Continuando as minhas reflexões sobre a relação entre pais e filhos,hoje e agora
desejo revelar aquilo que eu considero fundamental na boa relação geracional. A
decisão de ter os filhos é logicamente dos pais e eles ,dialeticamente,só o são
porque tomaram esta decisão e os filhos nasceram:o pai depende do filho... A
definição de pais e filhos pode ser dialética,mas nasce de uma escolha,dir-se-ia
kantiana,axiológica.Da escolha à definição nós temos todo um caminho entre a
razão e a emoção.Mas é este caminho que é a base da relação. À parte os
problemas sociais,os pais têm a obrigação moral e humana de saber isto.Mas
muitos acham que os filhos são responsáveis por nascerem e por isto um
desbaratamento total das relações cria os problemas que nós conhecemos aí e que
são muito mais do que a midia mostra,porque os pais os abandonam. Uma mediação
nos ajuda a compreender todo este processo de desbaratamento,porque em termos
sociais a organização da familia,desde priscas eras,busca manter um equilibrio
entre os pais e os filhos para favorecer esta organziação social e politica que
precede o nascimento dos filhos e a formação da familia. Não vou fazer nenhuma
história aqui da familia,mas se nota no passado alguns momentos de luta para que
a familia fosse um lugar de emoção e de subjetividade humana. Na verdade só a
partir da segunda metade do século XIX,esta realidade se fez,como modelo de
explicação e conformação das relações humanas familiares. No mais,no passado,um
certo indiferentismo quanto a esta emoção predomina:os casamentos são
arrumados,os filhos cumprem a decisão dos pais,filho de peixe peixinho
é...imposições mil.Reações existem ,mas a vai no caminho. Quanto mais,no
entanto,o ser humano constrói a sua subjetividade e entende a existência como
potencialidades,desejo,autonomia,mais e mais a maioria luta contra estas
imposições arcaicas e apesar de tudo,há que se dizer que ainda que tenhamos
outras formas de imposição,como detalha Foucault,a perspectiva é otimista quanto
ao crescimento desta liberdade associada ao desejo. O problema maior hoje é a
dissolução da familia,a falta de orientação e isto é um tema futuro,mas
reconheçamos as grandes permissões diante de nós. Neste sentido as relações
entre pais e filhos,no meu entender,equilibrando todas as partes do problema,é
aquela que eu vi nas narrativas da familia de Jorge Amado. Os pais de Jorge
Amado construíram uma casa,a duras penas,para que pudessem abrigar os filhos e
mais,que eles não sentissem necessidade de ir-se,senão por
responsabilidade,desejo.Mas sem uma ruptura com o passado,uma vez que a casa
estaria sempre lá,mesmo depois dos pais irem-se. Quando tomei conhecimento,jovem
,da vida de Jorge Amado,soube que seus pais e seu pai principalmente dispunham
de exterma sabedoria prática,que inclusive,sem nenhum conhecimento de psicologia
avançada,tomavam decisões,que esta ciência aprovaria:quando Jorge não aguentou
os exercicios de português com Camões ,pulou o muro do Liceu baiano para morar
com as quengas,seu pai vigiou,mas não reprimiu. Os psicólogos afirmam que quando
um jovem tenta fugir é melhor deixar ele ir até ao final,para perder o medo do
mundo e decidir voltar por si próprio,por decisão pessoal. Em qualquer
circunstância a certeza de que a familia,o abrigo está atrás de nós nos dá força
para enfrentar este mundo sem medo. Mas há pais que não compreendem isto.
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