terça-feira, 18 de julho de 2017

De volta à relação Kant/ Nietzsche



O ego e o Eu estão, a partir de Kant,interligados.Existe uma ligação entre Kant e Freud.Não há ecletismo no pensamento de Kant,mas o reconhecimento de que no corpo humano,há uma continuidade entre o tempo,a substância,o ego e o Eu,o valor,a escolha, o reconhecimento(social).
Isto não é o propósito original de Kant,mas conseqüência de seu pensamento que ele chamava de “ prático-dogmático”(“ Prolegômenos a uma Metafísica Futura”).
Neste sentido não há como falar em Nietzsche ,como já foi dito em outro artigo ,sem admitir a liberdade da linguagem,subjetiva, que a filosofia de Kant proporciona.A crítica à metafísica, de Nietzsche,passa pela de Kant,indireta,enviesada.
Mas o que me anima aqui é mostrar como não é possível,com base nesta continuidade,dissociar os valores de uma experiência psicológica comum(ego),dos ressentidos aos aristocratas,aos transvaloradores.
O valor,a escolha,derivados da estimação do mundo por parte do sujeito,depende de pré-condições localizadas na experiência ,a qual se faz no tempo.Não é possível criar valores referenciados a uma perspectiva somente sem que isto esteja relacionado com a experiência e esta não é dissociada das outras.
De Nietzsche a Husserl todos procuraram uma transcendentalidade,uma ideação capaz de ser só relativa ao sujeito,não ao mundo,não à experiência.Husserl se referia à intencionalidade como base desta proposta filosófica.O seu conceito de “ Eu transcendental” visava a dar uma explicação a esta (também)idéia.
No caso de Nietzsche ,em “ A genealogia da Moral”,”o eterno retorno”,busca-se o fundamento de um fundamento sem fundamento ou com fundamento só nos valores,nas escolhas,no eu.
O cientificismo supõe que a escolha do Eu é baseada na objetividade da ciência.O psicologismo supõe que a base está na compreensão do ego,mas ambas as perspectivas  estão erradas porque o valor é o que fundamenta a escolha.
A descoberta de eventuais razões para uma determinada escolha não a impede de subsistir,como a da  existência(Nietzsche é um dos criadores do existencialismo).
Contudo ainda que não se procure esta razão,esta “ causa”,não há como separar a influencia do ego sobre o eu.
Transcender aos valores do cientificismo e do psicologismo(e de outros ismos),evitando o remoer da procura ,do ego,das razões do agir,não impede a influência sociológica da troca simbólica que forma a todos.A autonomização crescente não é absoluta porque não se nasce senão na sociedade,numa condição em que é impossível evitar o condicionamento.
A consciência de manada se expressa  nestes ismos e também no dogma,que são faces da mesma moeda,conforme a capacidade de pensar ou a sua incapacidade.
O fundamento do valor,consciente ou inconsciente ,é o ego.
A subsistência  do valor e da existência,no sentido,como fundamento do agir do sujeito,gera um individualismo,com a predominância inesperada do ego,o que parece ter acontecido com o próprio Nietzsche,que fez uma autobiografia “ Ecce Homo”(comparando-se a Cristo),cujos capítulos eram assim:”Porque sou tão inteligente”;” porque escrevo livros tão bons”.

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