domingo, 23 de dezembro de 2018

Meu(-s) método(-s) de trabalho e meu(-s) estilo(-s)





Eu não sou propriamente dono de um estilo de escrever original,mas me empenhei e me empenho em obter certos dividendos de reconhecimento e de persuasão em relação a quem lê os meus trabalhos,através de estilos específicos,de métodos de  escrita,conectados com o meu método de trabalho.Relembrando:eu faço um trabalho muito aproximado da minha atividade de professor.Como encontrei turmas muito heterogêneas,precisava fazer um resumo que levasse em consideração esta heterogeneidade,que se referia(refere) ao nível de maturidade,às condições psicológicas,origens,interesses,grau de consciência quanto aos objetivos de estudo,escolaridade,nível de cultura e assim por diante.Realizar um resumo que consagrasse estas necessidades sem vulgarizar o meu trabalho de propedeuta,casava e casa perfeitamente com os meus objetivos de pesquisador e escritor militante:quero fazer um texto que possa ser lido ao mesmo tempo pelo intelectual e pela pessoa do povo,com o esforço exigível de elevação deste último e oferecendo algo novo ou atualizado ao primeiro.
O propedeuta mostra os fundamentos ,os conceitos elementares e elementais aos que o seguem,na condição de cada um.O que ele não pode é vulgarizar,usando uma linguagem e exemplos inadequados,sem elevação ou pouco dignos.Mas do básico ele pode e deve se elevar ,sem esquecer as dificuldades daquele que não tem condições objetivas e subjetivas de acompanhar o trabalho intelectual permanentemente.
Ao longo da vida outros critérios metodológicos se juntaram a estes e acrescentaram novos conceitos.Certa feita,como contei há muitos anos atrás em um artigo,assisti a uma entrevista do falecido Alberto Dines com o Maestro Isaac Karabitchevsky,em comemoração ao lançamento da Bachiana Brasileira,com Maria Lùcia Godoy,na Sala Cecília Meirelles.Lá pelas tantas Dines perguntou ao Maestro como um crítico musical deveria ser  e ele respondeu que todo crítico necessitava ser capaz de ler uma partitura como quem lê um livro e eu aduzi que isto é uma exigência de alfabetização geral,lembrando de afirmações feitas no tempo do impeachment de Collor pelo então deputado João Paulo Bisol,dando conta de que toda  alfabetização do homem ,em qualquer nível,mas notadamente no intelectual,se fixava quando se compreendia a entrelinha do texto ou de qualquer código.
É assim com o cinema,com a música,com as artes plásticas,com a mídia,com tudo.Quem tem a expertise de ler a entrelinha de diversos modos,inclusive elaborando criativamente novos conceitos e critérios, está no top de linha.
Hoje e agora acrescento o termo lisibilidade,tirado de Heidegger,segundo o seu pensamento de que só há mundo onde há linguagem.Tudo o que se observa tem um “ sentido” para  a subjetividade,construído por ela.
O exemplo clássico desta verdade é o poema de Carlos Drummond de Andrade,” A Pedra”,” Tinha uma pedra no meio do caminho”.Derrida,em 1941,achou Sartre (e ,já,Simone de Beauvoir)num café ,e lhe disse que conhecera a filosofia de Heidegger e que por ela era ,já,possível,fazer filosofia com e sobre uma lata de cerveja.Derrida relata que Sartre ficou lívido(porquê?)
Mas isto tudo é verdade,qualquer coisa é provida  de sentido e dá suporte a uma linguagem(ou o contrário).


A partir daí elaborei o meu principal(mas não o único)modo de  escrever e expor:
  



Uso o exemplo do “ Homem Vitruviano,para seguir Heidegger e a lisibilidade do Homem ,mas posso falar de qualquer coisa.Aliás este artigo inaugura não só um dos meus métodos de exposição,mas uma nova série de análises sobre o mundo.Mas não vou adiantar nada agora.
Começando com o “ Rei Lear” de Shakespeare,sobre o qual já escrevi( e voltarei a escrever),exemplifico este meu método de expressão,em que trabalhei a vida inteira.
Num determinado momento ,em que o personagem está abandonado e cercado de mendigos,em meio à tempestade,o autor o define:
“EDGAR: Um servidor, de coração e espírito orgulhosos; que ondulava os
cabelos, punha as luvas no chapéu, atendia aos desejos lascivos do coração de
minha senhora, realizando com ela o que se faz nas trevas. Minhas juras eram
tantas quanto minhas palavras e as descumpria todas à luz clara do céu. Eu era
alguém que dormia pensando em projetos de luxúria e acordava para realizá-los.
Amava profundamente o vinho e com ternura os dados; quanto às mulheres eu
superava um turco. Falso de coração, fácil de ouvido, mão sanguinária; porco
pela preguiça, raposa pela astúcia, leão na pilhagem, voraz como um lobo, um
cão raivoso. Não deixes que o ranger de uns sapatos ou o sussurrar de sedas
entreguem teu pobre coração a uma mulher: não põe teu pé nos bordéis, tuas
mãos nas saias, teu nome em livro de usurários; e poderás desafiar o demônio
impuro. O vento gelado continua a soprar pelos ramos do espinheiro; e diz,
zuuum, zuum, munn, num. Delfim, meu rapaz, meu rapaz, cessa! Deixa o vento
trotar!”
Edgar,um personagem abandonado à própria sorte,como Lear,define a vida humana,sem preocupações e com as consequências próprias desta atitude.
E Lear o define,bem como à humanidade:
“LEAR: Estarias melhor na sepultura do que expondo teu corpo nu a tais
extremos do céu. O homem é apenas isto? Observem-no bem. Não deve a seda
ao verme, a pele ao animal, a lã à ovelha, nem seu odor ao almisca-reiro. Ah!
aqui estamos nós três, tão adulterados. Tu não, tu és a própria coisa. O homem,
sem os artifícios da civilização, é só um pobre animal como tu, nu e bifurcado.”(Rei Lear,Ato III,cena IV)
Este é um dos momentos sublimes da humanidade,que se põe como tal,no Reanscimento.Com o afrouxamento das barreiras repressivas e a liberdade de investigação e criação,foi possível, em meio a tantos conhecimentos ,achar o  seu ente (aquilo que se  põe à maneira de algo [Heidegger]),inaugurando,bem antes do século XX ,uma visão existencialista e fenomenológica .
“O homem,
sem os artifícios da civilização, é só um pobre animal como tu, nu e bifurcado”.Há aqui um despojamento de essências próprias do homem,caracterizadoras dos múltiplos  entes ,modos ,pelos quais ele(o homem)se manifesta(na civilização).Dir-se-ia há um desvelamento .O Ser é velado ,a filosofia o desvela ,o “ descobre”,até achar a coisa (“Tu não, tu és a própria coisa”).Dos  entes até à própria “ coisa” e dela aos entes  ,dir-se-ia dialeticamente,que o homem é esta passagem permanente(criação permanente),que lhe dá sentido(segundo suas escolhas[estimação]{axiologia}).
Não se esqueça que,antes,Lear se refere à perversão da civilização ,nele próprio exemplificada,mas isto falarei em artigo próximo.
A ressaltar o  insight antes da teoria da evolução,de compará-lo ao animal.Um momento de ciência.
Dando um pulo para o livro “ O Conde de Monte Cristo”,de Alexandre Dumas filho,o Abade Faria,preso político junto com Edmond Dantès,ocupa o seu tempo com a figura do homem(desenhada por ele na cela),identificando-lhe possibilidades,sentidos,valores e essências:
 


A cabeça:razão(causa[racionalização]{razão de Ser das coisas}),ciência(gnosiologia[objetividade]{compreensão(descrição)}),conhecimento(Filosofia),valores(estimação[escolhas]{liberdade}) et al.
 
Cabeça e corpo:
 



Arte,imaginação,sensibilidade(Kant)(sentidos[emoções]{sentimentos}),dores(Cristo),prazer(Freud[libido]).
Mãos:


O trabalho(transformação,pelo trabalho,do macaco em Homem[Engels]{do animal ao homem[Delleuze]}).Apontar com os dedos(police[latim]{policia[povos policiados]Rousseau}).Império Romano(Police verso,Police reverso[História]{costumes}).
E finalmente,sexo:

(Ui!).Prazer(contato com o corpo),desejo(com o mundo[com a mulher]{com parceiro do emsmo sexo}),orgasmo(psicologia[biologia]{animalidade,humanidade}),beleza(erótico[sexual]),reprodução(família[juventude]{velhice}) et al.
O meu método principal de exposição é este,cheio de chaves,parêntesis,claves,a demonstrar a referida lisibilidade das coisas,do mundo.
Há que explicar aos muitos leitores dos meus artigos,que é impossível que eu escolha uma faixa de pessoas.Dirijo-me a todos,mas se isto tem vantagens ,tem desvantagens:muitos temas são conhecidos por certas faixas e desconhecidas por outras.Mas tal fato tem um valor pedagógico para quem lê:diminui a egocentria de achar que o mundo é feito para a subjetividade e ensina a quem deixa de  lado este erro infantil que o mundo é vasto(que existem os outros).Além do mais a pessoa que lê tem o direito(se tiver condição)de acrescentar chavinhas,conceitos e critérios.É uma oportunidade(mais uma) de interagir comigo de igual para igual.
Ah!As mulheres vão reclamar do meu machismo ao usar só o “ Homem Vitruviano”,então eu usarei Adão e Eva:
De Lucas Cranach,o Velho.
Mas como a mulher vai reclamar que eu a pus na dependência do homem,a colocarei sozinha:

E farei como no “ Homem Vitruviano”,em próximo artigo:
e...

o sexo!!!



E como o pessoal homoafetivo também vai reclamar outra pintura eu analisarei(em próximo artigo)a pintura “ O Rapto das sabinas” de David,em que a figura andrógina central desponta:



 








 e...





Este estilo de expressão é meu e está registrado.Quem copiar eu processo.