sexta-feira, 8 de maio de 2020

Apóstolos Pedro e Paulo da democracia brasileira nos(me)ajudem daí de cima II

começar de novo

Aos 23 anos eu estava esperançoso no comicio da diretas.O meu fervor era pela democracia,que renascia a olhos vistos depois de anos repressivos e perigosos.
A minha felicidade era imensa ,exceto por um fato: a falta do PT no palanque,uma atitude que eu considerei na época infantil(doença infantil),mas que,agora,à luz da maturidade,considero tudo,menos uma criancice.
Para mim ,até hoje,isto foi mais do que um exclusivismo do PT,mas um descompromisso permanente com a democracia.Dom Quixote,numa das suas primeiras aventuras libertou pequenos meliantes enjaulados.Sen refletir na culpa deles, o sonhador revelou sua admiração sem travas pela liberdade,acima da justiça dos homens.
O PT revelou a sua desconfiança(bem como de outros setores de esquerda),para dizer o mínimo,em relação à democracia ,como irmã gêmea que é,da liberdade.


O que significou historicamente e realmente,o PT?

O PT(como o Solidariedade na Polônia)surgiu das lutas operárias em meio à dissolução da(-s) ditadura(-s).
Como pacifista e reformista(reformista revolucionário) que sou, detesto associar mudanças positivas com violência e brutalidade.A primeira vez que fiz esta reflexão foi analisando o periodo da reforma protestante,um dos meus assuntos preferidos e recorrentes.
A Reforma,desencadeada por Lutero desencadeou igualmente muita violência,com as guerras camponesas da Alemanha,com revoltas subsequentes,mais divisões neste país e um assomo de autoritarismo.Teria sido melhor que a reforma da igreja católica tivesse sido uma auto-reforma, que era o que desejava Erasmo de Roterdam,um pacifista capaz de talvez convencer a hierarquia tradicional da igreja.
Erasmo e Lutero chegaram a marcar um encontro,que não se realizou lamentavelmente.Lutero disse que “ Deus evitou que este herético caísse no meu redil”.
Mas foi uma oportunidade perdida a meu ver,de fazer uma transição(e transação)pacifica do mundo medieval para o moderno,sem cataclismos,que é uma das virtudes das transições,como se viu na passagem das ditaduras militares em muitos lugares(não só na América Latina,mas na Grécia também por exemplo)para as democracias.
O PT não participou desta transição.Se eu qusiesse podia ironicamente relacionar o PT com as ditaduras,mas eu não farei isto.Muito embora eu tenha dúvidas sobre a história do PT e de Lula no que tange aos seus inicios,não farei isto.Existe um zum-zum-zum quanto ao apoiamento de Golbery ao recém-criado PT,para pulverizar a oposição em múltiplos partidos e favorecer a hegemonia da ditadura no tempo da abertura.Mas isto ainda é controverso.
O fato é que o PT não participou da transição e isto me magoou profundamente in illo tempore .Com o tempo esta mágoa não só cresceu,mas se tornou constante desconfiança,com a postura do PT na constituinte e a mudança no final dos anos noventa ,motivada pelo desejo irrefreável de ganhar as eleições presidenciais.O Partido da honestidade,o partido puro abriu mão disto para jogar as regras do jogo “ democrático”(burguês) fazendo uso de caixa 2 ,campanhas milionárias,todos os criticados truques burgueses,anti-operários.
O PT nasceu não ligado umbilicalmente ao comunismo passadiço,que viveu nas décadas de 70 e 80 a sua decadência final,iniciada em 68.Nunca foi um partido leninista,de centralismo “ democrático”,mas como calcado estritamente num clássico operariado industrial contém desde os seus albores práticas e conceitos muito aproximados com o citado movimento comunista.
Alguns autores o definem como um herdeiro do antigo PCI,mas eu entendo que isto só é válido na relação do PT com o cristianismo,com a militância de esquerda (teologia da libertação)católica.Conceitos provindos do comunismo italiano,como consenso majoritário,visão nacional(inclusão da classe média[Gramsci{nacional/popular}),alternância de poder,não estão presentes no partido,exceto em alguns grupos,que ,às vezes reverberam na cúpula.
Aliás estes grupos acrescentaram a estas práticas operárias referidas estes valores mal digeridos e misturados com um pragmatismo,que constituem as características altamente duvidosas e criticáveis deste partido.
Assim como falei na auto-reforma da Igreja,acima,o PT expressa o mesmo problema histórico,ou semelhante,mutatis mutandi ,da passagem secular entre o mundo medieval e o moderno:o peso do passado,exigindo solução imediata, “ escolheu” o radicalismo de Lutero em detrimento dos cuidados do humanista Erasmo.
Em função das demandas reprimidas do movimento operário na década de 70,imprensada pelo arrocho salarial,fazendo desta classe o bode expiatório financeiro do futuramente desmentido “ milagre brasileiro”,ela se jogou no proscênio da politica,a partir de sua agenda concreta de reinvindicações salariais.Isto já foi um complicador,porque a politica e a abertura entraram como meio de solucionar estas questões concretas ,não havendo um programa prévio a dirigir as ações.Era um sindicalismo que se encorpava em meio às lutas se fazendo meio que às cambulhadas.
Percebendo esta situação e a decadência do movimento comunista,os antigos militantes,até para se preservar deste fim d e festa,se dependuraram neste movimento nascente para sobreviver e para sonhar com um revivescimento do comunismo, a partir da classe principal,deixando de lado toda a auto-reforma feita nos anos anteriores.
Como Lutero/Erasmo,o comunismo/PT expressou a predominância das exigências imediatas sobre o esforço de compreensão dos erros e sua superação cuidadosa ,democrática,a garantir,quiçá,um futuro mais firme e seguro.E esta influência dos antigos militantes fez e faz do PT um partido hibrido,transicional:meio a se fazer e meio preso a um passado ,digamos ,radical de esquerda(para não dizer comunista).E como diz Gramsci ,enquanto o mundo velho não se vai e o novo não aparece vive-se numa situação d e morbidez ,de violência,incerteza,males que hoje se tornaram moeda corrente no Brasil.

Lula o egoísta,Dilma a sua herdeira
Este exclusivismo do PT,exclusivismo de classe obreira(outra herança do passado)se vê hoje num outro item que deve ser acrescentado:o personalismo.O antigo personalismo(stalinista?populista?)se cristaliza no Lula de sempre e de hoje quando põe os seus interesses pessoais em identidade(forçada)com os interesses partidários e nacionais(totalitarismo).O ataque à Moro,a luta por vingança não é uma questão pessoal,mas da democracia.Se ele for vitorioso a democracia será.
O presidente tem o direito e até o dever de lutar por sua carreira e vida pessoal,tudo bem.Mas esta luta não é identificada,como a de nenhum politico,com as carências nacionais.Isto é um assomo de delirio totalitário típico do stalinismo e mais de Chavez e Maduro e marca uma continuidade dramática(porque já devia ter sido superado)com o populismo brasileiro,o que configura um atraso na vanguarda do movimento operário,uma tragédia para o Brasil(se a vanguarda é assim o que se dirá do resto).
Será que o PT e Lula não vêem a jogada da direita?Colocar os militares no poder e os evangélicos na mídia ,no mainstream?Que bater em Moro e na Rede Globo ajuda a este projeto?Se a Globo acabar(que é o que Bolsonaro quer)onde o movimento LGBTQI vai arranjar emprego?Na Tv record?
A politica não são só as pessoas,a vontade da vanguarda não,é o movimento cotidiano,como Tancredo e o movimento de auto-reforma do comunismo,ensinaram.
Dilma,herdeira de Lula,entrou no PT dentro daquilo que eu citei acima,a guarida dos grupos sem rumo do radicalismo de esquerda,que se dependuram num grande hospedeiro,para sobreviver a qualquer custo,sem ideias novas e tentando provar que o que fizeram no passado ainda vale.
Dilma participou do vaguardismo comunista que se jogou irresponsavelmente na luta armada.O desejo irrfreável de continuísmo do PT e de Lula fê-la ,com pouca experiência politica,um joguete igualmente irresponsável no processo democrático e foi o que se viu.
Não sou contra a reparação dos crimes da ditadura.Assinei as listas para defender este direito das famílias,mas é preciso,como eu já expus em outros artigos,não misturar esta problemática do passado com o Brasil,com os problemas do Brasil.
O problema da tortura não é um problema da esquerda,mas do Brasil,como formação histórica.Fazer esta identificação é desinformar o povo e vender a falsa ideia de que só a assunção dos comunistas ao poder o resolve,quando tal é tarefa da cidadania,como um todo,inclusive da classe média.
Sofro muito com o receio de que esta incompreensão,que só reforça a confrontação direita e esquerda que vemos hoje,leve o Brasil a uma guerra civil(não agora ,mas no futuro),que para muitos radicais é a condição de mudança no Brasil.Necas! Digo eu.Não se trata de colocar um governo de maioria no poder,mas de congregar o maior numero de setores sociais para compreender as questões de fundamento da nação e mudar.Não é dificil tomar o poder.Lênin mostrou que com minorias é possível mudar o mundo,mas não para melhor.O mais importante é o que vem depois da tomada do poder e saber o que fazer se constrói bem antes(no cotidiano,sempre).
Temo que não havendo reparação aos crimes da ditadura a esquerda,representada aqui por Dilma,insista neste caminho ad infinitum o que seria uma tragédia.
Num artigo de muitos anos atrás delimitei que se os comunistas reccorriam ao direito para defender os seus de cidadania não terão nunca mais o direito de ofender a norma,num propósito revolucionário.Não poderão “ virar a mesa” como eu ouvi milhares de vezes na minha militância de jovem.
Se não houver reparação a justificativa desta “ virada” estará dada.Tratarei deste problema em próximo artigo.

Apostolos Pedro e Paulo da democracia brasileira nos(me)ajudem daí de cima.
Em função destas prévias reflexões ,que dão continuidade ao “ virar as costas” à transição em 85,é que posso afirmar que a transição não acabou.Neste caso não há que s e culpar só o PT.A morte de Tancredo pôs no poder o último chefe parlamentar da ditadura.Muita gente diz que isto foi um complicador ,mas na verdade facilitou as coisas para o regime anterior:seria muito dificil para Tancredo ignorar as reparações como lider civil e democrático que era e Sarney,politico profissional,soube entender esta realidade e jogou tudo na economia,nas ameças da economia,unindo o Brasil em torno de uma plataforma monistica,o que mandou para debaixo do tapete as questões morais.Sarney propôs um item de programa nacional,coisa que o PT nunca soube fazer,não faz e tem raiva de quem sabe.
Tancredo era como Sanguinetti no Uruguai:os militares o cercaram.A Argentina foi um outro caso ,porque a ditadura se desmilinguiu na guerra das malvinas e teve que pedir ajuda à esquerda ,que comandou a transição e entrou na nova fase dando as cartas.Outro assunto.
Até Lula e seus dois governos,um de esperança e outro de debacle,imaginava-se prosseguir com o Brasil somente,mas com Dilma se retomou a reinvindicação não reconhecida pelo governo Sarney e tratada parcimoniosamente por Fernando Henrique e pelo próprio Lula(e um pouco Itamar)e ,entre outros erros,desandou.
Então estamos naquele periodo de 85 e temos que recomeçar daí,propondo uma solução definitiva para o ter e o haver da ditadura e do novo regime ,se quisermos,como eu quero,sair da guerra-fria,de 64 e entramos no século XX e no Brasil.Abordarei isto em próximo artigo e explicarei a uns beócios das redes o meu entendimento do que é nacional.



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