domingo, 9 de outubro de 2016

Wittgenstein II

Ciência e  existência




O tomar ciência de alguma coisa é sempre um modo de fazê-lo e modo é tempo,tempo de elaboração deste tomar ciência.A ciência pode não ser para o sujeito,conscientemente falando,mas o tomar ciência das coisas é uma das condenações da humanidade,em sua racionalidade.Mesmo que ele não saiba como funciona uma cafeteira elétrica,de algum modo toma ciência dela.
Um índio que vê um microfone pela primeira vez ,toma de algum modo ,ciência de algo,novo.
Então a relação ciência e existência é um movimento constante que vai do sujeito(consciente ou não)ao objeto(no plano das ciências sociais o movimento oposto pode ocorrer) .É o homem no seu movimento de consciência(de consciência[e escolha]{porque ele escolhe o que tomar ciências às vezes}).
Se tomarmos outra frase de Wittgenstein,já  citada acima:” do que não se  pode falar não se deve falar,deve se calar”,podemos dizer que esta “ divisa” é muito ambígua e complexa principalmente nas relações entre ciência e existência,porque mesmo para um índio que vê um microfone e o examina,já existe esta relação e a sua escolha já foi realizada(ainda que sem “ muita “ consciência)
O projeto de Wittgenstein é  evitar as desconexões entre o modo de elaboração da ciência pelo  sujeito,afim de evitar os desperdícios ou falatório,no dizer de Heidegger.
Esta proposta é muito válida,mas peca pela convicção,dir-se-á cientificista, de que é possível uma lógica(formal?)que evite isto.O capitulo da certeza será sempre uma areia movediça eterna,porque o ser humano só consegue certeza (quase-)absoluta no nível do óbvio ou do evidente,do muito evidente.Fora disso,a  errância,a ilusão,a irracionalidade,as más escolhas jogam inevitavelmente um papel .
Não sei se Wittgenstein concordaria com o que eu  digo agora ,mas ele parec comungar de um defeito de sua época ,que é o de querer uma perfeita ciência ética,uma conexão que impedisse as irresponsabilidades tanto da ciência quanto da ética,mas o processo histórico da ciência e  a relação da humanidade com ela não permitem dizer que,no tempo,é possível,previamente, coibir os erros,os riscos,o falatório.

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