domingo, 31 de março de 2024

O contexto histórico Para se entender o nexo Hegel/Marx

 

A meu ver só se entende os erros e acertos deste nexo dentro da perspectiva  histórica,do que estava acontecendo no período imediatamente posterior à revolução francesa.

Já aventei algumas conclusões no artigo anterior sobre o mesmo tema.Mas vou aprofundar agora algumas questões importantes:o problema central era que pela primeira vez na História o movimento  físico era amplamente admitido,pelo menos pelos setores cientificos e intelectuais da europa.

Para nós hoje isto chega a ser escandoloso,nós que encaramos o movimento como algo tão natural e corriqueiro.

Mas ainda havia dúvidas por parte inclusive destas referidas elites.Com a  revolução francesa tudo mudou e aí era necessário explicar este movimento na sua relação com o tempo e  na vida social.Na vida social e  na História.

Tanto Hegel quanto Marx estão tateando neste caminho.Dar sentido às coisas,à história,ao tempo,significa o quê para eles?

Proudhon e outros autores(até Kant podemos incluir)não atribuíam propriamente importância a esta questão,porque viam tudo dentro de uma perspectiva dir-se-á meta-histórica ,e acima de tudo ética e moral.

Como muitos utopistas eles viam o esforço humano para melhorar a humanidade como algo concreto,de iniciativa das pessoas,dos militantes em prol do bem geral.

Modelos explicativos e justificadores e de previsão cientifica não tinham importância.Só a iniciativa real e concreta das pessoas.

Porquê Hegel e Marx faziam questão disto aí?Por causa do sentido,da visão do sentido que as coisas deviam ter,mas também acoplado a isto ,uma razoável preocupação com o movimento e sua natureza.Isto sem falar que nos objetivos dos utopistas a perspectiva era essencialmente limitada.

 

 

quinta-feira, 28 de março de 2024

Série Ciências Politicas Jean-Jacques Rousseau

 

Há certos autores que são como rios caudalosos para mim.Dostoievski sempre me chama atenção,sempre encontro uma pepita de ouro nos seus textos(Tolstoi não).O mesmo acontece com Rousseau:sempre descubro uma esmeralda,uma pedra bonita e quiçá nova sob suas águas.

Agora inicio uma série tantas vezes planejada sobre Rousseau e neste primeiro artigo ponho os pródromos de sua análise:

Primacialmente as condições de formação de seu pensamento que podem ser encontradas na biblioteca do Presidente estadunidense Madison em que a primeira versão do contrato social se encontra guardada.

Os críticos sempre disseram que Rousseau ia fazer um tratado de instituições e é ele que está lá.Depois ele enveredou por algo mais teórico,uma análise da politica corrente,como um programa novo para basear a politica e orientar o mundo novo onde novas verdades surgiam diante dele.Ele queria ser um “ novo” Montesquieu,mas acabou indo mais na direção de Aristóteles para  ser ele mesmo no fim.Como se deu esta passagem nós vamos ver nos próximos artigos.

Outras premissas de seu estudo dizem respeito às reais conexões com o pensamento Politico de Tomás de Aquino,em que o principio de soberania popular está potencialmente,ab ovo .

E mais do que isto,as relações críticas com Thomas Hobbes e sua visão do contrato social e politico.

Cotudo,estes artigos não são pura e simplesmente  sobre o Contrato Social.

As outras obras(quase todas)me chamam a atenção como aquele rio de que eu falei acima.

E neste sentido idéias de Rousseau serão discutidas e avançadas se possível,por mim aqui.

 

Série História Mitos e Verdades da II Guerra Mundial

 

A segunda Guerra ainda provoca debates acalorados porque além dela possuir influência sobre o mundo em que vivemos,alguns dos seus fatos são polêmicos ,embora não desconhecidos.

Quero dizer:todo mundo sabe que a guerra foi perdida pela Alemanha em fevereiro de 1943.Porque não acabou aí?Porque foi preciso morrer mais gente depois ,mais do que neste período inicial?

Eu conheci um professor na PUC que se esgoelava diante de um outro aluno,para quem ela dava aula,ressaltando dramaticamente o fato que estando a guerra perdida os nazistas mataram assim mesmo os judeus,aliás,depois da derrota principalmente.

Penso que dentro das premissas dos nazistas este era um fato natural e lógico(ele era e é um professor de ciência politica,não sabia lógica[filosofia]),embora não justificável de forma nenhuma.

Os nazistas viam a sua luta como algo a longo prazo,como uma guerra biológica e por isto,mesmo sabendo que perderam, queriam que no futuro esta tarefa de suprimir o inimigo estivesse resolvida para que as gerações futuras tivessem menos trabalho(digamos assim).

Do outro lado ou dos outros lados a coisa pega porque tais premissas não estão presentes.Elas foram criadas na época e por uma reunião dos grandes em que faltou Stalin:a conferência de Casablanca.Stalin concordou com praticamente tudo que foi decidido lá,mas o principal para o que estamos discutindo aqui é a rendição incondicional da Alemanha .

Os termos de fundo forma postos por Roosevelt e  fazem sentido evidentemente:depois de duas guerras não tinha razão de se  negociar o que quer que fosse com os alemães.

Para Roosevelt os alemães precisavam saber que perderam e que não tinham condições de revanche.Era necessária uma dissuasão completa e definitiva.

Mas se se negociasse e se se desse um fim na guerra neste fevereiro muita gente não teria sido poupada?

Discuto esta questão nos próximos artigos da série.

 

quarta-feira, 27 de março de 2024

O fulcro do pensamento de Kant II

 

(b) partindo do suposto que nosso conhecimento de experiência se guie pelos objetos como coisas em si, o incondicionado “não pode ser pensado sem contradição”;

Agora eu prossigo na análise do pensamento de Kant,passando para o item b.

Este item nos coloca em confrontação direta com a dialética do Ser e da Natureza ,em Hegel e em Marx e Engels.Vamos ver.

Se nós aceitarmos as coisas em si(ding an sich)aquilo que é incondicionado “ não pode ser pensado senão em contradição”(termos de Kant).

Vamos aplica-lo ao fulcro do pensamento dialético de Hegel,que expliquei em um livro e em artigos:

Para Hegel(e seus seguidores)tem que haver uma relação real entre o Ser e o não Ser,porque certas contraposições não ficariam explicadas.

O exemplo clássico de Hegel é este:se não houvesse esta dialética real o problema do finito e do infinito não seria explicável.

Hegel afirma que havendo separação entre um termo e outro o infinito não teria explicação como sucessão de finitudes,ad infinitum.E o finito seria algo aleatório ,sem finalidade e sentido .

Os dois,como outras dicotomias,só se explicam juntos e admitindo uma contradição  na representação,ou seja,admitndo que o mundo,o Ser,a natureza,tudo,se move por contradições (infinitas).

Mas como vimos no primeiro item de Kant ,tal é falacioso,porque não se prova esta contradição no Ser.É uma “ assertiva improvável”.A razão não prova que a realidade existe.Ela é percebida e manipulável pela experimentação(cientifica) e pela aquisição na memória de fatos que se tornam experiência ,o saber sabido.

Por razões que analisaremos em Hegel ,este filósofo ,para explicar a mudança não admitia as teses de Kant.Sem a dialética,para ele,não haveria como explicar o movimento do Ser.Depois nos ateremos a isto.

A representação pespega apenas uma parte do real,uma parte momentânea e organiza(condiciona)os fenômenos e fatos,não incidindo contradição(explicativa porque real)senão aquelas que derivam da consciência humana,desta consciência “organizativa”,digamos assim,não teriam sentido,no que é o inicio das críticas de Proudhon e de Sartre à “ Razão Dialética”em Hegel/Marx(e Engels).

Foi neste ponto que a critica de Bohm-Bawerk ao Capital se escudou:não existe prova das relações dialéticas propostas por Marx na sua obra-prima,sendo “O Capital” teórico e interpretativo.

Para concluir ,lendo a última frase de  Kant no item b:Uma coisa incondicionada só se explicaria em contardição com outra,a partir de outra.

Mas não vamos além disto aí hoje.Até amanhã,se Deus quiser.


 

Os quatro santos da Rússia Tolstoi e seu “ problema”

 

A posição injusta de Tolstoi em relação Shakespeare é que ele entendia que o bardo inglês expressava interesses de classe.A sua visão é um pouco limitada pelo século em que viveu,em que vicejavam formas de preconceito,no rastro do milenarismo,que era parte também da sua psicologia,calcada na religião.

O eventual comprometimento de um autor com uma classe não necessariamente o invalida.Max Beer em sua “ História do socialismo” acusa Shakespeare de desrespeito aos camponeses e aos mais pobres,colocando-lhes caracteristicas  ruins e baixas ,mas se o leitor observar em muitos momentos Shakespeare mostra sim o caráter humano destas figuras.

No Rei Lear ,v.g, o bobo é encarregado de mostrar o erro de um dos vassalos que foi para o cepo.A obediência excessiva leva a estes transtornos.Eu voltarei à questão.

O outro momento sublime e polêmico de Tolstoi é “ Anna Karenina”:eu já ouvi que este romance é um “novelão”,um roteiro  avant la lettre  para filmes de sessão da tarde ou novelas latinas,inclusive aqui no Brasil.E é possível usá-lo assim, mas tirando-lhe o conteúdo e a mensagem fundamental.

A mensagem deste romance é a discussão psicológica sobre a guerra como válvula de escape para pessoas(inclusive da aristocracia)oprimidas pelas convenções sociais.

Estas convenções tiram de Anna o seu filho querido,o que já um baque.Mas depois,mesmo junto ao seu amor ,a heroína se sente abandonada e desvalorizada o que a faz suicidar-se.Analisarei proximamente este suicídio.

 

Tal problemática já aventara Tolstoi em “ Guerra e Paz”,na figura de Bolkonski,o qual não se protege na batalha de Austerlitz ,esperando morrer,o que ocorre muito tempo depois.

Mas em “ Anna Karenina”tal análise torna-se mais profunda.

 

 

Pais e filhos A medida certa da relação

 

É sempre uma pretensão estabelecer para qualquer coisa uma base definitiva,um fundamento definitivo,uma medida irretocável(ad infinitum).

Tolstoi em seu grande livro “Anna Karenina” ,começa desta forma(reproduzo de cabeça): “Cada família é feliz do mesmo modo,mas  sofre à sua maneira”.

Este é um principio filosófico,moral,psicológico,que explica muito do que é a humanidade:o sofrimento,como noticia ruim, chama mais a atenção do que a felicidade.O mundo fica “chato” com todo mundo feliz.Não há motivo para escrever romances...e tal.

É uma contradição que eu discuto sempre no escaninho literário e de crítica  e que continuarei fazendo,mas agora o meu escopo é a questão  de como entendo que a família deve ser.Como é o caminho para ela o ser(feliz).

Não é uma base definitiva e que certamente nem todo mundo aceita ,mas que eu considero pelo menos como a média do comportamento familiar,pelo qual não s e retorna ao sofrimento ou não se cai nele de novo.

A mediação decisiva desta questão é a relação entre pais e filhos.

Ao ver o filme bem razoável sobre Maria Antonieta de Sofia Coppola me lembrei dos estudos de história que demonstram que nas sociedades arcaicas era assim que funcionava:filho de peixe peixinho é.E a forma de garanti-lo se vê no filme,numa cena que eu descrevo de novo:Maria Antonieta acorda no horário definido pelo “coletivo” de sua época,monarquia,igreja católica,estes monstros;realiza todos os rituais da manhã,à vista de todos,inclusive as necessidades essenciais.Depois,é assim até voltar para a cama de noite,com algumas exceções eventuais em festas e reuniões.

Lembrando de Foucault,aparentemente estas práticas foram superadas pela Revolução Francesa,que é a Revolução dos filhos contra os pais (como geralmente toda a revolução é)

Mas  não em todos ao países  e até hoje,pelo menos no nível da consciências e das práticas decorrentes:ainda se vê um esforço dos pais para determinar o que os filhos devem fazer.

Numa época,no entanto,de cada vez mais liberdade ou numa sociedade fundamentalmente  dinâmica,voltada para o futuro,estes esforços arcaicos só distorcem o real e causam os problemas da família no mundo de hoje.Não só isto,mas dentro da família este é um dos fatores.

A medida da liberdade é simples:basta ver os fundamentos.

Enquanto os filhos são incapazes os pais os “ comandam”,mas segundo a lei ,a ordem moral,que os “ orienta também” . E quando os filhos adquirem progressivamente capacidade eles passam a ser iguais aos pais,os quais têm que reconhece-lo ,havendo apenas o dever de respeito aos mais velhos,à sua eventual decadência física ou mental(mas não necessariamente)e cuidados em relação a eles. Mas não dependência,de ninguém.

E a saída dos filhos que não é obrigatória ,mas decorrente de seus desejos,é total ,como corolário da liberdade.

Os pais não teriam este direito?Certamente,mas levando em conta os direitos dos filhos,se estes seguissem estes princípios supra-ditos.

 

terça-feira, 26 de março de 2024

O fulcro do pensamento de Kant

 

“(a) o que “nos impele” a ultrapassar os limites da experiência é “o incondicionado que a razão exige nas coisas em si [...] para todo condicionado, a fim de completar assim a série das condições”;

(b) partindo do suposto que nosso conhecimento de experiência se guie pelos objetos como coisas em si, o incondicionado “não pode ser pensado sem contradição”;

(c) supondo, contrariamente, que nossa representação das coisas, tais como elas nos são dadas, se guie não por estas como coisas em si, mas que estes objetos, como fenômenos, se guiem pelo nosso modo de representação, “a contradição desaparece”; do que resulta: que o incondicionado “tem de ser encontrado não em coisas enquanto as conhecemos, (como nos são dadas), mas sim nas coisas enquanto não as conhecemos, como coisas em si mesmas”.”

Coloquei esta citação tirada do livro de Klein, “Comentários à obras de Kant”,publicado pela universidade federal de santa catarina,porque ela resume toda a problemática compreensiva da proposta filosófica de Kant.

Como é muito complexo eu vou tratar neste artigo só do item a.

“(a) o que “nos impele” a ultrapassar os limites da experiência é “o incondicionado que a razão exige nas coisas em si [...] para todo condicionado, a fim de completar assim a série das condições”;

A experiência humana é um contato com o real que ,dependendo da situação, se torna memória essencial do sujeito:se o sujeito se queima ou se machuca em algum lugar ele sabe que dali por diante deve evitar estas situações.Ele é condicionado a agir assim depois de ter uma experiência desagradável.

Mas  a razão não fica limitada a este condicionamento.Se fosse assim o homem não seria mais do que animal.Sabe-se pelos biólogos que um rato quando toma uma paulada na cabeça não volta mais no lugar em que isto ocorreu. É discutível,mas não aqui,se esta é uma experiência ou não.De qualquer forma os requisitos para considerá-lo como tal estão dados:o rato se “ lembra” da dor,do local e não volta ali por causa deste “ lembrança”.Talvez a reflexologia possa  explicá-lo.

Se a razão não s e resume a isto,qual o papel da experiência na subjetividade humana e para a razão?O homem seria puramente objetal se aceitasse(como Locke?)esta relação como suficiente para sua subjetividade racional.

A razão reconhece a experiência ,mas não se reduz a ela.Porquê?Não é simplesmente porque ela é a base de compreensão, a priori ,da experiência.Isto também,mas a explicação é mais profunda.

A razão para existir não se reduz a este  condicionado mas “ exige” o  incondicionado  contido nas coisas em si,percebidas pela sensibilidade.

Nós nos lembremos dos artigos que eu tenho posto aqui sobre Kant,bem como os livros:a linguagem não restitui as coisas individualmente ,mas padroniza racionalmente algo que só temos como perceber.Não existe um pedra,mas muitas,infinitas,que a razão padroniza,sem se condicionar com uma em particular ou singularmente.O nexo sujeito/objeto não vale aqui,havendo rutura com o cogito  cartesiano.

Mas por outro lado,como dizia Carlos Nelson Coutinho(aos comunistas dogmáticos),a filosofia,bem como a razão,não prova que a realidade existe,o que reforça a tese de elaboração cartesiana do  cogito de que o sujeito só existe por sua capacidade de pensar.E só sabe que existe por tal capacidade.

E na última frase: , a fim de completar assim a série das condições”;

Tal quer dizer que quando o sujeito observa um dado do real,uma coisa, ele o faz  condicionadamente ,pelo reconhecimento da experiência,mas a  razão só se constitui indo além da experiência,deste  condicionado ,formando uma série de condicionamentos ,padrões,sentido,significado,tendência e etc.

O sujeito num dia bate num rato ,come,brinca com uma pedra ou uma bola,faz amor e depois vai dormir.Cada uma destas atividades são experiência,mas  a série é  a razão,transcendente/transcendental.

É por isto que quando Hegel propõe uma dialética universal e total do movimento do Ser,falseia o real e o distorce,porque fica claro que não é possível representar todo o Ser.Não há principio único capaz.

Estou preparando um artigo sobre a dialética do Ser e este ponto é muito importante de guardar.Mas por hora paro por aqui.

 

 

 

 

 

 


Série Freud Além do Principio do Prazer O Ernesto como Sheherazade

 

Eu ia continuar o artigo anterior desta série sobre o complexo de Electra ,mas eu sou como Sheherazade em “ As Mil e uma Noites”:eu vou entremeando estórias ,para deixar todos com curiosidade e atentarem para mim e para meu percurso pessoal.

Outra área do pensamento de Freud é a sua “ guinada” de 1919,quando publicou “Além do principio do prazer”,sob o impacto recente da primeira guerra mundial ,cujas consequencias sobre a psique humana lembraram a Freud a necessidade de estudar os comportamentos aparentemente irracionais e inexplicáveis da humanidade,como o sadismo,masoquismo e outras “ contradições” mórbidas.

Em antigo artigo o que me interessava e interessa primordialmente era a tênue linha de conexão  entre o mundo real,objetivo e o subjetivo ,no que me libertou em grande parte da preocupação jusnaturalista(que ainda persiste aí em alguns setores da sociedade)de compreender o  social a partir da natureza e suas leis “ férreas”.

No entanto,esta linha tênue existe.embora amenizada.A relação prazer/desprazer,supostamente racional(ou pelo menos lógica),permanece ,unindo numa bestimung (destinação)o homem à sua natureza.O homem tem uma natureza sim(São Tomás de Aquino).

Estes liames tênues são os liames entre o pensamento em geral e  a questão  cientifica,biológica e médica dos comportamentos “ irracionais”.Mas eles não ferem a questão da relação com a natureza ,mas causam danos dentro dela.

Porque o homem perverte desta dicotomia prazer/desprazer?Se existe uma influência  social(psico-social)a relação com os limites ainda permanece,mas Freud introduz nesta sua “ guinada” intelectual e  científica um conceito da natureza para (tentar)explicá-lo:a pulsão.

De um lado temos então a socio-psicologia e de outro Freud a pulsão.

Proximo artigo(quando será?)

 

A sociologia venceu o marxismo

 

Quem venceu a batalha das idéias no campo social foi a sociologia,não o marxismo.Mais do que isto a socio-psicologia é a que faz a ligação entre a s explicações cientificas e o comportamento coletivo e individual da humanidade.

Em artigo passado eu critiquei alguns colegas meus do passado(hamilton)e outros do presente(Safatle)que respondiam à derrota de Lula e de Dilma com explicações a meu ver parciais,calcadas em padrões aristotélicos ,incapazes de identificar tendências  e descrever os fenômenos sociais com amplitude.

A dialética e o marxismo não acrescentam nada a esta avaliação do legado aristotélico ,que serve para algumas coisas,mas não entra no mundo complexo e principalmente sequioso de democracia e igualdade de hoje.

Outro dia vi uns vídeos de José Paulo Netto,um dos grandes de minha época  que ainda está aí felizmente(Konder já se foi ,bem como Carlos Nelson Coutinho).

Neles José Paulo critica estas “ novas” ciências,antropologia,sociologia e mais uma outra que não estou lembrando,de terem sido criadas com propósitos de justificação da hegemonia burguesa.

Isto é fato sim:a antropologia surgiu como uma forma de justificar o neo-colonialismo,afirmando a superioridade da raça branca européia e seu dever civilizatório.

No caso da sociologia,surgiu como técnica investigativa,quando a burguesia quis identificar os problemas da classe operária que se revoltava e pôs Frederick Le Play para anotar suas queixas .A partir daí a sociologia teórica e praticamente se constituiu profissionalmente.

Mas tanto no caso dela como no da antropologia os objetivos iniciais foram substituídos por fundamentos científicos sólidos.

Aprofundarei esta questão em artigo próximo,mas agora,no atual eu devo dizer que isto se dá,ou seja,a validação estas ciências, porque a burguesia também é humana e o seu diálogo com as outras classes é humano,dirimindo os muros de classe.

Ainda que a finalidade hegemônica seja verdade e se manifesta constantemente em muitos exemplos,por debaixo da politica,do processo politico, há algo transcendente e permanente ,que a ciência pode e deve explicar.

Tirando a inferiorização de outros povos a antropologia trata pela primeira vez do homem como um todo,em todos os lugares.Isto já a valida,para além da burguesia.

A idéia de ouvir a classe operária para ouvir-lhes as queixas e mantê-la no mesmo lugar,acabou,de plano,já a colocando um pouco acima deste lugar,no que é o começo de sua ascensão.

 

segunda-feira, 25 de março de 2024

Os quatro santos da Russia Os conselhos de Dostoievski Para a esquerda em geral e brasileira em particular

 

Em seu romance “ os demônios”,logo no inicio,um seu personagem,Chatov brada contra os intelectuais russos: “Não se pode amar o que não se conhece, e eles não entendiam patavina do povo russo! Eles todos, assim como o senhor, faziam vista grossa ao povo russo, sobretudo Belínski, e aquela mesma carta dele para Gógol deixa isso bem claro(...)”.

Esta afirmação é uma das coisas mais importantes do movimento social,desde o século retrasado(incluindo socialistas e comunistas):de modo geral este movimento sempre desconheceu as condições dos povos e se moveu por um impulso de vontade de tomar o estado ,sob as mais diversas justificativas e interesses difusos(para não dizer eventualmente escusos).

O marxismo me pareceu desde sempre um movimento baseado no conhecimento do real.Quem lê meus artigos sabe que não penso mais assim.

Contudo, ainda vejo que ,em essência,o pensamento de Marx , na sua origem,nunca se deixou levar por este voluntarismo,que é visto nos nazistas(o Triunfo da Vontade).

Mostro frequentemente esta base e a recupero diuturnamente.Mas então porquê o marxismo ficou refém disto aí?(além de outros setores do movimento?)

Eu já dei as respostas a esta pergunta.Eu a fiz de novo para ressaltar algo que permanece em todo lugar e especialmente no Brasil:aqui como em muitos lugares o militante de vanguarda importa modelos  de fora,porque não estuda a sua realidade e não o faz porque no mínimo constatará que há diante dele um longo caminho para ser aceito e mudar a sociedade(se o for).

Assim ele prefere se identificar com Mao-Tsé-Tung,Marx,Fidel Castro e esconder a sua intenção autoritária numa tomada do estado,que supostamente solucionaria os problemas do povo.

Hitler disse  ao ministro Ribentrop ,após invadir a Polônia,que ninguém ia se  importar com o fato ,depois de os alemães vencerem. Tudo se normalizaria e naturalizaria como fait Acompli .

A vanguarda comunista ,baseada na concepção Marxista e Luckacsiana da “ consciência de classe”,pensa que depois da tomada do estado e distribuição dos bens escassos produzidos pelos mais desfavorecidos,os convencerá,bem como a todos,da justeza de sua iniciativa voluntária.

Mas isto não é bem assim.

Série Ciência O mundo fechado


Este esquema é retirado do livro “Subtil é o Senhor” biografia cientifica  de Einstein ,por Abraham Pais,que até agora considero a melhor sobre o cientista(a de Gareth Jones,seguida da de Isaiah berlin,sobre Marx) e é deste livro que inicio esta série sobre ciências.

Eu não sou um cientista de formação e deixo de lado todo o cientificismo que pretensiosamente  quer vender a idéia de um conhecimento profissional sobre todas as ciências.

Digo isto porque em outra ocasião pontuei que Marx e Engels,por causa da dialética,juntaram tudo e pensavam que as afirmações sobre ciência tinham o mesmo profissionalismo da atividade cientifica propriamente dita.

Mas a ciência ,como tudo no mundo,é mais complexa do que um esquema monistico pode abarcar.É uma verdade que nasce em Kant mas só se firma depois de 1848 e  no século passado.

A  análise coletiva e individual constante de Kant teria levado os homens a estas verdades e evitado muitos problemas,mas a vida e a história não são assim e só com as confirmações  da ciência e da psicologia,se pode ter a certeza desta complexidade.

E ninguém,cada vez mais, tem como realizar uma interdisciplinaridade abarcando tudo,mas estabelecendo pródromos de sua atividade.

Isto eu já fiz há alguns anos e continua idiota vindo aqui para mostrar o meu “ lugar”.

É possível  fazer um diálogo produtivo entre um epistemólogo e as ciências concretas,firmando estes limites no plano das definições e fundamentos.

Lógico que não há  como se aprofundar,mas os elementos essenciais da pratica cientifica dialogam sim com a ciência.Veremos como em próximo artigo e eu discuto o esquema acima.

 

 

A real definição de Hegel

 

É um erro que deriva da análise leiga de Marx sobre o seu mestre,dizer que ele  era idealista , “idealista objetivo”.

Esta definição não tem significado nenhum e  é consequencia de atribuir extrema importância às tentativas de Hegel de colocar Deus no movimento dialético do Ser.

Tal tentativa no filósofo alemão chega a ser inacreditável e oportunista(de acordo com os objetivos políticos de Hegel).

Porque é lógico que não dá para juntar este Deus cristão bíblico  com o movimento.Não vou aqui repetir os argumentos antigos sobre esta impossibilidade,mas ou Deus é movimento e é portanto igual ao movimento do Ser ou se não é movimento tem que ser algo difícil de definir para interagir(no mínimo)com o mundo,sendo diferente dele.

Esta transcendência ou transcendentalidade fez com que fosse definido como idealista,isto é,alguém que entende o Ser como proveniente de uma Idéia,a Idéia Absoluta.Isto é parcialmente verdade.Mas com as observações acima é só desconhecer este conceito um pouco confuso de definir(porque não se sabe se ele é a idéia de um Deus separado do Sujeito Cognoscente ou os dois, subjetividade e objetividade integrados[Porque só se entende esta questão toda de Deus,o “ deus dialético”,pela subjetividade])e só analisar o Ser em geral onde está o conceito de matéria,que Marx pespegou ,ignorando os problemas filosóficos em torno dele.

Porque dizemos matéria só estamos constatando algo.Para dizer tudo que tem a ver com a matéria  outros conceitos devem ser trazidos ,numa hierarquização kantiana não reconhecida.Uma hierarquização axiológica.

O conceito de Ser,o conceito básico e profissional da Filosofia,resolve provisoriamente (e  monisticamente)a questão da definição do objeto da filosofia e da de Hegel.

Não se pode dizer também que Hegel é um materialista ,pois no conceito de Ser o materialismo é só uma parte,mas idealista da mesma forma,porque ,como já dissemos ,há esta relação ambígua entre o sujeito e o objeto,na integração proposta pela dialética.

Ainda que Hegel realmente tenha tocado o materialismo na “ Filosofia do direito”(reconhecido por Marx)não há como dizer que ele enveredaria pelo mundo real,identificando-o com a matéria,como fez seu maior disicipulo.

A sua definição portanto ,fica entre a subjetividade,como parte do real e o reconhecimento de uma objetividade,tudo integrado no Ser,pelo movimento,pela dialética.

Hegel está mais próximo do dualismo,de Aristóteles, mutatis mutandi .

Os manuais soviéticos seguindo os erros iniciais de Marx(de que eu vou tratar depois)valorizam algo sem fundamento e acabam(como Marx)criando uma pseudo ciência dialética,identificada com a matéria ,que não é senão consciência falsa.Cientificismo.

Série Freud O Complexo de Electra

 

Os estudiosos de Freud e da psicanálise são unânimes(quase) em dizer que por causa da presença constante da mãe,que viveu longevamente,Freud não desenvolveu este conceito de “Complexo de Electra”.

Este conceito é também objeto de críticas do movimento feminista em razão de colocar certas tarefas autoritárias na relação filha/pai.Enquanto no complexo de Édipo existe fulcralmente a questão do amor,no outro só haveria a da autoridade.

Melanie Klein,que eu já citei em outro artigo,afirma que assim como há a inveja do pênis por parte da mulher,há igualmente a inveja,não sei se da vagina,do homem frente à mulher.

É um insight a ser estudado e aprofundado naturalmente,mas não há razão para descrer desta “dialética”.Ela é pelo menos uma proposta investigativa válida.

Neste sentido não há porque  cravar o conceito de “ Electra” como possuindo aqueles elementos definidos por Freud,somente.

É claro que há uma relação de amor também ,um aprendizado do amor.Contudo no plano social parece indicar Freud que o amor na sociedade é mais materno, enquanto que a autoridade é paterna e o amor se revela mais no respeito do que no sexo e na relação erótica,embora estas não faltem.

O amor da mãe para a filha seria a formação amorosa desta última?Não haveria aí lesbianismo?Do pai para o filho igualmente?

Então esta subdivisão de tarefas teria um papel decisivo na questão da formação geral do grupo social e aí a mulher perderia no plano amoroso,para o menino em relação à mãe.(?).

 

 

sábado, 16 de março de 2024

Esclarecimentos Sobre três concepções analisadas Por mim

 

Na medida em que não fica claro que a lei do valor de Marx incida,algumas visões sobre o capitalismo e a realidade em que vivemos,de exploração e desigualdade ,devem ser explicadas,para que não hajam dúvidas quanto às minhas posições hoje.

Em primeiro lugar não quer dizer que a exploração deixou de existir:ela se pulverizou em muitas formas.

Quando há condições de elevar os salários e tal não é feito,há exploração;quando certos setores da sociedade  ganham salários diferentes ,há exploração;quando barreiras são criadas ao desenvolvimento dos coletivos e das pessoas individualmente,há exploração.

Mas a discussão sobre o modo de ver de Marx me impôs uma revisão de porque o capitalismo entra em crise,o  que tem a ver com um problema da própria humanidade em toda a sua história:a humanidade,como todo homem individualmente ,nasce sem conhecimento do mundo ao seu redor e neste processo de “aprendizagem” e compreensão do seu entorno as exigências  de sobrevivência impõem modos de organização que só prejudicam a ela própria e  distorcem este seu caminho no tempo.

O ponto de partida é sempre ruim e quando ela adquire experiência e compreensão real de como as coisas funcionam e devem ser entendidas,todo este entulho do passado a oprime,a dificulta,no seu propósito de utopia,de achar uma sociedade ideal.

É aquilo que Comte diz e que foi a frase de final de vida do Marechal Rondon(segundo o testemunho de Darcy Ribeiro): “ cada vez mais os vivos são governados pelos mortos”;ou como diz Marx em o 18 brumário: “As tradições do passado oprimem como um pesadelo o cérebro dos vivos”.

A época contemporânea é aquela que admite o tempo e o movimento como realidades decisivas do mundo.Ela se coloca permanentemente no dever de auto-atualização,por exigência subjetiva e objetiva.

Era possível à  humanidade,se este entulho não existisse ,construir a utopia(?).Porque não se dá desta forma?

A minha resposta é  a seguinte:pelas condições a que nos referimos,mas não só,o homem tem mais dificuldade em construir mediações liberadoras do que se desviar nas relações imediatas.

Explico:é como Malthus pontuou.Não é que eu desconsidere aquilo que Marx destacou no seu(dele)pensamento:claro que ele tem uma ideologia justificadora da guerra e da limpeza da sociedade,coisa que reverberou até nos nazistas.O que eu digo,no entanto,é que ele tem razão ao afirmar que é fácil reproduzir-se e bastante difícil construir as condições de alimentar este crescimento populacional.

A discrepância destes dois movimentos não é causado por ela própria ,sem a intervenção dos interesses de classe ,mas estes não são a causa única e reproduzem aquilo que já é um problema da sociedade na sua relação com o mundo.

Contudo existem discrepâncias  também na democracia:a similitude é a mesma que esta aí.A democracia tem uma obrigação de solução dos problemas da sociedade para além das suas imensas vantagens existenciais,pois ela não existe sem o principio da liberdade,que reconhece.

Contudo se existencialmente,isto é,no plano individual, ela é ótima ,na imediação,na hora de construir a utopia,na mediação,esta infinidade de pessoas dificulta e qualquer ruido a põe em perigo.

Na verdade são três problemas que se imbricam:Malthus,a exploração no capitalismo e  a democracia.

 

 

sexta-feira, 15 de março de 2024

O transcendente em O Capital(de Marx) E seu efeito sobre o trabalho produtivo

 

Eu coloquei o nome de Marx entre parêntesis porque muita gente que lê os meus artigos sobre O Capital pensa que é sobre o capital em geral (kkk)e se atrapalha na sua compreensão(kkk).

Todo mundo sabe(?)que Marx era materialista e todo materialista,de modo geral,é imanentista,principalmente porque seguia a visão de Espinoza.

Contudo esta aparente “ vantagem” básica filosófica de Marx,é duvidosa.Porque  a partir da análise imanentista do capital(agora é capital mesmo[kkk])e a caracterização da mais-valia decorrente, se tem o entendimento de que só aquele trabalho que produz mais-valia é “ produtivo” e legitimo na hora de construir o comunismo.

Contudo a utilidade ,o valor/utilidade,não acaba como problema(e solução).A concepção econômica de Marx é inteiramente negativa quanto ao mercado,que ele chama de “ área do vilipêndio”,da “roubalheira universal”.Ele é romântico e muito parecido

É neste sentido que ele calca tudo na questão da produção,que como eu já expliquei deriva de sua concepção materialista herdada de Hegel (Filosofia do Direito)do  “ sistema de carências”.Só a capacidade produtiva,daquilo que é essencial à vida tem legitimidade.

Contudo,repito,o problema da escolha e da produção para o mercado não acaba e cria uma mediação de transcendência à explicação da produção de mercadorias.

O mercado transcende a este processo de produção imanente.Ele é uma instancia que depende só da escolha(liberal)das pessoas em produzir e vender.

O que supõe que no comunismo sonhado por Marx tal escolha desaparecerá?Por isso disse uma vez que que Marx era protestante quando diagnosticava os males do capitalismo,mas era católico no processo da revolução e construção da utopia.Porque na sua utopia os homens não se preocupam com dinheiro e com o mercado,coisas que o catolicismo deplora e controla(na última encíclica[ou bula?]do Papa João Paulo II,ele disse que o capital só tem validade como investimento e não como entesouramento,numa decisiva dissensão com o portetsantismo){Marx não defendia o dinheiro e o entesouramento}).

Parece que só uma certeza mística,religiosa até,fá-lo (a Marx)acreditar(bem como a outros,seus seguidores)neste conceito.

Nada justifica pensar que no futuro tal não possa acontecer:a permanência do mercado.E por aí a única forma de garantir uma igualdade entre os homens(o escopo do comunismo)é aumentando a produção para criar estas condições de igualdade.

Eu já me referi ao fato de que a igualdade absoluta não existe,sendo uma ilusão,entre outros, de Rousseau.Tudo indica que na utopia se conseguirá diminuir a distância,porque os problemas derivativos da pura igualação se farão sentir  do mesmo modo que agora,evidente que com menos violência e consequências.Espero.

 

terça-feira, 12 de março de 2024

Wittgenstein

 

Tractatus

1-O mundo é tudo o que ocorre

Eu já li traduções um pouco diferentes desta afirmação inicial do Tractatus.Em algumas traduções se diz: “tudo o que ocorre no mundo são fatos”.

Esta tradução acima  nos induz a pensar não em termos de fatos,mas de fenômenos.Não é a mesma coisa?Sutilmente não.

Etimologicamente nós podemos igualar mas aquilo que ocorre tem um sentido de fenômeno,como é tratado na ciência.

Como Wittgenstein está se referindo a tudo ,outros tipos de fenômenos parecem ficar de fora deste assertiva,mas não ficam não, evidentemente, porque ele se refere a tudo.

Mas também não é  numa perspectiva só filosófica do Ser,mas na perspectiva da lógica,da relação do sujeito com “este”(dassein?) mundo.

Se fosse só com o Ser,com tudo aquilo que existe ou se põe como existente,na acepção de Heidegger,haveria uma limitação da problemática posta pelo Tractatus.

Aqui nós temos a questão do objeto,dos fatos propriamente ditos(inclusive sociais),dos fenômenos,das coisas e do...Ser,visto como estas múltiplas manifestações possíveis.

Para Wittgenstein e seus seguidores o tratactus é uma obra filosófica,mas os críticos o vêem como um tratado de lógica e se analisarmos as circunstâncias de formação deste livro e do pensamento de Wittgenstein,nós veremos que há um ruido entre o que ele quis fazer e o que é realmente a sua obra.Ele queria uma obra filosófica,mas é um tratado de lógica.

Wittgenstein parece ter se associado(mas não só),àquele conceito heideggeriano de falatório ,aquilo que são apenas palavras sem conteúdo,sem finalidade,mas tanto na visão deste último como na dele é um pouco de pretensão pensar que a humanidade vai se limitar a dizer só verdades factuais.

Isto põe o problema de que as verdades subjetivas e as construções discursivas têm um papel de per si decisivo e que esta  proposta de Wittgenstein não escapa de um certo cientificismo de sua época,um apego já um tanto inadequado á verdade objetiva ,em detrimento de outras habilidades humanas,como a imaginação.

Esta crítica vale também para Heidegger e me lembra muito a questão  literária que opôs a contenção e Graciliano à profusão criativa de Jorge Amado ,que,no fundo,não escondia um vezo autoritário(totalitário/repressor) de impedir as pessoas de “ jogar conversa fora”,quando o certo era seguir as “verdades “ da ideologia.

O que importa é superar a miséria e o resto não tem importância.Tem sim.


domingo, 10 de março de 2024

Natura non facit saltum

 

Na medida em que não há uma racionalidade absoluta do mundo,a  não ser uma sua racionalização subjetiva,esta proposição antiga  tem como ser deslindada.

Se o casual é casual mesmo,de per si ,não porque fazer um relacionamento entre estes dois termos,porque como venho explicando no que diz respeito ao nexo dialético Hegel/Marx,se o casual só se define pelo causal  não o é mais,nem no rela ,nem no discurso.

Aplicando à proposição latina nós vemos que o “ facit saltum” é o casual,aquilo que acontece casualmente,uma mudança de qualidade repentina e súbita que muda o real.

O “ non facit saltum” diz respeito ao causal,à determinação constante entre os diversos elementos ,os quais não envolvem o casual,o risco,o repentino e súbito.

Se o casual se torna dominante há uma desagregação geral e caótica do real.Que só é compreendida como tal e não racionalizável,de  modo nenhum.

No século passado alguns autores viram no caos,na desagregação ,a possibilidade pura,real ,de que algo venha a ocorrer.

No plano da física não se sabe desta possibilidade,mas no plano psicológico,cultural,subjetivo e interpretativo,até certo ponto ,as possibilidades de (re-)construção do discurso é grande.

Neste aspecto o casual se transforma eventualmente em causal ,mas não se pode ,por isso,diluir a sua condição no causal .

O risco ,como manifestação do casual,há que ser reconhecido,mas não racionalizado porque senão legitima uma certa irresponsabilidade .

Tratarei desse problema em próximo artigo.