sábado, 13 de setembro de 2025

No dasein de novo problema da coisa em si

 

Ocorreu-me esta semana uma questão,quando vi um video de Ariano Suassuna criticando a “ding-an-Sich”,quer dizer repetindo as críticas tradicionais.

Kant,como já expliquei,nunca disse que não se pudesse conhecer algo,um copo na mão(como no video),uma mesa,ou uma pessoa.O dasein ,o isto que observamos no imediato é plenamente cognoscível.

Contudo,uma definição geral de uma coisa,não é possível de fazer,porque existem inúmeras manifestações delas próprias,não uma só.

O copo na mão de Ariano Suassuna não pode ser definido por uma essência geral de copo.Copo é definido como um recipiente que retém liquidos a serem bebidos ou manipulados.

Só nesta definição nós podemos incluir uma gama quase que infinita de recipientes que possuem usos diversos do copo.

Até mesmo se juntarmos as mãos e bebermos água poderíamos chamá-las de copo?

A filosofia e a razão não provam que a realidade existe.O ser humano só tem a percepção das coisas.O Dasein,o isto que observamos o apreendemos pelos sentidos:há uma adequação entre a expressão linguística do copo,este copo,que a une à percepção,mas,como acabamos de ver,a definição do que um copo é,para além da percepção de um copo singular,este copo,não é possível.

A expressão linguística do dasein é só pela descrição/narração do que ele é,mas mesmo assim é dificil restituir o real.Este copo é bojudo,como tantos outros;é transparente,como tantos outros ,serve para beber liquidos,como tantos outros;serve para beber vinho,porque tem uma abertura menor que permite sentir o bouquet e assim por diante.

No fundo só se pode dizer que o copo tem características e foi usado num contexto especifico,numa data e numa ocasião,cujos critérios de identificação são meramente convencionais:no dia x do ano x Ariano Suassuna pegou um copo na mão e o usou para desancar Kant.

Acaso então não se pode fazer um nexo cognitivo,no caso ,por exemplo,de crimes?

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Porque falo em Utopia II

 

Foi Marcuse quem colocou o problema de se superar a visão cientificista do marxismo,exposta principalmente por Engels,em “ Do socialismo utópico ao socialismo cientifico”,que dá conta de que após o socialismo utópico vem o científico.

Mas nós vimos que não é assim,não só pelos descaminhos do socialismo (“cientifico”),mas também pelas possibilidades contidas no termo genérico utopia e na própria realidade,que como coloquei no artigo anterior,apresenta problemas não resolvidos até hoje.

Chegou a hora de responder às perguntas do artigo anterior:quem garante que a iniciativa privada irá desaparecer?A empresa vai desaparecer?O mercado?O direito?

Partindo do pressuposto de que o homem tem uma natureza e características próprias desta natureza,não se pode deslindar os seus maiores problemas com uma concepção e um ato de vontade.

E já vimos que não está contido no teorema alienação\desalienação a resolução final dos problemas humanos,porque movimento nenhum está pré-dado.

O homem não vai se encontrar consigo mesmo,agindo segundo a vontade.Ele constrói o caminho onde criará as condições para ocupar-se de si mesmo:o tempo livre.

Ocorrendo o tempo livre,repito,quem garante que algumas formas de existência do capitalismo não permaneçam,ainda que modificadas?

Por este motivo não existe uma utopia pronta ,mas alguns elementos básicos a discutir e outros a construir,como num novo pacto da humanidade,humanitário.

A desigualdade,por exemplo,trará enormes problemas,porque nem todos aceitarão e um modo de convencimento há que construir.

Diminuir a distância entre as pessoas e elevar a base social de riqueza ajudam,mas isto,em princípio não garante,repito ,que as diferenças de capacidade não contaminem o solidarismo humano esperado no futuro.

Como prever agora um futuro perfeito?Se existe?



segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Porque uso a palavra Utopia?

 

Porque na verdade entendo ser este um conceito muito mais complexo do que o marxismo imaginava(o termo é este mesmo).

O marxismo ,como monismo que é,achava que a destinação do homem estava contida em determinados principios e fatos desalienadores.

Mas além destes fatos,existe a consciência humana e suas escolhas.Marx acertadamente criticava os valores,que ,segundo ele,não eram mais importantes do que as necessidades e a consciência destas é a liberdade.

Outras questões,no entanto,aparecem,para além desta pura adequação e exigem escolhas,valores e principios.A liberdade é mais do que a adequação.Ela tem um limite material,mas vale por si mesma,até para conseguir a satisfação das necessidades.

Dito isto,não se há de afirmar que uma utopia esteja contida ab ovo nesta humanidade alienada,bastando a desalienação.

Ela é construída paulatinamente,a partir da consciência das necessidades,mas também da consciência de tudo o que existe e dela própria.

Isto fica claro se nós analisarmos com calma aquilo que se propõe ao longo da história,como utopia.Aqui neste artigo não dá para falar de todas as utopias e eu pretendo abordá-lo depois.

Falo fundamentalmente da utopia comunista,especialmente marxista,que é que causou mais mudanças e ainda aguça aqueles que pensam,como eu,na sua continuidade.

Uma utopia materialista ,em que todos dividem o que possuem,eu já provei ser impossível e anti-marxista.E já me referi ao fato que o tempo livre de que as classes altas,desde a antiguidade, possuem,é a condição da desalienação e da igualação de todos.

Contudo supõe-se que a supressão das classes se dá pela abundância e isto é parcialmente verdadeiro,porque as aptidões das pessoas,individuamente consideradas,vão estabelecer um novo tipo de desigualdade natural,reconhecida por Marx,que se ligava assim,sem o saber talvez(acho dificil)a Locke e por conseguinte aos liberais,como Hannah Arendt demonstrou.

Então,existem discussões ainda pendentes sobre a utopia,que ainda não tem uma conformação pré-dada,mas um processo de construção e reconhecimento (lembrando Hegel).

A iniciativa privada desaparecerá?A empresa capitalista?O direito desaparecerá?O estético substituirá o ético?Há mil perguntas a responder.Assunto para os próximos artigos.

domingo, 24 de agosto de 2025

As Utopias em Nietzsche e Marx

 

Em quê eles se interligam?Naquilo que o teatrólogo Jorge Andrade disse uma vez: “ no dia em que o homem for libertado do homem então será livre e estará na utopia”.

Nietzsche também possui uma utopia.É que o homem saia,como um todo,do rebanho.Marx,a meu ver,cria as condições e defende algo semelhante: “individuos concretos livres”.

Não é possível romper com a experiência coletiva humana.Não é um ato de vontade que rompe com estes poderes manipulatórios e que mantêem o rebanho,como um pastor.

A vontade participa ,mas ela é só um dos elementos constitutivos do processo revolucionário(num sentido amplo esta palavra)de mudança e tal complexidade impõe uma luta coletiva e individual.

Alguns,talvez por sorte até,saem do rebanho,mas o mais importante é que todos,ressalvando a escolha,se evadam deste coletivo perverso.

Digo escolha porque,como pontificou Etienne de la Boetie,há pessoas que apreciam a subservência ,apreciam este todo,estas dominações todas.

E mentalmente,em muitos lugares,atacar a perspectiva individual é tido como o supra-sumo da “ bondade humana” que reune lobos e cordeiros.

Todos sonham com uma liberdade ,medida por um tempo livre,à disposição de todos,que,assim,se dedicariam a si mesmos e aos outros,num mesmo patamar de verdade,bondade e honestidade.

Hoje,pensar em si mesmo é maldade.É desrespeitar os outros,mas no tempo é um falso problema e na verdade a bondade humana não é absoluta e considerar o mal em torno de você como possibilidade de apresentação,é uma necessidade para evitar surpresas desagradáveis.

Em Marx,como repito sempre,há um ideal(herança de Hegel?),mas este espera se aproximar do real ,que é onde o movimento deve começar e terminar. Ou o contrário,melhor dito.

Nós vemos que Franz Mehring ,o primeiro marxista a ver este traço de união,tinha uma certa razão.

sábado, 16 de agosto de 2025

Marx e Nietzsche dou um pouquinho a mão à palmatória

 

Discipulo ferrenho que fui durante muitos anos de Luckacs odiava Nietzsche e principalmente as relações entre ele e Marx.

O primeiro,no âmbito mesmo do marxismo,a estabelecer esta ligação,foi Franz Mehring,biógrafo de Marx.

O termo de ligação entre estes dois autores que junto com Freud constituem as três cabeças da contemporaneidade,é a questão do humanismo.

Ambos são críticos do humanismo,como uma abstração,que não é maior e mais importante do que os seres humanos vivos e concretos, “individuos concretos livres”,como dizia Marx em A Ideologia Alemã.

De igual maneira, Nietzsche inicia o seu périplo intelectual criticando a abstração e se voltando para uma expressão destes indivíduos concretos vivos,nas suas ações e movimento.

Eu penso que em Marx há ainda um ideal a orientar estes “ individuos”,em direção à utopia.Não comungo,pois,das visões radicais de Althusser,quanto ao “anti-humanismo” téorico.

Mas é fato que Marx se volta para este concreto,como o lugar da verdade e Nietzsche também.

O além do homem não é o homem superior,mas aquele que se evade deste curral,que é o humanismo,a abstração racional derivada e reprodutiva do conceito,deixando de lado este “ rebanho” geral sob a sua canga.

O além do homem é a perspectiva de cada subjetividade,que cria os seus valores e faz as suas escolhas sem a preocupação de se referenciar a estes modelos abstratos.

Mantenho uma certa crítica a Nietzsche quanto à Razão,mas reconheço que a abstração racional muitas vezes é vazia e só serve aos imperativos manipulatórios do poder e das convenções.

Mas a ligação ocorre quando ambos os autores questionam que a verdade esteja na abstração.

E quando elaboram as suas respectivas utopias.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

A segunda lei de termodinâmica de Boltzman

 

Continuando o meu trabalho sobre a História da Física,especialmente a dissensão entre visão de Einstein e a da teoria quântica,nós vamos tratar da Segunda Lei da Termodinâmica, na formulação de Ludwig Boltzmann, que está relacionada ao conceito de entropia e à probabilidade estatística dos estados físicos de um sistema.

O Enunciado Básico da Segunda Lei da Termodinâmica é:

A entropia de um sistema isolado nunca diminui; ela tende a aumentar com o tempo, atingindo um máximo no equilíbrio.”

Mas Boltzmann deu a esse princípio um fundamento estatístico, revolucionando a forma de entendê-lo.


1. O QUE BOLTZMANN FEZ DE DIFERENTE?

Antes de Boltzmann, a entropia era um conceito termodinâmico abstrato (de Clausius), sem uma base microscópica clara.

Boltzmann introduziu uma interpretação estatística da entropia: ele conectou o comportamento macroscópico (como temperatura e pressão) ao comportamento microscópico das partículas (como átomos e moléculas em movimento).

Carcaterística do periodo imediatamente anterior ao ano de 1905.Nós estamos tratando agora de probabilidades no campo da física,que até aqui era aceito por Einstein.

2. A FÓRMULA DE BOLTZMANN

A famosa fórmula gravada em sua lápide:

S=k⋅ln⁡WS = k \cdot \ln WS=k⋅lnW

Onde:

Microestado: uma configuração específica das partículas (posição e velocidade).
Macroestado: uma descrição global do sistema (ex: temperatura e volume fixos).

3. O QUE A SEGUNDA LEI DIZ, SEGUNDO BOLTZMANN?

Boltzmann mostrou que:

O estado de maior entropia (mais desordem) é também o mais provável.

Ou seja:

  • Sistemas tendem espontaneamente a evoluir para os estados mais prováveis — aqueles que possuem mais microestados possíveis.

  • O aumento da entropia é, então, uma questão de probabilidade: há muito mais formas de estar em um estado desordenado do que em um ordenado.


Exemplo clássico: Gelo derretendo

  • Gelo (estado ordenado) → poucas formas de organizar as moléculas.

  • Água líquida (estado desordenado) → muitas formas possíveis.

Logo, derreter é mais provável que congelar espontaneamente, pois a água líquida tem maior W (mais microestados), e portanto maior entropia.

Importante: Determinismo vs Probabilidade

A mecânica clássica é determinista. Mas a abordagem de Boltzmann é estatística:

  • Um sistema pode retornar a um estado de baixa entropia (por exemplo, um gás se recomprimir espontaneamente num canto do recipiente), mas a probabilidade disso acontecer é tão baixa que, na prática, nunca ocorre.


Em resumo:

A segunda lei da termodinâmica segundo Boltzmann afirma que:

  • A entropia mede a probabilidade de um estado.

  • Os sistemas evoluem naturalmente para os estados mais prováveis (com mais microestados), ou seja, de maior entropia.

  • O crescimento da entropia é uma consequência natural da estatística dos sistemas com muitas partículas.



terça-feira, 5 de agosto de 2025

Hitler, Stalin e Napoleão: Estrangeiros que Tomaram o Poder

 

Hitler, Stalin e Napoleão, figuras que marcaram a história pela ambição desmedida, possuem uma similitude frequentemente ignorada: eram estrangeiros no país que governaram. Adolf Hitler, nascido em Braunau am Inn, na Áustria, tornou-se o líder da Alemanha; Joseph Stalin, nascido em Gori, na Geórgia, assumiu o controle absoluto da União Soviética; Napoleão Bonaparte, nascido em Ajaccio, na Córsega, consolidou-se como imperador dos franceses. Este elemento de estrangeirismo não é detalhe biográfico isolado, mas componente importante de seu perfil de conquistadores.

Existem histórias romanescas de poetas ou figuras misteriosas,que chegam em cidades pequenas e açulam a curiosidade e o interesse de pessoas dentro delas.Estas pessoas,fora as mocinhas casadoiras,encontram neste “ estrangeiro”,um meio de saírem da repressão,de encontrarem uma fuga ou novas oportunidades

Foi o que se deu com estas três personagens:como estrangeiros eles não participavam do mainstream de cada país e fizeram alianças com grupos marginalizados ou oprimidos ou então com elites do país para construir um poder,naturalmente ditatorial em relação a outros setores da sociedade.

Ajuda neste périplo o fato de eles não serem notados ou considerados inicialmente como um perigo.Mas as circunstâncias se modificam e ajudam o dominio destes “ de fora”.

O caso de Napoleão é emblemático,porque ele era um aristocrata pobre que se aproveita da Revolução Francesa para subir,mas percebe no transcorrer dos fatos,que pode subir mais ainda e chegar ao topo.

Ele se alia aos setores corruptos da Revolução,oportunistas que diante da acefalia do período pós-jacobinos,tomam o poder,para reproduzir interesses somente.

Após conseguir um lugar ao sol neste contexto faz a mesma coisa que César fez em relação à Gália.

Faz uma promessa de invadir a Áustria e acabar com a contra-revolução,através da Itália ,para voltar como salvador da pátria.O projeto não dá certo ,mas é a base para o golpe de 1799.

Apesar deste fracasso e o do Egito,ele se lança como o fiel da balança militar de uma sociedade em desequilibrio e caminhando para uma outra acefalia.

Stalin ,como georgiano,era alguém à margem do poder.Os intelectuais do Partido Bolchevique o desprezavam por sua incapacidade teórica,o seu empirismo grosseiro.

Deram a ele um cargo meramente formal,de trabalho braçal,a secretaria geral,só para realizar uma triagem dos imensos problemas que se apresentavam diante do Partido.

Com este cargo Stalin tomou conta da administração,descortinando os seus meandros e se apossando dos instrumentos de governo,ajudado pela doença progressiva de Lênin,que o levou ,finalmente,à morte.

Mas o importante de Stalin é que ele reprimiu posteriormente e progressivamente os bolcheviques para se aliar a uma burocracia tradicional da Rússia.

Stalin,responsável pela proteção das nacionalidades,abandonou a sua,reprimiu o seu país em nome de um chauvinismo grã-russo,que perdura.

E finalmente,Hitler,tendo as mesmas facilidades dos outros dois,obteve apoio interno para proteger as classes altas do bolchevismo,como fizera Mussolini,na Itália e na Europa.

Usando argumentos raciais de direita logrou aceitação por parte destas classes.


Mas o elemento fundamental no caso dos três é o fato de eles não estarem no maisntream nacional e por isto puderam manobrar em direção a um poder absoluto.

As sociedades são governadas por um núcleo de poder que conforma a sociedade a seu bel-prazer,de acordo com seus interesses.

Mas existem grupos que querem sair desta “ conformação” e quando aparece alguém de forma,num periodo de crise ou de agitação politica ,a aliança com esta figura estrangeira,fora do nucleo funciona muito bem.

Às vezes,como vimos,a aliança é com o mainstream,mas nas revoluções se dá normalmente assim.