O
ponto nevrálgico de todo o monismo é a sua origem na filosofia
grega.Lá mesmo nós podemos analisar as suas incongruências.Mas se
estivéssemos lá,no tempo em que o pensamento grego se formava
,muito provavelmente não teríamos esta perpsectiva crítica que
temos hoje.
Aristóteles,assim
como os filósofos gregos(e todo o mundo), são datados,como eu,mas o
tempo corre a meu favor e a favor dos leitores.Dos que vêm depois.
Os
filósofos anteriores a Aristóteles eram monistas e ele é monista
na medida em que junta a filosofia e a ciência numa mesma causa,numa
única causa.
E
supondo dentro das suas (dele)limitações,que o discurso explicativo
se adequa perfeitamente à realidade das coisas,do Ser, o
monismo,como a Metafísica,são verdadeiros.No entanto,Metafísica e
Monismo são modos de ver a mesma coisa:a metafísica é o sistema
geral,fechado,enquanto que o monismo é a causa,a causa única que
explica e movimenta este sistema(fechado).
O
que tem importância neste meu artigo sobre Aristóteles é mostrar
como o monismo falseia a realidade e esconde o fato de que o Ser não
é fechado e que encontra sempre equivalentes ou aberturas no
mundo,nele mesmo.
É
uma questão complexa saber porque os pré-socráticos e Aristóteles
não puderam ver estas aberturas.Para mim é a questão da
compreensão cientifica da realidade,mas eu não vou tratar disto
aqui.
O
próprio processo de desenvolvimento da filosofia demonstra que tudo
pode ser contestado e novos discursos explicativos surgir.No entanto
esta abertura se verifica em toda a filosofia,por causa disto e
porque toda linguagem jamais tem condições de abarcar o ser e o
mundo de uma forma completa e total.
Isto
quer dizer que Aristóteles está superado,como os outros?Não.Quer
dizer que fica claro que o pensamento está sempre se repropondo e
sempre se adequando,ele também, diante do esforço histórico de
compreensão da humanidade.E que por trás das afirmações
peremptórias e dogmáticas há um propósito ideológico de
poder,como ficou evidente desde as posturas de Pitágoras,que
escondeu um conhecimento que contestava seu projeto politico.
Aristóteles,embora
partisse do real ,totalmente diferente de seu mestre Platão,manteve
uma separação entre o conhecimento racional e o
prático,justificando afinal a escravidão.Se tivesse questionado
este pressuposto teria certamente descoberto uma extraordinária
abertura.
A
filosofia,que recebe tantas críticas por sua inutilidade revela
ilusões quando propõe explicações totais desmentidas
depois.Sobrevive aos cacos,mas continua sofrendo estes ataques e aí
entra um comentário importante dentro desta crítica,que no fundo é
por causa do monismo,é por causa da crença de que tudo tende para a
unidade ou é a unidade.
Já
me referi que a ciência pensou em jogar estes cacos fora,mostrando
a eficiência do saber científico,esse sim capaz de identificar a
causa real das coisas.Tal não acontece.
Mas
existe uma crítica que eu acho importante contestar agora:certa vez
eu disse a um ortodoxo de esquerda,que tinha todos estes preconceitos
com relação à filosofia,que sem Kant a liberdade de que nos
desfrutamos hoje não seria possível,ao que ele contraditou que a
luta dos povos o conseguiria para além dos filófosos,cujo
papel,segundo ele não era sozinho e nem o maior.Quer dizer, a luta
do homem para se libertar é suficiente e os filósofos são como um
grão de areia.
Tal
admoestação seria indicável para Aristóteles e os outros:mas mais
cedo ou mais tarde a linguagem ,a organização da linguagem e do
mundo seria feita por outras pessoas.
Estas
assertivas são válidas para quaisquer épocas e pessoas:se Santos
Dumont na época em que o 14 bis foi(seria)feito,outro o faria,sem
dúvida.
Dependendo
de cada contribuição,de cada época,de seus recursos, esta verdade
é imediata ou demorada,mas inegável.Num outro sentido,não raro,a
contribuição de um intelectual,como Kant ou outro criador ,adianta
as coisas,cristaliza num discurso,que talvez fosse mais dificil e
demorado de fazer,algo que a sociedade pede,mas coletivamente não
consegue.
Duas
coisas decorrem destas conclusões:que existe sempre um equivalente
que denega o monismo e a metafísica e que o discurso racional,o
logos,diferentemente do senso comum,guarda não a revelação
absoluta da realidade mas a sua passagem,fixando um momento,que
subsiste ou não conforme às circunstâncias.
Tais
critérios são válidos para as figuras históricas e elucidam o que
está sendo dito:os movimentos de massa necessitam de um intérprete
que cristaliza as reinvindicações e apura a responsabilidade geral
deste movimento ,dando-lhe sentido e adiantando a sua direção para
os fins desejados.É o caso de Lutero,de Lênin.E de outros.
Mas
em um caso extraordinário tudo se mostra mais claro:Cristo
representa o sofrimento da humanidade,mas não há de se dizer que só
o cristianismo conhece o sofrimento,sendo este sentimento comum à
humanidade.O papel de Cristo, e por isso ele tem relação com a
filosofia ocidental racional,é cristalizar como um simbolo e uma
lembrança esta verdade comum da humanidade,não só como fato
imediato ,mas como mediação de aberturas e possibilidades de
interpretação.
O
discurso racional não é sozinho nem apartado do senso comum ,mas
ele cumpre papéis temporais,na voragem do tempo,que nem as massas
conseguem.