O ego e o Eu
estão, a partir de Kant,interligados.Existe uma ligação entre Kant e Freud.Não
há ecletismo no pensamento de Kant,mas o reconhecimento de que no corpo
humano,há uma continuidade entre o tempo,a substância,o ego e o Eu,o valor,a
escolha, o reconhecimento(social).
Isto não é o
propósito original de Kant,mas conseqüência de seu pensamento que ele chamava
de “ prático-dogmático”(“ Prolegômenos a uma Metafísica Futura”).
Neste sentido
não há como falar em Nietzsche ,como já foi dito em outro artigo ,sem admitir a
liberdade da linguagem,subjetiva, que a filosofia de Kant proporciona.A crítica
à metafísica, de Nietzsche,passa pela de Kant,indireta,enviesada.
Mas o que me
anima aqui é mostrar como não é possível,com base nesta continuidade,dissociar
os valores de uma experiência psicológica comum(ego),dos ressentidos aos
aristocratas,aos transvaloradores.
O valor,a
escolha,derivados da estimação do mundo por parte do sujeito,depende de
pré-condições localizadas na experiência ,a qual se faz no tempo.Não é possível
criar valores referenciados a uma perspectiva somente sem que isto esteja
relacionado com a experiência e esta não é dissociada das outras.
De Nietzsche a
Husserl todos procuraram uma transcendentalidade,uma ideação capaz de ser só
relativa ao sujeito,não ao mundo,não à experiência.Husserl se referia à
intencionalidade como base desta proposta filosófica.O seu conceito de “ Eu
transcendental” visava a dar uma explicação a esta (também)idéia.
No caso de
Nietzsche ,em “ A genealogia da Moral”,”o eterno retorno”,busca-se o fundamento
de um fundamento sem fundamento ou com fundamento só nos valores,nas
escolhas,no eu.
O cientificismo
supõe que a escolha do Eu é baseada na objetividade da ciência.O psicologismo
supõe que a base está na compreensão do ego,mas ambas as perspectivas estão erradas porque o valor é o que
fundamenta a escolha.
A descoberta de
eventuais razões para uma determinada escolha não a impede de subsistir,como a
da existência(Nietzsche é um dos
criadores do existencialismo).
Contudo ainda
que não se procure esta razão,esta “ causa”,não há como separar a influencia do
ego sobre o eu.
Transcender aos
valores do cientificismo e do psicologismo(e de outros ismos),evitando o remoer
da procura ,do ego,das razões do agir,não impede a influência sociológica da
troca simbólica que forma a todos.A autonomização crescente não é absoluta
porque não se nasce senão na sociedade,numa condição em que é impossível evitar
o condicionamento.
A consciência de
manada se expressa nestes ismos e também
no dogma,que são faces da mesma moeda,conforme a capacidade de pensar ou a sua
incapacidade.
O fundamento do
valor,consciente ou inconsciente ,é o ego.
A
subsistência do valor e da existência,no
sentido,como fundamento do agir do sujeito,gera um individualismo,com a
predominância inesperada do ego,o que parece ter acontecido com o próprio
Nietzsche,que fez uma autobiografia “ Ecce Homo”(comparando-se a Cristo),cujos
capítulos eram assim:”Porque sou tão inteligente”;” porque escrevo livros tão
bons”.
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