De uma ideia de Slavoi Zizek
Observando um documentário de
Slavoi Zizek sobre ideologia e cinema,lá pelas tantas ele se refere
a Cristo como “ o Deus mais ateístico que já existiu”.
Esta afirmação aparentemente
escandalosa faz sentido na medida em que a figura de um Deus que
sofre como um ser humano comum,era necessária diante de um Deus
absconso que não participava dos sofrimentos terrenos e não
oferecia soluções para estes males.
Para uma nova aliança um
deus-humano,um deus-igual,um deus-comum apresentava mais condições
de,ao menos,mostrar uma luz no fim do túnel,uma vez que seu
sacrificio impunha um engajamento real nos problemas humanos,já
agora misturados com os de Deus(se é que Deus tem problemas[seu
filho tem]).
O cristianismo,que repudia o
politeísmo como idolatrico e próprio de pagãos,cai nele a partir
do nascimento do cordeiro,pois não é mais um Deus ,mas dois,ou
,respeitando o catecismo,três,pai-filho-espirito santo.Isto sem
falar na pletora de santos,alguns puro sincretismo com mitos
gregos(são cosme e são damião/castor e pólux).
Esta queda no mundo,onde está a
corrupção dos tempos,era uma exigência destes mesmos tempos para
recuperar a confiança em Deus e dar-lhe uma
presença(Heidegger)maior.Este é o nucleo essencial do messianismo:a
salvação(real).
Contudo esta nova aliança
,através de um salvador real,implica num risco sério de prescindir
de algo(Heidegger)mais que o soterós(salvador):Deus,o
Deus-pai.Dentro do espirito do monoteísmo,o certo seria,como
Kierkegaard colocou,Ou Cristo,Ou Deus.
Cristo,o Deus que se
apresenta(Heidegger),é suficiente,até porque nasceu por decisão de
Deus-pai,que já não era mais capaz de propor outra aliança,a
partir de si.E um Deus assim,não o é de uma religião,mas ,no
máximo,se sustém como simbolo ou valor ou os dois de quem não
necessariamente acredita em Deus.Mesmo para quem acredita, a sua
natureza humana é suficiente.
Tudo o mais é interpretação,a
servir ou não a quaisquer propósitos,legítimos e ilegitmos.Quando
trato de Cristo aqui já analiso estas interpretações,mas entendo
que há um traço divisivo nestas interpretações:o crente e o não
crente,aquele que se liga à divindade e o que não.
Normalmente(salvo seitas que eu
não conheço)o crente segue o princípio de que Cristo é mais
afeito ao além-mundo(e daqui outras interpretações)e o não
crente,que Cristo está no mundo,embora não seja identificado com
ele(não é um Deus panteísta).
Neste último aspecto me
incluo.Vejo Cristo da perspectiva de um agnóstico,que o entende como
um simbolo(aceitá(do[vel]{ou não}).Um simbolo representativo de
muitas coisas,mas fundamentalmente de unidade(proposta)da humanidade.
Os crentes compreendem esta
unidade em termos de uma idealização ,baseada na divindade de
Cristo-Deus,cujo messianismo promete o prêmio da ressurreição(oposto
ao pecado[morte]),pelo sofrimento(na cruz).É idealização porque
não há provas destas passagens.
Os não-crentes estão naquele
ponto de São Paulo,falando aos corintios,aconselhando-os a não
esquecer da cruz.São Paulo une o mundo à divindade,como sabemos,mas
os agnósticos ficam com o mundo e com esta lembrança(memória,no
caso do sofrimento de Cristo[que está no passado]) do sofrimento,que
se repete na vida humana,sempre,e contra o qual o agnóstico e o ateu
de bem deve lutar.Explicarei porque no próximo artigo.
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