Está sendo lançada a continuação de um dos últimos filmes de arte dos Estados
Unidos ,antes do predomínio do blockbuster.Assistam primeiro a seqüência final
do filme,que coroa um grande filme.Sempre que eu a vejo fico com os olhos
marejados de lágrimas,pelos significados contidos nela e que eu vou comentar
abaixo.
O personagem interpretado por Rutger Hauer é um andróide ,perseguido por
Deckaard(o caçador de andróides[interpretado por Harrison Ford]{em sua melhor
interpretação}),juntamente com outros,que foram produzidos por um capitalista
selvagem do futuro para ações axiologicamente condenáveis.
O andróide de Hauer executa estas ações,mas vê em sua trajetória coisas tão
extraordinárias e lindas,que acaba se modificando,adquirindo humanidade.Só que
ele foi programado para viver só quatro anos(como a maioria dos outros).Cria um
estratagema para encontrar o seu “ pai, e pede a ele “ mais vida”,mas sem
conseguir.Mata o pai e segue sendo perseguido por Deckaard até esta cena
final,que os leitores viram.
Deckaard está dependurado numa viga,em uma cidade caótica e cheia a
de edifícios,à mercê de Hauer.Espera-se que o andróide o
deixe cair,o mate,como fizera com seu “ pai”.
Mas quando o caçador vai cair Hauer o segura pelo punho e o olha ,com
seus olhos azuis penetrantes,o medo de Ford,como a dizer “ o que eu vou
decidir?”É como um pater famílias que tem direitos de vida e de morte sobre sua
família.Parece uma cena tirada do Coliseum.O andróide puxa-o para um lugar
seguro(embora molhado) e diz:” é terrível viver com medo não é?” e aduz:”eu vi
coisas maravilhosas,perto das estrelas,perto de Órion”.
Hauer tem uma pomba na mão e antes de morrer a solta.
Os significados desta cena brilhante são claríssimos e resumem a forma como
deve ser abordada a relação do homem com as máquinas,inclusive estas
,quase-humanas,já previstas pela ciência.
Apesar de sua função condenável ,o sentimento de culpa e a sua “
inexperiência” como andróide de quatro anos o torna um ser melhor,o qual ,num
momento de paixão salva alguém,sem culpa,da morte,que ele tanto provocou.Paixão
quer dizer “passio”,” passividade”,mas num sentido de ser tocado pelo outro e
abnegar-se.A paixão de Cristo:Cristo se abnega pelos homens.Hauer,o
andróide,faz algo semelhante.
O único reparo que eu faço nesta cena e no filme é que logo a seguir
à morte do andróide,Deckaard faz a firmação óbvia,desnecessária,de “
naquele momento ele amou a vida como nunca antes”.Não era preciso.
E também sempre fiquei do lado da posição de Harrison Ford,quanto à
necessidade de manter Deckaard como um ser humano.A versão de Ridley Scot dá
conta de que o caçador é um andróide também,mas isto é um absurdo porque toda a
questão da relação do homem com a máquina fica perdida.Fica um problema
da máquina,não havendo como humanizar um andróide que caça os outros.Se fosse
assim outros problemas teriam que ser postos.
Ainda não vi a continuação,mas os críticos dizem que é o melhor filme do
ano.A idéia de Blade Runner é uma das melhores da história do cinema e o
roteiro é bom quando a idéia central o é.
Muito embora eu considere o melhor filme de ficção científica dos Estados
Unidos,” O Predador I”com Schwarzennegger(depois explico na próxima
crítica),Blade é um dos últimos filmes de arte dos EUA,junto com este
último,”Mishima”,”O Gigolô Americano” e “ O Acompanhante” todos feitos por um
auxiliar de Ridley Scot:Paul Schrader,por isto mesmo banido de Hollywood.
Os filmes de arte,ruins de bilheteria, foram sendo progressivamente
banidos,depois de “ À procura de Mr Goodbar”,fracasso de bilheteria.
Por causa da necessidade de ganhar dinheiro o sistema criou regras de
roteiro,formas de condução da realização,que garantam de antemão o retorno
econômico e financeiro e as discussões humanas ficaram em segundo plano.Tema
para um próximo artigo de crítica.
Avisando aos navegantes:não é violação de direitos autorais colocar partes
de filmes,pois eu já perguntei isto à instituição que cuida da distribuição dos
filmes no Brasil.
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