domingo, 14 de junho de 2020

Massacrados de todos os países uni-vos II

Como uma pessoa de bem deve ter compaixão nos dias de hoje?No passado não havia tantas barreiras  entre o homem e a compaixão,mas hoje...Contudo uma barreira permanece :o dinheiro,o diabo amarelo,que parece ser a medida e a reprodução do mal na vida da humanidade,seja sob que forma se apresente,de acordo com a causa de sua preeminência:exploração,mania,perversão etc,etc.
Pelos exemplos se percebe que a questão mais decisiva é a exploração.Existem muitas barreiras entre os homens,até principalmente  ele mesmo se coloca como barreira(ele está sob todas estas barreiras e é o seu fautor),mas ,fora as questões pessoais,singularíssimas,em termos coletivos,a questão do dinheiro é a da exploração.
Trato da questão do dinheiro e da exploração exatamente para ajudar o homem a tirar esta barreira.
Contudo,ao longo da história,  esta proposta de remover pura e simplesmente a mediação do dinheiro não significou necessariamente uma libertação.Pelo contrário o progresso dependeu muito de como se se relaciona com o mundo real e dentro dele o dinheiro.
Não foi outro o caminho de superação da idade média,pela idade moderna,com os seus espaços maiores de liberdade.Deste período em diante a humanidade procura estes espaços até alcançar a utopia,que é o momento e o lugar em que os espaços são totais(totalitários?),para todos.
A reforma protestante foi este movimento moderno,que,de dentro,numa nova relação com o dinheiro,criou as condições para mudanças materiais e espirituais,que refletem até hoje.
O movimento social,não necessariamente herdeiro da reforma e que se inicia na revoluções inglesas e no século XVIII,de modo geral,sempre repudiou a relação com o dinheiro,mesmo o marxismo que afirmava ser o comunismo um derivativo do desenvolvimento interno do capitalismo.A mudança viria por uma tomada de consciência da exploração e por uma consequente ação revolucionária redentora.
Neste contexto, incorporar na militância o sofrimento real dos pobres era parte do processo e  a base teórica o confirmava pelo conceito de "concreto de pensamento":é preciso acompanhar dialeticamente o movimento real da exploração,dividindo a realidade até aos seus minimos detalhes,a atividade do trabalhador no momento exato de sua atividade e daí sucessivamente.
Até aí vai a ciência.Mas o registro dos sofrimentos,da fome,dos vexames,da morte,cabe à arte ,à literatura,à denúncia jornalistica e do pesquisador.
Este é o esquema de abordagem do problema do sofrimento,dentro do processo politico de sua contestação,mas em periodos de aparente resignação e desbaratamento de critérios,há que adaptá-lo.
Quer dizer,desde sempre aconteceu o que acontece hoje:na luta politica a distinção entre ciência e arte não ocorre.Acusações de responsabilidade pela exploração;distorções no processo revolucionário,que favorece menos a pessoas do povo do que oportunistas,tudo isto se mistura em épocas de incerteza e confusão como a nossa atual,agravada pela eleição de um fascista.
Como proceder diante deste quadro,quando se é acusado de ser comunita ou fascista ao mesmo tempo,por pessoas emocionalmente perturbadas e sem fundamento cientifico para agir,mas premidas por exigências de ascensão ou expressão reprimidas?
Se eu escrevesse  há muitos anos atrás sobre a necessidade de compaixão e abnegação revolucionária em relação aos miseráveis,para lembrar Vitor Hugo,eu falaria sobre personagens da vida  cotidiana pedindo ajuda em meio à fome (e à pandemia)e me sentiria satisfeito,mas hoje mesmo estas pessoas são militantes e questionam a veracidade destas abnegação e compaixão.
Formou-se no mundo de hoje um hiato profundo entre aqueles que possuem alguma coisa e os que não têm(como dizia Josué de Castro)e a resposta à ajuda nem sempre é reciproca.
Diante disto não admito que me torne indiferente ao problema geral do sofrimento como um lembrete permanente de que tal situação deve ser objeto de uma luta constante até a sua superação,mas o modos e métodos pelos quais pretendo fazer esta denúncia ,esta narrativa,mudaram.O que fica,no entanto, é a emoção inevitável,que gera revolta,como algo que ninguém pode me tirar.
No próximo artigo continuo.

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