terça-feira, 7 de agosto de 2018

Pais e filhos III


A questão da “ saída dos filhos de casa”,é sempre obscurecida por discursos,simulacros e moralismo ,já que a verdadeira motivação é sexual e erótica.É o fulcro do conflito de gerações.Os pais,reprimidos,antes, na família, se vêem diante de filhos na flor da idade e com uma vida pela frente.Então surgem as justificativas para reprimir,cuja base é o ressentimento,o recalque.
A relação dinheiro/poder,a preservação da continuidade da espécie,a maior experiência dos mais velhos,tudo aparece para esconder a plenitude dos filhos e o ressentimento dos pais,que já foram jovens e que não admitem romper com estes elos perversos que percorrem a história da humanidade.
Esta foi a ordem da humanidade até ao surgimento da sociedade moderna industrial,mas mesmo nesta em que o projeto contém destruição destas cadeias,o processo de libertação não é fácil.
O momento mais radical de tentativa de libertação, foi a década de 60 do século passado,mas os seus efeitos desejados estão longe ainda.Formou-se uma relativa consciência desta realidade,que permeia os pais e os filhos,mas o que continua é a realidade das formas diretas,tradicionais ,de repressão,bem como as indiretas.
No passado a constituição da família dos filhos garantia uma saída sob controle,mas hoje se quer o mesmo,sem ser possível,em face do desemprego,da falta de trabalho,da falta de perspectiva de gerações tomadas pela droga.
Dentro deste contexto a exacerbação da pedofilia não é só um fato da exposição única em nossa época, do problema,mas a constatação de que sempre foi assim.
O livro famoso de Diderot “ A Religiosa” já demonstrava que as vocações de sacerdócio impostas eram geradas pelo desejo de reprimir a sexualidade dos filhos.Um dos aspectos da reforma protestante foi liberar mulheres confinadas em mosteiros.E assim por diante,as épocas vão sofisticando os meios de repressão.
Sim,a pedofilia é uma forma de repressão sobre os filhos,uma forma de não encará-los ,de não reconhecê-los,de atribuir a responsabilidade de procriação aos poderes deste mundo,que tornam o sentimento familiar e amoroso como parte da engrenagem.O bastardismo  é um fenômeno psíquico,à disposição dos pais,que só reconhecem os filhos se estes abandonarem a carência afetiva(como algo normal)pelo poder(pela autoridade dos pais).
O nascimento humano já é,em grande parte,um ato político de cooptação e corrupção,de repressão.Não é como Hobbes diz “ nascer” já com o medo do lado,mas com a perversão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário