Qual o valor de Nietzsche se sou tão crítico em relação a
ele?Nietzsche é um grande crítico dos ismos,do racionalismo,destas abstrações
racionais que não só não expressam o
real,como ,ainda,estabelecem e impõem compromissos de poder.
Neste sentido Nietzsche tem um mérito extraordinário e também
pode e deve ser considerado um precursor da sociologia compreensiva,na medida
em que ,no âmbito das ciências sociais(se podemos chamá-las assim?)se busca
sempre um meio de abordar o sujeito (humano?)o mais próximo possível das suas
ações.A visão coletiva da sociedade costuma esconder estas ações e procurar
determinados eventos que supostamente explicam não só ela própria como os indivíduos
nela contidos parece ser um caminho impossível,pois o geral não esgota ou
exprime o particular e muito menos o singular.
Existe neste método dedutivo racional uma distância muito
grande entre a variabilidade individual subjetiva e os padrões sociais que as
explicariam.
O racionalismo(Apolo)obscurece e não revela as ações humanas
,em sua perspectiva e legitimidade.
Por outro ,na sua crítica,Nietzsche só vê esta perspectiva
subjetiva e não as influências que o todo realmente possui e preconiza um
isolamento que não condiz com o real.Uma ruptura que não é possível de fazer.Aqui
há uma “consciência falsa” em Nietzsche,uma inadequação porque se ele tem razão
em demonstrar as fraquezas da abstração e do racionalismo,por outro ele não só
esquece o que acabamos de dizer,mas a necessidade,ideal,de conexão ,do
individuo,do sujeito, neste todo.
Ele se refere a uma má consciência e boa consciência e não a
bem e mal e nisto nós divergimos,uma vez que tal modo de pensar induz,a meu ver,
a um individualismo agressivo,uma desconsideração com o “ em volta”,com os
outros,que nada tem a ver com o
moralismo que ele tanto ataca.
É certo que cada um tem a responsabilidade consigo mesmo,mas
a solidariedade não é moralismo como ele parece identificar.Os ideais
subjetivos são necessários e o bem e o mal não são moralismos,mas experiências
humanas necessárias que podem ser construídas subjetivamente,perpsectivamente.
Esta postura de Nietzsche me faz lembrar o “ anti-humanismo”
teórico de Althusser:o mundo real,das relações sociais reais implica num
abandono desta concepção do humanismo,um conceito falso e encobridor da exploração,das
desigualdades,mas o humanismo é uma intenção de construir uma humanidade real
em bases mais consentâneas com ela própria.
Fazer uma divisão deste tipo,entre o ideal e o real é o que
me parece o criadouro de “ monstros”,como na pintura de Goya,porque as grandes
violências surgem num indiferentismo cercado de grupos que se acham donos da
verdade,sem ver o outro,preocupados apenas com a sua boa ou má consciência,com
aquilo que lhe aprouver.
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