdios de Hollywood,há uma cena em que um brutamontes,escondido num furdunço debaixo do chão,por um punhado de dólares,engole um rato vivo.

É assim a sociedade do dinheiro:qualquer coisa vale.Mas há momentos em que isto ultrapassa limites humanos essenciais.Nos tempos atuais até crianças se suicidam para fazer valer a dominação irracional das redes.

O principal controle é sobre esta “realidade”.

Preocupado,como sou,com a utopia,comungo com as ideias de Ellen Wood,em seu livro “Democracy against Capitalism”,que,na verdade é a continuação e cristalização da “revolução ocidental”,que,a meu ver,vale para o mundo todo,hoje.

Construir sociedades mistas ,capitalistas e socialistas,já é um fato e elas são,para mim,transicionais,isto é,apresentam condições para o salto para uma sociedade afluente,base possível do comunismo,no seu sentido próprio e exato,não o do assim proclamado “ socialismo real”.



sábado, 5 de julho de 2025

Os apóstolos da democracia brasileira Tancredo Neves e Ulysses Guimarães IV

 

Em um momento em que a democracia brasileira enfrenta ameaças constantes — seja pela polarização extrema, desinformação ou pelo enfraquecimento das instituições — torna-se essencial relembrar figuras como Tancredo Neves e Ulysses Guimarães. Ambos simbolizam a luta pela redemocratização do Brasil após o período autoritário iniciado em 1964. Tancredo representou a esperança de uma transição pacífica e civil para a democracia, enquanto Ulysses, com sua voz firme e comprometida, personificou a resistência parlamentar e a construção da nova ordem democrática.

Falar sobre esses líderes hoje é mais do que saudosismo: é recuperar os valores que eles defenderam — diálogo, legalidade, tolerância e o fortalecimento das instituições republicanas. Ulysses foi o artífice da Constituição de 1988, chamada por ele de “Constituição Cidadã”, justamente por resgatar direitos fundamentais do povo brasileiro. Tancredo, ao se eleger indiretamente e recusar o discurso de ódio, sinalizou que a reconciliação nacional era possível.

Resgatar seus legados é um ato de resistência e lucidez. Em tempos de autoritarismos velados e rupturas institucionais, lembrar Tancredo e Ulysses é lembrar que a democracia se faz com coragem, civilidade e compromisso com o futuro.

Participei das Diretas Já com o coração pulsando por mudança. Não era apenas um ato político, era um clamor da alma brasileira. Ver aquela multidão nas ruas, unida pelo desejo de reconquistar o direito de escolher o próprio destino, foi uma das experiências mais marcantes da minha vida. Eu estive lá, com cartaz nas mãos e esperança no peito. Foi ali que aprendi o verdadeiro sentido da democracia.

Mas o que quero ressaltar neste texto é a questão da representação politica e histórica dos dois:eles são o começo de uma nova era para a classe média brasileira.

O deputado Luiz Henrique Lima disse uma vez sobre Ulysses(mas vale também para Tancredo)que ele representava aquele momento definido por Hegel,em que uma classe em si se tornava para si.No caso aí falamos da classe média brasileira,que,como outras classes médias em outros lugares do mundo,começa por uma egocentria e adquire com o tempo consciência de seu papel politico e histórico.

sábado, 28 de junho de 2025

As utopias absolutas II

 

Continuando o artigo anterior,Marx estabeleceu um paradigma semelhante ao da Revolução Francesa para a Revolução proletária,mas a história se desenvolve de diversas maneiras e no caso da revolução comunista,que se pretende a última,ela não visa o predominio de uma classe,como era o objetivo limitado da burguesia.

A utopia vem para libertar a humanidade e isto impõe limites antes e depois da revolução,se ela vem com as carcaterísticas de 1789.

Penso que uma revolução humanitária completa não virá de um cataclismo dese tipo,que não se resolve depois do ato de vontade.Casualmente pode acontecer,mas de modo geral,com as coisas como estão hoje,não há senão “ esperança” de que este acaso venha.

Na medida em que a classe operária ganha na sua luta,fica muito dificil para ela e para qualquer outro setor da sociedade,arriscar tudo num movimento deste tipo.

Marx imaginava que a classe operária tinha as condições de produzir abundância logo depois da vitória da revolução.Mas isto é discutível históricamente.Não se tem como saber se seria assim se a Comuna de Paris tivesse vencido.

O ponto nodal de uma revolução de tipo marxista é construir esta abundância imediatamente e garantir o tempo livre necessário para os trabalhadores,que poderão gradativamente se libertar da “ canseira diária” como diz Brecht em “Vida de Galileu”.

A questão se coloca nos dia de hoje e de sempre:é possível construir esta “ sociedade da abundância” ou “ afluente”.(?)

Dela depende a transformação em direção à utopia e pode começar no cotidiano,em vários momentos de consciência,não num só geral(que poderá advir eventualmente).

Mas mesmo assim não será mais um ato de vontade cataclismico,mas um processo.

Quando se diz isto nas hostes da esquerda ortodoxa parece indiferença ao sofrimento humano,que tem que ser abordado logo,mas eu penso que há como ser rápido numa processualística.



As visões utópicas absolutas

 

É normal que todo utopista queira extender o bem-estar a toda a humanidade(nem que para isto tenha que matar metade dela).E o seu fanatismo deriva fundamentalmente da miserabilidade que convive com a riqueza e o eventual bem-estar dos outros. Este lado a lado é sempre mote para defender os totalitarismos.

Mas a vida e a história demonstram que este absoluto é muito dificil de alcançar.

Sempre preconizei sociedades muito controladas populacionalmente. Até ao advento do capitalismo as sociedades passadas,de um jeito ou de outro, sempre mantiveram populações pequenas.

Com o capitalismo e a sua necessidade de mão de obra farta para manipular(mas também pelos incrementos da ciência)as populações as populações cresceram sem controle e aí as dificuldades da sociedade e do estado em educar e incluir as pessoas se mostraram também crescentes até à insolubilidade.

Tenho sempre falado nos sem-teto e nas pessoas que não se encaixam. Retirar vítimas do sistema econômico da rua é possível e já foi comprovado em muitos países.

Mas eu penso que existem pessoas com uma conformação mental que não as permite se encaixar ou que as faz preferir,por razões talvez pscicológicas,viver uma situação anormal,ou que pelo menos chame a atenção dos “ normais” para estas figuras.

Não sei,tenho dúvida,mas em termos de utopia nós temos que pensar que,fora a miserabilidade social,outras questões assumem importância para a garantia da liberdade:a sua supressão não se justifica em termos de utopia.

Existe ,no entanto,um outro dogma próprio da “ esquerda revolucionária”,que é a supressão das classes altas para que tudo se encontre perfeito e acabado.

Também a história não autorizou a pensar assim:fazer uma revolução de tipo francês e esperar que as coisas se encaixem,numa produtividade capaz de prover a todos não depende deste processo de eliminação.Continua no próximo artigo.

A admissão da desigualdade é a condição de reconhecimento do outro.

 

Não no sentido social,aquela desigualdade que é causada pelos problemas econômicos e sociedade de classes,mas no da natureza própria do homem.

Eu já fiz uma crítica a esta visão(quiçá stalinista)que reduz o homem à vontade e não reconhece a sua “ natureza”.A natureza humana é um conceito tomista,que todo materialista repudia,mas como Kant é mais consequentemente materialista(como diz Colletti),São Tomás é mais materialista do que muito materialista por aí!!!

O homem não pode ser dissociado de sua natureza material,todo materialista devia saber.Mas nesta natureza existem diferenças entre os homens.

A desigualdade natural do homem é uma verdade descoberta por Locke e pelos liberais,que, a partir daí ,estabelecem um conceito de reconhecimento(do outro),tão importante na “Filosofia do Direito” de Hegel e em todo o seu pensamento.

Em Hegel,como em Platão,em seus sistemas rígidos ,é admitida a desigualdade como atributo natural do homem,mas sob controle.

Os liberais destruíram a necessidade destes sistemas,porque não é possível controlar e é economicamente inviável.

Quando,no socialismo,as pessoas são inseridas nestes sistemas politicos rígidos,seguindo as visões dos filósofos citados,uma pessoa não reconhece a outra ,em suas diferenças e isto gera distorções de todos os níveis e um princípio de degeneração.

Mas ,objetar-me-iam,no socialismo havia este reconhecimento! É verdade,este reconhecimento se impõe,mas o controle geral destas diferenças acaba por suprimir um dos elementos essenciais da natureza desigual do homem e seu reconhecimento:o elemento de surpresa,acaso,que o sistema,em última instância,acaba impedindo e impedindo o crescimento da sociedade.

Os sistemas não são mais importantes do que a própria natureza humana,em sua realidade individual:há um momento em que esta estrtura se rompe,como a água que supera o dique.

O que “justifica” estes sistemas é a presença da miserabilidade,mas isto é assunto para outro artigo.

sexta-feira, 27 de junho de 2025

A matemática de o Capital VIII

 




Ao analisar os problemas da dialética no Capital me chamou a atenção,de imediato, o porquê a matemática não mostrou a Marx que o seu sistema explicativo não podia ser fechado,bem como o mundo real.

A matemática não é dialética no sentido de uma “ dialética da natureza” ou a “ dialética do Ser”.Ela poderia ter mostrado a ele os erros que cometia ao escrever o Capital.


Lendo os seus manuscritos matemáticos e alguns estudiosos do tema ,como eu,vejo porque ele não viu os seus limites.


Em primeiro lugar ele queria fazer uma dialética matemática que acompanhasse o objeto de seus estudos.Porque não conseguiu?


A história dos manuscritos matemáticos de Marx foi abordada pelos soviéticos e por autores brasileiros.Cito os dois agora:


A edição soviética foi publicada por em 1968 e tem uma certa importância ,pelo seu caráter de exegese ortodoxa ,que é sempre uma referência.


E os brasileiros Ricardo Mendes Grande1 & Thaís Helena Smilgys,trabalham no mesmo caminho que eu aqui e fizeram um trabalho para tentar conciliar a dialética com a matemática,o que não acho possível.


Devo fazer uma referência a uma questão que é exposta por estes brasileiros:Marx tinha uma posição muito complexa com a matemática.Afirmou que “nunca se entendeu bem com a aritmética” e achava o cálculo diferencial de Newton e Leibnitz como “místico”.


O projeto de Marx para este cálculo era,como eu já disse ,uma forma inevitável de explicar as imensas quantidades de produção e venda do capitalismo.


O cálculo é uma invenção necessária para manipular e compreender grandes quantidades.Quando,diante de Newton apareceu este imenso universo,ele precisou de um método para apreendê-lo racionalmente.


Penso que por considerar esta “ universalidade” ,como algo não cientifico,por não ser particular(a ciência é particular)é que a inquinou de “ mística”.


O que ele pretendia era fazer um cálculo continuo para explicar o problema especifico econômico que estudava.


E o fato de não ter conseguido tem a ver com o problema da relação entre dialética ,a negação da negação e a matemática.Talvez a dificuldade com a aritmética seja por isso:desmente a dialética.


Mas isto são hipóteses. O que interessa é este projeto de Marx e que confere com o texto dos brasileiros.


Esta idéia,de uma derivada continua(particular) foi tentada por um matemático e nós vamos analisar os dois percursos.


As premissas do Problema


Um outro comentador Smolinski resume a intenção de Marx com relação à matemática :


“Em particular, durante o período de sua preocupação mais intensa com o cálculo diferencial, 1878-1883, seus objetivos principais foram reformular seus fundamentos teóricos e filosóficos exibindo o seu desenvolvimento a partir da álgebra elementar para representar a operação de diferenciação5 como um caso particular da sua lei dialética da “negação da negação”.(este trecho é retirado da edição standard soviética).


E os brasileiros:


“(...)acreditamos e sustentamos que não teve sucesso, caso o seu intuito fosse o de encontrar no processo de derivação um exemplo de uma lei dialética (como discutiremos na seção terceira)”


O problema


O que Marx é um conceito de derivada.O seu conceito.Don ponto de vista do conceito derivada e diferencial são coisas distintas,mas matematicamente equivalentes.


No ultimo artigo sobre estes temas eu tratei destas denominações:de onde você olha você define um modo de fazer matemático,que está interligado aos outros. É derivada se provém da função;é calculo diferencial ou integral na medida em que se analisa os elementos do mundo,que se juntam e separam(como a mercadoria vendida e comprada);é calculo infinitesimal na medida em que idêntica tendências nas séries de elementos do real,quiçá infinitude e infinidade.


Também se lembrarmos o meu ultimo artigo,a presença do zero,que nos incomoda,quando,inclusive,lemos o Capital,incomodava também a Marx.Nós dissemos na ocasião que só assim era possível identificar uma tendência,” para cima” ou “ para baixo”.Conforme o comentador soviético:


“Tecnicamente falando, “a diferencial (de primeira ordem) de uma função 𝑦 = 𝑓(𝑥) é a parte principal do seu incremento, ou seja, aquela cuja parte é linear com relação ao incremento ∆𝑥 = 𝑑𝑥 da variável independente 𝑥. A diferencial de uma função é igual ao produto da sua derivada pela diferencial da variável independente, 𝑑𝑦 = 𝑦′𝑑𝑥” (Demidovich, p. 71, 1968);”


Separar a função derivada da diferença,y=f(x) de deltax=dx da variável independente x é seu objetivo e por isso ele não sente á vontade com o zero.

O que Marx desejava era uma derivada continua que servisse às suas explicações no capital,à dialética negativa do capital.Se o leitor lembrar do meu artigo anterior sobre este tema lembrará que o que assombra marx é o fato de dx/dy=0 ou 0=f´(x)0,que o faz colocar no capital constante o valor 0.

Nós vimos tambem que estes dois termos da fração dizem respeito às duas linhas do processo de compreensão do real,seja ele econômico,populacional ou outra coisa:são as tangentes,as paralelas que oferecem a possibilidade de explicação da mais-valia,do problema populacional e assim sucessivamente.

E igualmente é muito importante rememorar as definições do cálculo:derivada significa a derivação da função determinada.Em função de um principio x derivam (infinitamente?)uma cadeia de acontecimentos,por exemplo,a extração da mais-valia,os preços de produção e os de venda,de uma mercadoria.

As palavras integral e diferencial, se referem ao processo de integração entre estas duas partes e a sua diferenciação,num processo constante que se dá no real.E a variável é o incremento casual nos termos desta cadeia.

Neste último caso nós vemos que:a diferencial de um momento inicial da cadeia de uma função y=f(x)como nós vemos abaixo

é a mais importante,a parte principal de seu incremento,por ser linear ao incremento deltax=dx da variável independente x.

Entendendo:a linha x deve a este impulso inicial o referencial para as variáveis eventuais da cadeia,representadas por deltax e dx.Esta equação pequena expressa esta variação:de um ponto delta se passa para um ponto d caracterizando uma variável,dentre outras.


Cada traço vermelho é uma variável na reta,para mais ou para menos e expressada por estes dois deltas acima.A mais-valia,se está representada nesta reta varia o tempo todo,mas o impulso inicial referido é base paras e calcular cada variação e Marx continua estarrecido pelo de fato de tudo tender para o zero.

A diferencial de uma função ,ou seja,de x para y,é dada pelo produto de sua derivada(acima)multiplicada pela diferencial da variável(em vermelho),isto é ,dy=y´dx”.

A variável y se junta(se integra)na variável x.Só existe integração porque há diferenciação,numa dialética que Marx procurava.Os preços de produção se integram nas sua diferenças com os preços de consumo e a mais-valia é o terceiro incluido.

Mas esta dialética fica seriamente prejudicada quando tudo converge para o 0.

O traço vermelho de y (diferencial)é igual ao produto de sua derivada(o traço vermelho)pela diferencial variável de x.

Assim o preço de produção x é igual(ou seria)ao preço de consumo em geral,em suas variações,sendo retirada daí a mais-valia.

É uma aufhebung o que Marx procura:dois elementos que se relacionam para formar um terceiro AxA gera A.A representa aqui os conjuntos de elementos lambda.

A tentativa de Marx é objeto de critica e interpretação de vários autores ,mas principalmente Bunchaft:



entendendo:se a Função pertence ao conjunto de números reais(racionais[ou naturais]e irracionais)significa xay.Então a função é dita C1 diferenciável num ponto x0,isto é no ponto inicial de uma tendência ,só se existir um numero ax0 pertencente ao conjunto dos numeros reais R(exemplos de numeros reais:1;-3;2/5;pi)tal que a f´(derivada)x0pertença aos numeros reais definida por:a derivada f´x0 vezes x(diferente de 0)é igual à fração f vezes x menos fvezes x0 sobre x menos x0,sendo que x diferente de xo,como já dissemos.

A continuidade da derivada x0 vezes x é igual ax0 continua neste ultimo.Esta é uma definição teta.

É como se define a tendência da derivada.Se fosse X1,como disssemos no artigo anterior não se poderia apreender a tendência,porque não haveria descontinuidade e isto impossibilitaria com os referenciais anteriores ao 1,definir que tipo de tendência está ocorrendo.

E se existe o 1 pode existir o menos -1,o que anula a continuidade.A tendência é uma abstração e para tanto tem que começar do zero.

Marx se desdobra entre duas tendências:a continua e a por limites,o problema é como trabalhar com as duas,porque não há continuidade sem limite.

O que ele quer é a continuidade,a diferenciação por continuidade,mas esbarra no limite.