A idealização.-Rousseau e Freud
Quanto a esta idealização do mundo
primitivo,constante do pensamento,por exemplo,de Rousseau,poderia se pensar ,pelas
reflexões anteriores, que Freud via no tempo primitivo um ideal de virtude
humana,mas ele não escondia que aí também a inadequação humana neurótica jogava
um papel e que toda idealização,no
fundo,visava suprir a frustração dela
derivada.
Muitas dos discursos de 68 que associavam a sociedade alternativa com
Freud,passando por Marcuse ,não são senão má compreensão do pensamento do
criador da psicanálise,que não atribuía ao nascimento da civilização,com sua
característica fálica,a culpa da neurose,mas à condição humana.
As crueldades da civilização já existiam na sociedade
primitiva igualitária,onde todos supostamente se ajudavam(ideal comunista).
Em Rousseau é que se encontra
a raiz deste engano.Ele acha impossível recuperar a civilização,só
podendo se chegar o mais perto possível dela pelo “ Contrato Social”,na sua
versão.
Em seus últimos livros ,notadamente “Os devaneios do Caminhante Solitário”,
preconiza uma apreciação solitária da natureza e a busca por ser feliz “ apesar
dos outros”.
Em qualquer circunstância isto só se modificaria,para
Freud,isto é,só haveria condição de superação do “ mal-estar”,pela educação e pelo esforço compreensivo da inadequação subjetiva humana.
E a situação se complica quando se trata do problema da
religião,de que falamos mais acima.Porque aparentemente a inconsciência do homem primitivo é a origem da religião.Nesta
crença originária haveria uma adequação,uma não-neurose,uma saúde primitiva,que
seduziu o homem moderno,especialmente em 68.Deixar-se fluir,usando
drogas,aproximaria o homem racional moderno desta “ saúde “ primitiva,como o “
Contrato” de Rousseau ,da virtude daqueles tempos.
A critica à religião,de Freud,só valeria para este homem
racional,que compreendendo as coisas “ como são”,desde os gregos,não teria mais
razão para a crença,daí advindo a sua afirmação
de inquinar a religião de “ neurose obsessiva da humanidade”.
Neste pensamento existe uma semelhança,uma analogia com o
pensamento de certas religiões,a cristã,quanto aos cultos afro.O sacrifício de
animais seria uma forma primitiva ilegítima,porque irracional,de se relacionar
com deus.
O que se depreende de todas estas concepções é que mesmo com
consciência ou inconsciência a inadequação humana permanece como uma exigência
de superação e crescimento.O que define o pensamento de Freud nesta matéria é a
relação com o real em si mesmo,incluído aí o corpo.Não é a inconsciência do primitivo que dilui esta
inadequação neurótica,mas,seria, a sua consciência do seu corpo e da relação
com a natureza,o que diante da sua pouca experiência com estas mediações,tornar-se-ia
impossível.
Que a religião,e toda
a idealização,tenham esta origem,tudo bem,mas porquê um homem consciente
,racional,as manteria?Assunto para o próximo artigo.
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