sábado, 6 de fevereiro de 2021

A formação do método dialético de Hegel

 

Analisando o livro de Roger Garaudy “Dieu est mort” nós vemos que existe um desenvolvimento na filosofia alemã que redunda em Hegel e sua dialética.Qual é a herança que Hegel recebe e transforma?

Nós temos que ter em mente que seu caminho é o da subjetividade autônoma para compreender o mundo.A subjetividade começa na História de diversas maneiras,através da contribuição de vários autores e personagens,o primeiro deles Lutero e a reforma protestante.

Aqueles que lêem os meus artigos sabem o que digo sobre Lutero e a reforma protestante.Muita gente,principalmente no radicalismo de esquerda,pensa que com isto eu defendo a figura individual de Lutero.É o famoso “ espirito de partido” do comunismo ortodoxo que distorce as coisas.Eu me reporto ao significado histórico da figura,assim como faço com Napoleão.Napoleão representa o avanço do capitalismo,que em relação ao passado medieval configura progresso.

Algo simile se dá com Lutero: conforme as análises e interpretações de Nietzsche,quando o reformador afirma em Worms “ penso assim,não posso agir de outro modo”,está fundando a subjetividade moderna,o individualismo moderno,que aponta o direito e a liberdade de se posicionar diante do mundo.Garaudy atribui a este nascimento do subjetivismo o nascimento do monismo,mas são coisas diferentes(1).

Também Descartes é um dos heróis de Hegel,com a sua dicotomia Sujeito/Objeto.O pensamento puro de Descartes ,o cogito ,abarca a objetividade,mas ele é ainda abstrato,só chegando ao concreto,recorrendo à experiência,o que no tempo de Hegel não quer dizer muita coisa,já que a experiência só viria a ter significado científico com o nascimento da psicologia moderna(3).

O caminho da subjetividade vai se fazendo,mas Hegel ainda busca um seu limite “ definitivo”.Este limite se dá no seu diálogo com Kant e Schelling,seus coevos.

Kant respondeu à pergunta decisiva do século XVIII:se a simples razão,o indivíduo autônomo podia fazer filosofia.Hegel ressalta que com a sua contribuição Kant inaugura a interioridade na filosofia capaz de produzir,de ser ativo.Funda a subjetividade moderna.

Em Fichte Hegel reconhece a criação do verdadeiro método especulativo,que desta subjetividade apreende o mundo de negação em negação,superando o seu contrário na oposição(aufhebung?).

Schelling aplicou este método a toda a natureza usando de analogias arbitrárias.

Mas nenhum destes métodos dá conta do absoluto,tanto da ideia,radicada na subjetividade ,como na matéria.É curioso observar como Hegel, o suprassumo do idealismo considere a matéria e queira fazer um pensamento capaz de conectar estes dois termos aparentemenete antinômicos.

Marx ,analisando a Filosofia do Direito chegou a dizer que “ talvez Hegel tivesse farejado o materialismo histórico”,mas desde sempre Hegel teve esta preocupação.

Faço esta observação por uma razão muito simples e que tem a ver com o marxismo:a caracterização de Hegel como idealista é justa porque como os autores anteriores ele parte sempre da subjetividade para compreender o mundo,contudo esta integração que ele vai fazer,a partir de condições que vermos já já ,aos olhos de hoje e dentro de uma perspectiva de crítica ao marxismo(coletti),autoriza questionar esta classificação(ver nota 3).

As condições finais para a construção do método hegeliano propriamente está nas transformações do conhecimento ocorridas no século XVIII.Não me canso de me referir à obra de Pierre Chaunus “ Philosophie des Lumieres”,em que é feito um inventário das descobertas e do signficado essencial destas transformações:provar em defintiivo que a existência do tempo e do movimento abarca todo o Ser.

Mas Garaudy faz um pequeno inventário que é bom reproduzir aqui:

Los materialistas franceses del siglo xvm fundaron sus análisis filosóficos en una ciencia puramente mecanicista: sólo la mecánica había
llegado a un alto grado de desarrollo. Los fenómenos de la vida, tanto
en los animales como en los hombres, se explicaban a partir de modelos
mecanicistas. Tampoco la filosofía supera en nada esos niveles de explicación: las geniales anticipaciones de Diderot sobre la evolución de
las especies, la concepción de la naturaleza como totalidad orgánica en
Robinet, no son aún sino intuiciones confusas sobre una realidad todavía
no explorada.
Hegel ya dispone de elementos nuevos: Kant y Laplace han formulado sus hipótesis sobre la formación del sistema solar; Lamarck,
después Buffon, y Geoffroy Saint-Hilaire han elaborado la idea magistral
del transformismo; I^avoisier liberó a la química de las teorías flogísticas; Goethe, cuya visión del mundo ejerció una profunda influencia en
el pensamiento de Hegel, confirió una forma lírica a la idea de la unidad
orgánica de la naturaleza; por el método del “fenómeno originario” investigó las formas fundamentales susceptibles de producir, por metamorfosis, todas las otras formas, otorgando así solidez a la noción de un
pensamiento orgánico, de un concepto que no era una abstracción, sino
un germen viviente en el mismo corazón del concepto.
Las matemáticas y la física han tomado otro aspecto:16 las matemáticas debieron elevarse a nivel de las nuevas exigencias de la física
revelando que la naturaleza es más compleja que lo que se había creído
medio siglo antes. El estudio de las perturbaciones de la mecánica
■celeste, la propagación del movimiento (cuerdas vibrantes, tubos sonoros, propagación del calor) exigieron el empleo de nuevos métodos
matemáticos (ecuaciones de derivados parciales, funciones discontinuas,
etc.), a las cuales no pueden aplicarse mecánicamente las operaciones
tradicionales del cálculo infinitesimal. Hegel se refiere reiterada y
explícitamente en su Lógica, a los trabajos de matemáticos contemporáneos, en especial a las Reflexiones sobre la metafísica del cálculo
infinitesimal de Lázaro Carnot, aparecidas en 1797, y a la Teoría d e las
funciones analíticas de Lagrange, editada también en 1797.

En cuanto a las ciencias humanas, la Revolución Francesa renovó
a fondo la concepción misma de la historia, atendiendo al sentido del
devenir de las sociedades, sus contradicciones y sus crisis. “
Cada época ,cada periodo filosófico responde pensamentalmente na relação com os conhecimentos que os homens possuem neste então.As conclusões do século XVIII e XIX da ciência estão superadas ,mas fundamentam as elucubrações que tornam a dialética o princípio monistico do movimento geral de tudo o que existe.A resposta de Hegel é para dar um sentido a estas transformações que o tempo dele apresenta.

Hegel se movimenta neste propósito,para obter esta resposta,diante daquilo que considera,muito justamente digo eu,insuficiências(exceto Kant) dos filósofos precedentes.

A consciência infeliz é aquela que tenta compreender a sua época para mudá-la.A consciência de Hegel diante destes problemas é infeliz como a de todos os homens,mas a “ descoberta” das leis do movimento abre possibilidades de sair deste circulo de ferro.Para Hegel todo homem que compreende a sua época ,como Napoleão é infeliz porque está preso a este circulo,só conseguindo a sua identidade por maior que seja ,neste limite fatal.Porque a dialética que Hegel começa a formar explica o movimento constante da época ,a sua permanente auto fundamentação,mas não apresenta como sair do limite.

A proposta de Hegel é o da aufhebung:uma oposição se reconstrói por uma sintese que movimenta o mundo e possibilita o conhecimento do movimento e da mudança,mas falta algo que só a compreensão real da sociedade será capaz de resolver.Se Hegel tivesse mais que farejado...

Ele ficou preso nestas concepções cientificas em que a natureza não possuia indetrminações,num esquema simples de aparência e essência a serem desvelados.

O salto na natureza e no que existe é de qualidade.A ruptura é ,o acaso ,é dado dentro de um processo lógico dialético,o que é um contra-senso,mas isto é outro assunto.

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