A primeira
grande impressão que tive ao ler
Freud e Marx(nesta ordem)me vem agora à lembrança,em função da concepção
que tenho da
dicotomia igualdade/desigualdade.Durante
muito tempo acreditei
no misticismo igualitário de Rousseau,Lênin e Stálin,mas relendo com mais
atenção um dos últimos e
importantíssimos livros de Marx,”Crítica
ao Programa de Gotha”,percebi o
quanto Marx e Freud estavam longe deste misticismo
igualitário.
Certa ocasião,já
tendo doze ou treze anos,Freud demonstrou as qualidades de superdotado.Lia livros em profusão,aprendia muitas línguas e lia
livros nestas línguas e começava a escrever muito bem,com profundidade(embora sem profissionalidade).
Incomodado com o
barulho das irmãs ao
piano,reclamou com elas ,que começaram a caçoar dele chamando-o de mimado
e privilegiado.
Na mesa de jantar,as irmãs levaram
ao pai esta queixa.Achavam que o irmão estava se tornando esnobe e querendo privilégios.
Ao que o pai
respondeu e sentenciou:seu irmão está desenvolvendo muitas qualidades.Ele
precisa de paz para estudar.Coloquem os pianos
em outro lugar,para não
atrapalhá-lo.
Na vida social
ocorre mais ou menos assim.Apesar
das barreiras econômicas criarem
injustiças,por natureza,os homens não são iguais.
A visão
de Lênin e Stálin e dos comunistas
do século XX foi sempre mais
calcada em desconhecimento do real pensamento de Marx do que na compreensão dele.
Marx,desde a “Ideologia Alemã” até ao livro citado,preconizava o comunismo como aquele sistema que,sem desconhecer esta desigualdade natural,permitiria que esta se desenvolvesse plenamente para
todos,sem peias econômicas.
O que
causava a desigualdade econômica era a escassez.Desenvolvendo à estratosfera a capacidade produtiva da
humanidade,liberta da exploração capitalista,não haveria porque
administrar esta escassez e os homens despreocupados com uma produção
imediatista,para o dia seguinte,
teriam tempo livre para
pescar,namorar,estudar e não
...fazer nada.
Freud ,em seu último
livro “O mal-estar na civilização”,faz algumas observações sobre o
otimismo comunista de sua época(Stálin antes do XX Congresso),afirmando que a
liberdade humana só seria
alcançada com muito esforço e
educação,porque o homem
era um ser inadequado e não era plausível encontrar
na igualdade uma resposta para este mal-estar.
Mas Freud não conhecia senão esta visão distorcida do pensamento de Marx ,que
é mais afeito à Locke do que a Rousseau.Igualar desiguais é uma atitude
totalitária e manipulatória,de um poder político
estatal,que nada tem a ver com o comunismo,cuja fórmula clássica é “de
cada um segundo a sua
capacidade,a cada um segundo a sua necessidade”.
Nunca ,no
comunismo clássico,estão questão foi esquecida.A condição para a produção
humana é respeitar as
diferenças.Igualar,como fez Stalin,na
coletivização forçada,não
é senão um regresso,um regime
de opressão e não de liberdade.É na verdade oprimir as qualidades
das pessoas e não aproveitá-las(já pensou
se fosse Freud russo?).
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