sábado, 20 de junho de 2020

Alienação ,Marxismo e sociedade primitiva

A idéia comunista é recorrente na história da humanidade,como a de república,que é mais resistente do que a de monarquia.Outras idéias também,como religião,mais resistente do que todas as outras,aparecem.
Idéias recorrentes devem ser levadas em consideração,porque elas podem ter um adequação muito forte com a realidade e com a humanidade,expressando os desejos mais recônditos e profundos dela.
No mundo antigo havia sempre a memória de uma “ idade de ouro”,em que todos os homens eram iguais e partilhavam de tudo o que se produzia fraternalmente,o que nos grandes impérios,agressivos e violentos do mundo servia de esperança para as classes mais oprimidas.
Este sentimento de esperança constituiu uma das vias de passagem do mundo antigo para o mundo medieval,especialmente e quase que unicamente pelo cristianismo:nos dois primeiros séculos de nossa era o cristianismo  fora totalmente diferente da simbiose com o Império Romano construida depois por Constantino no século IV.Este cristianismo “ primitivo”,objeto de um estudo de Engels no final de sua vida(em que Engels compara o cristianismo ao movimento operário do seu tempo),se regia por este principio de uma idade de ouro,em que cada um atuava na comunidade cristã de sua cidade segundo a sua capacidade e entregava ,no espirito de Cristo,a quem mais precisava.
Todas as comunidades visitadas por São Paulo no ano II eram regidas por esta regra(Ambrogio Donnini,” História do Cristianismo”)o qual prosseguiu no século XVIII com o Iluminismo Alemão,Herder,Klopstock,Winckelman e Lessing.
Mas curiosamente ,antes do século XVIII,nos séculos XVI e XVII ,em que a ciência moderna surge no cenário da história moderna(por isso moderna),utopias são preconizadas ,a prometer a velha idade de ouro.Só que estas utopias usam um critério diferente daquele dos oitocentos,tirado do cristianismo:a sua visão do comunismo e do socialismo é mais imposta de cima para baixo,antecipando os problemas do comunismo e do socialismo nos tempos atuais.Isto porque a base de um comunismo avançado é uma capacidade exponencial de produção,só conseguida pela industria moderna.
Apesar da ciência ter se catapultado nos dois séculos anteriores não foi capaz de mostrar uma influência sobre a economia.Então as utopias como a de Bacon,More e Campanella parecem reproduzir a comunidade primitiva e o cristianismo,mas na verdade eles deturpam um pouco o significado destas duas experiências,numa antecipação da problemática que vai ocorrer no século XX com o “ socialismo real”.
A chave para entender estas incongruências é a escassez:num contexto de sociedade primitiva a falta de recursos impõe uma contenção e distribuição que todos da comunidade aceitam.
A civilização,como os historiadores mostram,aparece dentro de uma roupagem repressiva e de classes ,porque há que distribuir produtos do trabalho que superam em muito,pela introdução de novas técnicas,a população da comunidade,que já  não é mais primitiva,mas baseada numa cidade,numa civitas .
Na época da primeira onda industrial(1750) ficou claro que a produção poderia atingir niveis exponenciais ,muito acima do registro demográfico ,e as condições para uma distribuição equitativa se tornam viáveis.Esta foi a conclusão(uma delas)do iluminismo alemão.
Mas o que unifica toda esta problemática e é o tema deste artigo é que na comunidade primitiva os instrumentos de trabalho e a produção estavam à disposição de todos,não eram alienados como hoje,em que o trabalhador produz mas não necessariamente recebe  o que ofereceu à sociedade.
Aparentemente esta constatação que coincide com o pensamento marxista seria algo motivador de um processo transformador no mundo da propriedade,porque isto seria o lógico  a fazer.mas em próximo artigo,vou mostrar que no mundo moderno a questão da propriedade,dos meios de produção não é tão simples de resolver.

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