quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Aplicações da fenomenologia Heidegger

 

Na verdade,para ser fiel ao pensamento de Heidegger nós temos que reconhecer que não há mais essências,muito menos no ontisch .

Eu,ao colocar essências no ontisch ,estou me referindo,segundo ele, a coisas paradas,extáticas,dir-se-ia como Platão.

O ser é colocado por Heidegger no tempo e tem,pois,uma dynamis,que o fundamenta agora.

Aquilo que chamamos a existência ,que se manifesta de diversas maneiras,não é como essências,mas como um ente que se põe à maneira de algo.

Assim sendo a marcha da existência se faz não pela sucessão de essências,mas como a marcha dos entes que se colocam de um determinado modo,como um algo,que é o ser do ente.

Graciliano Ramos detestava colocar em seus escritos a palavra algo ,que,para ele,não designava nada.

Mas no caso de Heidegger o “algo” se refere a alguma coisa que se move no tempo e que não pode ser reduzido a uma essência definitiva.

A essência do professor,que dá aula,convive com a de pai,irmão,cidadão e assim por diante ,cabendo ao observador(mas não ao praticante)abstrair estas outras essências,para ficar com uma,no caso,a de professor.

Mas a prática objetiva,o modo de agir no tempo ,no imediato,é o ato de ensinar,condicionado pelas circunstâncias.

O ser do ente é aquele que se põe neste modo e ente(ontisch)é este algo,depurado pela observação e praticado em si mesmo no tempo.

Eu continuo dizendo que uma coisa não exlcui a outra e que Heidegger exagera um pouco nestas distinções,mas não há como negar que a existência é esta prática constante,no tempo,no cotidiano e que a sua distorção pode ser analisada e recuperada pela fenomenologia,que funda uma psicologia,uma possível nova psicologia.

É neste processo psicológico que eu acho que ainda mantém Aristóteles no timão:como analisar um professor,no seu caminho existencial,sem trabalhar com o extático,com o Ser e as essências?

O que significa o Ser pelo Ser Heidegger

 

A diferença entre as visões do Ser de Aristóteles ,Platão e de Hegel para a de Heidegger é que esta última uma visão é pura,pelo ser mesmo.

Nos filósofos citados,o Ser é tudo e nada ao mesmo tempo.Ele é a possibilidade de tudo e como definição ele é nada,porque nenhuma essência,contida nele ,o define,o abarca totalmente.

Assim sendo quando falamos do Ser não dizemos nada.É um falatório constatativo,como o materialismo histórico.

Somente pela fenomenologia,quando procuramos as possibilidades de essências ,dizemos algo do Ser,sem citá-lo,mas admitindo-o como existente.

Hegel colocara esta problemática na sua “ Fenomenologia” ao dizer que Deus esquecia-se do mundo,do Ser,ao constatar e construir essências infinitas,municiando o mundo.

Mas aqui ainda temos um Ser que se define pelas essências,inclusive a sua ,o ecz-stenz,a existência.

Em Aristóteles e Platão só se analisa o Ser pela sua essência,a ser investigada e estudada.No caso de Platão as Idéias,enquanto que Aristóteles define o Ser como uma essência substantiva.

Tomemos o exemplo de Hans Kelsen,no caso do direito:a teria pura do direito explica o direito por ele próprio. O conteúdo do direito é a sua força para se impor.A sua heteronomia imposta(Estado).

Mas é lógico que existe uma crítica de minha parte,que sou kantiano:se o direito só subsiste se for capaz de se impor,não prescinde de conteúdos justificadores e organizadores,porque a força ,em si mesma,não cria nada,como mostrou Rousseau.

No caso de Heidegger,e sua proposta de explicar o ser-por-si-mesmo,sofre,de mim,idêntica crítica:se é verdade que o Ser no tempo se modifica,não permanece como Ser,mas como manifestações de essências ou antes manifestações das essências.

Heidegger se encaminha para chamar estas transformações de existência (embora ele não se declare como tal[existencialista]),mas quais são estas transformações da existência?



Canudos e o comunismo III reflexões sobre o que é de fato comunismo

 

Depois de décadas reobtive um famoso livro sobre a ditadura do proletariado,de Ettienne de Balibar,que li em 1977.

Neste livro eu verifiquei os verdadeiros critérios usados por Marx para definir o que é ditadura do proletariado,socialismo e comunismo,no sentido,este último,que ele entendia e que foi,a meu ver ,deturpado pelo socialismo,por Lênin e os bolcheviques.

Vamos com calma,é muita coisa.

As questões que vão ser colocadas por Marx aqui,provêem de dois textos importantíssimos: “A critica ao programa de Gotha” e “ A Guerra Civil em França”.

As nossas primeiras elucubrações começam com uma carta de Marx a Bracke de 5 de Maio de 1875.

Como Marx põe a questão da extinção do Estado na rabeira do desenvolvimento do capitalismo e do comunismo?

Balibar ressalta que há uma diferença entre Engels e Marx quanto a esta questão.Numa carta de 1891 a Bebel,Auguste Bebel de 28 de março deste mesmo ano,Engels preconiza o fim do Estado,enquanto na carta a Bracke Marx ainda fala de um “estado no futuro comunista”.

Balibar tem um certo sofrimento com esta diferença,mas tanto Marx quanto Engels entendiam o estado futuro como uma instãncia administrativa apenas.Isto está nos textos sobre o anarquismo. Os dois possuiam esta visão homogênea sobre o Estado.

O Estado opressor é só aquele que serve a uma classe. O Estado de classe.

Balibar tenta juntar os dois pela questão de extinção deste Estado,mas a premissa é aquele que eu coloquei acima.

Na discussão com a social-democracia,com Lassalle,que inventou o termo,o problema do que é o estado,de como ele deve ser aparece.

Eu vou tratar disto no próximo artigo.

Leituras de Hegel II

 

O segundo problema aventado acima é o da pedra de toque da dialética.Existem várias dialéticas,mas o que a define fundamentalmente é a oposição básica entre dois termos,supostamente reais ou mentais(produtos da consciência).

Leandro Konder ,em seu livro sobre Hegel,faz a analogia com o “dia”.

Esta palavra “ dia” tem a ver com o dia,de cotidiano:ele significa a translação do sol de um ponto de ascensão para o de chegada no horizonte;dia quer dizer esta passagem de um ponto a outro que se opõem.Lética,vem de “ aletheia”,verdade.

A busca da verdade por um processo de oposição minima entre dois pontos.A construção de algo entre eles é a dialética.

Em meio às várias formas de dialética o ponto essencial é que o movimento tem que ser explicado.E a condição é que um ponto se explica pelo outro.

Em Platão a racionalidade se opõe à sensibilidade,que é o seu contrário(persiste a discussão se em Platão existe uma dialética[mas o método é dialético]).

Neste duplo,existe já a negação do primeiro termo,dir-se-ia ,a tese:a antítese é a sensibilidade,mas podemos fazer ao contrário.

Uma das características da dialética é que podemos começar de qualquer lado para “produzir” e compreender o movimento,mas na verdade na dialética de Hegel sempre existe um ponto de partida,uma tese,que é “contestado” por uma antitese,mas o movimento tende a diluir esta preeminência.

Hegel cria um ser que se movimenta pelo seu oposto ou não-ser :o oposto de macho é fêmea,que gera a sintese do filho.No caso do finito e do infinito,seguindo a dedução racional(Aristóteles),este segundo precede o primeiro,dentro do conceito de totalidade.

Mas outros dialéticos reformulam o conceito de dialética:David Straus coloca a triade cristã,pai,filho e espirito santo ou na ordem pai,deus-pai,espirito santo e filho(Cristo).

Se olharmos bem não há oposição entre deus e ES e com o filho que também é deus ,a não ser colocando o epiteto pai e filho,mas mesmo assim o espirito santo não não-deus,mas “diferente”.Se a relação se dá entre deus e maria,é entre macho e fêmea e gera um filho humano\deus,mas Maria não é Deus.

Outra forma de dialética é a de Proudhon ,com os conjuntos práticos,que Sartre reinvindicou para si,mas que são de Proudhon.



Mais leituras de Hegel

 

Continuando as minhas leituras de Hegel e preparando meu segundo livro sobre ele,trato novamente do fulcro do seu pensamento:a dialética.

A dialética visa explicar o movimento,visa responder a esta questão candente dos últimos dois séculos(considerando o tempo de Hegel),que veio desde o nascimnto da ciência moderna:se o movimento existe e se aplica à sociedade.

Já me referi em outro artigo à origem dos fundamentos do pensamento hegeliano,que está na sua(dele) análise sobre a Revolução Francesa e o acometimento do terror e da reação termidoriana.

O fato é que dois problemas já foram abordados por mim:o problema de se uma coisa é ele e outra ao mesmo tempo e qual é a pedra de toque da dialética.

No primeiro eu analisei o pensamento de Popper e vou aplicá-lo na questão central da dialética hegeliana:o finito e o infinito.

Nós vimos que se não houver uma dialética entre estes dois termos não há possibilidade de explicar a dialética,provando-a e muito menos o universo,o Ser em geral.

Se cada um destes termos fosse visto de per si,não haveria como explicar o infinito,que seria uma noção atemporal e metafísica.Se só abordássemos o finito não teriamos a existência do infinito,o que é absurdo,embora muitos o ponham.

O infinito guarda uma relação dialética com o finito,que o compõe ,em infinitas partes.

Segundo a dialética no finito está o infinito,a sua condição e no infinito está o finito,sua condição.Ambos são uma coisa e outra,concomitantemente.

Mas analisemos o problema:se dissermos que no finito está o infinito,já não será o finito,finito,mas infinito;se dissermos que a parte finita constitui o infinita teremos que separar estes dois termos e mudar a dialética,pois o não-ser do finito é infinito(absurdamente separado dele)e do infinito é o finito,que está separado dele,para constituir o infinito.

Como se vê,no nascedouro a dialética demonstra que uma coisa não pode ser ela e outra simultâneamente,só explicando o erro de Hegel a sua concepção de tempo e suas limitações temporais.

Mas é uma tentação pensar que estes dois termos se relacionam no tempo.O tempo finito das coisas,do Ser,se une ,no tempo,para fazer o infinito,mas dividir assim em partes o tempo,mesmo a filosofia anterior a Hegel(Descartes),encontrou dificuldades.

O segundo problema eu vou tratar no próximo artigo.



sábado, 1 de novembro de 2025

CANUDOS COMO COMUNISMO II

 

Eu ia manter o artigo anterior como suficiente para responder ao professor que veio no meu youtube,mas revirando a minha biblioteca digital descobri um texto muito bom de Luiz Antonio Moniz Bandeira “O sentido social e o contexto politico da guerra de Canudos”,onde,no segundo parágrafo,ele se refere ao “ comunismo cristão”.

A região de canudos fora ocupada ,em priscas eras,por indigenas,que tinham a terra como propriedade coletiva.Quando Conselheiro ,em 1893,fundou o Belo Monte,manteve esta característica.

Moniz Bandeira cita Euclides da Cunha:

... a propriedade tornou-se-lhe uma forma exagerada de coletivismo tribal dos beduínos: a apropriação pessoal apenas dos objetos móveis e das casas, comunidade absoluta da terra, das pastagens, dos rebanhos e dos escassos produtos das culturas, cujos donos recebiam exígua quota parte, revertendo o resto para a companhia. Os recém-chegados entregavam ao Conselheiro noventa e nove por cento do que traziam, incluindo os santos destinados ao santuário comum. Reputavam-se felizes com a migalha restante.”

Este relato não é exato,não é bem assim,mas está próximo do igualitarismo cristão.Não s e contentavam com migalhas.Possuíam a propriedade das casas e dos instrumentos de trabalho,mas a terra era uma proporpiedade comunal e o principal da produção era entregue ao grupo ,para repetir os preceitos de São Paulo(São Paulo era comunista[aliás seu fundador]):

Entre eles nenhum necessitado havia, pois todos os que possuíam terrenos ou casas vendiam-nas, traziam o produto da venda e depositavam-no ao pé do Apóstolo. E a cada um era distribuído conforme a sua necessidade" 32.
Por este texto Moniz Bandeira nós ficamos sabendo que Euclides comparava Canudos às propostas utópicas de Fourier e Owen,em que não havia propriedade sobre a terra.

E no século XVIII,ainda seguindo a narrativa de Moniz Bandeira,a experiência da República Guarani 33 repetia o modelo do comunismo cristão e das formas de organização indigenas,que não estavam presentes no Sul,mas em todo o Brasil,por motivos óbvios.

Vou fazer uma análise disto no próximo artigo.


terça-feira, 21 de outubro de 2025

O estereótipo

 


Nos meus estudos em dicionários encontrei uma palavra que me suscitou no pensamento algumas reflexões.Todo mundo sabe que eu trabalho muito com a questão da experiência.O pensamento não é de forma alguma igual à experiência,mas contém algo dela,nele.

Símbolos ,imagens,estereótipos,carregam algo da experiência,mas não são tocados por ela mais.

Se houvesse nos estereótipos algo permanente da experiência,do novo,não seria possível compreender o mecanismo de todo preconceito,como algo que se impõe às pessoas.

Mas isto não significa que em todo estereótipo não exista uma experiência humana passada,que se cristaliza nele.

Quanto ao futuro ele pode ser impermeável,mas a experiência contida neste conceito que se cristaliza.

O problema,no entanto,é que ao longo do tempo e na complexidade social,temos que admitir coisas que não são experiência.Temos que admitir esta rutura com o movimento da humanidade.

Há coisas que permanecem,como modos transcendentais,em relação ao tempo.São não-tempo.

Então a transcendentalidade não se refere a Deus e a ideias perfeitas somente.

Há coisas que não são tocadas pela experiência ,pela experiência contínua.O pensamento está nesta situação?Ele é algo mais do que experiência?

Se respondermos que sim como vamos definir o pensamento,pelo menos,do ponto de vista filosófico?

Do ponto de vista científico é possível saber o que é o pensamento,mas da perspectiva filosófica é mais dificil,principalmente admitindo a sua relação com a experiência humana.

Seria um momento de intersecção entre filosofia e ciência?Seria pura representação das coisas,inter-relacionadas pela subjetividade?