quinta-feira, 9 de junho de 2016

Meu encontro com Marx e Freud VI



A idealização.-Rousseau e Freud



Quanto   a esta idealização do mundo primitivo,constante do pensamento,por exemplo,de Rousseau,poderia se pensar ,pelas reflexões anteriores, que Freud via no tempo primitivo um ideal de virtude humana,mas ele não escondia que aí também a inadequação humana neurótica jogava um papel e que toda  idealização,no fundo,visava suprir  a frustração dela derivada.
Muitas dos discursos de  68 que associavam a sociedade alternativa com Freud,passando por Marcuse ,não são senão má compreensão do pensamento do criador da psicanálise,que não atribuía ao nascimento da civilização,com sua característica fálica,a culpa da neurose,mas à condição humana.
As crueldades da civilização já existiam na sociedade primitiva igualitária,onde todos supostamente se ajudavam(ideal comunista).
Em Rousseau é que se encontra  a raiz deste engano.Ele acha impossível recuperar a civilização,só podendo se chegar o mais perto possível dela pelo “ Contrato Social”,na sua versão.
Em seus últimos livros ,notadamente  “Os devaneios do Caminhante Solitário”, preconiza uma apreciação solitária da natureza e a busca por ser feliz “ apesar dos outros”.
Em qualquer circunstância isto só se modificaria,para Freud,isto é,só haveria condição de superação  do “ mal-estar”,pela educação e  pelo esforço compreensivo da inadequação  subjetiva humana.
E a situação se complica quando se trata do problema da religião,de que falamos mais acima.Porque aparentemente a inconsciência do  homem primitivo é a origem da religião.Nesta crença originária haveria uma adequação,uma não-neurose,uma saúde primitiva,que seduziu o homem moderno,especialmente em 68.Deixar-se fluir,usando drogas,aproximaria o homem racional moderno desta “ saúde “ primitiva,como o “ Contrato” de Rousseau ,da virtude daqueles tempos.
A critica à religião,de Freud,só valeria para este homem racional,que compreendendo as coisas “ como são”,desde os gregos,não teria mais razão para a crença,daí advindo a sua  afirmação de inquinar a religião de “ neurose obsessiva da humanidade”.
Neste pensamento existe uma semelhança,uma analogia com o pensamento de certas religiões,a cristã,quanto aos cultos afro.O sacrifício de animais seria uma forma primitiva ilegítima,porque irracional,de se relacionar com deus.
O que se depreende de todas estas concepções é que mesmo com consciência ou inconsciência a inadequação humana permanece como uma exigência de superação e crescimento.O que define o pensamento de Freud nesta matéria é a relação com o real em si mesmo,incluído aí o corpo.Não  é a inconsciência do primitivo que dilui esta inadequação neurótica,mas,seria, a sua consciência do seu corpo e da relação com a natureza,o que diante da sua pouca experiência com estas mediações,tornar-se-ia impossível.
Que   a religião,e toda a idealização,tenham esta origem,tudo bem,mas porquê um homem consciente ,racional,as manteria?Assunto para o próximo artigo.

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