sexta-feira, 28 de novembro de 2025

PROUDHON E MARX O confronto

 


Agora também inicio um trabalho de comparação entre Marx e Proudhon,uma relação polêmica entre dois homens que amigos uma vez se tornaram inimigos figadais,diga-se de passagem,muito em função de Max.

Conheceram-se em Paris e tiveram noites de discussão acalorada ,mas respeitosa, sobre o problema candente de sua época,uma pergunta colocada nos idos de 1820,que dizia “com tanta capacidade produtiva,porque existem tantos miseráveis?”.

Ignora-se o que eles falavam nas madrugadas de Paris,mas provavelmente foi este o assunto.E embora inicialmente Marx tenha tecido elogios rasgados a Proudhon,depois destas tertúlias,mudou completamente a sua opinião.

Vejo a questão da seguinte maneira,após ter estudado o livro de Proudhon “Filosofia da Miséria”:o que separou Marx de Proudhon,foi o fato de que este último alegou ter descoberto o principio da mais valia,que está lá definida em seu texto.

Aquilo que Marx alegou ter sido descoberta dele,foi enunciado pela primeira vez por Proudhon: “tempo de trabalho socialmente necessário paraa produção de mercadorias”.

A meu ver,repito,foi este o motivo da discórdia entre os dois e de fato quem chegou primeiro a responder à pergunta de 1820,na segunda onda industrial, foi Proudhon.

Isto não quer dizer que Marx plagiou totalmente Proudhon,mas o roteiro explicativo do problema estava lá todo delineado.

Pretendo começar este confronto analisando o capitulo de Proudhon sobre o valor(depois eu falo sobre o que veio antes)e neste caso devo dizer que Marx corrigiu imprecisões de Proudhon,que era um prático sem formação universitária,mas a explicação está lá,in totum.

É duro de admitir mas é a verdade e tal corrobora com as afirmações que fiz em muitos artigos sobre os duvidosos(em termos éticos inclusive)caminhos da ciência e da busca do conhecimento.

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

a extinção do estado e o advento do comunismo


Este é o livro a que eu me referi em artigo anterior.Mudou a minha cabeça em relação a Marx e à União Soviética.Não mudei imediatamente a minha visão do socialismo real ,mas ao longo de décadas eu não esqueci dele.

Hoje eu posso dizer que o desenho do Estado Socialista é burguês.O que caracteriza o estado burguês?Ele serve a uma minoria que mantém a maioria em segundo plano.

No estado socialista real uma minoria também governa e determina como deve ser a distribuição igualitária do produzido pelo país.

Nós vemos que em Marx que esta igualação é ilegitima e que o que ele preconiza é um estado socialista provisório,transitório,que unindo a sociedade, produza abundância de bens necessária à sua manutenção e progressiva extinção deste estado burguês,na medida em que se constrói um arcabouço administrativo que o substitui paulatinamente e suporta posteriormente a capacidade exponencial de produção.

Agora acrescento eu:quanto mais este sistema se mantém, mais tempo livre se pode obter e o ideal comunista verdadeiro(não o socialismo real),se implanta.

 

As várias dialéticas

 

Inicio aqui o meu texto tão esperado sobre as várias formas de dialética que eu espero desembocar em Hegel\Marx. Eu vou associar esta nova linha de pesquisa com a discussão sobre as categorias da dialética constantes dos manuais soviéticos que eu estudei quando era mais jovem e neófito do marxismo.

Este trabalho está podendo ser feito única e exclusivamente porque encontrei uma lista destas dialéticas num livro de sociologia de Georges Gurvitch.

Ele inicia a sua lista com o indefectivel Platão.Em um artigo há muitos anos passados eu já houvera posto o problema de se não há ou não uma dialética em Platão e revelei que para alguns autores sim e para outros não.

Contei uma historinha de que perguntei-o a meu professor Sotero Caio,da UERJ e ele meio enfadado disse que não porque Platão afirmou que para contrapor dialéticamente os seus termos,de modo a realizar a sua ascese teve que fazer o seu famoso “ parricidio” com relação a Parmênides,o homem do “ o que é,é e o que não é”.

Mas na verdade o reconhecimento do parricidio mostra o contrário:ó há parricidio quando se mata o pai e as suas concepções que ficam esquecidas ou superadas.

Ele teve sim que construir uma dialética,muito retorcida.Uma dialética só ascensional,que recusa a queda na empiria e que se constitui por uma recusa da sensibilidade pela metade,porque ela é essencial à ascese.

Há dialética porque não há uma recusa total mas um reconhecimento do perigo que é cair na empiria na doxa(opinião),procurando lembrá-lo permanentemente no processo de subida à pefeição,ao mundo das ideias perfeitas.

Gurvitch faz uma lista de características das várias dialéticas:positiva,negativa,apologética,intuitiva,empirica,racional,ascendente,descedente e assim por diante.

A de Platão ele diz ser apologética,ascendente,positiva e racional.O destrincharemos em um próximo artigo.

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Um novo escaninho Filósofos da religião Sto Agostinho e o tempo

 

No capitulo XI da autobiografia de Sto Agostinho nós vemos um dos momentos altos da filosofia ocidental:o tempo.

E logo na abertura ele expõe aquilo que seria no futuro a doutrina da predestinação de Calvino: Deus decide desde sempre ,de forma perfeitissima e sua vontade não pode ser modificada pela do homem.

Este é um dos motes fundamentais do futuro protestantismo:a volta a Santo Agostinho,deixando para trás a figura de São Tomás de Aquino,que colocara a igreja católica como intercessora única entre homem e Deus.

Em Sto Agostinho esta relação se dá pelo coração humano e o coração de Deus,mas é lógico que somente Deus tem a certeza da fé humana.E mediada pelo tempo.

Trata-se de trabalhar e viver a vida na esperança de que Deus dê ao homem a sua graça.

Mas acima de tudo este artigo visa a mostrar como uma (re-)volta ao passado tem como impulsionar o futuro através de modificações no presente.

E também inaugura uma trilha de pesquisa que sempre me interessou:os filósofos religiosos e aqueles que perpasssam uma época de poucas descobertas cientificas válidas.

No passado e no rastro do cientificismo eu acreditva que havia uma relação necessária entre a ciência e a filosofia e em grande parte esta relação se dá na história não poucas vezes,mas quando há uma ausência de trabalhos científicos o que faz a filosofia?

Discute a linguagem,discute Deus como um simbolo(embora não o seja para os teólogos),discute a história,as narrativas biblicas,tirando-lhes significados psicológicos e axiológicos.

De modo que esta dicotomia ciência/filosofia não é obrigatória e por isto podemos utilizar os filósofos teológicos como uma outra via,digamos,de compreensão da filosofia diante do homem e da vida.

domingo, 16 de novembro de 2025

Os aforismos de Hegel

 

O ano de 1806 para Hegel foi decisivo.Foi neste ano que ele assistiu a batalha de Iena e dela tirou conclusões universais,a partir da vitória de Napoleão.E também se casou e teve sua lua-de-mel...

O ano em que ele escreveu a fenomenologia do espirito,mas “evoluiu” para uma concepção “científica” da dialética.

E neste ano escreveu alguns aforismos que retratam um pouco a sua mentalidade naquele periodo em que realiza uma tremenda mudança no seu pensamento e na vida.

Este terceiro aforismo vai ser comentado por mim.Está em castellano.

§3

Existe efectivamente un partido cuando éste se escinde en sí mismo. Así sucede con el Prostentatismo, cuyas diferencias ahora se deben reparar con intentos de unificación –una prueba de que ya no existe. Ello porque, en el escindirse, la diferencia interna se constituye como realidad. Con el nacimiento del Prostentatismo habían cesado todos los cismas del Catolicismo. –Ahora la verdad de la religión cristiana viene a ser continuamente probada, pero ya no se sabe para quien; porque ya no es con los Turcos que tenemos que ver.


Ele se refere ao fato de que o protestantismo,básico no seu pensamento,nasceu quando já não havia mais cisma na Igreja Católica,mas agora existem cismas constantes na religião reformada,que não aproveita para ninguém,na Europa.

Digo eu:só para a religião mesmo e para seus interesses.

Uma das características mais importantes do protestantismo,desde Lutero,ou principalmente a partir dele,foi ter admitido múltiplas interpretações possíveis da Biblia.

Talvez não fosse um desejo dele Lutero e de muitos reformadores,mas sem isto não possível destruir a estrutura monolitica e hierárquica da igreja católica na idade média.

O pluralismo ocidental ganhou força com esta verdade:existem muitas vozes para chegar a Deus,para chegar a uma verdade e isto tem que ser admitido,apesar das divergências.

Hegel se propõe a fazer uma renunificação através da filosofia,que busca reconciliar o homem com Deus ,através da dialética,deixando de lado estas inumeras vozes e colocando a religião num novo patamar e com um novo papel:rector das condutas,mas não dirigente da politica e da sociedade.

Este é um dos motivos para uma ciência da lógica dialética.




sábado, 8 de novembro de 2025

Não existe totalidade absoluta

 

No pensamento de Hegel a totalidade é vista como coincidente com absoluto,com o Ser em geral.Mas,lembrando Kant,não há principio que se identifique totalmente com o absoluto.

A totalidade é construída e limitada.Ela diz mais respeito à ciência ,com um objeto formal de investigação,do que à filosofia,mas Hegel a extende para esta última.

A totalidade particular,científica,tudo bem,mas na filosofia apresenta problemas e perigos.

A generalidade filosófica não tem como ser abarcada ,como dissemos,pela totalidade.Muito embora Hegel não associe a totalidade ao gênero,considera a filosofia como ciência e que ,portanto,possui um objeto formal, a ser restituido pela linguagem.(ciência da lógica dialética).

Há uma diferença entre a totalidade legitima e totalitária,que seria aquela,esta última,que extrapola os limites da totalidade construida,segundo critérios objetivos.

Ainda que seja possível fazer,na filosofia ,uma totalidade,há que ter cuidados para ela não se tornar uma totalidade absoluta.

O absoluto é só uma verdade subjetiva psicológica,uma “queda” no dizer de Kierkegaard.

Já falei muito sobre esta limitação de Hegel não reconhecida por ele.Daí é que vinha o seu pânico com relação à dialética,como pontuou Leandro Konder ,que era o pânico de controlar o movimento.

A totalidade de tudo o que existe,do Ser,é impossivel.A dialética mesmo é impossivel de acompanhar,pois suas leis são sempre ultrapassadas pelo movimento real.

Mas nesta problemática entre totalidade legitima e totalitária,ou seja,que se impõe existe algo muito sério,porque se a totalidade fica nos seus limites ela acaba com o movimento e por isso a totalidade que vai além destas linhas ,é necessária,como negação da legitima,para que tudo continue.

Contudo,isto não elimina o que eu disse ,que não existe totalidade absoluta,bem como o absoluto.



quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Aplicações da fenomenologia Heidegger

 

Na verdade,para ser fiel ao pensamento de Heidegger nós temos que reconhecer que não há mais essências,muito menos no ontisch .

Eu,ao colocar essências no ontisch ,estou me referindo,segundo ele, a coisas paradas,extáticas,dir-se-ia como Platão.

O ser é colocado por Heidegger no tempo e tem,pois,uma dynamis,que o fundamenta agora.

Aquilo que chamamos a existência ,que se manifesta de diversas maneiras,não é como essências,mas como um ente que se põe à maneira de algo.

Assim sendo a marcha da existência se faz não pela sucessão de essências,mas como a marcha dos entes que se colocam de um determinado modo,como um algo,que é o ser do ente.

Graciliano Ramos detestava colocar em seus escritos a palavra algo ,que,para ele,não designava nada.

Mas no caso de Heidegger o “algo” se refere a alguma coisa que se move no tempo e que não pode ser reduzido a uma essência definitiva.

A essência do professor,que dá aula,convive com a de pai,irmão,cidadão e assim por diante ,cabendo ao observador(mas não ao praticante)abstrair estas outras essências,para ficar com uma,no caso,a de professor.

Mas a prática objetiva,o modo de agir no tempo ,no imediato,é o ato de ensinar,condicionado pelas circunstâncias.

O ser do ente é aquele que se põe neste modo e ente(ontisch)é este algo,depurado pela observação e praticado em si mesmo no tempo.

Eu continuo dizendo que uma coisa não exlcui a outra e que Heidegger exagera um pouco nestas distinções,mas não há como negar que a existência é esta prática constante,no tempo,no cotidiano e que a sua distorção pode ser analisada e recuperada pela fenomenologia,que funda uma psicologia,uma possível nova psicologia.

É neste processo psicológico que eu acho que ainda mantém Aristóteles no timão:como analisar um professor,no seu caminho existencial,sem trabalhar com o extático,com o Ser e as essências?