segunda-feira, 8 de novembro de 2021

O monismo e Aristóteles

 

O ponto nevrálgico de todo o monismo é a sua origem na filosofia grega.Lá mesmo nós podemos analisar as suas incongruências.Mas se estivéssemos lá,no tempo em que o pensamento grego se formava ,muito provavelmente não teríamos esta perpsectiva crítica que temos hoje.

Aristóteles,assim como os filósofos gregos(e todo o mundo), são datados,como eu,mas o tempo corre a meu favor e a favor dos leitores.Dos que vêm depois.

Os filósofos anteriores a Aristóteles eram monistas e ele é monista na medida em que junta a filosofia e a ciência numa mesma causa,numa única causa.

E supondo dentro das suas (dele)limitações,que o discurso explicativo se adequa perfeitamente à realidade das coisas,do Ser, o monismo,como a Metafísica,são verdadeiros.No entanto,Metafísica e Monismo são modos de ver a mesma coisa:a metafísica é o sistema geral,fechado,enquanto que o monismo é a causa,a causa única que explica e movimenta este sistema(fechado).

O que tem importância neste meu artigo sobre Aristóteles é mostrar como o monismo falseia a realidade e esconde o fato de que o Ser não é fechado e que encontra sempre equivalentes ou aberturas no mundo,nele mesmo.

É uma questão complexa saber porque os pré-socráticos e Aristóteles não puderam ver estas aberturas.Para mim é a questão da compreensão cientifica da realidade,mas eu não vou tratar disto aqui.

O próprio processo de desenvolvimento da filosofia demonstra que tudo pode ser contestado e novos discursos explicativos surgir.No entanto esta abertura se verifica em toda a filosofia,por causa disto e porque toda linguagem jamais tem condições de abarcar o ser e o mundo de uma forma completa e total.

Isto quer dizer que Aristóteles está superado,como os outros?Não.Quer dizer que fica claro que o pensamento está sempre se repropondo e sempre se adequando,ele também, diante do esforço histórico de compreensão da humanidade.E que por trás das afirmações peremptórias e dogmáticas há um propósito ideológico de poder,como ficou evidente desde as posturas de Pitágoras,que escondeu um conhecimento que contestava seu projeto politico.

Aristóteles,embora partisse do real ,totalmente diferente de seu mestre Platão,manteve uma separação entre o conhecimento racional e o prático,justificando afinal a escravidão.Se tivesse questionado este pressuposto teria certamente descoberto uma extraordinária abertura.

A filosofia,que recebe tantas críticas por sua inutilidade revela ilusões quando propõe explicações totais desmentidas depois.Sobrevive aos cacos,mas continua sofrendo estes ataques e aí entra um comentário importante dentro desta crítica,que no fundo é por causa do monismo,é por causa da crença de que tudo tende para a unidade ou é a unidade.

Já me referi que a ciência pensou em jogar estes cacos fora,mostrando a eficiência do saber científico,esse sim capaz de identificar a causa real das coisas.Tal não acontece.

Mas existe uma crítica que eu acho importante contestar agora:certa vez eu disse a um ortodoxo de esquerda,que tinha todos estes preconceitos com relação à filosofia,que sem Kant a liberdade de que nos desfrutamos hoje não seria possível,ao que ele contraditou que a luta dos povos o conseguiria para além dos filófosos,cujo papel,segundo ele não era sozinho e nem o maior.Quer dizer, a luta do homem para se libertar é suficiente e os filósofos são como um grão de areia.

Tal admoestação seria indicável para Aristóteles e os outros:mas mais cedo ou mais tarde a linguagem ,a organização da linguagem e do mundo seria feita por outras pessoas.

Estas assertivas são válidas para quaisquer épocas e pessoas:se Santos Dumont na época em que o 14 bis foi(seria)feito,outro o faria,sem dúvida.

Dependendo de cada contribuição,de cada época,de seus recursos, esta verdade é imediata ou demorada,mas inegável.Num outro sentido,não raro,a contribuição de um intelectual,como Kant ou outro criador ,adianta as coisas,cristaliza num discurso,que talvez fosse mais dificil e demorado de fazer,algo que a sociedade pede,mas coletivamente não consegue.

Duas coisas decorrem destas conclusões:que existe sempre um equivalente que denega o monismo e a metafísica e que o discurso racional,o logos,diferentemente do senso comum,guarda não a revelação absoluta da realidade mas a sua passagem,fixando um momento,que subsiste ou não conforme às circunstâncias.

Tais critérios são válidos para as figuras históricas e elucidam o que está sendo dito:os movimentos de massa necessitam de um intérprete que cristaliza as reinvindicações e apura a responsabilidade geral deste movimento ,dando-lhe sentido e adiantando a sua direção para os fins desejados.É o caso de Lutero,de Lênin.E de outros.

Mas em um caso extraordinário tudo se mostra mais claro:Cristo representa o sofrimento da humanidade,mas não há de se dizer que só o cristianismo conhece o sofrimento,sendo este sentimento comum à humanidade.O papel de Cristo, e por isso ele tem relação com a filosofia ocidental racional,é cristalizar como um simbolo e uma lembrança esta verdade comum da humanidade,não só como fato imediato ,mas como mediação de aberturas e possibilidades de interpretação.

O discurso racional não é sozinho nem apartado do senso comum ,mas ele cumpre papéis temporais,na voragem do tempo,que nem as massas conseguem.


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