sexta-feira, 26 de abril de 2019

Se te amo que te importa?

A frase famosa de Goethe expressa os meus sentimentos sobre o significado do amor:a experiência humana do amor é subjetiva,ou seja,subsiste por si mesma na subjetividade.
Certa vez ,no inicio do namoro do casal existencialista,Simone de Beauvoir reclamou da ausência de Sartre,alegando que ela “ precisava de um corpo” para o amor,porque não o separava dos desejos,afecções e afetos que ele porta.
A distância é um problema entre os casais:ora por causa das necessidades econômicas,os corpos dos casais são separados;ora por repressão e opressão ,como no caso de Santa Teresa D´Ávila;ora por desentendimentos fúteis;ora pelas condições econômicas(materialismo histórico).
Todos estes problemas e alguns outros atacam o desejo(desejo?)da Igreja da indissolubilidade eterna do casamento ou da relação homem/mulher.
Então eu pergunto o que fazer diante de uma situação como esta?A frase de Goethe aponta o caminho(não Simone de Beauvoir).
O Amor transcende ao corpo,mas não à sua experiência inelutável.A menos que sejamos como Kaspar Hauser ou como o menino lobo do doutor Pinel,a experiência do corpo,de um jeito ou de outro,acontece quando nascemos.
E dificilmente a experiência das afecções,dos afetos,é evitada,de modo que não há ser humano normal,médio,que não tenha esta conexão básica,que leva para os momentos de sofrimento e separação que são muitos neste vale de lágrimas.
Leva a memória inelutável de bons momentos,de uma experiência que não pode ser separada da pessoa sequer pela tortura,mas só pela morte,”na qual”,tais problemas não são.
Assim Santa Teresa sublimou o desejo neste amor,uma vez que obrigada a ir para o convento.Assim Goethe sublimou uma frustração com o seu conceito.Assim Michelangelo sublimou seus desejos sexuais.O mesmo valendo para Da Vinci.
A sublimação da necessidade sexual,do desejo,se dá de diversos modos,mas unicamente com base nesta memória essencial do contato amoroso com o mundo.
Mesmo quem só vê imagens na internet consegue sublimar e se preencher( e continuar na vida)se o objeto amado é inalcançável.
Outra é a situação se ele é alcançável.Maquiavel definiu o inferno como querer participar da politica quando ela está tão perto.Mas sublimou-o ao escrever o “Princípe”.
Aliás quando George Orwell escreveu “ 1984” colocou como atividade salvadora do personagem principal a escrita,o diário simples,atribuído pejorativamente às moças ingênuas,que ainda não perderam a virgindade.Mas um diário é uma atividade,ainda que não reconhecida,de toda a pessoa orpimida,que quer sublimar,com e pelo corpo,a sua opressão.
Ter a mulher amada perto e não tê-la de fato é o inferno para o amante(no sentido abstrato geral deste termo).

"O que é verdadeiramente amoral é ter desistido de si mesma. "


domingo, 7 de abril de 2019

A grande contribuição de Einstein

Na verdade o que Einstein fez na História foi adiantar o relógio do conhecimento.A sua contribuição é real,apesar do que diz a atual direita brasileira,boçal.Mas a distância dela para a de outros,cientificamente falando, não é tão grande quanto a midia em geral propaga.
Realmente ninguém se interessou pelos problemas da física até ao momento em que ,com a bomba atômica,eles se tornaram midiáticos e a partir de um erro que o senso comum,como sempre,comete:atribuir a Einstein a responsabilidade pela destruição de Hiroshima e Nagasaki.
A descoberta dos segredos do átomo,da transformação da matéria em energia( e o inverso),gerou efetivamente a bomba,mas como é possível que alguém,não só Einstein,soubesse disso em 1905?
Durante muito tempo muitas biografias reproduziram este erro e em nome do escândalo que vende,deturpou na mente da juventude a realização do cientista.
E isto vale para Freud,Marx ,Nietzsche.Eu já cheguei à conclusão de que uma das tarefas dos pesquisadores(eu incluído)é limpar este caminho que vai da contribuição dos criadores com o povo,porque o que isto provoca de problemas ,agitações, cataclismos,é uma grandeza.
É uma tarefa dos professores,que ,no entanto,muitas vezes dão seguimento a erros deste tipo.Isso ocorre,num contexto normal,porque não são pesquisadores e não têm,normalmente,a liberdade de contestar certas informações,por receio de represálias.
Isto põe um outro problema,relacionado com Einstein e os outros:o discurso de poder manipula o conhecimento para obter vantagens,mas no caso de Einstein isto teve uma consequencia positiva,pois,por considerarem as visões dele como “ degenerescência judaica”,os nazistas não deram importância às revelações do átomo propiciadas por ele.
Alguem poderia usar este exemplo para mostrar que o conhecimento deve ficar oculto,na mão de pessoas responsáveis,mas a verdade é que se todas as consequências fossem conhecidas,de pronto,transmitidas por meios responsáveis,os perigos da revelação de verdades poderiam ser impedidos por uma opinião pública consciente.
Tenho certeza de que os caminhos tortuosos entre o poder e a ciencia é que impuseram uma barreira à construção da bomba pelos alemães.Se eles soubessem e fossem informados a teriam feito,mesmo que acreditassem numa “ciência judaica”.Não dariam a menor pelota para isto.E teria bom paar eles se ninguém soubesse de nada.
Não existe isto de ciência de classe,judaica,enfim,o que a ciência é é transcendente.Ela vale por cima de tudo,enquanto suas assertivas se adequarem ao mundo real.Ou o contrário.
Mas a pequena contribuição de Einstein tem uma consequencia para a humanidade,porque se não fosse ele,que ,fora da universidade,e sozinho,se interessou desde criança pelas grandes questões de sua época,outros levariam mais tempo para desencadear toda uma pesquisa física que mudou completamente nossa visão do mundo,nos separando de séculos passados.

quinta-feira, 4 de abril de 2019

Wittgenstein:Lógica ou Filosofia?

Ao tomar contato,pela primeira vez,na Universidade,com os Tratados de Wittgenstein os rejeitei como completamente fora do lugar.Mas,na verdade eu o fizera mais por causa da sua aplicação filosófica,que,por sua vez expressava a idéia(até hoje para mim errada)de que a sua proposta era “ filosofia” e,pior ainda,a filosofia definitiva.
A proposta de Wittgenstein é de uma lógica e há uma diferença entre lógica e filosofia.A lógica já é um começo de profissionalização da filosofia e lhe pertence em geral,mas há uma distinção não notada por ele e por muitos de seus seguidores,que quiseram refundar todo o pensamento filosófico a partir das suas proposições lógicas.E é assim que consideramos Wittgenstein e sua obra:como lógica,não pensamento filosófico.
E neste sentido ,certa vez,perguntei a uma professora minha professora especialista,se a lógica formal era a de Aristóteles e ela disse:”Não,esta lógica (de Wittgenstein)é que é”.
Então a minha primeira abordagem de Wittgenstein é discutir a natureza deste conhecimento.
Ora, a lógica formal atribuída a Aristóteles se define pelo princípio da identidade:A=A,tanto no discurso do sujeito(logos),quanto na Physis(logos[adequação com o logos interno da Physis]).Mas neste último caso a physis é apreendida por sua forma e substância(aquilo que está sob o Ser).
A lógica formal,na sua definição clássica,aristotélica,não prescinde desta conexão entre forma e substanz.O movimento físico não é admitido e portanto a questão do movimento do Ser se resolve na das suas transformações:quando a substância muda, a forma muda.
No futuro Hegel estabelecerá uma conexão dialética contraditória entre estas duas categorias,bem como nas outras,provindas de Aristóteles.Mas eu tratarei disto em outro trabalho.
Porque então a minha antiga professora(que ainda deve estar dando aula,pois era muito jovem)chama o “ Tractatus” de Wittegenstein de lógica formal?
O Tratctatus de Wittgenstein aborda os fatos do real.O novo objeto de investigação e organização são os fatos.Os fatos são mais do que a forma e a substância.Eles se referem a toda uma pletora de fenômenos desconhecidos de Aristóteles:os simbolos,os fatos sociais e culturais que passaram a ser obejto de estudo no século XIX.
O que faz Wittgenstein é incluir estes fatos,nos quais,eu pergunti:se pode manter os conceitos e categorias de Aristóteles?
Se respodermos positivamente teremos que dispensar de vez a Metafísica(ontologia)de Aristóteles.E se não fizermos qual o papel de cada uma destas lógicas?
A minha resposta a estas indagações,que começaram com o diálogo com a professora,há muitas décadas,é que a lógica de Wittgenstein abarca ,em termos, a de Aristóteles.Ambas são formais ,mas com objetos diferentes.
Os fatos são fenômenos se substância?Acaso a Physis não pode ser apreendida como fenômenos,como fatos.Tudo gira em torno da substanz.
Se a lógica dos fatos atinge ou toca minimamente que seja a da Physis é um problema a resolver,mas de antemão digo que a Physis subsiste não só como lógica,mas também como ontologia.
Talvez ,e eu estou com esta assertiva, o Tractatus acabe com a metafísica,com os sistemas fechados,mas é outra questão complexa que quero colocar aqui em próximos artigos.