Sendo como eu
sou um critico das filosofias metafísicas e sempiternas,muito em voga no
Youtube,que é o lugar em que qualquer um se arroga a condição de “ professor “
e “Filósofo”,este meu trabalho articular é importante para eu colocar alguns
pródromos de minha atividade de blogueiro.
Esta forma
articular é a que melhor se adapta às minhas condições pessoais de vida,mas também
tem a ver com a minha formação intelectual e com os meus objetivos.Nietzsche
escrevia pequenos textos e se orgulhava de dizer muito com pouco.Me too.
O meu interesse
é o mesmo,mas acima de tudo esta forma articular me permite tratar de assuntos
complexos de uma forma mais simples e mais acessível ao público em geral.
Quando eu era
comunista aprendi com Lênin que era preciso
escrever para a classe trabalhadora e, sem falsear ou simplificar os problemas,
abordá-los em sua complexidade.Hoje eu reinterpreto esta baliza pensando em
fazer um trabalho acessível ao senso-comum,mas sem demagogia ou
vulgarizações.Isto quer dizer,os meus textos aqui exigem elevação das pessoas
que não estão acostumadas a estes temas,mas com esforço é possível com os elementos
do texto.
Contribui para
isto a minha experiência de professor em comunidades quase-carentes.Ninguém sabe
o quanto é difícil lecionar sexta-feira à noite,filosofia ou ciência política em
Bangu.As pessoas estão interessadas no fim-de-semana,preocupadas com a balada
próxima e não estão nem aí para estes temas,isto sem contar que lecionei sempre
para faculdades de direito,cujos alunos são psicologicamente pragmáticos e ávidos de
dinheiro.
Lembro-me de ter
dado verdadeiros cabriolés para poder explicar-lhes o conceito de soberania
popular.Tive que fazer uma analogia futebolística,especialmente com a torcida
do flamengo:a soberania popular funcionava como a torcida do flamengo que vota
nos dirigentes do clube,mutatis mutandi(a eleição é indireta)e os pressiona
para ganhar campeonatos e ter vitórias.
Então estes
textos articulares são fundamentados metòdicamente e como posso fazê-los rapidamente
eles se encaixam bem na minha vida de trabalho.Eles me fazem transcender
kantianamente os obstáculos do cotidiano.
Outra questão
muito importante é o da inovação contida neles.Eu já disse em outro lugar que
não sou filósofo original.Eu não faço como certos filósofos auto-arrogados(ortografia
certa) do Youtube que mentem todo dia,os quais mentem nestas questões de
fundamento igualmente.Tem um que lê os meus artigos mas não é homem de me
citar,de dar os créditos por tê-lo incitado a pensar.Não que,e isto responde ao
problema da inovação,eu seja profundamente inovador nestes textos.
Contudo,como eu
já expliquei outras vezes,como pesquisador,critico de cultura,investigador,é
lógico que muitas das noções que eu apresento aqui são conhecidas,mas não do
grande público.Uma das minhas tarefas é informar o grande público destas
questões ,da importância delas no cotidiano.
Eu não sou
demagógico.Os meus textos exigem um esforço de compreensão,mas isto é possível
a partir dele mesmo.
Os meus textos
de marxismo visam explicar à esquerda brasileira o quanto ela está ultrapassada
e quanto não conhece da história e dos
conceitos do movimento social e comunista,o que a faz cometer erros
grosseiros,os quais levam o país ao estado em que se encontra hoje(no Brasil
pelo menos).
Dentro destes
meus objetivos,que não são inovadores, eu faço o que todo mundo
faz:interpretações ,atualizações,aplicações sobre a realidade e assim por
diante.
Algumas destas
atividades geram ,às vezes,idéias que não são muito comuns de se ver em textos
ou na boca de quem quer que seja.
No blog sobre
marxismo eu tenho dito que a nação é o campo de batalha da esquerda moderna e
eu não tenho visto estes conceitos na esquerda em época nenhuma ,mas posso
estar enganado.
Aqui no blog dos
conhecimentos em ciências(ou saberes) humanos,acontece a mesma coisa.Busco
inovações ,busco trazer novas idéias,mas como todos os brasileiros não tenho
condições de propor conscientemente um discurso universal,trans-histórico.Nem
penso nisso.Tem filósofo da direita aí,no Youtube,que acha que consegue,mas não
consegue,é mentira.
Nós brasileiros não
temos acúmulo de conhecimento para produzir algo extremamente novo e
universal,que valha para o mundo todo.Poucos brasileiros conseguiram
espraiar-se para outros locais.Este é o caso de Euclides da Cunha,que ficou
famoso também na América latina,analisando o salvacionismo em “ Os Sertões”.Analisando
o Brasil,podemos ser universais.
Husserl e Heidegger
Dito isto eu
passo ao tema de agora.Husserl elaborou um pensamento que mudou o século XX,mas
ele era baseado no mesmo projeto metafísico estéril de Kant(e de Platão).
Husserl através
do conceito de “ redução fenomenológica” ou “ eidética” mostrou o seguinte:racionalmente
o Ser é compreendido por sua essência,que é feita na mente humana ,separando
aquilo que o define daquilo que não,ou que pertence ao todo,às outras
coisas,aos outros seres.
Uma cadeira é
definida essencialmente como um objeto para sentar,mas ele possui características,forma,material
,design,cores que não são só dela.Mas o ser concreto ,em si mesmo é tudo isto.Então
dizer que a existência da cadeira e do Ser é definida só pelo que é essencial é
falso,porque o Ser concreto real é tudo isto.
Pela redução
fenomenológica de Husserl o Ser deve ser visto,visado desta forma,mas neste
caso a sua nomeação é só através da linguagem,a qual se conecta não com ele,mas
com a subjetividade e sua intencionalidade
.
Quando alguém
olha uma parede teve a intenção de vê-la e defini-la e pode lhe atribuir significados
segundo esta intencionalidade,que é uma mediação essencialmente
psicológica(ego).Até aqui tudo bem.
Só que neste
momento Husserl faz uma inflexão pensamental típica de Kant ele próprio: busca
convencer que esta atribuição de significado,que nasce da intencionalidade,da
escolha subjetiva,se refere apenas ao Eu,à capacidade ideatória do Sujeito.A
idéia é um invariável lógico,intelectual,que não se reporta à substância do Ser
e do Sujeito,direta ou indiretamente.A escolha de olhar uma cadeira,como outras
escolhas, não se reporta a uma verdade
psicológica que a condicione.
É óbvio que quando andamos pelo mundo vemos coisas a
que não damos importância nenhuma e olhamos outras que consciente ou inconscientemente
nos interessam.Uma escolha intencional momentânea,contra a psicanálise,não tem
senão uma natureza pensamental,ideatória,pura.É a chamada visada ,mas a visada, por mais pura que seja ,não denega a sua
origem intencional,consciente ou não.É a psicologia do ego que move o corpo
para a visada,ainda que não haja relevância maior.O Eu e o Ego são experiências
e por isso se tocam obrigatoriamente.Não há ruptura da experiência humana.
Acontece que
Husserl entendeu que esta visada é só do EU e chamou este Eu,de EU
Transcendental,ou seja, um EU sem referência
è experiência,mas apenas à capacidade ideatória do Sujeito,que seria
assim um ente singular,absolutamente singular.
Eu vi na
Universidade este conceito ser usado para explicar como certas pessoas,de posse
dele,poderiam chegar aos seus objetivos.Uma professora disse uma vez que intuitivamente
Chaplin sabia desta verdade e por isto saiu de um cortiço para morar num
castelo na Suíça...
Eu digo que Heidegger,apesar
das restrições pessoais que tenho com ele(inclusive ter prejudicado Husserl que
era seu Mestre,mas judeu),reprofissionaliza
a Filosofia(talvez esta seja uma idéia inovadora)na medida em que põe o Ser na
voragem do tempo,que é um conceito que expressa algo real e comum a todos os
entes .
Não existe
não-tempo no EU.O que as Filosofias sempiternas,atéias ou religiosas, não
entendem é que a idéia é inserida na
temporalidade.O Sujeito não é definido por momentos de visada,não
inter-relacionados,isto é impossível.Só os loucos e olhe lá vivem nestes
momentos desconexos.O homem consciente faz escolhas que constituem o seu
sentido na vida e são a sua vida.Eventualmente vemos as coisas sem um
propósito,mas obrigatoriamente fazemos coisas com intenções e isto dá sentido e direção ao cotidiano,por
mais banal que seja.
Não há transcendental
possível.Isto é uma invenção de Platão,que ganhou foros de religiosidade em São
Tomás e permanece ,às vezes,nos filósofos modernos,ávidos de algo novo,que não
é de fato.
Nós presenciamos
hoje uma volta a estas especulações solipsistas do Bispo Berkeley,para tentar
novamente provar a existência de Deus e a sua atuação no mundo e em nós.Embora
Kant tenha se dissociado com um certo rancor deste filósofo,na “ Estética
Transcendental” contida na “ Crítica da Razão Pura” tem que reconhecer a
realidade do mundo sensível,ainda que depois,para fazer coisa idêntica ao que
Platão propôs:menosprezar os sentidos e só valorizar a intelecção.os dois
filósofos querem que o intelecto dirija a sensibilidade,mas Kant tem que
reconhecer o seu papel importante,mais que Platão.
Contudo o
projeto kantiano ,como nós professores ensinamos na universidade,só surge para
responder ao problema proposto no século XVIII:se qualquer homem(simples razão[e
não só os reis e príncipes])pode fazer filosofia(original).Como ignorar a
sensibilidade ,em seus múltiplos aspectos se a resposta de Kant é considerada
positiva?Kant não se referia à sensibilidade,mas à prática.Acaso isto também
não iguala a todos?Acaso na prática isto não é aceitar a sensibilidade?E dentro
dela,o tempo?E dentro do tempo,o Ego?O Ser Humano não está no tempo?
Quando Heidegger
fala no sentido ele está se referindo o movimento constante do ser e do Sujeito
em todos os momentos.
Acordo de manhã e
me preparo para ir trabalhar.Pago um ônibus,trabalho,almoço,volto,eu me movo
destas maneiras,para expressar as minhas múltiplas essências,que se
inter-relacionam o tempo todo:é a minha essência de professor,de cidadão,de
trabalhador,que me move ao meu trabalho;é minha essência de pai que me move
para casa de volta;é minha essência de pai que me move para a esposa(em busca
de afeição).Eu me presentifico(Dasein) constantemente.Onde o transcendental,Deus,está
aqui,senão na minha consciência,que me lava a fazer o sinal da cruz,ao passar
de uma igreja?Onde está a ideação invariável?E esta ideação se comunica com algo
de fora?O mundo real não resiste,só a minha ideação(pareço Heidegger perguntando
indefinidamente...)
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