Sempre
fui e sempre serei escrupuloso.E toda pessoa escrupulosa é justa.É
claro que estas afirmações sobre o diletantismo do marxismo,que
vieram da direita,causam espécie.Por isto tenho que retornar ao tema
frequentemente,porque sei que este é o lado mais
dificil,digamos,assim,do meu pensamento.A concordação com a
direita,eu sabia,ia ser uma acusação inevitavel depois do que eu
disse.
Mas
o que disse foi fundamentado em outros autores,de esquerda,como
Edmund Wilson,Coletti,Garaudy,André Gorz.O radicalzinho de esquerda
que me ataca não tem estas leituras,pelo menos no Brasil.Mas na
Europa isto é moeda corrente há décadas.
Na
questão do método, Marx é profissional,mas mesmo assim é superado
depois pela sociologia.No entanto as aplicações do método
dedutivo,acrescido pelo conceito de totalidade,de Hegel,demonstram
compreensão profissional do problema.
Profissional
é,no entanto,aquele que compreende todo o processo do seu saber,quer
dizer,as suas consequências totais,bem como as suas partes.
O
exemplo histórico maior de profissionalismo que eu conheço e
,naturalmente ,admiro,é o de Shakespeare,que sabia dos textos,mas
também da lâmpada,da coxia e de todos os elementos constitutivos da
atividade teatral.
E
Edmund Wilson ressalta que a compreensão dos textos dos filósofos
não é completa por Marx e Engels.Eu disse:o que se entendia por
filosofia na época deles não era bem uma filosofia no sentido
profissional do termo e a abordagem de ambos de filósofos como Kant
e Hegel não era até ao final.
Marx
gostava de citar Balzac,cujo princípio fundador da Comédia Humana
era “ se temos que criticar a sociedade,vamos criticá-la até ao
fim”.Mas Marx não levou isto até ao final,porque nesta frase está
contida uma verdade essencial:nesta crítica até ao fim está a
crítica a si mesmo.
Um
filósofo francês ,Paul Ricouer,chamou Marx,entre
outros(Freud,Darwin),de “ mestre da suspeita”,porque ele punha
para a contemporaneidade o fato de que os modelos explicativos
tradicionais da sociedade moderna não são perfeitos,antes ocultam
as falhas,descontinuidades e injustiças do real.
Contudo
aquele que suspeita do mundo e dos outros,tem que entender duas
realidades:que em termos éticos ,para desconfiar dos outros é
preciso desconfiar,primeiro,de si mesmo e que ao desconfiar do mundo
é lógico que aquele que desconfia está nele.
No
caso da leitura de Hegel Marx podia ter ido mais longe na
desconfiança em relação a ele e notado que o Espirito Absoluto
não é uma entidade transcendental,mas o Ser em geral.
No
caso de Kant há que se perdoar Marx porque só no final do século
XIX se pode apreender outras possibilidades do seu pensamento,mas
ainda assim era possível repudiar o agnosticismo como invectiva
contra ele,porque nunca Kant afirmara a impossibilidade de
conhecer,mas de conhecer tudo.
Assim
eu concluo minhas reflexões sobre esta questão,a não ser que algo
mais serio ou importante apareça.
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