domingo, 15 de julho de 2018

Pais e Filhos II


O “ Crescei e Multiplicai-vos”


Esta ordem bíblica,prescrição de Deus,consagra aquilo a que tenho me referido nos meus textos filosóficos:haveria uma ordem natural a ser seguida pela sociedade ?Não.
São Tomás de Aquino põe a vontade racional de Deus na natureza e por isso “ confirma” mais uma vez a “ justeza” desta idéia:contrariar a natureza é contrariar a Deus.
Tudo o que vai contra ela é um comportamento desviante.
A ciência moderna não mudou de pronto esta idéia ,antes buscou uma “ outra confirmação” nas suas “leis próprias”(Montesquieu,Comte).
Mas ambas as concepções não tinham como entender o “ caráter” menos estruturado  da natureza.São inevitabilidades do desenvolvimento histórico da humanidade:uma coisa é o saber outra é a história política,que,não raro,atrapalha a  “ evolução” do conhecimento.
Pela teoria da evolução de Darwin os padrões da natureza não são absolutos.É só por uma questão casual que o padrão do “ cavalo-marinho” não se tornou dominante nela.Que padrão é este que eu proponho ?
Todo mundo sabe que o macho do cavalo-marinho é o que “ engravida”.Pela teoria da evolução,repito,este padrão poderia ter se tornado dominante.
Não há na natureza propósitos pré-estabelecidos,como nenhum movimento está pré-dado.A natureza simplesmente é.Todas as afirmações atribuindo um propósito racional na natureza são inserções da religião no afã de obter um modelo que lhe garanta o poder.
Há que entender este termo “ racional”.Na maior parte da História atribui-se à natureza e à sociedade uma racionalidade como a citada acima:tudo seria estruturado em “ leis rígidas”.Mas com a ciência moderna,que começa a contestar isto do século XVIII em diante,o termo racionalidade,tanto para  a natureza como para a sociedade denota “ compreensão” pela razão,da “ razão de ser” das coisas,as suas causas e fundamentos.
Não se sustenta entender a “ ratio” como uma estrutura pré-dada,mas como um topos em que se busca a causa e o fundamento dos fenômenos.A natureza(e a sociedade)não é provada,mas provável,isto é,ela é probabilística.Ao se descobrir ou desvelar uma causa ou fundamento toca-se numa pequena parte dela,que se junta ,que se toca,por sua vez,em outras de suas “regiões”,não havendo ,pois,uma “ armação” complexa,como num cubo ou num móbile(não é possível criar uma visualização).
O “ crescei e multiplicai-vos” expressa o modo como a humanidade entendeu,guardadas as devidas proporções em cada período,este “ modelo natural” que não tem nada a ver com Deus.
Quando se tem filhos não há como saber o que serão e toda a prescrição em nome de Deus,não é mais do que o desejo humano dos pais de impor um critério de comportamento que não tem necessariamente relação com a liberdade.
Isso coloca uma questão:com esta premissa qual o critério para ter filhos e educá-los ?Só pode ser o da felicidade e do bem-estar(da família)sem considerações outras,materiais ou de poder,chamadas à baila apenas para viabilizar este bem-estar.
Esta constatação cria uma ligação original entre o interesse pessoal de felicidade e o geral.
Os esquemas de poder,os modelos, se fincam na “ verdade” de que a solidariedade de grupo é base para o bem,mas não é assim.O equilíbrio entre o altruísmo coletivo e o individual é possível,pela mediação da felicidade.
Na relação com os filhos nem Nietzsche nem a Igreja Católica.Nem o individualismo nem o coletivismo.É um falso problema.



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