Clarice
Lispector nunca foi próxima de mim,pelos seus temas,mas nem por isto
deixo de considerá-la um gênio da literatura brasileira.Fui sempre
mais afeito aos temas sociais e no momento em que Clarice os aborda
,na “ Hora da Estrela”,eu me interesso.
O
personagem principal ,Macabéa é um dos maiores da literatura
universal e expressa muito do que o povo brasileiro(e a mulher
brasileira)é.
Eu
não estou generalizando,mas a figura de Macabéa mostra como os
impasses do povo brasileiro,imerso na pobreza,se dão.Clarice não
faz uma aproximação vulgar entre a miséria,a carência e a
psicologia do pobre,do carente.
Esta
constatação,quando vi pela primeir vez este personagem, foi
decisiva para mim,que fazia esta conexão falsa.Macabéa tem uma
imensa vocação para o saber.Adora a antiga rádio relógio e vive
perguntando.Independentemente dos perigos que a sua condição
apresenta,se joga naquilo que gosta.Pergunta ao namorado “ o que é
cultura”.
Ela
está,diriam os moralistas,à esquerda e à direita,” alienada”,mas
o seu furor de conhecimento os desmente.A sua despreocupação com o
contexto social não legitima a sua pobreza,mas deslegitima o seu
abandono social.Ela é uma maior abandonada.Socialmente abandonada e
tem a ingenuidade de pensar que a culpa não é de ninguém.Será o
brasileiro cordial em forma de mulher?
O
que mais,no entanto,me chama atenção neste personagem
extraordinário é que como a distância entre a sua vocação e a
luta para a sua realização é simultâneamente pequena e grande.
A
vocação dela,como disse,é para a filosofia,o jornalismo,a
pesquisa,mas a auto-consciência é como um abismo
intransponível,entre o imediato da pergunta e o mediato da
necessidade de crescer.de sair da pobreza.
Para
um pedagogo qual seria o conselho para Macabéa não ficar
abandonada?E o psicólogo o que diria?
A
relação com o Brasil e o povo brasileiro é que em grande parte as
vocações estão aí ,em todos os lugares,mas as dificuldades
,objetivas e subjetivas, intransponíveis,como o abismo.
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