sexta-feira, 29 de março de 2019

Tenho pressa em ser feliz

Com a leitura da crônica de Clarice Lispector devo esclarecer que faço muitas coisas porque tenho pressa de ser feliz.A única coisa que me interessou na vida foi a Utopia,a questão social,o Amor.E o que motiva o libertário é o sentimento de amor aos outros,que equivale ao ódio às injustiças.
Um amor discricionário,escrupuloso,porque os dias que correm não são como os de antigamente:hoje temos tempos competitivos,individualistas,não solidários,mas eu,como libertário continuo a luta pelo ideal amoroso de ajudar as pessoas,sem olhar,sem esperar retribuição.
É o momento,derivado de Kant,em que o dever e o amor se adequam no ideal.
Eu sou assim mesmo,um cabana do Pai Tomás,que muita gente entende ser uma demonstração de covardia:sou um tipo de São Francisco misturado com Tostoi.Choro ao ver um passarinho;fico com lágrimas diante de um mendigo,de uma senhora desamparada ou enganada.Infelizmente os movimentos sociais perderam esta referência que muitos diriam cristã,mas que faz parte da bondade humana geral,que ganha uma expressão hiperbólica no sofrimento de Cristo.
No entanto,sigo o cristianismo no sentido de associar a minha atividade à luta para superar estas injustiças,para ajudar as pessoas sofridas,aliás como tenho feito ao longo da vida.
Por isto estudo tanta coisa,escrevo tanto,trabalho,luto tanto.
A vida,no entanto,é limitada,no tempo e no espaço e tenho pressa em ser feliz.Luto também,porque estou incluído na humanidade para ser feliz,para não sofrer injustiças,agressões.
Aprendi com Luiza Erundina e com outros revolucionários que somos como pequenos Moisés:nenhum de nós vai ver a terra prometida,mas de todos os modos possíveis deve se procurar ficar no cangote dos homens e instá-los à busca permanente.
Mas esperando a tristeza do fim,individualmente falando,a busca deste lutador em geral,é pelo amor na sua vida,porque só assim ele exercita o amor pelos outros.
Tenho,pois,pressa,pois estando mais perto do final do que do começo, quero de novo o amor(que já encontrei).O amor definitivo.

sábado, 23 de março de 2019

Clarice Lispector

Acrescentando mais um autor para meu próximo livro sobre literatura,falo um pouco hoje sobre esta minha desconhecida que é Clarice Lispector.
Eu só tive um contato rápido com ela no segundo grau,lendo “ O Lustre”,mas o que me chamou a atenção para ela foi ver o filme de Suzana Amaral baseado em “ A Hora da Estrela”.
O personagem Macabéa é um dos maiores da literatura universal e expressa como ninguém o abismo que existe entre uma pessoa e outra.Entre o si e o si-mesmo.
Macabéa e uma pessoa muito pobre,mas muito pobre mesmo,que se muda para uma pensão,após a morte de um familiar.
Tem poucas coisas,poucos bens e um emprego chinfrim,ou melhor,um sub-emprego,o qual executa sem nenhuma competência.
No entanto encontra um namorado.E aí o aspecto mais interessante de sua personalidade aparece,que é o desejo permanente de perguntar a ele sobre as coisas que ouve de noite na antiga rádio relógio.
O que é cultura?Você sabia que a unha do pé cresce em milimetros?Ela despeja a sua curiosidade intelectual sobre o nordestino desamparado como ela,que,lógico,não sabe responder.
Há uma outra relação de Macabéa com a colega de trabalho,um loura de farmácia(segundo ,acertadamente,a avaliação de Macabéa),beleza de periferia,a ressaltar a feiúra da protagonista,atributo reconhecido por ela mesmo.
Mas o que avulta em importância é a sua vocação intelectual demonstrada pelo “ vício” de perguntar,que viceja nos estratos mais humildes do Brasil e que poderia ser aproveitado nacionalmente pelos órgãos educacionais responsáveis pelo progresso social do Brasil.
E em segundo lugar,eu,como professor,ao tomar conhecimento da personagem e sendo um otimista ,amadureci,reconhecendo o quão dificil é ,no âmbito de uma subjetividade,fazer este passo de auto-consciência,da vocação para a sua realização.
Macabéa e Clarice me ensinaram algo que eu vinha aprendendo com os estudos que faço da revolução russa,que expulsou Clarice nos anos vinte da Ucrânia,região esmagada pelso comunistas:não adianta forçar o progresso,porque não é legítimo e porquê uma mudança,por pequena que pareça,pode causar transtornos existenciais irreversíveis.Foi assim na revolução.
Macabéa é complexa,cheia de potencialidades,mas presa a uma existência simples,da qual não se sabe se pode e se deve sair.
Cada profissão tem o seu lado ruim e a do professor é muitas vezes querer desenvolver estas potencialidades à revelia do aprendente.Diante de um gênio que só quer se casar, muito professor realiza ultrapassamentos perigosos,no afã de adquirir através do outro ,um nome,que ele mesmo não é capaz de construir.É análogo a certos pais que forçam os filhos a serem gênios precocemente:para cada dois ou três bem sucedidos,um monte enlouquece.
O que me fascina em certos escritores,como Machado de Assis e Clarice é que são capazes de escrever tratados a partir do nada.
Machado construiu personagens comuns,sem nenhum brilho heróico e situações elucidativas sem nenhuma importância,como em “ Memórias Póstumas” e “ Dom Casmurro”(e em outros também).Com isto,com esta capacidade ,ele transformou a inocuidade da classe dominante no Brasil do século XIX e algo de se analisar.Através de um filho família das classes altas do Brasil,Machado o retrata como é e como não deveria ser.
Macabéa no século XX,apresenta como o povo brasileiro é e não deveria ser e expõe a faixa de consciência em que uma mudança poderia ocorrer.
Todo educador,professor ou não,deveria estudar este personagem.