sábado, 7 de maio de 2016

Meu encontro com Marx e Freud I



A  primeira   grande impressão   que tive  ao  ler Freud  e Marx(nesta ordem)me vem  agora à lembrança,em função  da concepção  que tenho   da  dicotomia  igualdade/desigualdade.Durante muito  tempo  acreditei  no misticismo igualitário  de  Rousseau,Lênin e Stálin,mas relendo com mais atenção um dos últimos  e importantíssimos livros de Marx,”Crítica  ao Programa de Gotha”,percebi  o quanto Marx e Freud estavam longe  deste misticismo igualitário.
Certa ocasião,já tendo doze ou treze anos,Freud demonstrou as qualidades  de superdotado.Lia  livros em profusão,aprendia muitas línguas  e  lia livros  nestas  línguas e começava  a escrever muito  bem,com profundidade(embora sem  profissionalidade).
Incomodado  com o  barulho das irmãs ao  piano,reclamou com  elas  ,que começaram a caçoar dele chamando-o  de mimado  e  privilegiado.
Na mesa de  jantar,as irmãs  levaram  ao pai esta  queixa.Achavam  que o irmão estava  se tornando esnobe  e querendo privilégios.
Ao que o pai respondeu  e sentenciou:seu irmão  está desenvolvendo muitas qualidades.Ele precisa de paz para estudar.Coloquem os pianos  em outro lugar,para não  atrapalhá-lo.
Na vida  social    ocorre mais ou menos  assim.Apesar  das barreiras  econômicas criarem injustiças,por natureza,os homens não são iguais.
A   visão  de Lênin  e Stálin  e  dos comunistas do século  XX foi  sempre mais  calcada em desconhecimento do real pensamento de Marx do que na  compreensão dele.
Marx,desde  a  “Ideologia  Alemã” até ao livro citado,preconizava  o comunismo como  aquele sistema que,sem  desconhecer esta desigualdade natural,permitiria  que esta se desenvolvesse plenamente para todos,sem peias  econômicas.
O que causava  a desigualdade econômica  era a escassez.Desenvolvendo  à estratosfera a capacidade produtiva da humanidade,liberta da exploração capitalista,não haveria  porque  administrar esta escassez e os homens despreocupados com uma  produção  imediatista,para o dia seguinte,  teriam tempo  livre   para  pescar,namorar,estudar e não  ...fazer  nada.
Freud ,em  seu último  livro “O mal-estar  na  civilização”,faz algumas observações sobre o otimismo  comunista  de sua época(Stálin antes  do XX Congresso),afirmando que  a  liberdade  humana  só seria  alcançada  com muito esforço e educação,porque  o  homem  era um ser inadequado e não era plausível  encontrar  na igualdade uma resposta para este mal-estar.
Mas  Freud não conhecia senão  esta visão distorcida do pensamento de  Marx ,que  é mais afeito  à Locke do que  a Rousseau.Igualar desiguais é uma atitude totalitária e manipulatória,de um  poder político estatal,que nada tem  a ver com  o comunismo,cuja  fórmula clássica  é  “de cada  um segundo  a  sua capacidade,a  cada  um segundo a sua necessidade”.
Nunca ,no comunismo clássico,estão questão foi esquecida.A condição para a produção humana é  respeitar as diferenças.Igualar,como fez Stalin,na  coletivização   forçada,não  é senão um regresso,um regime  de  opressão e  não de liberdade.É na verdade oprimir as qualidades das pessoas e não aproveitá-las(já pensou  se  fosse Freud  russo?).
A sensatez do pai  de Freud,com  a simplicidade dos justos,nunca  chegou  ao pensamento da liderança totalitária “comunista” do século XX.
Freud ao lado de sua mãe
 

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