A frase famosa de Goethe expressa os meus sentimentos sobre o
significado do amor:a experiência humana do amor é subjetiva,ou
seja,subsiste por si mesma na subjetividade.
Certa vez ,no inicio do namoro do casal existencialista,Simone de
Beauvoir reclamou da ausência de Sartre,alegando que ela “
precisava de um corpo” para o amor,porque não o separava dos
desejos,afecções e afetos que ele porta.
A distância é um problema entre os casais:ora por causa das
necessidades econômicas,os corpos dos casais são separados;ora por
repressão e opressão ,como no caso de Santa Teresa D´Ávila;ora
por desentendimentos fúteis;ora pelas condições
econômicas(materialismo histórico).
Todos estes problemas e alguns outros atacam o desejo(desejo?)da
Igreja da indissolubilidade eterna do casamento ou da relação
homem/mulher.
Então eu pergunto o que fazer diante de uma situação como esta?A
frase de Goethe aponta o caminho(não Simone de Beauvoir).
O Amor transcende ao corpo,mas não à sua experiência inelutável.A
menos que sejamos como Kaspar Hauser ou como o menino lobo do doutor
Pinel,a experiência do corpo,de um jeito ou de outro,acontece quando
nascemos.
E dificilmente a experiência das afecções,dos afetos,é evitada,de
modo que não há ser humano normal,médio,que não tenha esta
conexão básica,que leva para os momentos de sofrimento e separação
que são muitos neste vale de lágrimas.
Leva a memória inelutável de bons momentos,de uma experiência que
não pode ser separada da pessoa sequer pela tortura,mas só pela
morte,”na qual”,tais problemas não são.
Assim Santa Teresa sublimou o desejo neste amor,uma vez que obrigada
a ir para o convento.Assim Goethe sublimou uma frustração com o seu
conceito.Assim Michelangelo sublimou seus desejos sexuais.O mesmo
valendo para Da Vinci.
A sublimação da necessidade sexual,do desejo,se dá de diversos
modos,mas unicamente com base nesta memória essencial do contato
amoroso com o mundo.
Mesmo quem só vê imagens na internet consegue sublimar e se
preencher( e continuar na vida)se o objeto amado é inalcançável.
Outra é a situação se ele é alcançável.Maquiavel definiu o
inferno como querer participar da politica quando ela está tão
perto.Mas sublimou-o ao escrever o “Princípe”.
Aliás quando George Orwell escreveu “ 1984” colocou como
atividade salvadora do personagem principal a escrita,o diário
simples,atribuído pejorativamente às moças ingênuas,que ainda não
perderam a virgindade.Mas um diário é uma atividade,ainda que não
reconhecida,de toda a pessoa orpimida,que quer sublimar,com e pelo
corpo,a sua opressão.
Ter a mulher amada perto e não tê-la de fato é o inferno para o
amante(no sentido abstrato geral deste termo).