Analisando
o livro de Roger Garaudy “Dieu est mort” nós vemos que existe um
desenvolvimento na filosofia alemã que redunda em Hegel e sua
dialética.Qual é a herança que Hegel recebe e transforma?
Nós
temos que ter em mente que seu caminho é o da subjetividade
autônoma para compreender o mundo.A subjetividade começa na
História de diversas maneiras,através da contribuição de vários
autores e personagens,o primeiro deles Lutero e a reforma
protestante.
Aqueles
que lêem os meus artigos sabem o que digo sobre Lutero e a reforma
protestante.Muita gente,principalmente no radicalismo de
esquerda,pensa que com isto eu defendo a figura individual de
Lutero.É o famoso “ espirito de partido” do comunismo ortodoxo
que distorce as coisas.Eu me reporto ao significado histórico da
figura,assim como faço com Napoleão.Napoleão representa o avanço
do capitalismo,que em relação ao passado medieval configura
progresso.
Algo
simile se dá com Lutero: conforme as análises e interpretações de
Nietzsche,quando o reformador afirma em Worms “ penso assim,não
posso agir de outro modo”,está fundando a subjetividade moderna,o
individualismo moderno,que aponta o direito e a liberdade de se
posicionar diante do mundo.Garaudy atribui a este nascimento do
subjetivismo o nascimento do monismo,mas são coisas diferentes(1).
Também
Descartes é um dos heróis de Hegel,com a sua dicotomia
Sujeito/Objeto.O pensamento puro de Descartes ,o cogito ,abarca
a objetividade,mas ele é ainda abstrato,só chegando ao
concreto,recorrendo à experiência,o que no tempo de Hegel não quer
dizer muita coisa,já que a experiência só viria a ter significado
científico com o nascimento da psicologia moderna(3).
O
caminho da subjetividade vai se fazendo,mas Hegel ainda busca um seu
limite “ definitivo”.Este limite se dá no seu diálogo com Kant
e Schelling,seus coevos.
Kant
respondeu à pergunta decisiva do século XVIII:se a simples razão,o
indivíduo autônomo podia fazer filosofia.Hegel ressalta que com a
sua contribuição Kant inaugura a interioridade na filosofia capaz
de produzir,de ser ativo.Funda a subjetividade moderna.
Em
Fichte Hegel reconhece a criação do verdadeiro método
especulativo,que desta subjetividade apreende o mundo de negação em
negação,superando o seu contrário na oposição(aufhebung?).
Schelling
aplicou este método a toda a natureza usando de analogias
arbitrárias.
Mas
nenhum destes métodos dá conta do absoluto,tanto da ideia,radicada
na subjetividade ,como na matéria.É curioso observar como Hegel, o
suprassumo do idealismo considere a matéria e queira fazer um
pensamento capaz de conectar estes dois termos aparentemenete
antinômicos.
Marx
,analisando a Filosofia do Direito chegou a dizer que “ talvez
Hegel tivesse farejado o materialismo histórico”,mas desde sempre
Hegel teve esta preocupação.
Faço
esta observação por uma razão muito simples e que tem a ver com o
marxismo:a caracterização de Hegel como idealista é justa porque
como os autores anteriores ele parte sempre da subjetividade para
compreender o mundo,contudo esta integração que ele vai fazer,a
partir de condições que vermos já já ,aos olhos de hoje e dentro
de uma perspectiva de crítica ao marxismo(coletti),autoriza
questionar esta classificação(ver nota 3).
As
condições finais para a construção do método hegeliano
propriamente está nas transformações do conhecimento ocorridas no
século XVIII.Não me canso de me referir à obra de Pierre Chaunus “
Philosophie des Lumieres”,em que é feito um inventário das
descobertas e do signficado essencial destas transformações:provar
em defintiivo que a existência do tempo e do movimento abarca todo o
Ser.
Mas
Garaudy faz um pequeno inventário que é bom reproduzir aqui:
Los
materialistas franceses del siglo xvm fundaron sus análisis
filosóficos en una ciencia puramente mecanicista: sólo la mecánica
había
llegado a un alto grado de desarrollo. Los fenómenos de la
vida, tanto
en los animales como en los hombres, se explicaban a
partir de modelos
mecanicistas. Tampoco la filosofía supera en
nada esos niveles de explicación: las geniales anticipaciones de
Diderot sobre la evolución de
las especies, la concepción de la
naturaleza como totalidad orgánica en
Robinet, no son aún sino
intuiciones confusas sobre una realidad todavía
no explorada.
Hegel ya
dispone de elementos nuevos: Kant y Laplace han formulado sus
hipótesis sobre la formación del sistema solar; Lamarck,
después
Buffon, y Geoffroy Saint-Hilaire han elaborado la idea magistral
del
transformismo; I^avoisier liberó a la química de las teorías
flogísticas; Goethe, cuya visión del mundo ejerció una profunda
influencia en
el pensamiento de Hegel, confirió una forma lírica
a la idea de la unidad
orgánica de la naturaleza; por el método
del “fenómeno originario” investigó las formas fundamentales
susceptibles de producir, por metamorfosis, todas las otras formas,
otorgando así solidez a la noción de un
pensamiento orgánico,
de un concepto que no era una abstracción, sino
un germen
viviente en el mismo corazón del concepto.
Las matemáticas y la
física han tomado otro aspecto:16 las matemáticas debieron elevarse
a nivel de las nuevas exigencias de la física
revelando que la
naturaleza es más compleja que lo que se había creído
medio
siglo antes. El estudio de las perturbaciones de la
mecánica
■celeste, la propagación del movimiento (cuerdas
vibrantes, tubos sonoros, propagación del calor) exigieron el empleo
de nuevos métodos
matemáticos (ecuaciones de derivados
parciales, funciones discontinuas,
etc.), a las cuales no pueden
aplicarse mecánicamente las operaciones
tradicionales del cálculo
infinitesimal. Hegel se refiere reiterada y
explícitamente en su
Lógica, a los trabajos de matemáticos contemporáneos, en especial
a las Reflexiones sobre la metafísica del cálculo
infinitesimal
de Lázaro Carnot, aparecidas en 1797, y a la Teoría d e
las
funciones analíticas de Lagrange, editada también en 1797.
En
cuanto a las ciencias humanas, la Revolución Francesa renovó
a
fondo la concepción misma de la historia, atendiendo al sentido
del
devenir de las sociedades, sus contradicciones y sus crisis.
“
Cada
época ,cada periodo filosófico responde pensamentalmente na relação
com os conhecimentos que os homens possuem neste então.As conclusões
do século XVIII e XIX da ciência estão superadas ,mas fundamentam
as elucubrações que tornam a dialética o princípio monistico do
movimento geral de tudo o que existe.A resposta de Hegel é para dar
um sentido a estas transformações que o tempo dele apresenta.
Hegel
se movimenta neste propósito,para obter esta resposta,diante daquilo
que considera,muito justamente digo eu,insuficiências(exceto Kant)
dos filósofos precedentes.
A
consciência infeliz é aquela que tenta compreender a sua época
para mudá-la.A consciência de Hegel diante destes problemas é
infeliz como a de todos os homens,mas a “ descoberta” das leis do
movimento abre possibilidades de sair deste circulo de ferro.Para
Hegel todo homem que compreende a sua época ,como Napoleão é
infeliz porque está preso a este circulo,só conseguindo a sua
identidade por maior que seja ,neste limite fatal.Porque a dialética
que Hegel começa a formar explica o movimento constante da época ,a
sua permanente auto fundamentação,mas não apresenta como sair do
limite.
A
proposta de Hegel é o da aufhebung:uma oposição se reconstrói por
uma sintese que movimenta o mundo e possibilita o conhecimento do
movimento e da mudança,mas falta algo que só a compreensão real da
sociedade será capaz de resolver.Se Hegel tivesse mais que
farejado...
Ele
ficou preso nestas concepções cientificas em que a natureza não
possuia indetrminações,num esquema simples de aparência e essência
a serem desvelados.
O
salto na natureza e no que existe é de qualidade.A ruptura é ,o
acaso ,é dado dentro de um processo lógico dialético,o que é um
contra-senso,mas isto é outro assunto.